quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quem ainda quer ser professor?

Artigo de João Valdir Alves de Souza publicado no Boletim UFMG.

Há fortes evidências, nos dias atuais, de que a profissão docente vive uma crise sem precedentes na história do nosso ensino. A despeito da grande diversidade de condições da oferta e demanda por escolarização, tanto no que se refere à condição docente quanto à condição discente, produto da diferenciação sociocultural e das desigualdades socioeconômicas, essa crise atravessa a estrutura da escola de alto a baixo.

Ela combina ingredientes de natureza muito diversa, mas o elemento-chave da sua explicação é o baixo valor do diploma de professor, sobretudo na educação básica, tanto no mercado de bens econômicos (salário) quanto no mercado de bens simbólicos (prestígio). Esse baixo valor do diploma expressa um terrível paradoxo: quanto mais expandimos a oferta do ensino, maior se revela nossa dificuldade de formar professores para atendê-la.

Estamos pagando o preço caro de uma conquista. Desde o século 18, na Europa, e pelo menos desde o final do século 19, no Brasil, reivindica-se educação como direito do cidadão e dever do Estado. Pois bem, todos - ou quase todos - vieram para a escola. Vieram os camponeses, os das periferias urbanas, os indígenas, os deficientes físicos e, inclusive, os que não querem saber de escola. Vieram por direito, resultado de lutas históricas pela sua inclusão nos sistemas de ensino. Mas, como não há milagres em matéria de educação e ensino, isso também exigiria formar em quantidade e qualidade os professores que dariam conta dessa tarefa em condições que obedecessem a patamares mínimos de decência.

O Brasil universalizou recentemente o ensino fundamental e trabalha arduamente para universalizar, até 2016, a educação infantil e o ensino médio, cujo atendimento está na casa de míseros 50%. Não bastasse a escassez de professores para a demanda atual, que o MEC já contabiliza na casa dos 250 mil, sobretudo para o ensino das ciências, universalizar a educação básica implica a necessidade de formar mais e bem os professores para realizar a tarefa. Essa legítima proposta do Plano Nacional de Educação esbarra, contudo, em problemas cuja gravidade nos deixa poucas expectativas para sua realização.

Um desses problemas é a baixa atratividade da carreira docente, com recrutamento dos estudantes dos cursos de licenciatura justamente entre aqueles de escolarização básica mais precária. Indicador preocupante dessa baixa atratividade está expresso na relação candidato/vaga dos últimos 13 vestibulares da UFMG (2000-2012), o que parece estar longe de ser uma situação exclusiva desta Universidade. Em 2000, dos 17 cursos mais concorridos, seis formavam professores. Para o vestibular 2012, não há um único curso de licenciatura entre os 15 mais concorridos.

Mantida a atual tendência, em três ou cinco anos não teremos candidatos aos cursos de licenciatura. Cursos como Ciências Biológicas, Educação Física, Geografia, História, Letras, Matemática e Pedagogia, que eram disputados numa correlação de 12 a 30 candidatos por vaga, há dez anos, para 2012 contarão, respectivamente, com 3,5; 2,1; 1,6; 4,8; 1,4; 2,9 e 3,0 candidatos para cada vaga. Mesmo considerando que houve aumento do número de vagas em alguns deles, redução da concorrência em outros cursos que não os de licenciatura e que caiu de 18 para 9 a média geral da relação candidato/vaga na universidade, a generalizada queda da concorrência nos cursos de licenciatura é forte evidência de que há pouco interesse pela docência atualmente.

Mas isso é apenas parte do problema. Um segundo elemento a ser considerado é o elevado índice de desistência da profissão. Grande número dos que se formam professores não terão as salas de aula como destino ocupacional. A universidade fez elevado investimento, nas duas últimas décadas, criando cursos exclusivamente de licenciatura, em que a escolha precede o vestibular. Grande parte dos alunos desses cursos diz explicitamente que a sala de aula não é a sua opção. E um dos motivos mais apontados é a informação sobre o elevado índice de abandono da profissão, isto é, professores experientes que se afastam por adoecimento ou por não suportarem mais ser vítimas de violência física e/ou simbólica no cotidiano da sala de aula.

