terça-feira, 30 de março de 2010

CIVILIDADE ZERO

Oi Pessoal,

É óbvio que há expectativa de que eu retome em minhas mensagens algum tema relacionado à consulta eleitoral para Reitor na UFF. Contudo, a vida (e, portanto, a universidade) não pára e é maior do que esse fato, importante, mas natural numa instituição democrática. Eventualmente, vem “de estalo” `a minha cabeça algum assunto novo, sem grande preparação, e que pula na frente dos outros. Minha brincadeira é escrever um texto em menos de 30 minutos – esse é o tempo que eu me permito para isso, de forma a não afetar as minhas verdadeiras atividades intelectuais e de trabalho. Temos assunto novo. Vamos lá:

Já há alguns anos, faço parte de um grupo da comunidade da UFF que considera fundamental assegurar pleno acesso das PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS a todas as dependências da Universidade.

Para minha satisfação, tenho visto que, lentamente, algumas medidas óbvias, baratas e de fácil execução estão sendo implementadas em algumas unidades da UFF (nivelamento de pisos, rampas, portas mais amplas para acesso a banheiros, vagas preferenciais, etc.). Para minha maior satisfação, creio mesmo que esse tipo de intervenção, antigamente visto como “coisa que não dá voto”, está na moda e na boca de candidatos a qualquer cargo executivo dentro da Universidade. Parabéns para a comunidade da UFF. Que isso seja um compromisso de todos nós.

Contudo, um alerta aos surfistas das oportunidades e das (boas) idéias: (i) Todas as obras, atuais e futuras (incluindo bandejões, bibliotecas, etc.), já deveriam ter sido concebidas com acessos adequados. É esquisito inaugurar algum prédio, biblioteca ou bandejão já sabendo que haverá uma “parte 2” da obra para corrigir todos os equívocos de projeto, já conhecidos desde o seu início, que tornam o acesso uma aventura para quem tem algum tipo de limitação física. (ii) As vagas preferenciais para pessoas com necessidades especiais não são um enfeite – são, realmente, para pessoas com necessidades especiais. Não podem (ou, ao menos não devem) ser usadas clandestinamente como “vagas cativas” pelos “espertos” de plantão, eventualmente até pessoas que deveriam dar o exemplo, no exercício de seus pequenos poderes. Fico estarrecido quando algumas das poucas vagas destinadas para esse fim são ocupadas irregularmente.

Gostaria de pedir aos colegas que:

(i) Tornem público o nome de qualquer membro da comunidade que desrespeite esse princípio básico da civilidade, estacionando carros indevidamente nessas vagas. Peço, inclusive, fotos dos carros estacionados.

(ii) Comuniquem quais os locais cujo acesso é proibitivo às pessoas com necessidades especiais (bandejões, prédios, banheiros, bibliotecas, etc.)

Divulgarei, com certeza, no blog. Caso achem chato encaminhar mensagens para mim, basta botar a boca no trombone e denunciar. O grito (ainda) é livre e de graça.

Saudações acadêmicas,
Heraldo


PS: A foto abaixo foi tirada num dos campi da UFF de Niterói. Dizem que é de um dirigente universitário que não tem nenhum tipo visível de necessidade especial ou de deficiência. Sistematicamente ele ocupa essa vaga. Não acredito que tamanha falta de civilidade possa ser verdade. Contudo, como perguntar não ofende, aí vai:

a) Qual a deficiência desse notável?

Quem me der a melhor resposta ganhará, como prêmio, um bilhete de ida e volta Rio - Niterói (barcas). No caminho, o vencedor (ou vencedora) poderá refletir sobre os mistérios da vida, aproveitando uma das vistas mais deslumbrantes do mundo, que na correria do dia-a-dia deixamos de perceber.

Perguntas impertinentes podem desafinar o coro dos contentes, mas não significam nada sem as respostas adequadas. A impertinência, caso exista, estará na sua resposta, cidadão. Ou não.

CARTA ABERTA À COMUNIDADE DO PUVR E DA UFF

por Prof. Alexandre José da Silva

Prezados colegas docentes, funcionários técnico-administrativos e discentes do Pólo Universitário de Volta Redonda e da Universidade Federal Fluminense. Foi com estarrecedora e grande surpresa que tomamos conhecimento do teor e termos da “PRESTAÇÃO DE CONTAS ORDINÁRIA ANUAL - RELATÓRIO DE GESTÃO DO EXERCÍCIO DE 2009 - MARÇO/2010”, mais exatamente daquilo relatado na seção 2.3.6.2.6, referente ao Pólo Universitário de Volta Redonda, às páginas de numero 31 e 32, onde no início do terceiro parágrafo após o quadro 48, lê-se ( itálico nosso):

...“Formalizado o rompimento contratual com a UFF, houve nova concorrência pública a as obras foram retomadas em maio de 2009. Devido às dificuldades iniciais das obras, as mesmas estavam com grande atraso, não podendo ser concluídas dentro dos prazos acordados. Diante desta situação e de outros problemas conjunturais, houve mudança na administração e as obras ganharam um novo ritmo”. 


Tendo ocupado a Direção do Pólo Universitário de Volta Redonda entre março de 2007 e agosto de 2009, a bem da verdade e da transparência na Administração Pública temos o seguinte a declarar:

1)    As obras do Campus Aterrado do PUVR/UFF foram licitadas em sua primeira versão em dezembro de 2006, com base em projeto tecnicamente deficiente, incompleto do ponto de vista das necessidades da futura ECHSVR, com custo por metro quadrado altíssimo, superando desde o início  R$2.300,00/m2  em dez/2006 e que, ainda assim, já em sua origem, simplesmente não incluía 95% do custo associado às lajes pré-moldadas. Re-ratificações propostas pela SAEP, então CAEP, responsável pela fiscalização do contrato e da obra elevariam o custo por metro quadrado a cerca de R$3.000,00 por metro quadrado. Mesmo assim, a empresa ganhadora da licitação não conseguiu fazer frente à realização da obra, após a execução das fundações, o que causou um prejuízo aos cofres públicos de mais de R$250.000,00, que ficaram “enterrados” no terreno do Campus Aterrado.
2)    Diante da situação colocada pela incapacidade administrativa financeira da empresa, declarada em agosto de 2008, a Direção do PUVR tomou providências e agilizou pessoalmente a concepção, elaboração, detalhamento, planilhamento, documentação, e licitação de todo um novo Plano Diretor para o Campus Aterrado, juntamente com os projetos e pranchas arquitetônicas para a construção de 13.450 metros quadrados, distribuídos em três prédios, a um custo menor que R$1.100,00 por metro quadrado de área construída nos prédios (o menor de toda a UFF!!),  incluídos 6 elevadores, e instalações de ar condicionado. O projeto incluía a urbanização e arruamento de cerca de 18.000 metros quadrados externos, aproveitamento de águas de chuva para maior sustentabilidade, áreas sombreadas e ajardinadas para convivência de alunos e demais usuários, Biblioteca Central, 1 auditório, salas multimídia,  3 quiosques, 2 restaurantes universitários, laboratórios de Física, Química, e Informática,  mais de 100 salas de aula e de uso administrativo, e mais de 120 gabinetes de professores. Essa infra-estrutura visava atender às necessidades acadêmicas e administrativas da ECHSVR, do PUVR,  e da nova Unidade a ser criada, o Instituto de Ciência Exatas - ICEX, cujo projeto acadêmico projeto foi também concebido, elaborado, detalhado e encaminhado durante nossa gestão do PUVR. Além disso, foram atendidas todas as possíveis demandas para aprovação e obtenção de todas as outorgas legais, inclusive de meio-ambiente, o que também foi feito durante nossa gestão.
3)     Licitada a execução do projeto em dezembro de 2008,  ficaram inicialmente,  como de praxe,  as fiscalizações do contrato e de obra novamente a cargo da SAEP, que não foi capaz de  iniciar a obra até abril de 2009. A Direção do PUVR chamou então para si a responsabilidade, assumindo as atribuições de gerenciamento e fiscalização da obra, a um custo adicional de ZERO reais para a administração pública. A obra teve então ordem de início em maio de 2009, o que ocorreu já em ritmo acelerado com término previsto para janeiro de 2010. Em junho de 2009, a obra recebeu a visita e fiscalização direta da Secretaria de Ensino Superior-SESU do MEC, que veio pessoalmente, juntamente com o Magnífico Reitor da UFF, visitar a primeira obra do REUNI em execução na UFF, localizada em Volta Redonda.  As obras do Campus Aterrado foram as primeiras a serem iniciadas e serão provavelmente as primeiras a serem concluídas (já deveriam ter sido!). Paralelamente, a obra de Reforma e Ampliação da EEIMVR continuou, como antes, a ser administrada pela SAEP
4)    Em agosto de 2009, houve a mudança de gestor no PUVR

