terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gestores de universidades federais são alvos de inquéritos

MEC apura 23 casos de irregularidades em instituições de ensino de 13 estados
BRASÍLIA - Centros de excelência em formação profissional e pesquisa científica, universidades federais têm construído, paralelamente, uma escola de impropriedades na gestão de recursos públicos. Reitores, pró-reitores e ex-dirigentes de, pelo menos, 16 instituições, em 13 estados, são alvos de processos administrativos, auditorias, inquéritos e ações na Justiça por deslizes que vão do favorecimento a parentes e amigos ao desvio de verbas. Só o Ministério da Educação (MEC) apura 23 casos, envolvendo gestores de oito federais, que, se forem considerados culpados, podem perder seus cargos ou, se já afastados, ficar proibidos de voltar ao serviço público e ter as aposentadorias cassadas
Na lista constam catedráticos que ganharam notoriedade recentemente, como o ex-reitor José Januário Amaral, que renunciou em meio a suspeitas de integrar um esquema de corrupção na federal de Rondônia (Unir). E outros que caíram em desgraça pública bem antes, casos de Timothy Mulholland, da Universidade de Brasília (UnB), envolvido em denúncias de irregularidades em fundações vinculadas à universidade; e de Ulysses Fagundes Neto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cujos gastos em viagens ao exterior foram o estopim de sua queda. Ambos saíram em 2008, mas ainda não receberam o veredicto do MEC, cujos processos disciplinares (PADs), não raro, são tão lentos que só acabam após os delitos prescreverem.
No Piauí, o reitor da UFPI, Luiz de Sousa Santos Júnior - campeão de PADs no MEC, com oito - acumula ações na Justiça por improbidade administrativa, além de inquéritos no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal que apuram seu envolvimento numa coleção de irregularidades. Numa das ações, ele é acusado pelo MPF de favorecer com 16 contratos, firmados sem licitação, o empresário Cândido Gomes Neto, apontado como controlador de três empresas de publicidade. Em outra, é responsabilizado por gastos abusivos com cartão corporativo, cuja soma alcança R$ 405 mil.
Lei de licitação pública é burlada
A Procuradoria da República no Piauí quer multar o reitor por, supostamente, descumprir ordem judicial que o proíbe de firmar convênios com a Fundação Cultural e de Fomento a Pesquisa, Ensino e Extensão (Fadex), ligada à universidade, para obras e serviços sem previsão legal. E sustenta que a entidade tem sido usada por ele para driblar a exigência de contratar mediante concorrência pública. Empresas mantenedoras da Fadex, como a Construtora F. Ramalho, e que constam em seu estatuto, aparecem no Diário Oficial da União (DOU) também como beneficiárias de contratos da fundação e da UFPI.

O MEC apura a participação da D&P, empresa que pertenceu ao professor Iônio Alves da Silva, ex-coordenador de Comunicação da universidade e ligado ao reitor, em licitação para serviços de publicidade - o processo parou na Justiça. Também está sob investigação o suposto dano ao erário em obras do campus de Bom Jesus. E o uso da Comissão Permanente de Seleção (Copese) para favorecer parentes e pessoas ligadas aos seus integrantes. Por esse motivo, o pró-reitor de Pesquisa, Saulo Brandão, responde a ação de improbidade do MPF.
Na UFPI, foi necessária a intervenção de procuradores da República até para que o nome de uma colega do reitor no Departamento de Química, posto como homenagem num prédio da universidade, fosse retirado. Em representação, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Docentes (ADUFPI) pedem que o MEC apure a suposta concessão de bolsas, pela Fadex, a Santos Júnior e a uma de suas filhas. Ele nega.
País afora, também estão sob investigação casos de irregularidade em licitações e malversação de verbas na federais de Rio, Amazonas, Pará, Minas, Sergipe, Acre e Pernambuco. No Rio Grande do Sul, o ex-reitor da Universidade de Santa Maria (UFSM) é réu da Operação Rodin, da Polícia Federal, que apurou o suposto desvio de R$ 44 milhões do Detran-RS, por meio de fundações ligadas à universidade. Ele também é um dos investigados no controle interno do MEC. Em Pernambuco (UFPE), um dos alvos são contratações reiteradas das mesmas empresas para fornecer materiais de construção.

Em 23 de novembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou suspender licitação da federal de Juiz de Fora (UFJF) para ampliar o hospital universitário. A obra está orçada em R$ 136,8 milhões. Os motivos são um sobrepreço de R$ 15,7 milhões, apontado na auditoria, restrições à competitividade e indícios de conluio entre as únicas três construtoras que participaram da concorrência. Os preços apresentados por elas foram tão parecidos que a primeira classificada, com o maior desconto, tinha uma diferença de apenas 0,38% em relação ao valor de referência.
Na decisão, relatada pelo ministro José Múcio, o tribunal pede à PF e ao MPF que apurem o caso. E afirma que, embora tenha pedido correções no edital em ocasião anterior, a universidade não o fez.
No Rio, o TCU aplicou este ano multas de R$ 20 mil ao ex-reitor da UFRJ Aluísio Teixeira, e de R$ 5 mil à vice-reitora de sua gestão, Sylvia da Silveira Mello Vargas, por impropriedades em parceria com o Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindmar) para a instalação de um simulador aquaviário. Os recursos do projeto foram destinados por emenda da deputada Jandira Feghali (PCdoB). O equipamento foi instalado na entidade, presidida na época pelo marido da parlamentar, Severino Almeida Filho.

Segundo o relatório que embasou a decisão, a aquisição feriu a Lei de Licitações e foi direcionada ao Sindmar. Além disso, permitiu-se "o envolvimento da universidade em benefício de uma organização sindical". O equipamento, sustenta o tribunal, sequer era necessário à UFRJ. A reitoria nega irregularidades. Houve recursos ao acórdão, mas o tribunal manteve as multas e deu prazo para o pagamento.

Fonte: 
http://oglobo.globo.com/pais/gestores-de-universidades-federais-sao-alvos-de-inqueritos-3425418

domingo, 11 de dezembro de 2011

Dia 11 de Dezembro - Dia do Engenheiro

Parabéns aos Colegas

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pior discriminação é a da mulher, diz presidente de instituição

3ª mulher à frente da principal instituição de ciência do País, a SBPC, Helena Nader admite preconceito na academia, mas aposta em mudança. Confira a entrevista concedida ao portal iG.
À frente de uma das mais importantes associações de promoção da ciência no Brasil, a professora Helena Nader sabe que é uma exceção. Para ela, por ser mulher, sua responsabilidade no cargo de presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é ainda maior. "Meus colegas me deram a honra de estar nessa posição e como poucas mulheres chegaram até aqui, a responsabilidade é maior ainda", diz.

Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde estudou ciências biomédicas, Helena é a terceira mulher a ocupar o posto máximo da SBPC. Criada em 1948 para difundir a ciência, a associação conta com mais de 6 mil pesquisadores associados. Helena faz parte do grupo desde que ainda era uma universitária e se apaixonou pelas artes de ensinar e pesquisar. "Se eu tivesse que repetir a minha vida, faria tudo de novo, igualzinho", garante.

Doutora em biologia molecular pela Unifesp e pós-doutora pela University of Southern California, dos Estados Unidos, Helena também possui cadeira na Academia Brasileira de Ciências. Atuou como pró-reitora de graduação e de pesquisa da Unifesp e trabalhou como professora visitante em Chicago e Nova York (EUA), Milão e Modena (Itália).

Tanta dedicação ao trabalho, segundo ela, só foi possível graças ao apoio que recebeu do marido e às suas próprias filosofias de vida. "Algumas decisões são de foro íntimo e algumas pessoas não teriam a tranquilidade que eu tive em assumi-las. A mulher é criada dentro de uma filosofia de que é ela quem tem de fazer determinadas coisas", pondera.

Contra cotas como políticas afirmativas de gênero, por acreditar que as mulheres têm mérito e condições suficientes para assumirem postos de chefia, Helena é otimista e acredita que o futuro será diferente. Em pouco tempo. Confira a entrevista concedida ao iG.

iG: Professora, a senhora está em uma posição rara hoje: a de uma mulher liderando um cargo importante para a ciência brasileira. Como se sente diante dessa missão?
Helena Nader: Eu tenho um orgulho muito grande de estar ocupando essa posição, Mas, apesar de as mulheres estarem cada vez mais se titulando e produzindo ciência, há um número pequeno mesmo que chega a posições de chefia. Na SBPC, eu sou a terceira. A sociedade já teve como presidente homens como Anísio Teixeira, então minha responsabilidade é grande. Fui vice durante quatro anos e me indicaram para a presidência agora. Meus colegas me deram a honra de estar nessa posição e como poucas mulheres chegaram até aqui, a responsabilidade é maior ainda.

iG: Por que a senhora acha que foi escolhida?
Helena: Desde quando comecei minha vida acadêmica, sempre lutei muito para fazer ciência de alta qualidade, com a mesma expressão e importância do que é feito em qualquer lugar do mundo. Nunca me passou pela cabeça que um dia estaria à frente dessa instituição. Fui pró-reitora de pós-graduação e de pesquisa da Unifesp e acredito que os reitores me convidaram pela minha capacidade técnica. Acho que, dessa vez, ocorreu o mesmo.

iG: A senhora acredita que ainda existe preconceito na academia e na ciência em relação à capacidade feminina?
Helena: Infelizmente, ainda existe discriminação sim. Não gosto de acreditar nisso, mas acontece. Agora, pior é própria discriminação da mulher, que se bloqueia e não se permite ser mais agressiva no sentido de almejar determinados cargos e ir à luta. Há um estigma, mas acho que isso está mudando. Qualquer mudança é lenta. Eu gostaria que fosse mais rápida.

iG: A senhora acredita que essa desigualdade de gênero na academia vai acabar em pouco tempo? O que poderia fazer para acelerar esse processo?
Helena: Evoluímos bem, mas não o suficiente. Não gostaria, de verdade, que essa aceleração ocorresse por causa de ações afirmativas. Sou totalmente a favor de ações afirmativas para a entrada do negro e do índio na universidade, porque eles foram excluídos, não tiveram o mesmo acesso à educação. Com as mulheres é diferente. Nós já estamos lá. Acho que é preciso fazer uma discussão mais ampla com sociedade, para buscarmos a essência do problema. Hoje as mulheres continuam tendo dois papéis, embora o homem já esteja sendo parceiro dentro de casa e na criação dos filhos.

iG: Como a senhora conseguiu desenvolver sua carreira e se ajustar nesses papéis?
Helena: Eu tive um marido excepcional, que dividiu tudo comigo muito bem. Ele também era pesquisador, um médico. Quando eu estava com a minha filha, minha atenção era dela. Mas ela estudava em período integral e não é todo mundo que pode fazer isso. Eu não queria que ela ficasse com babá e TV. Nosso relacionamento é incrível. Algumas decisões são de foro íntimo e algumas pessoas não teriam a tranquilidade que eu tive em assumi-las. A mulher é criada dentro de uma filosofia de que é ela quem tem de fazer determinadas coisas.

iG: A senhora recebeu muito estímulo dos seus pais para ter uma carreira consolidada?
Helena: Minha mãe só terminou o ensino básico, mas eu brinco que ela fez o curso superior comigo e com a minha irmã, porque ela sempre nos estimulou muito. Meu pai a mesma coisa. Aliás, devo ao meu pai o fato de ter continuado meu curso. Eu havia tentado uma vaga em medicina na USP e não consegui. Fui aprovada em ciências biomédicas, mas era um curso muito novo e fiquei em dúvida. Meu pai me incentivou a começar e ver o que achava. Um homem sábio, porque me apaixonei pelas aulas, pelo laboratório. Se eu tivesse que repetir a minha vida, faria tudo de novo, igualzinho. A profissão de ensinar é uma enorme responsabilidade, mas o prazer de pesquisar é único.
(Portal IG)

domingo, 4 de dezembro de 2011

A patente e suas vítimas

Artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite publicado na Folha de São Paulo de 2 de dezembro de 2011.

"A patente é um direito outorgado pelo governo a pessoas ou companhias para impedir outras pessoas ou companhias de produzir, vender ou usar um produto ou um processo que foi inventado por outrem." Acho que foi Perelman, em seu tratado sobre argumentação, que nos ensinou que, sempre que uma afirmativa não ficar clara em sua forma positiva, é conveniente reformulá-la na forma negativa.

É o que fizeram A. B. Jaffe e J. Lerner com a definição acima de patente. E, de fato, a patente tem sido usada antes para impedir a produção de um bem do que para realizá-la. A indústria de semicondutores, em seus primórdios, ou seja, até meados da década de 80, não tinha a patente como objetivo importante, talvez devido à crescente velocidade de obsolescência de suas tecnologias. Um filme recente exemplifica essa condição.

Após oito anos de prisão, o personagem encarnado por Michael Douglas em "Wall Street 2" recebe os pertences entregues quando ali se apresentou. Dentre eles, o seu celular, um tijolo de um quilograma que não caberia no bolso e que não seria capaz de nada a não ser chamar um outro telefone. Ora, de que serviria patente de 20 anos se o tempo de obsolescência médio de uma inovação no setor é inferior a um ano, senão para impedir a evolução e o progresso?

Foi a "Texas Instrument" que, no início da década de 80, percebeu o maná que poderia ser a legislação patentária. Formou legião de advogados especializados em litígio, depositou uma imensidão de pedidos de patentes e logo viu suas receitas provenientes de litígios devidos à propriedade intelectual suplantarem aquelas relativas à produção.