Internamente, a Universidade tem enfrentado o problema com ações como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que concede bolsas de estudos e um trabalho de formação diferenciada para alunos dos cursos de licenciatura. Contudo, se não forem modificadas as condições gerais da docência, para fazer dela uma carreira atraente, simplesmente não teremos professores para atuarem na universalização da educação básica.

João Valdir Alves de Souza é professor de Sociologia da Educação na FeE/UFMG, coordenador do Colegiado Especial de Licenciatura e do Grupo de Pesquisa sobre Formação de Professores e Condição Docente.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Inovação e a cobra que mordeu o rabo

Artigo de Ronaldo Mota na Folha de São Paulo de hoje (8).

Inovação refere-se ao desenvolvimento de um novo produto ou processo, bem como à funcionalidade inédita de um produto já existente, que atende a uma demanda específica do público consumidor ou que gera nichos previamente inexistentes de mercado. Inovação está conectada à aplicação de conhecimentos associados ao desenvolvimento de ciência e tecnologia; contemporaneamente, é o principal elemento propulsor da economia mundial.

A ciência pode engendrar tecnologias que, a depender da capacidade de absorção do mercado e da escala do público consumidor, podem se caracterizar como inovação. Essa cadeia linear distanciou a livre e descompromissada produção do conhecimento, a ciência, da extremidade oposta vinculadas às demandas do mercado consumidor, que é a inovação. A realidade recente impõe que a forma de produzir conhecimentos e de transmiti-los tem-se alterado radical e profundamente.

Classicamente, ciência se assenta na liberdade individual de cátedra e em linhas de pesquisa que caracterizavam o pesquisador tradicional, cuja função primeira tem sido alargar as fronteiras, indo além do estado da arte. A principal motivação dos temas são os desafios inerentes à subárea, sendo as eventuais aplicações futuras definidas em outros contextos e em tempos de escalas diversas, a depender da linha de pesquisa específica.

O Brasil demonstrou nas últimas décadas uma capacidade extraordinária de produzir conhecimentos dentro da estratégia acima, tendo consolidado uma pós-graduação de qualidade e uma produção científica crescente em níveis bem acima da média mundial. Por outro lado, atestamos até aqui uma notável fragilidade em transferir conhecimento ao setor produtivo, ainda que tenhamos como exceções as áreas do agronegócio e raros setores industriais bem identificados.

A verdade é que, nos tempos atuais, os balizadores com que se produz ciência têm se alterado de tal forma que uma nova dinâmica impõe que as demandas da sociedade passem a ser, cada vez mais, os elementos definidores, ainda que não sejam os únicos, dos principais programas de pesquisa.

Da pesquisa quase individual passamos rapidamente às imprescindíveis redes de pesquisa; das linhas de pesquisa quase isoladas estamos migrando para programas de natureza multidisciplinar, motivados por demandas em geral complexas e, portanto, praticamente intratáveis à luz de linhas de pesquisa ou indivíduos isolados.

Os movimentos acima podem ser descritos por uma substituição gradativa da cadeia linear por um círculo completo contemplando ciência, tecnologia e inovação, em que as demandas da inovação influenciam e de certa forma definem os rumos da ciência. É a cabeça da cobra que mordeu o rabo.

Ronaldo Mota é secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e professor titular de física da Universidade Federal de Santa Maria. Foi secretário de Educação Superior e de Educação a Distância do Ministério da Educação.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Einstein e Bill Gates

Crônica do professor Sergio Mascarenhas.
Recentemente o Ministério de Ciência e Tecnologia passou a denominar-se Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. A mudança foi adequada? Embora o Ministro anterior, um dos melhores que o Brasil já teve Sérgio Machado Rezende, tivesse prestigiado fortemente a Inovação, inclusive criando uma Secretaria especial somente para Inovação, e indicado para ela um grande cientista, Ronaldo Mota, que, aliás, continua nessa função com o presente ministro, acho que a mudança do nome foi oportuna e gostaria de aproveitar para discutir o tema, da maior importância para o desenvolvimento não só da Ciência e Tecnologia mas da Educação em geral.