    Sente-se, pois, nos termos do sucinto relatório apresentado, a falta de clareza, de detalhamento e de precisão nos fatos, e mesmo de uma cronologia fidedigna aos acontecimentos reportados, causando a enganosa impressão que os problemas de atraso no cronograma  da obra do Campus Aterrado, ocorridos somente após  agosto de 2009, teriam sido de responsabilidade de nossa gestão. Tal imperícia no relatar, considerando que a própria SESU fiscalizou as obras em junho de 2009 juntamente com o Magnífico Reitor, fato certamente desconhecido pela atual Gestão do PUVR, arrisca a credibilidade do relatório  junto ao MEC.
 Quanto aos “problemas conjunturais” aludidos no relatório como causa parcial da “mudança na administração”no PUVR, consideramos a expressão, no mínimo, um eufemismo para o contexto político/eleitoral que ensejou e ainda cerca a gestão no PUVR desde agosto de 2009. Eufemismo esse que dá margem a especulações e que não combina com a necessária objetividade esperada no Serviço Público. Acrescente-se a isso a falta de transparência da atual Gestão que, após duas primeiras e únicas reuniões, onde viu confrontada e questionada sua INTERVENÇÃO no PUVR,  fechou há mais de seis meses o Conselho do Pólo Universitário de Volta Redonda, legitimamente eleito, com participação discente e de funcionários técnico-administrativos, mas  que, desde então, não é mais convocado. 
 Para aqueles que desejarem um maior detalhamento das condições nas quais transferimos o cargo para o atual Gestor, sugerimos a leitura do “Relatório de Prestação de Contas da Gestão do PUVR sob a direção do Prof. Alexandre José da Silva entre 01/03/2007 e 21/08/2009”, apresentado ao Conselho do PUVR, entregue à Reitoria da UFF e à nova Direção do PUVR,  divulgado publicamente no PUVR ainda em setembro de 2009, e também disponível no endereço:
http://www.4shared.com/file/134057618/ff24e5ab/Prestao_de_Contas_PUVR_2007_2009.html

Volta Redonda, 29 de março de 2010

Alexandre José da Silva,  Dr.-Ing.
Prof. Associado II
ex-Diretor do PUVR

 

quarta-feira, 24 de março de 2010

Produtividade com sustentabilidade

por Carlos Henrique de Brito Cruz


"O Brasil é essencial nesse debate. Nenhum país industrializado conseguiu substituir o uso de gasolina na escala alcançada no Brasil"

Carlos Henrique de Brito Cruz é membro da Academia Brasileira de Ciências, professor titular do Instituto de Física da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Artigo publicado na "Folha de SP":

É possível substituir mais de 25% da gasolina usada no mundo por biocombustíveis, preservando o meio ambiente e evitando conflitos com a essencial produção de alimentos e outros produtos agrícolas? Cientistas brasileiros e estrangeiros envolvidos no projeto Sustentabilidade Global de Biocombustíveis (GSB, na sigla em inglês) tentam responder a essa questão durante sua convenção latino-americana, em São Paulo (23 a 25 de março).

O GSB fará cinco convenções continentais em 2010 com o objetivo de contribuir para o debate mundial nesse campo com base em resultados científicos. A reunião em  São Paulo segue as da Holanda e da África do Sul. As próximas serão na Malásia e nos Estados Unidos. O Brasil é essencial nesse debate.

Nenhum país industrializado até hoje conseguiu substituir o uso de gasolina na escala alcançada no Brasil, onde praticamente metade da energia total consumida tem origem em fontes renováveis -16% dela do etanol.

No Estado de São Paulo, o resultado é ainda mais marcante: 56% da energia vem de fontes renováveis, sendo 38% da cana-de-açúcar. O uso do etanol de cana permitiu que São Paulo reduzisse a participação do petróleo na matriz energética estadual de 60% para 33% nos últimos 30 anos.

Desde 1975,  a estratégia geral do desenvolvimento do uso de etanol no Brasil foi pautada pelo aumento da produtividade. O ganho ultrapassou os 3% ao ano nos últimos 40 anos graças ao melhoramento genético da cana-de-açúcar e ao aumento da eficiência industrial da conversão de açúcar em álcool.

O aumento do interesse mundial em biocombustíveis -motivado pelas dificuldades recorrentes no fornecimento de petróleo e pela preocupação com a emissão de gases-estufa- criou a expectativa de aumento intenso na produção de bioetanol.

Para que o Brasil forneça etanol suficiente para substituir pelo menos 5% da gasolina usada mundialmente, será necessário aumentar a produção brasileira dos 22 bilhões de litros em 2006 para 102 bilhões de litros/ano.

Produzir etanol requer vários insumos, como água, terra e energia, e o aumento das quantidades pretendidas exige a análise da dependência em relação aos insumos e seu efeito no meio ambiente. Por isso se impõe o desafio da sustentabilidade.

Essencial para a sustentabilidade é o balanço de energia, que mede quantas unidades de energia são geradas por unidade de energia de origem fóssil utilizada. Na produção de etanol, a energia fóssil é usada, por exemplo, no diesel dos caminhões que transportam a cana da plantação à usina.

É necessária 1 unidade de energia fóssil para produzir etanol suficiente para a geração de 9  a 10 unidades. Esse balanço tão favorável significa uma redução substancial das emissões de carbono pela substituição da gasolina pelo etanol de cana.

Outra questão fundamental para a sustentabilidade é saber se o aumento na quantidade de etanol produzido pode afetar outros produtos importantes, como alimentos.

Países da Europa e os EUA fazem objeções aos biocombustíveis porque são regiões em que toda a terra arável está em uso. Mas na América Latina e na África há muita terra disponível, e essa disponibilidade -já demonstrada em trabalhos científicos- é especialmente positiva, pois pode levar desenvolvimento a essas regiões.

Pesquisa e desenvolvimento trazem grandes avanços. No Brasil, a produtividade da terra cresceu de 2.700 litros para mais de 6.000 litros por hectare/ano -mais que o dobro, no período de 30 anos de 1975 a 2005, usando-se tecnologia incremental.

Hoje, muitos países, inclusive os mais desenvolvidos em ciência e tecnologia, como EUA, Inglaterra, França e Holanda, estão empenhados em melhorar a eficiência da biomassa para a geração de combustível líquido, buscando avanços radicais.

Por isso a intensidade de pesquisa sobre biocombustíveis cresceu muito e o panorama é muito mais competitivo do que quando praticamente só o Brasil usava etanol -o que exige do país uma nova atitude e um esforço muito mais intenso de P&D, promovido pelo governo e por empresas.

O Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen) e o projeto GSB vão nos ajudar a identificar as áreas de pesquisa prioritárias e os desafios a vencer para que o mundo possa se beneficiar de uma ideia criada e demonstrada pelo Brasil: a substituição da gasolina por combustíveis de origem renovável e sustentável.
(Folha de SP, 24/3)

Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=69835

terça-feira, 23 de março de 2010

O custo da educação, entrevista com Howard Stevenson

Responsável por captar recursos em Harvard, Howard Stevenson diz que as universidades brasileiras devem utilizar prestígio e ex-alunos para captar recursos
Acadêmico responsável pela "capitalização" da Universidade Harvard, Howard Stevenson afirma que as universidades brasileiras estão "perdendo" um "dinheiro precioso" para financiar projetos de educação e de pesquisa científica por falta de habilidade de captar recursos junto à iniciativa privada e aos milionários brasileiros.

Para Stevenson, as universidades brasileiras não utilizam seu prestígio, rede de relacionamentos e força de ex-alunos influentes para viabilizar o avanço científico. Ele integra o conselho do Insper (antigo Ibmec-SP) e esteve no Brasil para ensinar "técnicas de captação".

 - As universidades e institutos de pesquisa brasileiros negligenciam a capacidade de se financiar?

Sim. Eles estão perdendo um dinheiro precioso que faz muita falta. O Brasil precisa criar instituições e mecanismos para ajudar a financiar sua produção acadêmica e científica.

- Falta ao Brasil incentivos para estimular as doações?

Esse não é o problema; é uma desculpa. Claro que se tiver incentivo ficará mais fácil. Os doadores querem sempre que os outros saibam que eles se importam com determinados problemas da sociedade e que, por isso, colocam dinheiro em suas soluções. Os bilionários se perguntam se podem comprar um segundo avião ou se vão fazer alguma coisa importante para o mundo. Para essas pessoas, o ponto não é ter mais dinheiro, mas o que esse dinheiro pode fazer para mudar o mundo.

- Nos EUA, os milionários deixam suas fortunas para fundações porque, se transferirem aos filhos, vão pagar muito imposto. As regras brasileiras são brandas?

O problema é que, se você não confia tanto no sistema, tem de ficar seguro de que seus filhos ficarão protegidos e terão o controle dos seus negócios e das suas propriedades. Por isso, a importância da sucessão familiar aqui.

- No caso de Harvard, os ex-estudantes tiveram um papel importante na captação de recursos. Como viabilizar isso aqui sem as associações de alunos?

Vocês não sabem nem onde eles moram! Como vão reuni-los em torno de algum projeto? Os antigos estudantes têm interesse em manter contato para fazer "networking" e galgar postos nas empresas. Os principais doadores são sempre antigos estudantes.

- Alguns setores universitários argumentam que a ciência não pode se curvar aos interesses privados, daí o afastamento.

Na verdade, eu concordo. Mas há interesses privados de resolver determinados problemas da sociedade.

- Como deve ser a abordagem para captar recursos?

Não devem dizer que precisam de um prédio novo, mas que querem encontrar solução para um problema. E que, para isso, precisam de um prédio, laboratório etc. Na pesquisa científica, precisamos ter um capital confortável o suficiente para nunca se pagar. Precisa fazer coisas arriscadas, mas que podem mudar o futuro.

- Os ricos brasileiros são doadores generosos?

Não sou especialista, mas vi muitos deles mais preocupados, no passado, em achar um meio para tirar seu dinheiro do país. Agora, tenho visto alguns preocupados em trazer esse dinheiro de volta.

- Qual a importância da transparência e do feedback?

É enorme. Os doadores querem ver os frutos de sua caridade.

- Em que área o ensino superior brasileiro poderia focar mais?

Acho um erro forçar as pessoas a se especializarem tão cedo no Brasil. Uma das coisas importantes da universidade é ajudar as pessoas a terem um entendimento mais amplo do mundo. Como uma pessoa pode ser um bom advogado aos 23 anos?

Cultura no Brasil é outra, diz associação

As universidades brasileiras devem, sim, captar mais recursos junto a ex-alunos e interessados em financiar estudos ou pesquisas, mas é preciso considerar que tanto a cultura da sociedade quanto o nível de renda são bem diferentes nos EUA e no Brasil. A opinião é de Gustavo Balduíno, secretário-executivo da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior).

Balduíno conhece casos bem e malsucedidos de universidades que foram atrás de doações e diz que esse tipo de aporte é sempre bem-vindo, mas não pode ser a base de sustentação das instituições, já que o fluxo de recursos é imprevisível.

No caso das universidades federais, ele diz que a captação é muito complexa, já que todo o dinheiro gasto deve estar previsto em orçamento aprovado pelo Congresso. "A universidade federal não tem autonomia para gerenciar os seus recursos."

No Insper (antigo Ibmec-SP), há um departamento estruturado para viabilizar as captações para financiar bolsas para graduação e os centros de estudos e pesquisa.

Para construir o prédio, em 2005, o instituto preferiu pedir doações a apelar ao merchandising. Empresas fizeram doações em homenagem a personalidades, como o banqueiro Jorge Paulo Lehman (Garantia), cujo nome batizou uma das salas de aula. Acabou arrecadando R$ 12 milhões, mais do que precisava. Formou assim o primeiro fundo para bolsas, que hoje atende cerca de 10% dos alunos de graduação.
(Toni Sciarreta)
(Folha de SP, 22/3)

Fonte: JC e-mail 3973, de 22 de Março de 2010.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O BOM COMBATE E AS BARATAS

“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso...

- O que aconteceu comigo? - pensou.

Não era um sonho.”


A metamorfose
Franz Kafka.
Trad. Modesto Carone.



Oi Pessoal,

Tenho sido um adversário duro de alguns colegas quando tenho opiniões divergentes em relação a políticas públicas equivocadas que estão sendo adotadas para o ensino superior e, em particular, diante de alguns monumentais equívocos resultantes de políticas adotadas na UFF. Nunca me escondi no anonimato. Assinei todos os documentos e mensagens escritos por mim com críticas e me identifiquei em TODOS os casos nos quais entrei em contato com Ouvidorias, Conselhos ou qualquer órgão recursal. Já há algum tempo, quase todas as Ouvidorias de entidades públicas, com o meu mais entusiástico apoio, não aceitam mais a figura da “denuncia anônima”.

O grande desafio atualmente é evitar que sejam divulgadas denúncias pouco fundamentadas que visam apenas à desmoralização de adversários, mas, também, buscar proteger de ameaças, assédios e perseguições todos aqueles que fazem denúncias ou apresentam reclamações fundamentadas, respeitando o devido rito processual e dentro do sistema democrático.

Acredito que é fundamental a apuração transparente de qualquer questão que venha a ser levantada na UFF envolvendo eventuais falhas de sua administração superior, mas repudio veementemente quem reduz a questão política a um linchamento moral, baseado em boatos sobre questões pessoais, evitando focar objetivamente os fatos. Recentemente estão sendo divulgadas, de forma anônima, informações sobre questões pessoais de vários professores, fora de seu contexto, buscando criar na opinião da comunidade acadêmica uma imagem bastante negativa sobre eles.

Que todas as possíveis irregularidades sejam apuradas adequadamente. Mas espero que o processo de disputa política na UFF respeite reputações e histórias pessoais. Nos “anos de chumbo” da ditadura, o “linchamento moral” e a intimidação foram usados como instrumento da política de repressão aos indivíduos. Espero que não seja esta a prática corrente na consulta para Reitor que se avizinha. Que a transparência e o respeito sobrevivam.

Não existe justificativa ética para esse tipo de atitude (denúncias apócrifas, etc., etc.), mesmo quando os adversários fazem uso desse mesmo tipo de expediente. A maior das derrotas, com certeza, é descobrir que nos tornarmos iguais àqueles que detestamos. Quem buscou o bom combate e termina, pelo desespero e/ou cansaço, adotando esse tipo de prática equivocada, corre o risco, como no livro de Kafka, de numa certa manhã acordar, olhar o espelho, e descobrir que se transformou numa barata.


Saudações Acadêmicas
Heraldo

quinta-feira, 18 de março de 2010

Comentários sobre a Postagem “Águas de Março”

As altas temperaturas do verão não se fazem sentir apenas em Niterói. A aproximação do próximo período eleitoral  para a reitoria da UFF ativa a termodinâmica política, e causa  reações e fenômenos inesperados, embora bastante compreensíveis.


