sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O ASSÉDIO MORAL

Oi pessoal,

Esse é mais um texto que saiu “do fundo do baú”. Contudo, o assédio moral ainda é um tema importante a ser discutido na UFF e, em particular, no pólo de Volta Redonda.

Uma das principais motivações para eu solicitar, em 2008, após dois anos de atividades, o afastamento da presidência da Comissão de Ética Pública da UFF foi uma certa frustração por não poder atender de fato às muitas pessoas que me procuraram tratando desse assunto. Algumas dessas pessoas eram lotadas em Volta Redonda.

Encaminho, a seguir, partes de um texto que enviei para alguns colegas (técnico administrativos e docentes) enquanto ainda estava na Comissão. Ele é procedente pois, infelizmente, em alguns setores do serviço público, o assédio moral ainda é usado como instrumento para calar ou intimidar pessoas e/ou grupos que buscam manifestar suas opiniões.

Lembro que o assédio é uma questão de difícil verificação. Infelizmente, ainda buscamos fechar os olhos e fingir ignorar o que algumas vezes acontece ao nosso lado. O basta ao assédio depende da informação, organização e mobilização de todos nós. Aí vai o texto.


“O QUE É ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO?

É a exposição a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização.

Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para a pessoa e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, em alguns casos, rompem os laços afetivos com a vítima e, freqüentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o 'pacto da tolerância e do silêncio' no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, 'perdendo' sua auto-estima.

A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do indivíduo de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho.

A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional segundo levantamento recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com diversos países desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do 'mal estar na globalização", onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho.

Estratégias do agressor

-Escolher a vítima e isolar do grupo.
-Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente aos pares.
-Culpabilizar/responsabilizar publicamente, podendo os comentários de sua incapacidade invadir, inclusive, o espaço familiar.
-Desestabilizar emocional e profissionalmente. A vítima gradativamente vai perdendo simultaneamente sua autoconfiança e o interesse pelo trabalho.
-Destruir a vítima (desencadeamento ou agravamento de doenças pré-existentes). A destruição da vítima engloba vigilância acentuada e constante.
-Levar a vítima a gestos de desespero que podem levá-la a pedir demissão ou a ser demitida, freqüentemente, por insubordinação.


Explicitação do assédio moral:

Gestos, condutas abusivas e constrangedoras, humilhar repetidamente, inferiorizar, amedrontar, menosprezar ou desprezar, ironizar, difamar, ridicularizar, piadas jocosas relacionadas ao sexo, ser indiferente à presença do/a outro/a, estigmatizar os/as adoecidos/as pelo e para o trabalho, colocá-los/as em situações vexatórias, falar baixinho acerca da pessoa, olhar e não ver ou ignorar sua presença, rir daquele/a que apresenta dificuldades, não cumprimentar, sugerir que peçam demissão, dar tarefas sem sentido ou que jamais serão utilizadas ou mesmo irão para o lixo, dar tarefas através de terceiros ou colocar em sua mesa sem avisar, tornar público algo íntimo, não explicar a causa da perseguição, difamar, ridicularizar.

O basta à humilhação depende da informação, organização e mobilização de todos nós. Um ambiente de trabalho saudável é uma conquista diária possível na medida em que haja "vigilância constante" objetivando condições de trabalho dignas, baseadas no respeito 'ao outro como legítimo outro', no incentivo a criatividade, na cooperação.

O combate de forma eficaz ao assédio moral no trabalho exige a formação de um coletivo multidisciplinar, envolvendo diferentes atores sociais: sindicatos, advogados, médicos do trabalho e outros profissionais de saúde, sociólogos, antropólogos e grupos de reflexão sobre o assédio moral. Estes são passos iniciais para conquistarmos um ambiente de trabalho saneado de riscos e violências e que seja sinônimo de cidadania.”


Saudações Acadêmicas
Heraldo

Um comentário:

  1. Olá a todos!

    Heraldo, muito obrigado pela postagem, como sempre contribuindo para o esclarecimento e levantando questões mais do que apropriadas.Não sei se você adivinhou ou se algum passarinho lhe soprou no ouvido, mas o seu texto cai como uma luva, com relação alguns acontecimentos, recentes e outros não tão recentes, aqui em Volta Redonda.

    Nessas últimas semanas, uma das situações que mais me preocupam são as circunstâncias em que ficaram os funcionários do Pólo Universitário de Volta Redonda. São cerca de 15 funcionários que, com seu trabalho, estavam nos ajudando a montar a estrutura administrativa do PUVR. Com a recente troca na administração (fato que deveria ser de menor importãncia, com relação aos funcionários), ficou evidente a aplicação das estratégias descritas acima. Senão vejamos:

    i) Escolher a vítima e isolar do grupo. Alguns funcionários foram retirados de seu local de trabalho e são aos poucos deixados sem função específica, como que para provar que não fazem falta. Paralelamente, para semear a discórdia, outros funcionários, são elevados e também segregados do grupo.

    ii) -Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente aos pares.
    Fazem-se comentários a respeito de funcionários ausentes ( com justificativa), como que a apontar sua ausência ou sua falta para todos demais.


    -Desestabilizar emocional e profissionalmente. A vítima gradativamente vai perdendo simultaneamente sua autoconfiança e o interesse pelo trabalho.

    Recentemente houve o caso em que funcionário(s) do PUVR foram chamados para conversa em particular sobre a conveniência (ou inconveniência) de comportamentos considerados políticos e explicitamente ameaçados, inclusive com chantagem com relação a demais colegas.

    Para agravar as circunstências, praticamente todos os funcionários do PUVR encontram-se ainda em Estágio Probatório, circunstãncia considerada e sentida como instável, do ponto de vista funcional, e que tem sido usada com fator de intimidação politica até contra docentes.


    Por essas razões, considero muito oportuna sua postagem.

    Um forte abraço e saudações.

    Alexandre Silva

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