Para isso vou me valer de dois símbolos da sociedade global, Einstein e Bill Gates, que ladeiam a figura de Janus, o único Deus Romano, não copiado da mitologia grega, com seus dois instigantes e filosóficos olhares, um para o passado outro para o futuro.

Começo pelo cenário da história da ciência e tecnologia: a convergência temporal das duas é a característica principal dos tempos atuais. Enquanto as leis da eletricidade e magnetismo foram estabelecidas por Faraday e Maxwell nas quais se baseia o funcionamento do motor elétrico, cerca de 4 décadas foram necessárias para o seu pleno desenvolvimento tecnológico. Mas o tempo entre a descoberta das ondas eletromagnéticas e suas aplicações já foi mais curto, apenas duas décadas, entretanto no mesmo ano que o laser essa fabulosa fonte de luz foi inventado já houve aplicações tecnológicas para o mesmo!

Hoje a característica de nossa era séc. XXI é a vida curta de produtos, processos e serviços característica da economia globalizada impulsionada pelos negócios que exigem competitividade acelerada. O cerne dessa convergência, a sua força motora é a Inovação tornada permanente, necessária, característica fundamental do dinamismo dessa interação entre ciência e tecnologia. Mas nossa sociedade ou melhor na cultura brasileira , temos características de inovação? Claro que temos, no Futebol, no Carnaval certamente.

Ocorre entretanto que os nossos jovens talentos não foram educados para a cultura dinâmica da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma razão óbvia pode ser encontrada por uma simples visão da nossa sociedade: campos de pelada em todo o Brasil, nas cidades, nas periferias, em qualquer esquina desocupada. Carnaval começa logo depois que acaba pela continuidade das escolas e sociedades carnavalescas. Há até um sinergismo entre futebol e Carnaval as torcidas tipo Gaviões da Fiel são também transformadas em Escolas de Samba no Carnaval!

Mas nas escolas com e minúsculo, isto é do sistema educacional a ciência e a tecnologia são poucas e a inovação quer seja nos métodos, quer nos processos de ensino - aprendizagem que  somente recentemente despontam tímidos , numa infra-estrutura de escolas de curto tempo, não a Escola Parque sonhada por Anísio Teixeira , mas a Escola mínima cartorial, da violência e bullying na sala de aula , sem tecnologia educacional moderna, com professores portadores da  do que chamo Síndrome dos 4 Medos: 1 -Medo do aluno, 2 - medo do seu desamparo em técnicas e conteúdos didático -pedagógicos, 3 - medo do conhecimento avassalador que jorra pela internet e 4 - medo de seu futuro  social como carreira, desprezada que foi não somente pelo Estado mas até pelos sistemas privados que os escravizam com salários irrisórios e cargas didáticas intensas.

Mas nosso tema é a Inovação! Mas como inovar em um ambiente desses sem qualquer motivação seja para Einsteins ou Bill Gates? Recentemente a Universidade Rockefeller recebeu o seu vigésimo sexto Prêmio Nobel, dessa vez em medicina, uma única Universidade em New York 26 prêmios-Nobel! O Brasil não tem sequer um Nobel, nem mesmo em Humanidades, a menos que se considere a copa do Mundo equivalente ao Nobel e os festejos carnavalescos como tal! Falta mesmo é educação para Ciência, Tecnologia e Inovação, uma nova cultura diferente dessa que recebemos de nossos colonos machistas, escravagistas e exploradores de nossas riquezas naturais sem lhes agregar quaisquer inovações.