O exemplo foi logo seguido por uma coorte de empresas, e viu-se a proliferação de advogados de patentes, firmas e consultorias. Quanto mais aplicações de patentes, mais litígio, mais legislação e, consequentemente, mais advogados, mais parasitas, constituindo um círculo vicioso cuja única consequência é o retardamento do desenvolvimento tecnológico.

Para setores em que intensivas pesquisas predominam, o benefício proporcionado pela introdução da inovação no mercado é suficiente como retribuição pelos investimentos em pesquisas e eventuais mudanças de processos de produção que possam ter exigido investimentos expressivos.

Diferentes setores têm diferentes tempos de vida de suas tecnologias, desde a área de construção civil, em que uma tecnologia resiste por séculos, até a de telecomunicação e informática, ou aeronáutica, por exemplo, em que esse período pode ser, em média, de um semestre.

É óbvio, portanto, que ter um mesmo rígido período de monopólio de 20 anos serve principalmente para retardar a evolução tecnológica e rechear os bolsos de advogados, burocratas e outros parasitas do tráfico patentário.

Rogério Cezar de Cerqueira Leite, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), membro do Conselho de Ciência e Tecnologia da República e do Conselho Editorial da Folha.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Docentes do IF-UFRGS manifestam preocupação com o financiamento de pesquisa

Confira a íntegra da carta enviada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O Conselho do Instituto de Física da UFRGS reunido no dia 25 de novembro informado das dificuldades orçamentárias pelas quais o CNPq passa e que inviabilizaram o atendimento adequado da demanda qualificada dos pedidos de apoio à pesquisa e de bolsa de produtividade em pesquisa vem, por meio desta, manifestar a profunda preocupação com o financiamento da pesquisa em ciência básica e em inovação via governo federal.

O fomento regular e ininterrupto à pesquisa tem possibilitado uma expansão sem precedentes na quantidade e na qualidade da pesquisa que o Brasil desenvolve na área de física.  Os frutos de todo este processo podem ser vistos não somente no impacto das publicações nacionais e na participação de pesquisadores brasileiros como palestrantes em eventos internacionais mas também pelo crescente número de patentes e empresas incubadas em diversas universidades do País. Hoje o Brasil é rota obrigatória para as conferências mais importantes do mundo e estamos presentes nos conselhos científicos internacionais.

Graças ao projeto de expansão REUNI e a este financiamento à pesquisa consistente, vários pesquisadores brasileiros residentes no exterior estão sendo repatriados.  Além disso, um número crescente de pesquisadores estrangeiros está buscando o Brasil para se estabelecer.

Infelizmente o ano de 2011 interrompeu esta história de sucesso com um financiamento à pesquisa aquém do necessário até mesmo para manter a infraestrutura já implantada. A paralisação do fluxo de investimento em PD&I certamente ocasionará perdas irreparáveis para toda a comunidade científica nacional, além de inviabilizar o ingresso de nosso país no mercado de alta tecnologia e inovação. Não se revertendo esta tendência, estaremos condenando ao fracasso científico os jovens que repatriamos e as novas gerações que estão entrando no sistema de pesquisa agora. Se o Ciência sem Fronteiras se propõe a ser um canal para alavancar o futuro do Brasil em termos de ciência, a falta de financiamento agora é uma garantia para que este futuro não tenha a infraestrutura mínima para se desenvolver. Em física, o futuro é agora.

Enfim, solicitamos que a presidência do CNPq alicerçada na comunidade científica nacional busque formas de sensibilizar o Governo Federal da necessidade de um aumento dos recursos financeiros destinados às bolsas de pesquisa e ao financiamento da mesma no País.

Aproveitamos a oportunidade para parabenizar a presidência do CNPq pela implementação de uma gestão em C&T mais ágil na submissão de projetos, página e processo de importação.

Respeitosamente
Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Diretoria

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quem ainda quer ser professor?

Artigo de João Valdir Alves de Souza publicado no Boletim UFMG.

Há fortes evidências, nos dias atuais, de que a profissão docente vive uma crise sem precedentes na história do nosso ensino. A despeito da grande diversidade de condições da oferta e demanda por escolarização, tanto no que se refere à condição docente quanto à condição discente, produto da diferenciação sociocultural e das desigualdades socioeconômicas, essa crise atravessa a estrutura da escola de alto a baixo.

Ela combina ingredientes de natureza muito diversa, mas o elemento-chave da sua explicação é o baixo valor do diploma de professor, sobretudo na educação básica, tanto no mercado de bens econômicos (salário) quanto no mercado de bens simbólicos (prestígio). Esse baixo valor do diploma expressa um terrível paradoxo: quanto mais expandimos a oferta do ensino, maior se revela nossa dificuldade de formar professores para atendê-la.

Estamos pagando o preço caro de uma conquista. Desde o século 18, na Europa, e pelo menos desde o final do século 19, no Brasil, reivindica-se educação como direito do cidadão e dever do Estado. Pois bem, todos - ou quase todos - vieram para a escola. Vieram os camponeses, os das periferias urbanas, os indígenas, os deficientes físicos e, inclusive, os que não querem saber de escola. Vieram por direito, resultado de lutas históricas pela sua inclusão nos sistemas de ensino. Mas, como não há milagres em matéria de educação e ensino, isso também exigiria formar em quantidade e qualidade os professores que dariam conta dessa tarefa em condições que obedecessem a patamares mínimos de decência.

O Brasil universalizou recentemente o ensino fundamental e trabalha arduamente para universalizar, até 2016, a educação infantil e o ensino médio, cujo atendimento está na casa de míseros 50%. Não bastasse a escassez de professores para a demanda atual, que o MEC já contabiliza na casa dos 250 mil, sobretudo para o ensino das ciências, universalizar a educação básica implica a necessidade de formar mais e bem os professores para realizar a tarefa. Essa legítima proposta do Plano Nacional de Educação esbarra, contudo, em problemas cuja gravidade nos deixa poucas expectativas para sua realização.

Um desses problemas é a baixa atratividade da carreira docente, com recrutamento dos estudantes dos cursos de licenciatura justamente entre aqueles de escolarização básica mais precária. Indicador preocupante dessa baixa atratividade está expresso na relação candidato/vaga dos últimos 13 vestibulares da UFMG (2000-2012), o que parece estar longe de ser uma situação exclusiva desta Universidade. Em 2000, dos 17 cursos mais concorridos, seis formavam professores. Para o vestibular 2012, não há um único curso de licenciatura entre os 15 mais concorridos.