Um desses fenômenos é o amálgama exemplificado pela “aliança” citada pelo Prof. Heraldo, entre os gabinetes das Direções da EEIMVR e da Escola de Engenharia de Niterói. Não por acaso, encontra-se o cargo da Direção do PUVR ocupado por um irmão/docente  da Engenharia de Niterói, fato sabido por todos. O que poucos sabem, no entanto, são alguns interesses e bastidores  por trás do “aparente pedido de demissão” do Diretor do PUVR.  Seria uma briga com a Reitoria conveniente para o Diretor do PUVR nesse momento? Talvez fosse esse um bom pretexto para esse se desvencilhasse de acordos previamente firmados  e se lançasse uma vez mais como eterno candidato à Reitoria.


 Por outro lado, qual a razão da insatisfação? Coincidência ou não, a a Portaria 41870 foi publicada no Boletim de Serviço, n. 34/2010, de 26 de fev/2010, para “Instauração de Processo Administrativo Disciplinar-PAD e designação de comissão para processá-lo”. Tal processo diz respeito à apuração de fatos ocorridos no Gabinete da Direção da EEIMVR, quando um professor do VEM/EEIMVR/PUVR sentiu-se ofendido verbalmente pelo Diretor da Escola de Engenharia de Volta Redonda.


Comenta-se em Niterói que  a instauração de tal processo pela Reitoria teria desagradado não apenas o Diretor do PUVR, que declara-se publicamente amigo do Diretor da EEIMVR, mas também alguns artífices que urdiram a “lambança política” apontada pelo Prof. Heraldo.


O PAD em questão constitui instrumento administrativo legítimo para apuração, sejam quais forem, dos fatos ocorridos dentro do Gabinete da EEIMVR na presença de vários Professores e Técnico-Administrativos da Unidade. Impedir ou mesmo retardar seu andamento, além de prevaricação, seria  injustificável.


Obviamente, ninguém poderá supor que isso venha acontecer, ainda que a continuidade do PAD viesse a dificultar a reaproximação entre a Reitoria e a Direção da EEIMVR que vêm ocupando nos últimos anos posições políticas nitidamente antagônicas.


Saudações  Universitárias

terça-feira, 16 de março de 2010

ÁGUAS DE MARÇO

Oi Pessoal,

O Verão foi excepcional na maior parte do tempo – sol, calor e mar com água quente. Fato atribuído às mudanças nas correntes do Atlântico, o que, aparentemente, evitou, por um tempo, que ocorressem as tradicionais chuvas de verão. Não evitou, contudo, as tradicionais “águas de março” - chuvas torrenciais muito concentradas que causam tragédias e desabamentos que derrubam casas de pobres (a maioria) mas também de alguns poderosos (obviamente minoria).

Assim como o Verão, decidi passar esses últimos meses de forma tranqüila e, dento do possível, em paz, sem perturbá-los com minhas mensagens. Contudo, como na natureza com as “águas de março”, fui impelido por uma força maior a retomar a nossa saudável corrente de discussão. Preferiria ter continuado em paz, mas vamos lá.

Venho acompanhando com curiosidade a movimentação no Pólo de Volta Redonda após o aparente pedido de demissão do seu Diretor nomeado “pro tempore”. Crise anunciada, resultado de um movimento político amador baseado numa “aliança” artificial entre as Direções pouco representativas das Escolas de Engenharia de Volta Redonda e de Niterói. Os operadores dessa lambança política dificilmente serão respeitados pelos seus pares. Também estou acompanhando a novela do edital da consulta para Reitor na UFF. Não faço parte da Fundação Cacique Cobra Coral, mas prevejo que as águas de março já chegaram a UFF e que o volume das águas vai crescer, dependendo das ações e movimentos de alguns indivíduos (uma espécie de “dança da chuva” da política).

Enquanto isso, aguardo as eleições para as Direções dos pólos e unidades do interior. É no mínimo curioso, que TODOS os conselheiros do CUV falem de democracia e se preocupem muitíssimo com a lisura do processo de consulta para Reitor, mas não se manifestem em relação às eleições para as Direções dos pólos.

Para conhecimento dos colegas, encaminho, em anexo, a minha resposta, incluída no Processo 23069.056118/2009-40, cujo “Interessado” é a Diretoria de Desenvolvimentos das IFES do MEC e seu “Assunto” são as: ELEIÇÕES PARA DIRETORES NA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE.

Em 30 de Outubro de 2009, a senhora Adriana Igon Weska, Diretora de Desenvolvimento da Rede de IFES do MEC encaminhou o ofício no 10032/2009-MEC/SESu/DIFES à UFF:

Xxxxxx

Assunto: Nomeação de Diretores na Universidade Federal Fluminense

Cumprimentando-o, cordialmente, acusamos o recebimento do relatório do Professor Heraldo da Costa Mattos, de 13/10/2009, acerca de nomeações de Diretores de Departamentos da Universidade Federal Fluminense.

Encaminhamos em anexo, a documentação para conhecimento e resposta.

Sendo o que tínhamos a expor, colocamo-nos a sua disposição para qualquer esclarecimento.
Atenciosamente,

Adriana Igon Weska
Diretora de Desenvolvimento
da Rede de IFES


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Esse processo tramitou na UFF desde primeiro de novembro de 2009 e fui participado de sua existência em 23 de fevereiro último. Nele, já havia uma manifestação da Procuradoria Federal Junto à Universidade Federal Fluminense em relação a dois assuntos: (1) A legalidade da nomeação do atual Diretor da escola de Engenharia (Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 698/2009 – MFST) e (2) a legalidade da nomeação de Diretores de pólos no interior. Para os procuradores que emitiram os pareceres, essas nomeações seriam legais.

Sempre manifesto minhas críticas de forma pública e olhando nos olhos dos meus colegas com opiniões diferentes. Portanto, como sempre, obstinado, li e estudei cuidadosamente a argumentação apresentada pela PROGER. Também li e reli toda a legislação mencionada. Lamento, mas meu entendimento das mesmas leis apontadas foi exatamente o contrário ao da PROGER. Por discordar profundamente, mas respeitosamente, dos pareceres exarados, encaminhei à Diretoria de Desenvolvimento do da Rede de IFES, como parte do processo, algumas observações. Ao acusar conhecimento do processo escrevi o seguinte:

“Prezados senhores, encaminho minhas observações em anexo (16 páginas rubricada e numeradas manualmente de 49 a 64). Peço que elas sejam anexadas ao processo e que este seja encaminhado completo para a Diretoria de Desenvolvimento da Rede de IFES do MEC, para conhecimento”.

O teor completo dessas 16 páginas está apresentado a seguir. Aos que tiverem paciência, recomendo a leitura atenta do que está escrito.

Saudações Universitárias,
Heraldo




RESPOSTA ANEXADA AO PROCESSO 23069.056118/2009-40


Prezados senhores, encaminho minhas observações em anexo (16 páginas rubricada e numeradas manualmente de 49 a 64). Peço que elas sejam anexadas ao processo e que este seja encaminhado completo para a Diretoria de Desenvolvimento da Rede de IFES do MEC, para conhecimento.

Atenciosamente,

Heraldo Silva da Costa Mattos
Professor Titular
Departamento de Engenharia Mecânica
Matrícula SIAPE 1080148

xxxxx

Em 23/02/2010 encaminhado para mim o Processo 23069.056118/2009-40, cujo assunto é: NOMEAÇÃO DE DIRETORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Pelo que entendi, esse processo foi encaminhado originalmente à UFF em 09/11/2009 pela Diretoria de Desenvolvimento da Rede de IFES do MEC (Ofício no 10032/09.MEC/SESU/DIFES em função de um denuncia pública encaminhada por mim à esse Ministério, após troca de mensagens com os seus representantes.

