sábado, 28 de agosto de 2010

Consórcio de universidades, editorial de "O Estado de SP"

"Além de eliminar a sobreposição de cursos, essas instituições poderão privilegiar os cursos e as áreas de conhecimento nas quais têm maior tradição e expertise, como veterinária, engenharia ou ciências agrárias"
Leia o editorial:

Os processos de fusão e incorporação, que são comuns no universo empresarial, estão chegando à administração pública indireta. Numa iniciativa inédita, sete universidades federais de médio porte situadas na região sudeste de Minas Gerais anunciaram a decisão de se integrar administrativa e academicamente, formando um consórcio com o objetivo de otimizar recursos humanos e financeiros, obter sinergias e potencializar o que há de bom em cada uma.

Com isso, essas instituições esperam melhorar sua posição nos rankings oficiais de avaliação e ampliar a capacidade de captação de recursos junto às agências nacionais e internacionais de fomento para financiar pesquisas científicas.

As universidades federais envolvidas nesse projeto são as de Viçosa, São João del-Rey, Ouro Preto, Alfenas, Itajubá, Juiz de Fora e Lavras. Juntas elas terão cerca de 41 mil alunos matriculados em 17 campi, o que pode converter o consórcio na maior instituição de ensino superior do país, em número de estudantes.

Situadas nas áreas mais ricas de Minas, essas universidades atualmente oferecem 15,6 mil vagas anuais em seus vestibulares e mantêm 260 cursos de graduação, 111 cursos de mestrado e 59 de doutorado.

Cada uma dessas instituições tem um número pequeno de cursos de pós-graduação muito bem conceituados nas avaliações do MEC e um número expressivo de cursos considerados regulares, o que as leva a ocupar posições intermediárias no ranking da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mas, se forem avaliadas como uma só universidade, o número de cursos com padrão de excelência e o número de docentes com doutorado são tão significativos que ela pula para os primeiros lugares do ranking.

A visibilidade daí decorrente permite aprofundar a estratégia de internacionalização do ensino superior que vem sendo desenvolvida há mais de uma década pelas maiores universidades públicas, privadas e confessionais brasileiras, com o apoio da Capes e do CNPq.

Uma universidade brasileira bem classificada nos sistemas de avaliação encontra mais facilidade para firmar convênios com instituições estrangeiras de ponta, com o objetivo de promover intercâmbio de professores, propiciar a abertura de linhas compartilhadas de pesquisa e assegurar a publicação de artigos científicos de autoria de pesquisadores nacionais em revistas internacionais submetidas a redes mundiais de certificação de qualidade.

Inspirada em experiências adotadas em algumas regiões industrializadas do interior da França e dos Estados Unidos, o modelo adotado pelas sete universidades federais do sudeste mineiro também produzirá melhorias nos cursos de graduação, com a diversificação de disciplinas e a adoção de currículos complementares.

Além de eliminar a sobreposição de cursos, essas instituições poderão privilegiar os cursos e as áreas de conhecimento nas quais têm maior tradição e expertise, como veterinária, engenharia ou ciências agrárias.

"Por que vou duplicar as coisas, se eu já tenho um curso ou um laboratório com padrão de excelência a menos de 200  km?", diz o reitor da Universidade Federal de Itajubá, Renato de Aquino Faria Nunes. Como a distância entre os campi é pequena e a rede de transportes públicos é boa, os alunos terão maior flexibilidade para escolher em qual instituição querem cursar matérias específicas e eletivas, podendo assim moldar o currículo conforme suas necessidades e aspirações.

A ideia das sete universidades federais mineiras é que o consórcio comece a funcionar já a partir do próximo ano, com a unificação dos vestibulares. Mas, para tanto, será preciso desburocratizar as estruturas administrativas e adotar regras mais flexíveis, principalmente em matéria de currículo.

A Coordenadoria-Geral de Legislação e Normas de Educação Superior do MEC prometeu colaborar e a criação do consórcio acaba de ser aprovada pelas autoridades educacionais. Os reitores agora têm até 15 de outubro para entregar o projeto detalhado de uma iniciativa que pode mudar o perfil das universidades sob controle da União.
(O Estado de SP, 26/8)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Formação de engenheiro não atende a indústria brasileira

Especialistas apontam trabalho conjunto de universidades, empresas e governos como solução para o problema. Além de formar menos da metade dos engenheiros de que precisa a cada ano, o Brasil tem ainda de enfrentar a disparidade entre a qualificação obtida nas universidades e as necessidades das empresas que procuram um profissional. O meio de resolver o problema é o trabalho conjunto de universidades, empresas e governos.

