terça-feira, 19 de abril de 2011

Os novos cursos de graduação

Editorial do jornal O Estado de São Paulo de hoje (19).

O avanço da tecnologia e a globalização econômica estão levando as universidades brasileiras a rever seus cursos de graduação, a redefinir suas linhas de pesquisa na pós-graduação e a desenvolver novos projetos pedagógicos. Essa mudança começou timidamente no final do século 20, com a criação de cursos tecnológicos, e ganhou corpo na primeira década do século 21, com o surgimento de bacharelados não convencionais, em áreas como biodiversidade, meio ambiente e energia.
Com o alargamento das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento de novas fontes de energia e a diversificação da economia, propiciados pela expansão da informática, algumas profissões tradicionais desapareceram e outras acabaram surgindo. E, à medida que o mercado de trabalho se tornou mais flexível e mutante, as instituições de ensino superior se viram obrigadas a criar cursos superiores novos e específicos - como bioinformática, engenharia de energias renováveis e agroecologia - ao lado dos cursos tradicionais, como direito, administração e ciências sociais, que proporcionam uma formação clássica e generalista.
Com menor duração e menor abrangência acadêmica, os primeiros desses novos cursos foram lançados por universidades privadas e confessionais com o objetivo de atender a demandas conjunturais de mão de obra qualificada em alguns setores da economia.
Como eram experimentais e tinham forte apelo de marketing, alguns desses cursos acabaram frustrando os alunos, registraram alto índice de evasão e não sobreviveram a mais de uma ou duas turmas. Mas o mercado não deixou de exigir profissionais com uma formação cada vez mais sofisticada, e isso estimulou as universidades públicas e as maiores universidades privadas e confessionais a investir na oferta de cursos de caráter interdisciplinar.
Esse foi um dos fatores que levaram a USP a criar o câmpus da zona leste, em 2005, oferecendo somente cursos novos. No Norte do País, as universidades federais passaram a oferecer cursos que dão prioridade às peculiaridades regionais, mesclando agronomia e zootecnia e valorizando o inventário florestal da Amazônia. Em Minas Gerais, algumas universidades aperfeiçoaram a graduação em tecnologia de alimentos, oferecendo, por exemplo, o curso de Ciência de Laticínios. E, no Rio Grande do Sul, de olho na construção de parques eólicos, a Universidade Federal do Pampa criou no câmpus de Bagé um curso de engenharia elétrica que valoriza mais as atividades de gestão do que as de geração de energia.
As entidades empresarias há muito tempo reclamam da falta de pessoal com formação superior, qualificado nas principais áreas da economia, e apontam para o risco de um apagão de profissionais nas novas áreas do conhecimento. Para orientar as universidades, o Ministério da Educação (MEC) começou a elaborar um mapeamento do mercado, com o objetivo de identificar as carências por região e áreas de conhecimento.
Voltada para as engenharias, a primeira parte do projeto deve ser concluída dentro de dois meses - as partes restantes deverão estar prontas até dezembro, quando o MEC deverá sugerir às universidades os cursos a serem criados. Embora as instituições de ensino superior tenham autonomia para decidir os campos profissionais em que irão atuar, o MEC e as agências de fomento à pesquisa querem evitar desperdício de recursos e iniciativas de duvidosa utilidade. Isso, por exemplo, aconteceu com o bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidades da Universidade Federal da Bahia. Criado há três anos, com base num programa que inclui disciplinas como feminismo, relações de poder e orientação sexual, ele ainda não consegue preencher as 50 vagas oferecidas anualmente.
A reestruturação das universidades é um fenômeno que vem ocorrendo no mundo inteiro. Para os especialistas em educação, o que deve prevalecer nas mudanças é o bom senso dos órgãos colegiados, nas universidades públicas, e dos mantenedores, nas universidades privadas e confessionais.

domingo, 17 de abril de 2011

Gastos privados com Educação

Artigo de Naercio Menezes Filho* no Valor Econômico desta sexta-feira (15).

Diante da péssima qualidade da educação pública brasileira, muitas famílias acabam gastando uma parcela significativa da sua renda com educação privada. Uma pesquisa recente do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper calculou pela primeira vez o total de gastos privados com educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), utilizando dados das pesquisas de orçamentos familiares (POF) do IBGE. O valor gasto pelas famílias brasileiras com educação atingiu 1,3% do PIB em 2009. Isso é muito ou pouco?