Mantida a atual tendência, em três ou cinco anos não teremos candidatos aos cursos de licenciatura. Cursos como Ciências Biológicas, Educação Física, Geografia, História, Letras, Matemática e Pedagogia, que eram disputados numa correlação de 12 a 30 candidatos por vaga, há dez anos, para 2012 contarão, respectivamente, com 3,5; 2,1; 1,6; 4,8; 1,4; 2,9 e 3,0 candidatos para cada vaga. Mesmo considerando que houve aumento do número de vagas em alguns deles, redução da concorrência em outros cursos que não os de licenciatura e que caiu de 18 para 9 a média geral da relação candidato/vaga na universidade, a generalizada queda da concorrência nos cursos de licenciatura é forte evidência de que há pouco interesse pela docência atualmente.

Mas isso é apenas parte do problema. Um segundo elemento a ser considerado é o elevado índice de desistência da profissão. Grande número dos que se formam professores não terão as salas de aula como destino ocupacional. A universidade fez elevado investimento, nas duas últimas décadas, criando cursos exclusivamente de licenciatura, em que a escolha precede o vestibular. Grande parte dos alunos desses cursos diz explicitamente que a sala de aula não é a sua opção. E um dos motivos mais apontados é a informação sobre o elevado índice de abandono da profissão, isto é, professores experientes que se afastam por adoecimento ou por não suportarem mais ser vítimas de violência física e/ou simbólica no cotidiano da sala de aula.

Internamente, a Universidade tem enfrentado o problema com ações como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que concede bolsas de estudos e um trabalho de formação diferenciada para alunos dos cursos de licenciatura. Contudo, se não forem modificadas as condições gerais da docência, para fazer dela uma carreira atraente, simplesmente não teremos professores para atuarem na universalização da educação básica.

João Valdir Alves de Souza é professor de Sociologia da Educação na FeE/UFMG, coordenador do Colegiado Especial de Licenciatura e do Grupo de Pesquisa sobre Formação de Professores e Condição Docente.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Inovação e a cobra que mordeu o rabo

Artigo de Ronaldo Mota na Folha de São Paulo de hoje (8).

Inovação refere-se ao desenvolvimento de um novo produto ou processo, bem como à funcionalidade inédita de um produto já existente, que atende a uma demanda específica do público consumidor ou que gera nichos previamente inexistentes de mercado. Inovação está conectada à aplicação de conhecimentos associados ao desenvolvimento de ciência e tecnologia; contemporaneamente, é o principal elemento propulsor da economia mundial.

A ciência pode engendrar tecnologias que, a depender da capacidade de absorção do mercado e da escala do público consumidor, podem se caracterizar como inovação. Essa cadeia linear distanciou a livre e descompromissada produção do conhecimento, a ciência, da extremidade oposta vinculadas às demandas do mercado consumidor, que é a inovação. A realidade recente impõe que a forma de produzir conhecimentos e de transmiti-los tem-se alterado radical e profundamente.

Classicamente, ciência se assenta na liberdade individual de cátedra e em linhas de pesquisa que caracterizavam o pesquisador tradicional, cuja função primeira tem sido alargar as fronteiras, indo além do estado da arte. A principal motivação dos temas são os desafios inerentes à subárea, sendo as eventuais aplicações futuras definidas em outros contextos e em tempos de escalas diversas, a depender da linha de pesquisa específica.

O Brasil demonstrou nas últimas décadas uma capacidade extraordinária de produzir conhecimentos dentro da estratégia acima, tendo consolidado uma pós-graduação de qualidade e uma produção científica crescente em níveis bem acima da média mundial. Por outro lado, atestamos até aqui uma notável fragilidade em transferir conhecimento ao setor produtivo, ainda que tenhamos como exceções as áreas do agronegócio e raros setores industriais bem identificados.

A verdade é que, nos tempos atuais, os balizadores com que se produz ciência têm se alterado de tal forma que uma nova dinâmica impõe que as demandas da sociedade passem a ser, cada vez mais, os elementos definidores, ainda que não sejam os únicos, dos principais programas de pesquisa.

Da pesquisa quase individual passamos rapidamente às imprescindíveis redes de pesquisa; das linhas de pesquisa quase isoladas estamos migrando para programas de natureza multidisciplinar, motivados por demandas em geral complexas e, portanto, praticamente intratáveis à luz de linhas de pesquisa ou indivíduos isolados.

Os movimentos acima podem ser descritos por uma substituição gradativa da cadeia linear por um círculo completo contemplando ciência, tecnologia e inovação, em que as demandas da inovação influenciam e de certa forma definem os rumos da ciência. É a cabeça da cobra que mordeu o rabo.

Ronaldo Mota é secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e professor titular de física da Universidade Federal de Santa Maria. Foi secretário de Educação Superior e de Educação a Distância do Ministério da Educação.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Einstein e Bill Gates

Crônica do professor Sergio Mascarenhas.
Recentemente o Ministério de Ciência e Tecnologia passou a denominar-se Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. A mudança foi adequada? Embora o Ministro anterior, um dos melhores que o Brasil já teve Sérgio Machado Rezende, tivesse prestigiado fortemente a Inovação, inclusive criando uma Secretaria especial somente para Inovação, e indicado para ela um grande cientista, Ronaldo Mota, que, aliás, continua nessa função com o presente ministro, acho que a mudança do nome foi oportuna e gostaria de aproveitar para discutir o tema, da maior importância para o desenvolvimento não só da Ciência e Tecnologia mas da Educação em geral.

Para isso vou me valer de dois símbolos da sociedade global, Einstein e Bill Gates, que ladeiam a figura de Janus, o único Deus Romano, não copiado da mitologia grega, com seus dois instigantes e filosóficos olhares, um para o passado outro para o futuro.

Começo pelo cenário da história da ciência e tecnologia: a convergência temporal das duas é a característica principal dos tempos atuais. Enquanto as leis da eletricidade e magnetismo foram estabelecidas por Faraday e Maxwell nas quais se baseia o funcionamento do motor elétrico, cerca de 4 décadas foram necessárias para o seu pleno desenvolvimento tecnológico. Mas o tempo entre a descoberta das ondas eletromagnéticas e suas aplicações já foi mais curto, apenas duas décadas, entretanto no mesmo ano que o laser essa fabulosa fonte de luz foi inventado já houve aplicações tecnológicas para o mesmo!

Hoje a característica de nossa era séc. XXI é a vida curta de produtos, processos e serviços característica da economia globalizada impulsionada pelos negócios que exigem competitividade acelerada. O cerne dessa convergência, a sua força motora é a Inovação tornada permanente, necessária, característica fundamental do dinamismo dessa interação entre ciência e tecnologia. Mas nossa sociedade ou melhor na cultura brasileira , temos características de inovação? Claro que temos, no Futebol, no Carnaval certamente.

Ocorre entretanto que os nossos jovens talentos não foram educados para a cultura dinâmica da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma razão óbvia pode ser encontrada por uma simples visão da nossa sociedade: campos de pelada em todo o Brasil, nas cidades, nas periferias, em qualquer esquina desocupada. Carnaval começa logo depois que acaba pela continuidade das escolas e sociedades carnavalescas. Há até um sinergismo entre futebol e Carnaval as torcidas tipo Gaviões da Fiel são também transformadas em Escolas de Samba no Carnaval!