Nesse atual processo foi anexada manifestação da Procuradoria Federal Junto à Universidade Federal Fluminense em relação à dois assuntos: (1) A legalidade da nomeação do atual Diretor da escola de Engenharia (Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 698/2009 – MFST) e (2) a legalidade da nomeação de Diretores de pólos no interior. Para os procuradores que emitiram os pareceres, não haveria dúvida quanto à legalidade dessas nomeações.

Contudo, como sempre, obstinado, li e estudei cuidadosamente a argumentação apresentada pela PROGER. Também li e reli toda a legislação mencionada. Lamento, mas meu entendimento das mesmas leis apontadas foi exatamente o contrário ao da PROGER. Por discordar profundamente, mas respeitosamente, dos pareceres exarados, encaminho à Diretoria de Desenvolvimento do da Rede de IFES algumas observações.

Imagino que discordar do parecer de um Procurador possa parecer desrespeito, dado o imaginário de infalibilidade dessa competente instância jurídica. Não foi (e nem é) minha intenção. Apresento a seguir, para os que tiverem força de vontade para ler, os meus modestos argumentos.


I. UM BREVE HISTÓRICO

Em 25 de maio de 2009, o Diretor da Escola de Engenharia encaminhou uma mensagem pública tocando nesse assunto. Fiquei curioso e consultei o Dr. Jonas de Jesus Ribeiro, Procurador Geral da UFF que me respondeu, de forma muito atenciosa, o seguinte, através de e-mail:

“Prezado Heraldo,

Eu respondi ao primeiro e -mail. Vou verificar o que houve, pois não consta da minha caixa de mensagens enviadas..

Contudo, esclareço que o processo eleitoral é um ato complexo, composto de diversas fases (do edital até a nomeação), e, se a primeira fase teve início sob a égide de uma determinada norma - e é o que está parecendo ter ocorrido - deve ser concluído com base na mesma norma, não importando se ocorreu alteração no curso do processo. A nova norma deveria ser utilizada no caso de ter sido anulado ou cancelado o primeiro processo eleitoral, mas não ocorreu tal hipótese.

Conclusivamente, se a eleição do Prof. Hermano teve início sob a égide de uma norma, a sua nomeação está correta, não devendo ser questionada.

Atualmente, o docente que queira concorrer para o Cargo de Reitor ou para o Cargo de Diretor de Unidade deve possuir o título de Doutor ou integrar a classe de Associado ou de Titular. A exigência de ser Associado IV não prevalece, pois em razão da data em que foi promulgada a Lei e da periodicidade da progressão dentro da Classe, nós não temos Associado IV.”



Ao estudar a legislação, discordei profundamente da argumentação apresentada – a de que a lei do tempo regeria o ato - a qual foi mudada, posteriormente no parecer apresentado nesse processo (Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 698/2009 – MFST), devido ao fato de TODO o processo ter se iniciado após a publicação do Decreto Nº 6.264, de 22 de novembro de 2007.

Também creio ser mal fundamentado o parecer exarado na Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 733/2009 – MFST, referente a nomeação pro tempore de Diretores de Unidades Isso me motivou a questionar fatos que julgo ser importantes, uma vez que a necessária Autonomia Universitária não pode ser maior do que as leis do País.


II. OBSERVAÇÕES SOBRE O PARECER DA PROGER SOBRE A NOMEAÇÃO DO PROFESSOR HERMANO (Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 698/2009 – MFST - Pags. 38 a 44 do Processo).


Recentemente, foi votado no CUV o processo 23069.054235/2009-79 cujo objeto seria a análise da legalidade da nomeação do Professor Hermano Oliveira Cavalcanti, atual Diretor da Escola de Engenharia. Basicamente eram solicitadas nesse processo duas questões, AS MESMAS ENCAMINHADAS AO MEC, crendo que seriam o melhor compromisso entre o cumprimento da lei e o respeito à Autonomia Universitária:

(1) A ANULAÇÃO DA NOMEAÇÃO DO PROFESSOR HERMANO OLIVEIRA CAVALCANTI PARA O CARGO DE DIRETOR DA ESCOLA DE ENGENHARIA, POR CONTRARIAR O DECRETO NO 1.916 DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, DE 23 DE MAIO DE 1996 E DO DECRETO Nº 6.264, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2007.

(2) A NOMEAÇÃO DE PELO REITOR DE UM DIRETOR “PRO-TEMPORE”, NOS TERMOS DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 7o DO DECRETO Nº 6.264, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2007, COM A RESPONSABILIDADE DE REALIZAR, NUM PRAZO MÁXIMO DE 60 DIAS, UMA NOVA CONSULTA, COM EDITAL AJUSTADO AO QUE ESTABELECE O DECRETO.


Encaminhado por pedido do CUV à PROGER, essa manifestou-se pelo indeferimento do mesmo. Os conselheiros do CUV, que certamente leram atentamente todas as leis e decretos citados, decidiram acompanhar o parecer da PROGER.

li e estudei cuidadosamente a argumentação apresentada. Também li e reli toda a legislação mencionada. Meu entendimento das mesmas leis apontadas foi exatamente o contrário ao da PROGER. Apresento a seguir, para os que tiverem força de vontade para ler, os meus modestos argumentos.


II.1 AS CONVERGÊNCIAS


Inicialmente vou enfatizar o que houve de concordância de interpretações entre a PROGER e eu diante do Decreto no 1.916 da Presidência da República, de 23 de maio de 1996 e do Decreto nº 6.264, de 22 de novembro de 2007:

1) O Diretor e o Vice-Diretor de unidade universitária serão nomeados pelo Reitor, observados, para a escolha no âmbito da unidade, os mesmos procedimentos e critérios usados para Reitor e Vice-Reitor. Portanto, a Legislação que rege a nomeação de Diretor de Unidade e seu Vice pelo Reitor, é idêntica a legislação válida para Reitor e Vice-Reitor

2) Somente poderão compor as listas tríplices docentes integrantes da Carreira de Magistério Superior, ocupantes dos cargos de Professor Titular ou de Professor Associado 4, ou que sejam portadores do título de doutor, neste caso independentemente do nível ou da classe do cargo ocupado.

O atual Diretor nomeado da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, não possui o Título de Doutor e nem faz parte da classe de Associado ou de Titular. A nomeação, feita pelo Reitor da UFF, foi em 12 de janeiro de 2008. Portanto, após a publicação do Decreto nº 6.264, de 22 de novembro de 2007.

Quando consultei a PROGER sobre o assunto, o primeiro parecer (sempre favorável à nomeação do professor) me foi passado informalmente por e-mail (em anexo) . Basicamente se baseava no argumento “da lei do tempo reger o ato”. Isso é, caso o processo houvesse iniciado sob a égide de uma lei, uma lei posterior não poderia alterá-lo. Contudo, mesmo com a minha limitada capacidade de raciocínio jurídico, mostrei objetivamente que esse raciocínio não se poderia ser aplicado no caso. Bastava analisar o cronograma dos eventos:
- Decreto 6264 publicado no dia 22 de novembro de 2007;

- Edital da consulta eleitoral publicado no BS 197/2007 de 06 de dezembro 2007 (14 dias após a publicação do Decreto);

- Consulta eleitoral entre os dias 12 e 13 de dezembro de 2007 (20 dias após a publicação do Decreto);

- Nomeação em 12 de janeiro de 2008 (49 dias após a publicação do Decreto);


II.2 – AS DIVERGÊNCIAS

O parecer formal emitido pela PROGER (Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 698/2009 – MFST) em relação ao processo encaminhado por mim ao CUV, já não segue a linha “da lei do tempo reger o ato”. Tem uma base aparentemente muito mais sólida, que é a Lei Nº 11.507, de 20 de julho de 2007 e a lei nº 11.784, de 22 de setembro de 2008.