O gráfico compara os gastos públicos e privados com educação em vários países. Podemos verificar que os gastos do Brasil (tanto públicos como privados) estão um pouco acima da média da OCDE. Em termos de gastos públicos, o Brasil gasta mais do que Chile, Alemanha e Coreia e menos do que os Estados Unidos e a Islândia. Vale notar que as estatísticas brasileiras não incluem os gastos com aposentadoria dos professores das redes públicas de ensino, ao contrário do que ocorre na maioria dos países da OCDE. Em termos privados, o Brasil gasta mais do que México e Portugal, mas menos do que Coreia do Sul e os Estados Unidos.

O total gasto pelas famílias com educação em cada país depende de uma série de fatores. O primeiro deles é a qualidade da educação pública. Quanto maior é o aprendizado dos alunos nas escolas públicas, menor é a probabilidade de que as famílias queiram gastar sua renda com educação privada. Além disso, o montante gasto depende da importância do aprendizado para o acesso às melhores faculdades de cada país. No Brasil, por exemplo, o acesso ocorre por meio de vestibulares concorridos. Assim, muitas famílias prefeririam colocar seus filhos nas melhores escolas privadas, mesmo que as escolas públicas fossem boas, para aumentar a chance de ingresso. Comparam custo e benefício. O mesmo ocorre na Coreia, na China e no Vietnam, onde a educação é verdadeira obsessão nacional.

País gastou em 2009 cerca R$ 15 mil por aluno do ensino superior, e só R$ 3 mil por aluno no ensino básico

Além disso, o estágio de desenvolvimento do país conta muito. Nos países mais ricos, como os Estados Unidos, as famílias já dispõem de renda suficiente para gastar com educação, sem que isso prejudique outros gastos essenciais com saúde, habitação e alimentação. No Brasil, apenas uma parte das famílias está nessa situação, embora 33% delas tenham gasto algum montante com educação em 2009. Nesse caso, é a falta de alternativas que conta. Por fim, devemos levar em conta as diferenças institucionais entre os países. No Chile, por exemplo, há um sistema de "vouchers" em que as famílias podem matricular seus filhos em escolas privadas sem gastar recursos próprios, pois quem paga é o governo. No Brasil, gastos de até R$ 2.710,00 por ano são dedutíveis do Imposto de Renda.

Os dados nos permitem analisar também como são aplicados os gastos das famílias. Como esperado, a maior parte dos recursos é gasta com mensalidades de cursos regulares do ensino básico (30%) e superior (35%). Além disso, entre 2003 e 2009 os gastos com pós-graduação dobraram (de 3% para 6% dos gastos totais), acompanhando a valorização do mestrado pelo mercado. Os gastos com cursinhos para vestibular são significativos, enquanto os gastos com professores particulares ainda são pequenos. Os brasileiros gastaram quase R$ 2 bilhões com livros didáticos em 2009, ou seja, quase R$ 10 por habitante por ano. O gasto com o aprendizado de línguas estrangeiras, para complementar o que é oferecido nas escolas, foi de cerca de R$ 1,8 bilhão.

Vale notar que o gasto público, atualmente em 5,1% do PIB, é muito mal distribuído. Gastamos em 2009 cerca R$ 15 mil por ano por aluno do ensino superior, mas apenas R$ 3 mil por aluno no ensino básico. Dessa forma, o país teria muito a ganhar se os gastos públicos fossem redirecionados do ensino superior para o ensino básico, especialmente para o infantil. Na verdade, isso já vem ocorrendo, pois a razão entre os gastos públicos por aluno do ensino superior e básico, que era 11 em 2000, declinou para 5,2 em 2009. Política educacional na direção correta.

Em suma, para a classe média voltar para a escola pública, é preciso melhorar dramaticamente a qualidade do ensino nessa rede. Para que isso aconteça, antes de aumentar ainda mais os gastos públicos, é necessário melhorar a gestão do sistema público de ensino e distribuir melhor os recursos existentes.

*Professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, professor associado da FEA-USP e escreve mensalmente às sextas-feiras.