Mas nas escolas com e minúsculo, isto é do sistema educacional a ciência e a tecnologia são poucas e a inovação quer seja nos métodos, quer nos processos de ensino - aprendizagem que  somente recentemente despontam tímidos , numa infra-estrutura de escolas de curto tempo, não a Escola Parque sonhada por Anísio Teixeira , mas a Escola mínima cartorial, da violência e bullying na sala de aula , sem tecnologia educacional moderna, com professores portadores da  do que chamo Síndrome dos 4 Medos: 1 -Medo do aluno, 2 - medo do seu desamparo em técnicas e conteúdos didático -pedagógicos, 3 - medo do conhecimento avassalador que jorra pela internet e 4 - medo de seu futuro  social como carreira, desprezada que foi não somente pelo Estado mas até pelos sistemas privados que os escravizam com salários irrisórios e cargas didáticas intensas.

Mas nosso tema é a Inovação! Mas como inovar em um ambiente desses sem qualquer motivação seja para Einsteins ou Bill Gates? Recentemente a Universidade Rockefeller recebeu o seu vigésimo sexto Prêmio Nobel, dessa vez em medicina, uma única Universidade em New York 26 prêmios-Nobel! O Brasil não tem sequer um Nobel, nem mesmo em Humanidades, a menos que se considere a copa do Mundo equivalente ao Nobel e os festejos carnavalescos como tal! Falta mesmo é educação para Ciência, Tecnologia e Inovação, uma nova cultura diferente dessa que recebemos de nossos colonos machistas, escravagistas e exploradores de nossas riquezas naturais sem lhes agregar quaisquer inovações.

Somente a Embrapa em tempos recentes acordou para essa visão e o fez pela Ciência, Tecnologia e Inovação, provando que sem Einsteins inovadores não teremos os Bill Gates empresariais, pelo menos em número e qualidade suficientes para inserção virtuosa no Mundo Globalizado.

Estou há tempos propondo uma Rede de Agências Multimídia, associada a uma Rede de Centros e Museus de Ciências e Tecnologia com Centrais de Produção nas Cinco Regiões do Brasil para difusão da Ciência, Tecnologia, Inovação tanto na Educação como nas empresas para sairmos desse atraso histórico.

Quem sabe a angustiada solicitação da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) por uma participação no pré-sal possa ser ouvida para essa finalidade? Seria um grande momento na história do Brasil, mas teria que ser ouvido no meio da gritaria dos estados produtores e não-produtores sem explicitações de missões como essa que discutimos em prol da Ciência, Tecnologia, Inovação na Educação.

Esperemos que desprezada pelos ilustres senadores a sugestão da SBPC-ABC possa ser atendida pela Câmara Federal o que constituir-se-a numa decisão histórica tão importante como a da Independência Brasileira, desta vez dos grilhões do subdesenvolvimento.

Sérgio Mascarenhas é professor e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), presidente Honorário SBPC e Membro Titular ABC.

sábado, 5 de novembro de 2011

Entidades científicas fazem novo ato público em favor da Educação e C,T&I

Mobilização da SBPC e ABC acontece na próxima segunda-feira (7), em São Paulo. Participe! 

A SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizam na próxima segunda-feira (7), em São Paulo, um ato público para tentar reverter o quadro atual de distribuição dos royalties do petróleo que não inclui um percentual de destinação para as áreas de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I).

O evento será realizado na sede da SBPC - palco da luta pela redemocratização do País - e reunirá dirigentes de instituições de ensino e C,T&I, docentes, pesquisadores, parlamentares e autoridades dos governos estadual e federal. O evento é aberto ao público.

Em carta encaminhada aos convidados, a SBPC ressalta que o Senado, ao aprovar Projeto de Lei 448 sem definir recursos para educação e C,T&I, deu as costas para as futuras gerações, uma vez que esses recursos deveriam ser usados principalmente para suprir as graves carências do sistema brasileiro de ensino, especialmente na educação básica e no ensino técnico. Além disso, investimentos em C,T&I são imprescindíveis para que a economia brasileira se torne moderna e sustentável e sua produção tenha competitividade nos mercados globais.

"Não houve por parte do Senado sensibilidade para entender que este pleito visava proteger as futuras gerações da nação brasileira, que clama por mais acesso ao conhecimento", afirmou a presidente da SBPC, Helena Nader, lembrando que isso "só poderá ser alcançado com educação de qualidade baseada na apropriação da capacidade de gerar avanços científicos e tecnológicos."

O ato público da SBPC e da ABC será realizado das 14h30 às 17h30, na sede da SBPC (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, São Paulo, SP). Os interessados em participar devem confirmar presença pelo tel. (11) 3355-2130.

Nota da redação - A petição pública da SBPC e ABC em defesa de recursos específicos para Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) na distribuição dos royalties do petróleo a ser extraído da camada pré-sal permanece ativa. Para subscrever o documento acesse o abaixo-assinado disponível emhttp://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=PL8051.

(Ascom da SBPC e JC)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Governo pressiona setor privado para bancar bolsa de estudo

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79954

Com a ajuda dos secretários-executivos dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) intensificou nas últimas semanas os esforços para conseguir a adesão do empresariado ao programa Ciência Sem Fronteiras. 

A ordem é da presidente Dilma Rousseff, que pretende marcar sua gestão com avanços na educação e no crescimento da oferta de mão de obra qualificada. O programa foi montado para ter adesão privada, mas ela está demorando.

A pressão sobre alguns setores, como os bancos, conta com a participação da própria presidente. A iniciativa privada, no entanto, ainda tem dúvidas quanto aos valores das bolsas que serão oferecidas no exterior aos estudantes de graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado e pesquisadores.

O programa Ciência Sem Fronteiras tem como objetivo levar 100 mil bolsistas brasileiros às principais universidades do mundo até o fim de 2014 para estudar em cursos considerados estratégicos para o desenvolvimento brasileiro. O governo oferecerá 75 mil bolsas por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e quer que a iniciativa privada financie as outras 25 mil.

A presidente está envolvida pessoalmente na mobilização. Em viagens internacionais e contatos com autoridades estrangeiras, tem passado o recado de que gostaria de ver os bolsistas brasileiros nas universidades dos países de seus interlocutores. Dilma também já cobrou o apoio do empresariado publicamente. Em julho, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o principal alvo foi a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

"Espero contar com a participação de todos", disse a presidente na ocasião. "É um desafio para o setor privado, especialmente para a Febraban. Viu, Murilo Portugal [presidente da entidade]? Falo no Murilo Portugal, porque ele já esteve na Secretaria do Tesouro e sabe perfeitamente o que representa, para um país como o Brasil, destinar R$ 3,1 bilhões para este programa. Acho importante a participação do setor privado", afirmou Dilma.