“Art. 17. Aos atuais ocupantes dos cargos de reitor e vice-reitor de universidades federais, bem como de diretor e vice-diretor de unidades universitárias e de estabelecimentos isolados de ensino superior, aplicam-se, para fins de inclusão na lista tríplice objetivando a recondução, a estrutura da Carreira de Magistério Superior e os requisitos legais vigentes à época em que foram nomeados para o mandato em curso. (Redação dada pela Lei 11.784, de 2008).”

Parágrafo único. Na primeira eleição após o início da vigência desta Lei, poderão concorrer à inclusão na lista tríplice, para efeito de nomeação para os cargos de reitor e vice-reitor, bem como de diretor e vice-diretor, além dos doutores, os professores posicionados nos 2 (dois) níveis mais elevados, dentre os efetivamente ocupados, do Plano de Carreira vigente na respectiva instituição. (Redação dada pela
Lei 11.784, de 2008)”

Encerra a argumentação dizendo que ”Com a exoneração do Professor EMMANUEL PAIVA DE ANDRADE do cargo de Diretor de Unidade, haja vista a sua então recém escolha para o cargo de Vice-Reitor da UFF, coube ao professor HERMANO JOSÉ OLIVEIRA CAVALCANTI – frise-se, por dever legal – exercer as atribuições do cargo de Diretor da Mencionada Escola”.

Pela interpretação da PROGER, o professor Hermano seria o Diretor em exercício que estaria sendo reconduzido. Portanto, pelo Art. 17 da lei 11. 507 acima, valeriam “os requisitos legais vigentes à época em que foi nomeado para o mandato em curso”. Ou seja, ele estaria dispensado do diploma de Doutorado.

Aparentemente a argumentação seria perfeita. Mas há uma falha gritante que desmonta esse parecer aparentemente tão bem elaborado. Meu contra-argumento é baseado no que estabelece a Nota Técnica 448/2009 da Coordenação Geral de Legislação e Normas da Educação do Ministério da Educação. Tentarei, humildemente, e de forma bastante didática, mostrar que o raciocínio da PROGER não se sustenta.

A Nota Técnica 448/2009 esclarece que:

II.4 – Vacância do cargo de Reitor (Diretor). Reitor (Diretor) pro tempore

26. Segundo o art. 33 da Lei no8.112/90, a vacância do cargo público decorrerá de (i) exoneração; (ii) demissão; (iii) promoção; (iv) readaptação; (v) aposentadoria; (vi) posse em outro cargo inacumulável; e (vii) falecimento.

27. No caso de vacância do cargo de Reitor (Diretor), tal qual disciplinado pela legislação administrativa, assume o cargo seu substituto, geralmente o Vice-Reitor (Vice-Diretor) da Instituição. Esse permanecerá no exercício da reitoria (unidade) por período determinado, o que decorre da própria redação do art. 6o do Decreto no 1.916/2006, segundo o qual, configurada a vacância do cargo de Reitor (Diretor), a listra tríplice para o cargo de Reitor a que se referem o caput e os §§1o, 2o, 3o e 4o do art. 1o do Decreto será organizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias após a abertura da vaga e o mandato do Reitor (Diretor) que vier a ser nomeado será de quatro anos.

28. Logo, insubsistente entendimento que conclua que, no caso de vacância do cargo de reitor (Diretor), o Vice-Reitor (Vice-Diretor) assumiria o exercício do cargo para completar o mandato, já que a nomeação de Reitor (Diretor) é ato de competência legal do Presidente da República (Reitor), por determinação legal, sendo que qualquer disposição estatutária que contrarie tal competência, ainda que aprovada pelo poder público é nula. “

Portanto, no caso de vacância (houve exoneração do professor Emmanuel), deveria ter havido uma nova consulta e, conseqüente, nomeação do novo Diretor. A única exceção (polêmica, mas legal) prevista pelo art. 7o do Decreto no 1.196/96, seria o caso de nomeação de Diretor pro tempore.

A que eu saiba, não houve portaria indicando formalmente o professor Hermano como Diretor pro tempore. Façamos de conta que houve essa nomeação. Mais uma vez retorno à nota técnica 448/2009, que esclarece no seu art. 33:

“33. Ressalte-se que o Reitor (Diretor) pro tempore pode integrar a listra tríplice e, sendo nomeado Reitor (Diretor), não está configurada a recondução, mas sim a nomeação para o primeiro mandato de quarto anos.”

Portanto, das duas, uma:

i) O professor Hermano foi substituto pro tempore do professor Emmanuel. Pelo art. 33 da nota técnica do MEC, o atual mandato seria o seu primeiro mandato e não uma recondução. Conseqüentemente, o art .174 da Lei 111.784 não se aplica. Logo, sua nomeação é claramente ilegal, pois contraria o que estabelece o decreto 6264.

ii) Caso o CUV ainda queira ignorar o que para mim é a obviedade legal e considerar o atual mandato do professor Hermano legítimo (uma recondução), a decisão do egrégio conselho claramente impede um eventual projeto de reeleição do professor (ouvi vagamente um boato sobre essa intenção), pois a legalidade de sua nomeação atual, baseada nos argumentos da PROGER, só seria minimamente defensável caso esse fosse o seu segundo (e último) mandato.


III. OBSERVAÇÕES SOBRE O PARECER DA PROGER REFERNTE À NOMEAÇÃO DE DIRETORES DE UNIDADE (Nota Técnica AGU/PF/UFF/No 733/2009 – MFST).

Na realidade esse parecer deveria ter sido anexado ao processo 23069.055849/2009-78, encaminhado ao Conselho Universitário da UFF em 03 de novembro de 2009, e cujo objeto era a solicitação de convocação de consulta eleitoral para as direções dos pólos universitários e unidades isoladas do interior.


Ao Conselho Universitário
Universidade Federal Fluminense
Referência: Solicitação de convocação de consulta eleitoral para as direções dos pólos universitários e unidades isoladas do interior.

Prezados membros do Conselho Universitário:


III.1) Venho solicitar a esse egrégio Conselho que, no uso de suas atribuições, decida:

(1) A CONVOCAÇÃO DE CONSULTA ELEITORAL PARA A DIREÇÃO DE TODOS OS PÓLOS E UNIDADES ISOLADAS DA UFF

(2) A IMEDIATA ANULAÇÃO DA NOMEAÇÃO “PRO TEMPORE” DE TODOS OS DIRETORES QUE NÃO TENHAM A TITULAÇÃO MÍNIMA EXIGIDA PELO § 1° DO ART. 1O DO DECRETO NO 1.916 DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (COM A REDAÇÃO DADA PELO DECRETO Nº 6.264, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2007)
III.2) Alguns fatos:

O Art. 7 do Decreto nº 1.916, de 23 de maio de 1996, o qual regulamenta o processo de escolha dos dirigentes de instituições federais de ensino superior: estabelece que:

“Art. 7º: O Presidente da República designará pro tempore o Reitor ou o Vice-Reitor de universidade e o Diretor ou o Vice-Diretor de estabelecimento isolado de ensino superior QUANDO, POR QUALQUER MOTIVO, ESTIVEREM VAGOS OS CARGOS RESPECTIVOS E NÃO HOUVER CONDIÇÕES PARA PROVIMENTO REGULAR IMEDIATO.

PARÁGRAFO ÚNICO. A DESIGNAÇÃO DE DIRIGENTE PRO TEMPORE CABERÁ AO REITOR QUANDO SE TRATAR DE DIRETOR OU VICE-DIRETOR DE UNIDADE UNIVERSITÁRIA.”

Portanto, a designação pro tempore se dará somente naqueles casos em que não haja condições para provimento regular imediato. A totalidade dos diretores dos pólos e muitos de unidades no interior foi nomeada pro tempore sem que haja NENHUM motivo que impeça esse provimento regular imediato.

O caso mais evidente é o do Pólo de Volta Redonda, o qual abriga departamentos com cursos (graduação e pós-graduação) que funcionam há décadas.