Fonte: Jornal da Ciência - (Valor Econômico)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Com a palavra, o Presidente do CNPq

Prestes a completar 60 anos, o CNPq é reconhecido como um verdadeiro propulsor para a formação científica e tecnológica brasileira. Desde sua criação, em 1951, a agência fomenta pesquisas e estimula a capacitação de pesquisadores e docentes com o intuito de levar o Brasil a alcançar voos mais altos no cenário mundial de C&T. Na entrevista com o novo presidente da Casa, Glaucius Oliva, fica clara a necessidade de transformar o conhecimento gerado em riquezas e serviços úteis para a sociedade. Em sua opinião, o Brasil avançou muito nos últimos anos, mas ainda existe um grande vale entre a ciência e o mercado.  Além de ser imperativo disseminar a cultura da inovação, Oliva afirma ainda ser imprescindível garantir a todos os brasileiros uma educação de qualidade, pois, segundo ele, a baixa escolaridade e a falta de mão-de-obra qualificada no país ainda são os grandes entraves para o desenvolvimento efetivo do Brasil.


1) Como o senhor avalia o cenário de Ciência e Tecnologia no País?
A ciência brasileira tem progredido de forma expressiva. Ainda que o Brasil seja um país jovem - quando se fala de pesquisa científica - e com muitos desafios pela frente para aperfeiçoar sua política de CT&I, vemos que o Brasil tem conseguido promover um contínuo crescimento na formação e capacitação de profissionais voltados para a geração de conhecimento. Nossas universidades mais antigas ainda nem completaram um centenário, e só a partir dos anos 80 nossos indicadores de ciência e tecnologia realmente começaram a se sobressair. Ainda assim, hoje já produzimos 2,7% de toda a ciência mundial e temos liderança reconhecida em várias áreas do conhecimento, como a agricultura tropical, a geofísica e a engenharia associada à prospecção de petróleo e gás em águas profundas, e a parasitologia, apenas para mencionar alguns exemplos. Atualmente, temos uma respeitável comunidade científica e tecnológica. De 2001 para cá, o número de mestres e doutores titulados no Brasil dobrou. Só em 2010, 12 mil receberam o título de doutor e 41 mil, de mestre. Na Plataforma Lattes do CNPq, hoje estão registrados mais de 1,7 milhões de currículos, entre os quais 135 mil doutores e 237 mil mestres, distribuídos nos mais de 27 mil grupos de pesquisa cadastrados no Censo 2010 do Diretório de Grupos de Pesquisa (DGP). Portanto, o cenário é altamente positivo. 
2) Esses dados são muito animadores, porém o que precisamos melhorar para avançarmos ainda mais?
Há no Brasil um imenso vale entre a ciência e o mercado, ou seja, ainda existe uma grande dificuldade para transformar o conhecimento gerado em riquezas e serviços úteis para a sociedade. Neste sentido, é preciso aproximar mais as universidades das empresas brasileiras para que estas se tornem mais competitivas no mercado externo. É imperativo disseminarmos a cultura da inovação nas cadeias produtivas, diminuirmos também a burocracia e os custos para o registro de patentes e estimularmos ainda mais os empreendedores tecnológicos. Só assim, com esta sinergia entre o governo, a academia e o mercado, o Brasil alçará voos mais altos.
 3) De que maneira o CNPq tem participado do crescimento da produção cientifica no Brasil?
O CNPq é a casa do cientista brasileiro. Foi sempre o principal vetor do desenvolvimento científico e tecnológico do país, naturalmente somado aos esforços de outras agências e órgãos de governo, como o próprio MCT, a CAPES, a FINEP e as agências estaduais. Além de prover bolsas de formação e recursos para o fomento a pesquisas, o CNPq mantém um cuidadoso sistema de avaliação por pares, por meio de seus Comitês de Assessoramento, que motiva a comunidade científica e valoriza a exposição dos resultados das pesquisas em periódicos nacionais e internacionais. Também neste contexto, a Plataforma Lattes tornou mais transparente a produção dos cientistas brasileiros. Não há dúvida de que a valorização das pessoas que fazem ciência tem papel central. Pensando nisso, o CNPq introduziu a Bolsa de Produtividade em Pesquisa e, mais recentemente, a Bolsa de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora, que hoje são fundamentais para reconhecer e estimular nossos pesquisadores.
4) Quais são os grandes desafios do CNPq para esta nova gestão?
