terça-feira, 27 de outubro de 2009

A nanotecnologia e a pesquisa no Brasil

A nanotecnologia tem como idéia fundamental a criação de novos materiais e desenvolver produtos ou processos baseados na possibilidade de se manipular a matéria em escala atômica, molecular ou macromolecular. A Royal Society e a The Royal Academy of Engineering do Reino Unido definem “nanotecnologias” como “projeto, caracterização, produção e aplicação de estruturas, dispositivos e sistemas pelo controle da forma e do tamanho numa escala nanométrica”. Dentre as aplicações da nanotecnologia, pode-se destacar: o aumento da capacidade de armazenamento e processamento de dados dos computadores; a produção de suportes eficientes para a entrega de medicamentos e o desenvolvimento de materiais mais leves e mais resistentes do que os convencionais. A Royal Society reporta que o setor produtivo prevê que o mercado mundial de produtos nanoestruturados deverá movimentar cerca de 2 trilhões de dólares até 2012. Atualmente, estima-se que nesta área emergente da tecnologia mais de oito bilhões de dólares por ano são investidos em pesquisas e no desenvolvimento de novos materiais em países como Estados Unidos da América, Coréia do Sul, China, Japão e a União Européia. Vale ressaltar que a nanotecnologia engloba as Ciências Naturais (física, química e biologia) e também a Engenharia e Ciência dos Materiais. E no Brasil, quais seriam estes valores destinados à pesquisa e qual a perspectiva do setor produtivo nacional em auferir lucros com produtos baseados nos avanços nanotecnológicos?


De acordo com Camila Fusco (Nanotecnologia para os outros”, Revista Exame, edição 954, nº. 20, p.126-127, 2009), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) já investiu cerca de 240 milhões de reais em projetos de nanotecnologia no nosso país desde o ano de 2004. Assim, a resposta a primeira pergunta feita anteriormente estaria plenamente respondida. E em relação à segunda pergunta, acredito que também seria razoável que o artigo publicado na revista Exame também pudesse abordar tal questão. Para a minha surpresa, a autora não indicou nenhum valor. Entretanto, neste artigo foi mencionado alguns exemplos de como a burocracia e a falta de financiamentos pode prejudicar os negócios de algumas empresas (Quattor Petroquímica S.A. e Aquamare) quando se pretende licenciar e inserir os seus produtos nanotecnológicos no mercado nacional.


Devo confessar que inicialmente comecei a ler o artigo sem pensar em pesquisa. Contudo, fiquei bastante perplexo ao notar que a jornalista após citar o montante de dinheiro investido pelo governo federal, aproveitou a oportunidade e disparou que a verba “financiou pesquisas que resultaram apenas em artigos em publicações científicas” (sic). Analisando-se as dificuldades reportadas pela repórter sobre a lentidão na avaliação que deveria ser realizada pela Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) em relação aos produtos da petroquímica Quattor e da Aquamare, até parece justo aceitarmos esta infeliz frase veiculada no artigo da seção - Tecnologia inovação - do periódico. Entretanto, qualquer pesquisador poderá relatar que a realização de uma publicação original cuja a contribuição científica seja considerada relevante para a Comunidade Acadêmica Internacional pode possuir um valor agregado similar à produção de patentes. Além disso, também merece destacarmos as grandes diferenças em relação aos recursos investidos até o presente momento pelo MCT em nanotecnologia quando comparamos os financiamentos das outras grandes potências econômicas. Também deveríamos lembrar a sociedade que não dispomos de toda infraestrutura científica necessária a um pleno e constante desenvolvimento tecnológico no nosso país da criatividade (ou como alguns preferem, do jeitinho brasileiro). Em outras palavras, se tivéssemos os recursos físicos compatíveis com as instituições de pesquisa no exterior, talvez pudéssemos produzir não “apenas” publicações científicas ou artigos em periódicos com seletivo corpo editorial, mas também um número considerável de produtos e patentes. Se acreditarmos que o pensamento indicado pela jornalista possa refletir o da nossa sociedade, iremos concluir que no Brasil nenhum esforço ou trabalho sério fica à margem de críticas superficiais e raramente deverá receber o devido reconhecimento.

Saudações Universitárias,

Fabrício Lins

2 comentários:

  1. Enfim uma postagem realmente interessante!
    É uma boa discussão essa: Ciência, Economia, Economia = f(Ciência) , Ciência = f(Economia)? Qual a finalidade de existirmos quanto homens, educadores e pesquisadores? Ciência, Economia ou, quem sabe, a viabilização da nossa própria existência e felicidade? Nesse contexto, o que realmente importa: a contribuição de uma inovação científica ou patente e, portanto, os lucros capitais com a mesma?
    Belíssima discussão proposta!

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  2. Olá Fabricio e a todos do Blog! Excelente texto e uma discussão importantíssima, pois corremos o risco de ficar de fora também dessa nova "revolução", como na última que houve: a da informática. O problema com relação à nanotecnologia não é só a soma de dinheiro que se tem que investir (problema econômico), mas também a quebra de paradigma que tem que haver para tocarmos de modo efetivo e com pesquisa de impacto. Temos hoje no Brasil comunidades estanques que pouco ou nada se intercomunicam: física, química, biologia e engenharia, para citar algumas. A pesquisa em nanotecnologia é multidisciplinar por natureza, e daí vem a quebra de paradigma: para fazermos pesquisa de ponta e de impacto em nanotecnologia temos que começar a interagir com diferentes áreas e realizar pesquisa em conjunto. Esse é realmente um grande desafio. Por fim, uma sugestão aos anônimos enfadados com as discussões aqui postadas: postem seus temas interessantes, para que possamos compartilhar/discutir e assim todos ganharmos. Saudações a todos: Adriano Martins.

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