Um argumento recorrente (e equivocado) para justificar a “falta de condições para o provimento regular mediato” em pólos ainda “jovens” é que a maioria dos docentes nestes pólos ainda estaria em estágio probatório.

Realmente, o parágrafo único do Art. 24 do Regimento Geral das Consultas Eleitorais diz que “É inelegível em qualquer consulta o professor em estágio probatório”. Contudo, o § 3o do Art. 20 da lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da união, das autarquias e das fundações públicas federais, estabelece que:

“§ 3o O SERVIDOR EM ESTÁGIO PROBATÓRIO PODERÁ EXERCER QUAISQUER CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO OU FUNÇÕES DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO NO ÓRGÃO OU ENTIDADE DE LOTAÇÃO (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)


Portanto, o RGCE da UFF proíbe o que a lei 9.527 permite.

Esse parágrafo terceiro da lei 8.112 foi mudado em 1997, através da lei 9.527, e muita gente não sabe disso. Não creio que uma lei menor (o RGCE da UFF) possa ser mais forte do que uma lei maior (a Lei 9527).

Informo ainda que o RGCE foi aprovado através da Resolução 104/97 do CUV em 3 de dezembro de 1997. A lei 9.527 foi publicada em 10 de dezembro de 1997, 7 dias após a aprovação do RGCE.

PORTANTO, A INELEGIBILIDADE DE DOCENTES EM ESTÁGIO PROBATÓRIO EM CONSULTAS ELEITORAIS, INCLUÍDA NO RGCE DA UFF, FOI TECNICAMENTE CORRETA POR APENAS 7 DIAS (de 3 de dezembro de 1997 até 10 de dezembro de 1997).

O argumento mais usado para justificar a exigência do RGCE seria o de que o servidor público em estágio probatório nomeado para cargo de direção teria um mandato e, caso fosse reprovado no estágio, não precisaria abandonar o cargo. ERRADO. Se o nomeado para cargo de Direção for reprovado no estágio probatório, ele será demitido e, por conseguinte, se dá automaticamente a vacância do cargo prevista no Art. 33 da lei 8.112/90.

Segundo o Art 33 da lei 8.112/90, a vacância do cargo público decorrerá de (i) exoneração; (ii) DEMISSÃO; (iii) promoção; (iv) readaptação; (v) aposentadoria; (vi) posse em cargo inacumulável; e (vii) falecimento.

Após a vacância, uma nova consulta e nomeação devem ser feitas em até 60 dias, segundo o Art. 6o do decreto 1.916 - "nos casos de vacância dos cargos de Diretor ou Vice-Diretor de unidade universitária, as listas a que se referem o caput e os §§ 1°, 2o, 3° e 4o do art. 1°, serão organizadas no prazo máximo de sessenta dias após a abertura da vaga e os mandatos dos dirigentes que vierem a ser nomeados serão de quatro anos. (Ver também o Decreto nº 4.877, de 2003) " .
Resumindo:

1) A lei permite claramente que servidores públicos em estágio probatório sejam nomeados para cargos de direção;

2) Caso esse servidor seja reprovado no estágio probatório se dá automaticamente a vacância do cargo ocupado por ele;
3) O RGCE não pode ter força maior do que a lei.

Deixo essas informações para avaliação dos conselheiros. Respeito e entendo as intenções dos conselheiros do CUV quando estabeleceram essa condição no RGCE. Certamente, quando essa legislação foi feita, não havia a menor idéia do festival de nomeações pro tempore que aconteceria sob a justificativa da interiorização da UFF. Peço aos conselheiros de hoje que reflitam. Além de uma legalidade muitíssimo questionável, esse parágrafo único hoje no RGCE, de fato, impede que a comunidade universitária nos pólos manifeste livremente os seus desejos e intenções mais legítimos. Portanto, do ponto de vista da Democracia Universitária, é, sem sombra de dúvidas, uma legislação caduca, inoportuna e equivocada.

Mesmo no caso dos conselheiros do CUV se recusarem a concordar com a minha interpretação das leis, lembro aqui o Art. 3o do Decreto 1.916:

“Art. 3º - Quando a universidade, o estabelecimento isolado de ensino superior ou a unidade universitária não contar com número suficiente de docentes de que trata o § 1º do art. 1º (docentes integrantes da Carreira de Magistério Superior, ocupantes dos cargos de Professor Titular ou de Professor Associado 4, ou que sejam portadores do título de doutor) para a composição das listas tríplices, ESTAS SERÃO COMPLETADAS COM DOCENTES DE OUTRAS INSTITUIÇÕES OU UNIDADES QUE PREENCHAM OS REQUISITOS LEGAIS.”

Portanto, nada justifica a inexistência de consulta e, mais grave, a nomeação de diretores sem a titulação exigida por lei, como é o caso de Nova Friburgo e da Escola de Engenharia.