 Do ponto de vista da gestão, temos como principais desafios a modernização dos instrumentos de gestão de C&T, com procedimentos de avaliação e acompanhamento que privilegiem a qualidade da ciência e que promovam a inovação e a multidisciplinaridade.e a construção de um novo marco legal que atenda às especificidades do trabalho de pesquisa, desburocratizando importações, compras e contratações, assim aumentando a eficiência na aplicação dos recursos. Precisamos também expandir os recursos de fomento à pesquisa e o número de bolsas oferecidas. Para tanto, o CNPq deve ao menos dobrar seu investimento nos próximos quatro anos, atingindo execução orçamentária próxima a R$ 3,5 bilhões, de forma sustentável e que reflita o planejamento de políticas de governo articuladas. Outra diretriz nossa será consolidar Programas importantes como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e articular uma intensa cooperação com nossas agências co-irmãs, CAPES e FINEP, em um grande esforço pela maior internacionalização da ciência brasileira.
 5) O CNPq concede atualmente mais de 80 mil bolsas. Em sua opinião este número é suficiente?
É um número expressivo e resultado de um crescimento contínuo, especialmente nos últimos 10 anos. Contudo, sabemos que o CNPq pode e deve oferecer um número maior de instrumentos para promover a capacitação de mão-de-obra qualificada, além de fomentar a geração de conhecimento. Desta forma, nesses quase 60 anos de história, ampliamos o número e as modalidades de bolsas para atender as necessidades do país e continuaremos buscando recursos para expandir não só a quantidade, mas a qualidade das bolsas oferecidas.
 6) Sabe-se que estimular a inovação também é uma importante missão do CNPq. Neste contexto quais são os planos para inovar o setor de pesquisas científicas no país?
A ciência brasileira não pode deixar de aprofundar ainda mais seu compromisso com o desenvolvimento econômico e social do país. Para tanto, precisamos implementar novos e mais eficientes instrumentos de estímulo à inovação, no ambiente acadêmico, mas principalmente, nas empresas. Áreas estratégicas e portadoras de futuro devem ser priorizadas, como a química industrial verde, fontes alternativas de energia e em especial a bioenergia, a produção de alimentos, a nanotecnologia, as tecnologias de informação e comunicação, a Amazonia e o Mar, e o apoio inovador à indústria de transformação. Entretanto é importante ressaltar que o CNPq já desenvolve ações voltadas para a Inovação, como o Programa RHAE e um conjunto de modalidades de bolsas de Fomento Tecnológico, especialmente criados para agregar pessoal altamente qualificado em atividades de P&D nas empresas. No campo da ciência básica, temos que estimular a busca pela fronteira do conhecimento, em editais nos quais o protagonista seja predominantemente o projeto de pesquisa e não apenas o histórico do proponente.
7) O livro Azul, caderno especial lançado no final do ano passado com as propostas apresentadas pela 4° Conferencia Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação (CNCTI), enfatizou a importância de juntar esforços para melhorar a qualidade da educação do país. Para o senhor de que forma a baixa escolaridade e a falta de mão-de-obra qualificada da população brasileira inibem o efetivo avanço da pesquisa?
 O grande desafio desta década é garantir a todos os brasileiros uma educação de qualidade, a começar pela básica, pois a infância é a época mais importante e mais eficaz para estimular o senso crítico tão necessário para produzir Ciência. Se não incentivarmos os jovens desde cedo a gostar de ler, contar e experimentar a Ciência, dificilmente teremos no futuro profissionais qualificados para os grandes projetos previstos para os próximos anos, como na área de petróleo, bioenergia, saúde, tecnologias de informação e comunicação, para a exploração sustentável dos biomas, entre outras áreas estratégicas que requerem mão-de-obra especializada.
 8) O CNPq tem alguma ação voltada para tentar minorar esse dado negativo?