Essa foi a conclusão do seminário Tecnologia e Inovação: Desafios na Formação de Profissionais de Engenharia para o Século XXI, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira, 25 de agosto, em São Paulo.

"Talvez precisemos ter uma alteração de currículo nas engenharias. A gestão de projetos, por exemplo, que nas empresas é de suma importância, não recebe a devida atenção nas universidades", afirmou Jorge Ramos, diretor de desenvolvimento tecnológico da fabricante de aviões Embraer. "Um engenheiro que chega à Embraer vindo da universidade tem de ser treinado por nós em gestão de projetos", revelou.

O Brasil não tem plano de qualificação dos engenheiros, definiu Paulo Luiz Coutinho, diretor de inovação da Ideom, a empresa de tecnologia da petroquímica Braskem. "A convergência tecnológica exige capacitação técnica em diversas ciências e áreas do conhecimento. O profissional precisa de formação de primeira, que não é oferecida nas universidades", disse Coutinho.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, que também participou dos debates, o aluno de graduação nas engenharias tem de vivenciar mais a realidade das empresas.

"Por que não aproximar das universidades as pequenas e médias empresas, possibilitando que os alunos tenham noções reais do dia-a-dia da indústria, conheçam seus problemas reais e colaborem na resolução deles? Serão profissionais mais completos ao se formarem", sugeriu.

Os debatedores lembraram que o Brasil forma hoje cerca de 32 mil engenheiros por ano, que correspondem a 4,2% do total de formandos nas universidades anualmente. É muito pouco perto da demanda atual do mercado, de pouco mais de 60 mil profissionais anualmente, concordaram os empresários.

Estimativa da CNI, que executa o programa Inova Engenharia, destinado a incentivar a formação de engenheiros, mostra que, em 2012, o mercado terá um déficit de 150 mil engenheiros.

Inovação

Além da dificuldade de formação dos engenheiros, os debatedores destacaram a importância desses profissionais para a inovação dentro das empresas. "O setor elétrico e eletrônico é um dos mais dinâmicos e tem na inovação um elemento central para sua competitividade. E o engenheiro é mola-propulsora desse processo", avaliou Barbato, da Abinee.

Segundo ele, a cada dia o tempo disponível para compensar o gasto no desenvolvimento dos produtos é menor. Ou seja, o produto tem de dar lucro rápido, sob pena de ficar tecnologicamente ultrapassado e, assim, não dar o retorno esperado. "Por isso, a antecipação da tendência tecnológica é a estratégia das companhias, embora nem sempre a boa inovação seja aquela que terá boa aceitação do mercado. Esse é o desafio das empresas", salientou o presidente da Abinee.

Para Jorge Ramos, da Embraer, é possível aprimorar o fomento à inovação. "Hoje há predominância de políticas horizontais, que são importantes, mas é preciso ter políticas verticais. O governo tem de escolher os setores mais competitivos e fomentar a inovação", propôs.

Na opinião de Ramos, deve-se escolher os setores em que o país tem clara vocação, usar o poder de compra do Estado, tanto para adquirir o produto como a tecnologia, e promover o adensamento das cadeias produtivas.

Indústria brasileira precisa de 60 mil engenheiros por ano

A indústria brasileira precisa de engenheiros para continuar crescendo. Com um ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) entre 5% e 6% ao ano, a demanda do Brasil é de cerca de 60 mil engenheiros por ano. O problema é que o país forma apenas 32 mil profissionais por ano.

"É por isso que hoje a indústria primeiro contrata o engenheiro e depois pergunta o que ele sabe fazer. A disputa é acirrada", constata Paulo Afonso Ferreira, diretor-geral do Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

No mundo globalizado, em que a inovação encurta cada vez mais o tempo de acesso da população aos novos produtos e serviços, o engenheiro é fundamental. O alerta é de Lueny Morell, gerente de programa do Escritório de Estratégia e Inovação da Hewlett-Packard, que também participa do workshop.