Somente a Embrapa em tempos recentes acordou para essa visão e o fez pela Ciência, Tecnologia e Inovação, provando que sem Einsteins inovadores não teremos os Bill Gates empresariais, pelo menos em número e qualidade suficientes para inserção virtuosa no Mundo Globalizado.

Estou há tempos propondo uma Rede de Agências Multimídia, associada a uma Rede de Centros e Museus de Ciências e Tecnologia com Centrais de Produção nas Cinco Regiões do Brasil para difusão da Ciência, Tecnologia, Inovação tanto na Educação como nas empresas para sairmos desse atraso histórico.

Quem sabe a angustiada solicitação da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) por uma participação no pré-sal possa ser ouvida para essa finalidade? Seria um grande momento na história do Brasil, mas teria que ser ouvido no meio da gritaria dos estados produtores e não-produtores sem explicitações de missões como essa que discutimos em prol da Ciência, Tecnologia, Inovação na Educação.

Esperemos que desprezada pelos ilustres senadores a sugestão da SBPC-ABC possa ser atendida pela Câmara Federal o que constituir-se-a numa decisão histórica tão importante como a da Independência Brasileira, desta vez dos grilhões do subdesenvolvimento.

Sérgio Mascarenhas é professor e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), presidente Honorário SBPC e Membro Titular ABC.

sábado, 5 de novembro de 2011

Entidades científicas fazem novo ato público em favor da Educação e C,T&I

Mobilização da SBPC e ABC acontece na próxima segunda-feira (7), em São Paulo. Participe! 

A SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizam na próxima segunda-feira (7), em São Paulo, um ato público para tentar reverter o quadro atual de distribuição dos royalties do petróleo que não inclui um percentual de destinação para as áreas de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I).

O evento será realizado na sede da SBPC - palco da luta pela redemocratização do País - e reunirá dirigentes de instituições de ensino e C,T&I, docentes, pesquisadores, parlamentares e autoridades dos governos estadual e federal. O evento é aberto ao público.

Em carta encaminhada aos convidados, a SBPC ressalta que o Senado, ao aprovar Projeto de Lei 448 sem definir recursos para educação e C,T&I, deu as costas para as futuras gerações, uma vez que esses recursos deveriam ser usados principalmente para suprir as graves carências do sistema brasileiro de ensino, especialmente na educação básica e no ensino técnico. Além disso, investimentos em C,T&I são imprescindíveis para que a economia brasileira se torne moderna e sustentável e sua produção tenha competitividade nos mercados globais.

"Não houve por parte do Senado sensibilidade para entender que este pleito visava proteger as futuras gerações da nação brasileira, que clama por mais acesso ao conhecimento", afirmou a presidente da SBPC, Helena Nader, lembrando que isso "só poderá ser alcançado com educação de qualidade baseada na apropriação da capacidade de gerar avanços científicos e tecnológicos."

O ato público da SBPC e da ABC será realizado das 14h30 às 17h30, na sede da SBPC (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, São Paulo, SP). Os interessados em participar devem confirmar presença pelo tel. (11) 3355-2130.

Nota da redação - A petição pública da SBPC e ABC em defesa de recursos específicos para Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) na distribuição dos royalties do petróleo a ser extraído da camada pré-sal permanece ativa. Para subscrever o documento acesse o abaixo-assinado disponível emhttp://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=PL8051.

(Ascom da SBPC e JC)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Governo pressiona setor privado para bancar bolsa de estudo

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79954

Com a ajuda dos secretários-executivos dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) intensificou nas últimas semanas os esforços para conseguir a adesão do empresariado ao programa Ciência Sem Fronteiras. 

A ordem é da presidente Dilma Rousseff, que pretende marcar sua gestão com avanços na educação e no crescimento da oferta de mão de obra qualificada. O programa foi montado para ter adesão privada, mas ela está demorando.

A pressão sobre alguns setores, como os bancos, conta com a participação da própria presidente. A iniciativa privada, no entanto, ainda tem dúvidas quanto aos valores das bolsas que serão oferecidas no exterior aos estudantes de graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado e pesquisadores.