Sim, várias. A começar pelos editais específicos que buscam valorizar as atividades de divulgação e educação científica em todas as áreas, em particular em matemática e ciências. O CNPq apoia as Olimpíadas Científicas, as Feiras e os Museus de Ciências, que são importantes instrumentos de melhoria dos ensinos fundamental e médio, além de estimularem os jovens a seguirem carreiras científico-tecnológicas. Para despertar a vocação científica também oferecemos as bolsas do tipo Iniciação Cientifica Júnior, que incentivam talentos potenciais entre estudantes do ensino fundamental, médio e profissional da Rede Pública. Creio que é impossível desenvolver ciência e tecnologia sem nos focarmos em uma educação de alta qualidade. Por isso, é necessária uma política de Estado que dê continuidade aos avanços conquistados e que perpasse os vários setores do governo com esforços conjuntos nos níveis municipal, estadual e federal.
9) Em sua opinião, quais áreas precisam ser mais estimuladas/reforçadas no Brasil?
Creio que seja a área das engenharias, pois existe uma escassez generalizada de engenheiros no país. Apesar de ter crescido nos últimos anos, essa é uma área da graduação que está aquém das nossas necessidades. Hoje, o Brasil forma de 30 a 35 mil engenheiros por ano, mas a demanda é muito maior. Do total de alunos que fazem cursos superiores, somente 5% estão nas áreas da Engenharia; já na China, esse percentual chega a 30%. E, para piorar a situação, muitos engenheiros desistem de continuar na área por falta de estímulo. Isso precisa ser rapidamente modificado. Agora, é preciso juntar esforços e planos para incentivar mais jovens para essa área e valorizar os que já estão envolvidos, proporcionando a estes uma formação ampla, sólida e contínua. Só assim seremos capazes de responder aos desafios do desenvolvimento brasileiro.
10) A entrada recente do desenvolvimento social na agenda da ciência e tecnologia foi um importante passo político. De que forma a ciência e a tecnologia podem contribuir para diminuir as desigualdades do Brasil?
 A inclusão social é um dos grandes desafios do século. Em nosso país, por mais que tenhamos feito grandes avanços neste aspecto, ainda existe um enorme fosso no tocante à distribuição da riqueza e do acesso aos bens materiais, culturais e, em particular, à apropriação dos conhecimentos científicos e tecnológicos. Inúmeras ações e programas vêm sendo consolidados no Brasil no sentido de articular, fomentar e promover a difusão do conhecimento científico e tecnológico em todas as regiões do país, a exemplo dos programas realizados pela Secretaria de C&T para Inclusão Social. O CNPq tenta minorar essa desigualdade lançando inúmeros editais que buscam ampliar e estimular o desenvolvimento regional. Em geral, disponibilizamos também 30% dos valores totais de cada edital para projetos coordenados por pesquisadores vinculados a instituições sediadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, numa tentativa de desconcentrar a produção cientifica, que hoje se concentra muito na região Sudeste e Sul.  É preciso também estimularmos ainda mais o setor empresarial a promover ações de responsabilidade social e criar novos programas que difundam a apropriação e o uso da C,T&I para o desenvolvimento local e regional. A Ciência é um forte mobilizador para melhoria das condições de vida no campo ou na cidade, o que precisamos é não parar de trabalhar até que ocorra a verdadeira popularização da ciência em prol do desenvolvimento social.
11) Qual a importância de incentivar a pesquisa científica e tecnológica para o desenvolvimento da Região Amazônica?
Tanto por suas riquezas naturais quanto culturais, a Amazônia representa hoje um manancial de oportunidades para pesquisas. Estamos vivendo em um novo contexto mundial, no qual se valoriza mais a biodiversidade, as florestas tropicais, a água e os recursos minerais. Neste sentido, é preciso produzir mais informações sobre o bioma amazônico para reduzir o desmatamento, fomentar a inclusão social e principalmente estimular atividades de C,T&I  na região. Uma ótima notícia é que dos 122 INCTs 8 estão na Região Amazônica, fruto de uma exitosa parceria do CNPq com os Estados do Amazonas e Pará. Porém certamente há ainda muito espaço para ampliar a formação de recursos humanos qualificados na região e estabelecer ações que atraiam empresas de base tecnológica voltadas para a biodiversidade, bem como estimular programas que busquem reduzir ou mesmo erradicar as carências sociais. É preciso definitivamente ampliar as fronteiras do conhecimento para assegurar que todas as regiões tenham plataformas tecnológicas com qualificados centros de pesquisas, cada um com as características e especificidades de sua região.
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Assessoria de Comunicação Social do CNPq