Ela lembra que o automóvel demorou 55 anos para ser acessível a 25% da população norte-americana, o telefone levou 35 anos, o rádio 22 anos e o computador pessoal, 16 anos. Mais recentemente, a internet precisou de sete anos para alcançar os mesmos 25% da população daquele país. O Facebook, maior rede de relacionamento do planeta e serviço típico da economia digital, levou apenas 12 meses.

Nesse ambiente de rápida transformação, o Brasil tem de formar cada vez mais engenheiros qualificados. É uma tarefa difícil, uma vez que há apenas 400 escolas de engenharia e 2.200 cursos de graduação na área. O mais grave, no entanto, é que não há demanda para preencher a baixa oferta de vagas nos cursos de engenharia. Das 197 mil vagas anuais oferecidas, 120 mil são ocupadas.

Somente um em cada grupo de 800 alunos do ensino fundamental inicia um curso de engenharia. Além disso, problemas como alto custo das mensalidades, falta de laboratórios e oficinas e escassez de prática, entre outros, desestimulam os estudantes e elevam a evasão. Por isso, o Brasil só forma 32 mil engenheiros por ano.

O país perde feio na comparação com os outros membros do grupo BRICs (Brasil, Rússia, índia e China). A China forma 400 mil engenheiros por ano, enquanto a Índia forma 250 mil e a Rússia, 100 mil. A Coréia do Sul é citada como paradigma para o Brasil, porque promoveu a revolução da educação voltada para a engenharia e a indústria. Hoje o país forma 80 mil engenheiros por ano.

"Não é à toa que o PIB dos países asiáticos representava menos de 20% do total mundial há 30 anos e hoje equivale a 40%. As empresas coreanas disputam mercado de igual para igual no mundo, inclusive no Brasil", aponta Luiz Scavarda, professor da PUC/Rio e membro do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea).
(Informações do Portal da CNI)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Universidades federais chegarão a mais 134 cidades até 2012

Atualmente há 105 campi em funcionamento pleno, com instalações definitivas, servidores com concurso e alunos matriculados
Até 2012, mais 134 cidades em todo o país receberão um campus de universidade federal. A afirmação foi feita pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, na sexta-feira, 20 de agosto, durante a cerimônia de inauguração simultânea dos novos campi das universidades federais de São Carlos (UFSCar), em Sorocaba (SP), e de Santa Catarina (UFSC), em Curitibanos (SC). A solenidade teve a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

"A política de democratização do acesso à educação superior atende, hoje, mil municípios em todo o Brasil", disse Haddad.

O ministro lembrou que há 105 campi em funcionamento pleno, com instalações definitivas, servidores com concurso e alunos matriculados. Na área da educação superior a distância, já existem 559 polos da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Além disso, até o fim deste ano, terão sido criadas 214 novas unidades dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia, que oferecem cursos técnicos, de tecnologia e licenciaturas.

"Estamos mudando o paradigma, tentando transformar o Brasil em um país um pouco mais igual e justo", enfatizou o presidente Lula. Em sua opinião, o Estado está cumprindo seu papel. "Não existe ninguém mais inteligente ou menos inteligente; o que existe é a igualdade de oportunidades ou não".

Na visão da secretária de educação superior do Ministério da Educação, Maria Paula Dallari Bucci, a política de expansão das universidades federais ampliou oportunidades para muitas pessoas. "A importância vai além dos novos prédios e estruturas; os filhos desta geração vão crescer sabendo que podem estudar em suas próprias cidades".

O campus da UFSCar possui 14 salas de aula, dez laboratórios, quadra poliesportiva, restaurante universitário e biblioteca, em uma área de aproximadamente 70 mil m2. As obras tiveram investimento de R$ 19 milhões. Além do campus de Sorocaba, a UFSCar possui outros dois campi, um em São Carlos (SP) e o outro, em Araras (SP).

Atualmente, são oferecidos cursos de graduação nas áreas de administração, ciência da computação, engenharias florestal e de produção, turismo, pedagogia, economia, biologia (bacharelado e licenciatura), e as licenciaturas em geografia, química, física e matemática. Também há opções de mestrado nas áreas de diversidade biológica e conservação, economia e ciência dos materiais.

Já o campus de Curitibanos da UFSC, conta com 15 salas de aulas, biblioteca, dez laboratórios integrados e auditório com 180 lugares. A instituição oferece o curso de ciências rurais, que consiste no primeiro ciclo de um modelo de ensino superior caracterizado pela formação profissional continuada.