Ao lado de outras associações setoriais e empresas, a Febraban é uma das entidades na mira da Casa Civil. Portugal já participou de reuniões com a ministra Gleisi. Também já foram procurados representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), da Eletrobras e da Vale.

"O desenvolvimento de recursos humanos é uma das grandes prioridades, se não a grande prioridade, que temos na Abdib. É o grande desafio da área de infraestrutura", disse o vice-presidente-executivo da entidade, Ralph Lima Terra, que esteve no Palácio do Planalto para debater o assunto. "Isso é fundamental para o desenvolvimento do país."

O diretor de operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Gustavo Leal Sales Filho, afirmou que a CNI deve começar até o fim do ano um "road show" pelos Estados para tentar mobilizar os empresários. As duas entidades querem financiar o estudo de engenheiros que já trabalham no setor produtivo, e precisam de especialização, e também de recém-formados, que poderão ser aproveitados pelas empresas ao retornarem do exterior. "Essa é uma questão crucial para o País", afirmou Sales Filho. Segundo ele, o setor industrial poderá custear até 10 mil bolsas.

O diretor de relações internacionais da Capes, Márcio de Castro Silva Filho, conta que o programa Ciência Sem Fronteiras surgiu depois da visita do presidente americano Barack Obama a Brasília. Segundo ele, Obama perguntou à presidente brasileira por que não há muitos brasileiros estudando nos EUA, se atualmente existem 130 mil chineses e 120 mil indianos nas universidades americanas.

"Agora, os próprios alunos pressionam as universidades para criar comitês de seleção. E os pró-reitores viram a importância da internacionalização das universidades", afirmou Silva Filho. Segundo ele, os primeiros estudantes beneficiados serão enviados a universidades dos EUA e a segunda etapa do programa também envolverá universidades da Alemanha, França e Reino Unido.

As metas da Capes e do CNPq já foram definidas. Subordinada ao Ministério da Educação, a Capes deve ofertar 3,4 mil bolsas do Ciência Sem Fronteiras neste ano. A previsão para 2012, 2013 e 2014 é de, respectivamente, 10,2 mil, 12,2 mil e 14, 2 mil bolsas.

O CNPq, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, oferecerá 3.890 bolsas neste ano, 6.140 em 2012, 10.230 em 2013 e 14.740 bolsas no último ano do governo da presidente Dilma. "Vamos atingir certamente esses números, sem comprometer outros programas", disse o diretor da Capes.

As áreas contempladas pelo programa são engenharia, matemática, ciências biomédicas e da saúde, química, biologia, geociências, computação e tecnologia da informação, tecnologia aeroespacial, farmacologia, agronomia, produção de petróleo, gás, carvão e energias renováveis, biotecnologia, nanotecnologia, tecnologias de prevenção e mitigação de desastres naturais, biologia e ciências do mar.
(Valor Econômico)

sábado, 29 de outubro de 2011

POR QUE É QUE A GENTE É ASSIM ?

POR QUE É QUE A GENTE É ASSIM?
É na Escola de Engenharia que começa a ser destruída a nossa auto-estima. É na Escola de Engenharia que começa a ser forjado o nosso comportamento autodestrutivo, nosso desprezo pelos valores da própria profissão, nosso desgosto com a nossa própria atividade profissional. É na Escola de Engenharia que nasce a nossa falta de coragem empresarial e essa submissão inaceitável aos caprichos dos clientes.

Engenheiros, Médicos, Arquitetos, Advogados, Agrônomos, Dentistas...
Uma coisa leva à outra: toda vez que, numa conversa qualquer, o assunto “comportamento no mercado” vem à tona acabamos caindo nas inevitáveis comparações de engenheiros, arquitetos e agrônomos com médicos, dentistas e advogados...

Quando me perguntam o que eu acho disso (dessa comparação de profissionais tão diferentes) respondo sempre a mesma coisa: acho que essa comparação é JUSTÍSSIMA.
Se eu, engenheiro, por qualquer motivo, tiver de ser comparado com outros profissionais, acho muito justo que seja com médicos, com dentistas ou com advogados. Afinal temos muito mais coisas em comum do que diferenças. Somos todos prestadores de serviços. Nosso produto (nosso serviço) é altamente especializado e todas essas atividades demandam profissionais com capacidade intelectual diferenciada. Ninguém chega a ser médico, advogado, dentista, agrônomo, arquiteto ou engenheiro apenas por ter um belo par de olhos, uma voz doce, algum dinheiro no banco ou um padrinho influente... A conquista de qualquer um desses títulos demanda qualidades e habilidades especiais, muito estudo e empenho (às vezes até muitos sacrifícios).

Temos, é verdade, muitas semelhanças, quando a comparação é feita no nível da qualificação. Porém, no exercício das profissões e no comportamento empresarial de cada grupo as diferenças aparecem e são enormes. Neste texto concentramos nossas reflexões sobre a formação dos profissionais de Engenharia. No entanto, nossa experiência e a convivência com milhares de arquitetos e agrônomos dos mais distantes lugares do Brasil nos permitem acreditar que os conceitos podem se estender sem problemas também para esses profissionais. Voltemos no tempo.

Voltemos ao tempo em que essa pessoa (que hoje é um engenheiro) tinha seus quinze, dezesseis anos, um ou dois anos antes do vestibular. Esse moço ou essa moça é, muito provavelmente, um dos melhores alunos da sua sala (talvez da escola). É um expoente estudantil, requisitado pelos colegas, elogiado pelos professores, respeitado pelos pais (de quem é motivo de muito orgulho) valorizado pelos parentes, pelos vizinhos, admirado pelas garotas (ou garotos).

Comparemos nosso amiguinho com o estudante de quinze ou dezesseis anos que virá a ser médico, dentista ou advogado.

Veremos quase nenhuma diferença.

É isso mesmo. Na origem, são todos iguais. Têm o mesmo perfil, a mesma história, o mesmo rendimento. Todos são brilhantes e bem sucedidos.

Vem o vestibular. Ingressa, cada qual, na faculdade que escolheu... E é aí que as diferenças começam a aparecer. Os estudantes de medicina e de odontologia são enquadrados em um ambiente novo, com pessoas que se vestem de uma maneira diferente, se comportam de uma maneira diferente e que estabelecem uma identidade visual (e, por decorrência, uma identidade psicológica) com a atividade profissional que irão exercer alguns anos depois.