O programa Ciência Sem Fronteiras tem como objetivo levar 100 mil bolsistas brasileiros às principais universidades do mundo até o fim de 2014 para estudar em cursos considerados estratégicos para o desenvolvimento brasileiro. O governo oferecerá 75 mil bolsas por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e quer que a iniciativa privada financie as outras 25 mil.

A presidente está envolvida pessoalmente na mobilização. Em viagens internacionais e contatos com autoridades estrangeiras, tem passado o recado de que gostaria de ver os bolsistas brasileiros nas universidades dos países de seus interlocutores. Dilma também já cobrou o apoio do empresariado publicamente. Em julho, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o principal alvo foi a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

"Espero contar com a participação de todos", disse a presidente na ocasião. "É um desafio para o setor privado, especialmente para a Febraban. Viu, Murilo Portugal [presidente da entidade]? Falo no Murilo Portugal, porque ele já esteve na Secretaria do Tesouro e sabe perfeitamente o que representa, para um país como o Brasil, destinar R$ 3,1 bilhões para este programa. Acho importante a participação do setor privado", afirmou Dilma.

Ao lado de outras associações setoriais e empresas, a Febraban é uma das entidades na mira da Casa Civil. Portugal já participou de reuniões com a ministra Gleisi. Também já foram procurados representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), da Eletrobras e da Vale.

"O desenvolvimento de recursos humanos é uma das grandes prioridades, se não a grande prioridade, que temos na Abdib. É o grande desafio da área de infraestrutura", disse o vice-presidente-executivo da entidade, Ralph Lima Terra, que esteve no Palácio do Planalto para debater o assunto. "Isso é fundamental para o desenvolvimento do país."

O diretor de operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Gustavo Leal Sales Filho, afirmou que a CNI deve começar até o fim do ano um "road show" pelos Estados para tentar mobilizar os empresários. As duas entidades querem financiar o estudo de engenheiros que já trabalham no setor produtivo, e precisam de especialização, e também de recém-formados, que poderão ser aproveitados pelas empresas ao retornarem do exterior. "Essa é uma questão crucial para o País", afirmou Sales Filho. Segundo ele, o setor industrial poderá custear até 10 mil bolsas.

O diretor de relações internacionais da Capes, Márcio de Castro Silva Filho, conta que o programa Ciência Sem Fronteiras surgiu depois da visita do presidente americano Barack Obama a Brasília. Segundo ele, Obama perguntou à presidente brasileira por que não há muitos brasileiros estudando nos EUA, se atualmente existem 130 mil chineses e 120 mil indianos nas universidades americanas.

"Agora, os próprios alunos pressionam as universidades para criar comitês de seleção. E os pró-reitores viram a importância da internacionalização das universidades", afirmou Silva Filho. Segundo ele, os primeiros estudantes beneficiados serão enviados a universidades dos EUA e a segunda etapa do programa também envolverá universidades da Alemanha, França e Reino Unido.

As metas da Capes e do CNPq já foram definidas. Subordinada ao Ministério da Educação, a Capes deve ofertar 3,4 mil bolsas do Ciência Sem Fronteiras neste ano. A previsão para 2012, 2013 e 2014 é de, respectivamente, 10,2 mil, 12,2 mil e 14, 2 mil bolsas.

O CNPq, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, oferecerá 3.890 bolsas neste ano, 6.140 em 2012, 10.230 em 2013 e 14.740 bolsas no último ano do governo da presidente Dilma. "Vamos atingir certamente esses números, sem comprometer outros programas", disse o diretor da Capes.

As áreas contempladas pelo programa são engenharia, matemática, ciências biomédicas e da saúde, química, biologia, geociências, computação e tecnologia da informação, tecnologia aeroespacial, farmacologia, agronomia, produção de petróleo, gás, carvão e energias renováveis, biotecnologia, nanotecnologia, tecnologias de prevenção e mitigação de desastres naturais, biologia e ciências do mar.
(Valor Econômico)