Inicialmente, os alunos cursarão as matérias básicas e, posteriormente, seguirão para a formação específica em carreiras como agronomia e engenharia florestal. Hoje, 180 alunos estão matriculados em Curitibanos. Os investimentos no campus somam R$ 7,4 milhões.
(Assessoria de Comunicação Social do MEC)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

De olho no Futuro

A notícia abaixo publicada no jornal Valor Econômico indica um novo caminho para aprimorar a gestão do ensino superior no Brasil. Parabéns ao MEC, ao Dr. Fernando Haddad e aos idealizadores da proposta.

Estamos de olho no futuro.

Saudações Acadêmicas

Luiz Carlos Rolim Lopes
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Valor Econômico

De olho na visibilidade externa, MEC promove fusão de sete federais

Luciano Máximo, de São Paulo
05/08/2010


O modelo de consolidação setorial chegou ao ensino superior público. Na terça-feira, dia 10, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai oficializar a unificação de sete universidades federais das regiões sul e sudeste de Minas Gerais, criando uma única instituição, que passará a figurar entre as cinco maiores do país já a partir do ano que vem.
A superuniversidade terá a figura jurídica de um consórcio composto pelas federais de Alfenas (Unifal), Itajubá (Unifei), Juiz de Fora (UFJF), Lavras (Ufla), São João del-Rei (UFSJ), Ouro Preto (Ufop)e Viçosa (UFV) e já nasce com 46,3 mil alunos em mais de 400 cursos de graduação e programas de pós-graduação, 3,5 mil professores e 4 mil funcionários da área técnica e administrativa.
Inédita no setor público, a fusão foi inspirada em exemplos da França e dos Estados Unidos e prevê dar mais visibilidade internacional ao Brasil na área acadêmica, contou ao Valor o ministro da Educação, Fernando Haddad. "O país tem uma característica singular: é o 13º do mundo em produção científica, mas poucas universidades públicas aparecem como importantes por causa do caráter de excessiva fragmentação do sistema federal." Haddad refere-se às três universidades estaduais de São Paulo - USP, Unicamp e Unesp - e às federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), que aparecem em rankings mundiais de excelência.
As sete federais mineiras envolvidas no processo de unificação têm notas elevadas no sistema de avaliação de qualidade do MEC, o que aumenta as chances de reconhecimento internacional. Arquitetura e Urbanismo na UFV e Biologia na Ufla estão entre os três mais bem avaliados pelo ministério. Por outro lado, há cursos com péssimo desempenho: ciências da computação na Ufla está em 666ª posição no ranking do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
O formato de superuniversidade também traz ganhos de escala à instituição, que passa a ter maior capacidade de atrair investimentos - para pesquisa e novos laboratórios, por exemplo -, simplificar processos e gestão racional de recursos. Um colégio de reitores, com presidência rotativa, responderá pela administração do consórcio.
Para o reitor da Universidade Federal de Viçosa, Luiz Cláudio Costa, os alunos sairão ganhando com a integração acadêmica. "O estudante em Lavras poderá transferir créditos e fazer uma disciplina no campus de Viçosa ou Ouro Preto ou ampliar seu campo de pesquisa, com acesso a uma estrutura muito maior de professores e laboratórios", prevê.
A localização geográfica também pesou na decisão de aglutinar as universidades mineiras, que estão instaladas em 17 cidades situadas em um raio de 200 a 300 quilômetros de distância. Segundo Haddad, o modelo de superuniversidade tem espaço para ser copiado no interior do Rio Grande do Sul e Paraná, onde funcionam pelo menos oito instituições de ensino federais.
No momento, os reitores das sete federais elaboram o plano de desenvolvimento institucional (PDI) do consórcio, que orienta a atuação pedagógica de todo estabelecimento de ensino superior em operação no país. O documento, que será apresentado ao MEC em 15 de outubro, vai enfatizar a integração acadêmica, reforçando as principais atividades de cada federal. Viçosa e Lavras se destacam nas ciências agrárias, Alfenas foca o setor da saúde, com seus cursos de medicina e enfermagem, e Itajubá é reconhecida pela cobertura da área de tecnologia. "No consórcio, essas áreas serão abrangidas de modo complementar, o todo será maior que as partes", explica Costa.