Os estudantes de direito, já nos primeiros meses de escola convivem com professores que vêm para as aulas de terno, gravata, sapato social, barba feita ou bem cuidada. E o mais interessante: aqueles senhores e senhoras respeitáveis, bem vestidos e de fina educação (os professores), tratam os seus alunos por “senhor” ou “senhora”, com toda a fineza e educação que a prática profissional recomenda. E estimulam seus alunos a acreditar e se convencerem de que são superiores. Que estão se preparando para “falar com o Estado” (privilégio que não é concedido a nenhum outro profissional...). Enfim, aprendem que precisam respeitar os outros, mas aprendem, antes de tudo, que precisam exigir respeito para si.
Nos últimos anos de faculdade, estudantes de odontologia e medicina já se vestem como se médicos ou dentistas fossem. Freqüentam clínicas e atuam como profissionais na área da saúde. Assumem, enfim, um ou dois anos antes de terminada a faculdade, todo um comportamento típico de médico. De dentista.

Os estudantes de Direito, por sua vez, a partir da Segunda metade do curso, já se vestem como advogados (roupa social, sapato, eventualmente gravata e um terno ou blazer...). Mantém com os seus professores e com os seus colegas um comportamento e um vocabulário apropriados para as lides jurídicas. E, o mais importante: são tratados, pelos seus professores, como Doutor. (Dr. Fulano, termine seu relatório até a próxima aula. Dr. Sicrano, esteja preparado para a prova final, na sexta-feira.). Apesar de ainda não terem concluído o curso.



Os estudantes de engenharia, ao contrário, a partir do início do curso, a única diferença que eles conseguem perceber na faculdade, em relação ao ensino médio é o grau de dificuldade (que simplesmente quintuplica!).

Não existe nenhum estímulo a um comportamento novo, nenhuma referência, um exemplo positivo de comportamento. Nenhuma motivação para um desenvolvimento psicológico alternativo. Nenhum elemento que interfira na formação do profissional do ponto de vista da sua imagem física composta de aspectos visuais e comportamentais. A vida social, no ambiente da faculdade, é muito restrita, quando não inexistente.

Além do mais, a faculdade entra na vida desses jovens como um elemento de ruptura. Os alunos são colocados em uma condição a que eles não estavam acostumados. Estavam acostumados a tirar notas máximas com a maior facilidade e, de repente, passam a sofrer e ter grandes dificuldades para obter notas mínimas ou médias. Deixam de ser respeitados pelos seus professores que se tornam distantes e autoritários e perdem a admiração dos colegas que estão todos desesperados tentando se salvar de uma coisa que ainda não estão entendendo direito.

Não que as faculdades de medicina, direito ou odontologia sejam fáceis. Ocorre que lá os estudantes têm compensações psicológicas que os estudantes de engenharia não têm. Essas faculdades, por diversos mecanismos, inexistentes nas escolas de engenharia, dão continuidade ao amadurecimento psicológico e social do futuro profissional. E, com isto, mantêm em alta a motivação e auto-estima dos seus estudantes.
Na engenharia não existe nenhum processo de acompanhamento psicológico para aquele estudante desesperado que teve a sua carreira de sucesso estudantil subitamente interrompida (mesmo os alunos que continuam conquistando notas altas, acabam sentindo a falta do aplauso dos colegas, do respeito dos professores e da admiração coletiva). E não existe ninguém para explicar o que está acontecendo. Ninguém para dizer a este estudante que ele não é tão inepto ou incapaz como, algumas vezes os professores parecem querer provar.
É quase geral, por parte dos professores, nas escolas de engenharia, a manifestação desnecessária de superioridade intelectual, o exercício gratuito de poder e o terrorismo psicológico.

E o estudante, que entrou na faculdade no auge positivo da auto-estima, vai recebendo, ao longo de cinco anos, das mais variadas formas, uma única mensagem: “Você não é tão bom quanto você pensava que fosse !”.
Ao contrário dos estudantes de direito, medicina ou odontologia, que têm como professores, profissionais que atuam no dia-a-dia de suas atividades, os estudantes de engenharia passam cinco anos submetidos aos rigores (e, em alguns casos, caprichos) de engenheiros que não atuam, profissionalmente, como engenheiros e sim como professores, e que, portanto, não têm a vivência da atividade profissional e não têm a ciência ou a consciência das relações comerciais que vão definir o sucesso ou o fracasso dos profissionais que eles estão formando.

Como resultado disso, ao final de cinco anos, o estudante de engenharia se transforma em um engenheiro. E este engenheiro é completamente desprovido de auto-estima, de respeito próprio, de prazer profissional ou de consciência de mercado. Na metade do último semestre da faculdade, dois meses antes de receber o diploma e ser entregue aos leões do mercado, o estudante de engenharia ainda é tratado como mero es-tu-dan-te.
Em momento algum, durante a faculdade, o estudante de engenharia é tratado como engenheiro, em momento algum, durante esses cinco anos, a escola propicia a percepção da mudança de condição de estudante para a condição de profissional.

Estudantes de direito, medicina e odontologia, ao contrário, muito antes do fim da faculdade já têm uma noção razoavelmente clara das dificuldades do exercício profissional que eles irão enfrentar. Com isso vão desenvolvendo mecanismos psicológicos de defesa e saem da faculdade com maior grau de segurança. Entram no mercado profissional de cabeça erguida, com uma consciência de valor. E com todo o processo de construção da imagem profissional em andamento. Estudantes de engenharia não são estimulados a se vestir bem, nem a ter preocupações com técnicas de comunicação ou relacionamento social ou de exercício intelectual não linear. Com isso acabam não desenvolvendo habilidades gerenciais ou de relacionamento com o mercado.
Esta é uma das razões pelas quais as organizações de engenharia são, quase sempre, extremamente burocráticas e conservadoras.

Engenheiros (ao contrário de advogados, médicos e dentistas) não comandam seu ambiente de trabalho. Por mais que detenham o conhecimento e a técnica, os engenheiros são, via de regra, pouco influentes em relação ao produto final, seja uma construção, uma instalação, um empreendimento complexo ou um processo produtivo.

O mais lamentável é que os engenheiros, via de regra, só vão perceber os resultados da negligência com a imagem física, a comunicação não-verbal e o comportamento no mercado, depois de já terem acumulado muitas perdas desnecessárias (algumas das quais, infelizmente, irreversíveis).

E qual é a utilidade desse discurso? Qual a importância de se colocar este tema no papel? Porque tornar pública esta opinião, que, com certeza aborrecerá alguns segmentos? Ninguém é ingênuo a ponto de acreditar que a simples leitura deste ensaio leve um diretor de escola de engenharia, um professor, um estudante ou um profissional de engenharia a alterar o seu comportamento. O que se espera é que essas pessoas, a quem o texto é dedicado, tenham um momento de reflexão. E que a esse momento de reflexão se siga uma atitude. E que essa atitude tenha como objetivo dar um futuro melhor para a engenharia no Brasil.

A engenharia depende dos engenheiros. E os engenheiros começam a ser formados aos quinze ou dezesseis anos, ainda no ensino médio.
Eu ainda acho, como sempre achei, que o conhecimento científico que é transmitido aos estudantes durante a faculdade de engenharia é fundamental. E que o valor da engenharia está sustentado na capacidade intelectual e técnica dos seus profissionais.
No entanto, vejo como importantíssima uma nova visão, nesse processo de formação do engenheiro, que leve em consideração todo o relacionamento social dos estudantes entre si e com os seus professores. É importante que, aos estudantes, seja transmitida uma visão mais clara das relações comerciais que eles enfrentarão na vida profissional, seja na condição de profissionais autônomos, empresários ou empregados em alguma empresa.

Em qualquer um desses casos as relações sociais são elementos definitivos para o sucesso. É um “detalhe” que faz toda a diferença.
O estudante chega ao curso de Engenharia cheio de sonhos com a auto-estima elevada, transpirando confiança e auto-respeito. É muito triste que, dez ou quinze anos depois esse potencial tenha se transformado em um sujeito cabisbaixo, sem consciência de valor, destituído de auto-estima e respeito próprio. Abrindo mão da sua natural vocação de agente do desenvolvimento para ser mero instrumento de trabalho para terceiros.
Na Escola de Engenharia o engenheiro precisa ser “construído” para ser um vencedor. Precisa ser estimulado a acreditar no seu potencial. Confiar na sua inteligência. E, acima de tudo, precisa aprender a importância de manter a cabeça erguida.

ENG. ÊNIO PADILHA (Msc. Adm.)
www.eniopadilha.com.br - ep@eniopadilha.com.br

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ciência e Pa(ciência) no exercício da docência

Artigo de Mirna Marques Bezerra Brayner enviado ao JC Email pela autora.


Neste 15 de outubro, depois de delicadas mensagens parabenizando-me pelo dia do professor, pus-me a pensar no exercício da docência. Daí, duas palavras vieram meio que automaticamente à minha cabeça: Ciência e Paciência.

Etimologicamente, a palavra "Paciência" (do latim patientia) não é resultado da junção entre as palavras "paz" e "ciência". Paciência deriva do latim patientia e significa "virtude que consiste em suportar os males ou os incômodos sem queixume e com resignação" (Dicionário de Língua Portuguesa, 5ª edição, pp. 66). Por outro lado, a palavra Ciência provém do latim scientia (conhecimento). Portanto, Ciência remete à academia, à objetividade, à produção/geração de conhecimento e/ou de tecnologias.

Diz-se que dentre as sete virtudes, a mais difícil de desenvolver é a Paciência. Ademais, a Paciência acaba por englobar outras virtudes como a fortaleza. Daí porque, embora a palavra Paciência remeta à espera, de fato denota ação, uma atitude dos fortes, uma vez que a Paciência deve estar intimamente ligada a um movimento incessante e sistemático na busca por respostas aos nossos questionamentos e inquietações, estas fomentadas e aquecidas pela nossa prática diária do (tentar) fazer ciência/ensino/aprendizagem.

Neste sentido, é que devemos ancorar nossas inquietações na concentração e na Paciência. Somente com obstinação e Paciência é que a Ciência consegue atender às angústias do animal humano, porquanto a resignação, o sofrer calado, tem muito mais cor e encanto se desse cenário for capaz de brotar uma resposta para um velho enigma, ou uma nova indicação terapêutica para um velho fármaco.

São Tomás de Aquino disse que a tolerância é o mesmo que a Paciência. E a Paciência, como dito anteriormente, é paixão, no sentido de coisa a suportar. Suportar as coisas desagradáveis como a voz rouca (com cisto nas cordas vocais) que nos impede de conduzir uma boa preleção; a refutação da nossa (hipó)tese; o resultado negativo que pode ser um bom resultado. Mas é preciso muita Paciência. Chega o monitor, o aluno de iniciação científica, o mestrando, o doutorando, inquietos todos (e impacientes!) com seus achados, com a sua falta de tempo de contemplar seus protocolos e seus cadernos, com o seu fazer diário de Ciência, porque a graduação e a pós-graduação lhes consomem...

E de novo, o que é característico da idade, falta-lhes a Paciência para apreciar o resultado, admirar com mansidão dado por dado, encantar-se na construção (e desconstrução) de um gráfico e desencantar-se com a mesma leveza, quando descobrem que o desvio padrão está enorme. Será preciso aumentar o n (mas e o princípio dos 3Rs, como fica??). Escolher a opção connecting line pode não levar a lugar nenhum, apenas para mais uma janela do Graph Pad Prism. Portanto, embora etimologicamente distintas, Ciência e Paciência são inseparáveis, sendo imperativo colocar um pouco de paixão (Paciência) nessa palavra (Ciência) tão objetivamente ligada à razão.

Mas só a prática diária, a repetição, a frustração também, muita leitura, 'nulla dies sine línea', é que podem nos conduzir às searas da produção da Ciência e tecnologia, à formação de pessoal (e de pessoas também) e à satisfação tanto profissional como emocional, no nosso convívio diário, entre paredes em quase ruínas. E por falar em ruínas, como não visualizar um caleidoscópio - do grego: kalos=belo; eidos = imagem; e scopéo = vejo = vejo belas imagens). O caleidoscópio é um objeto mágico construído a partir de fragmentos, de pedacinhos (vidro colorido, espelhos), que uma vez integrados permite a construção das mais inusitadas imagens, dependendo, claro, da habilidade (e muito da sensibilidade) de seu usuário. Daí que na nossa prática diária construímos belas imagens, belos dados, embora não na velocidade que desejaríamos, tendo muita Paciência de organizar idéias, de juntar (ou catar) letrinhas. E a percepção de cada um faz toda a diferença.

Todavia, além de muita Paciência, no caminho do fazer diário da Ciência, exercitamos outras virtudes que nos mantém unidos muito além de um resumo em um congresso, um projeto, um paper, uma patente, um registro. Buscamos e trabalhamos na nossa convivência a generosidade, a diligência, a humildade, para não citar as outras virtudes, na perspectiva de que não nos tornemos embrutecidos e obtusos.

Mas o dia do professor só existe porque existe o aluno. "É no ensino que se aprende a pensar. E é da capacidade de pensar que surgem os pesquisadores. Se a pesquisa é um fruto, o ensino são as sementes que foram plantadas. Sem sementes não há árvores, sem árvores não há frutos" - Rubem Alves. Aqui, utilizando-se do modelo proposto por Paulo Freire, repudiamos o modelo tradicional da prática pedagógica de "Educação Bancária", uma vez que essa visa a mera transmissão passiva de conteúdos do professor, assumido como aquele que supostamente tudo sabe, para o aluno, assumido como aquele que nada sabe. "Era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de seus alunos; depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco. O professor seria um mero narrador, nessa concepção de educação" (FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 2ª edição, 1975)

E por fim, mas não menos importante, finalizo esse breve rascunho com um texto de  Paulo Freire: "A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, essa pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação". (FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 2ª edição, 1975, pág. 44.).

Mirna Marques Bezerra Brayner é professora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal do Ceará - Campus de Sobral.