Saudações Universitárias.
Heraldo Silva da Costa Mattos

sábado, 6 de março de 2010

Eleições na universidade


por Jacques Marcovitch

A questão universitária no Brasil impõe um foco maior em medidas que tragam rápidos e efetivos benefícios sociais. Entre estes, o avanço contínuo do desempenho em pesquisa científica e o incremento da oferta de vagas gratuitas ou financiadas, avanço que promove o bem-estar e incremento que favorece a integração. Nunca é demais repetir que o Brasil tem, na faixa etária correspondente, apenas 9% de sua juventude no terceiro grau, contra 40% na Argentina e 80% no Canadá, para citar apenas dois contrapontos. Enquanto isso, no espaço da universidade pública, onde essa questão social deveria prevalecer, alguns setores ainda levantam, como prioritário, o tema da eleição direta para reitor.
Formulada esta objeção preliminar à reincidência de pauta que me parece alheia ao interesse coletivo, espero contribuir, nestas linhas, para examiná-la de forma objetiva. Lembrarei dois fatos ocorridos em minha gestão reitoral. Faço o retrospecto por entender que um dirigente universitário serve à academia esforçando-se ao máximo no exercício do seu cargo e, depois, transmitindo aos colegas, quando necessário, a memória da experiência vivida.
Cabe reconhecer, antes de expor os fatos, que nem todos os adeptos do voto direto para reitor subestimam as questões principais da universidade. Agem, muitos deles, na suposição de que o seu critério de escolha é o mais democrático e o mais legítimo. Tenho a expectativa de que o meu relato ajude a reverter este equívoco e demonstre que o voto direto, ideal na representação política do Estado, é de todo inconveniente na escolha dos dirigentes de uma universidade. Não alonguemos, porém, os argumentos nesta linha, que dão sempre margem a excessos retóricos de um lado ou de outro. Voltemo-nos para a realidade concreta, que nos traz ensinamentos de maior valia.
O primeiro ponto a relatar diz respeito a uma pesquisa que desenvolvemos na Reitoria da USP junto às grandes instituições acadêmicas internacionais. Era nosso propósito saber qual o processo que adotavam na escolha de seus reitores e como encaravam a hipótese de uma eleição direta para esse fim. As universidades foram escolhidas com base em critérios de qualidade de seu desempenho e presença em redes de universidades mundialmente reconhecidas, como a Association of American Universities e a League of World Universities, da qual a USP é participante.
Foram ouvidas, na ocasiã0, 27 grandes instituições em todo o mundo: University of Oxford e University College London (Inglaterra); Université de Lausanne (Suíça); Université Lyon 2 (França); Leiden University (Holanda); Universität München e Universität Berlin (Alemanha); Universidad de Salamanca (Espanha); Stockholm University (Suécia); University of Sydney (Austrália), McGill University (Canadá); Hebrew University (Israel); University of Tokyo (Japão); Universidade de Coimbra, Universidade Nova de Lisboa, Universidade do Porto (Portugal); Universidad de Los Andes (Colômbia); University of Malaya (Malásia); Johns Hopkins University, Vanderbilt University, New York University, Emory University, Brandeis University, Association of American Universities, Duke University, University of Pittsburgh e Michigan State University (EUA).
Presume-se, e não seria lícito julgar de outro modo, que sendo estas universidades muito bem-sucedidas em seu desempenho, a forma de escolha dos respectivos dirigentes é a mais adequada. O questionário enviado compunha-se de quatro itens: procedimento atual da escolha do reitor, Presidente ou Vice-Chancellor; composição das assembléias que referendam a indicação final; duração do mandato; e, finalmente, o pedido de uma opinião sobre a hipótese de ser o reitor eleito em votação direta de todos os professores, funcionários e alunos.
Dito isto, passemos às opiniões colhidas na pesquisa. A principal informação foi a de que nenhuma das instituições consultadas adota o sistema de eleição direta para reitor. A maioria escolhe seus dirigentes em processo assemelhado ao adotado pela Universidade de São Paulo. Algumas, notadamente nos Estados Unidos, chegam a indicar o reitor após uma busca entre executivos mais capazes, incluindo-se apresentação de currículo e outros meios praticados por empresas e Fundações no recrutamento dos seus dirigentes.
Julgo adequado reproduzir aqui, sem comentários meus, os juízos emitidos pelos reitores das universidades pesquisadas quando chamadas a opinar sobre o item da escolha direta. O reitor da Universidade de Oxford, Inglaterra, dr. Colin Lucas, perguntado se admitia uma escolha feita por alunos, professores e funcionários, pela via do sufrágio universal, foi categórico: “Absolutamente não. Isto produziria resultados baseados em considerações altamente políticas e campanhas com promessas sendo feitas ou procedimentos não adequados ao tipo de liderança que uma universidade necessita. O corolário seria o desenvolvimento de um tipo de governo ministerial, pois outros líderes teriam que ser trazidos para satisfazer outros interesses. Nada disso é positivo para a boa liderança e o bom julgamento”.
Outra importante universidade inglesa, a College London, representada pelo seu Presidente e Provost, Chris Llewellyn Smith, desaconselha o sufrágio direto. Diz o dirigente: “Não sou favorável a um sistema de voto direto de docentes, funcionários e alunos. Isso apesar do fato de que em universidades que não têm Conselhos com a maioria dos membros vindos de fora possa haver argumentos em favor de tal procedimento.
No caso da UCL, tenho que prestar contas ao Conselho, que poderá demitir-me se não estiver trabalhando adequadamente. As desvantagens de tais eleições diretas residem no fato de que, em minha opinião, a maioria dos docentes, funcionários e estudantes realmente não têm muita idéia de como uma universidade deve ser administrada. E tenho observado que em alguns países onde há esse tipo de eleição para reitor surge a tendência de candidatos lançarem plataformas com base em propostas populistas, que poderão não trazer os melhores resultados para as universidades”.
O Presidente da Universidade de Lyon 2, França, Gilbert Puech, comenta: “Uma eleição direta tem seus atrativos, mas não seria fácil ponderar o voto entre os diferentes constituintes de cada comunidade: membros da faculdade, pesquisadores, pessoal administrativo e técnico”.
O dr. Douwe D. Breimer, da Universidade de Leiden, Holanda, resume o seu ponto de vista contrário: “Não me parece que uma eleição geral seja uma boa idéia. Um reitor deve ser escolhido com base em sua forte competência. O risco de eleições gerais é que a política venha a ser o mais importante”.
Na Universidade de Munique há um movimento no sentido de restringir mais ainda o processo de escolha. Informa seu reitor, Professor Andréas Heldrich: “Quanto ao processo de eleição do reitor e ao período do seu mandato parece que não há insatisfação com o atual estado de coisas na Universidade de Munique. Em estudo muito recente, uma firma de consultoria sugeriu que se estabelecesse um colégio eleitoral menor, com membros vindos de fora da Universidade, ao invés do Senado Estendido que temos atualmente. Nossos consultores apontaram para o fato de que esta mudança faria com que o reitor fosse menos dependente das pessoas que é obrigado a supervisionar. Portanto, as discussões em nossa Universidade estão caminhando para uma mudança na estrutura administrativa, ao invés de uma abertura maior na participação interna”.
O documento que recebemos da Universidade Livre de Berlim também se opõe a uma eleição direta: “Não consideramos este sistema muito apropriado, pois o grande número de estudantes teria o voto majoritário. Este modelo seria adequado se o Presidente tivesse somente uma função representativa. Tendo em vista que ele tem poderes de decisão, sua aceitação por todos os grupos, especialmente pelos professores, é essencial”.
Da Universidade de Salamanca, encaminhada pelo dr. Ignácio Berdugo Gómez de la Torre, veio a informação de que a maioria dos reitores espanhóis é contrária ao processo eleitoral direto. Declara este dirigente: “Sou claramente contrário ao voto direto. Entendo que, ao ser ponderado, tenha este uma grande carga demagógica e traga mais inconvenientes do que a legitimação pretendida”.
Da Suécia, onde os reitores são escolhidos por um Conselho Eleitoral, veio esta resposta curta e eloqüente, subscrita pelo Presidente Gustaf Lindencrona, da Universidade de Estocolmo: “Acho que o sistema de voto indireto, conforme existe em nossa Universidade, é melhor”.
Ainda mais conciso foi o Professor Gavin Brown, reitor da Universidade de Sydney, Austrália: “O modelo para eleger um reitor diretamente é inapropriado”. Eis a resposta que nos foi enviada pelo dr. Bernard J. Shapiro, da McGill University, do Canadá: “Eu não acredito que em nosso meio o voto direto pelos estudantes e/ou funcionários da Universidade seria muito bom. As contendas envolvendo publicidade politizam desnecessariamente o ambiente e raramente produzem a liderança necessária para uma instituição acadêmica. Além do mais existem muitos ‘stakeholders’ da Universidade que não são representados por aqueles que freqüentam a Universidade ou que nela trabalham”.
A Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel, não opinou sobre a eleição direta, preferindo informar que a eleição do seu presidente se faz por um Conselho de Curadores. O reitor é escolhido pelo Senado e através de um Comitê de Busca, no qual o Presidente tem poder de veto.
Na Universidade de Tokyo a escolha do Presidente da Universidade é feita em duas etapas. Na primeira, os delegados/representantes de cada uma das 14 faculdades e 12 institutos de pesquisa são escolhidos pelos professores, professores associados e professores assistentes da Universidade. Esses delegados/representantes se reúnem em assembléia e escolhem, através de voto secreto, cinco candidatos. Na segunda etapa, os professores, professores associados e professores assistentes votam em um dos cinco candidatos selecionados. O candidato com maior número de votos será o Presidente daUniversidade de Tokyo. Neste estágio do processo é possível votar em outros candidatos além dos cinco apresentados pelos eleitores. Não é necessário ser docente da Universidade para concorrer à vaga para Presidente. A instituição considera que, deste modo, as eleições “têm sido diretas, pois as pessoas com responsabilidade direta pelo ensino e pesquisa (docentes), são as que elegem o Presidente”.
A Reitoria da Universidade de Coimbra, esclarecendo que o seu executivo principal é indicado entre os professores catedráticos de nomeação definitiva e eleito pela Assembléia da Universidade, sequer comentou a possibilidade de eleição direta.
O Professor Luís Sousa Lobo, Reitor da Universidade Nova de Lisboa, enviou-nos a seguinte resposta: “O processo de eleição direta, com conversão da proporcionalidade dos votos obtidos em cada corpo eleitoral, foi praticado com sucesso na Universidade do Minho entre 1982 e 1989, mas a Lei atual não o permite. Torna a eleição mais visível na comunidade acadêmica, embora conduza a uma campanha eleitoral mais consumidora de tempo para os diversos intervenientes”.
Também na Universidade do Porto uma Assembléia da instituição escolhe o Reitor entre catedráticos de nomeação definitiva. O Professor J. Novais Barbosa, seu atual reitor, opina sobre o voto direto: “Seria um princípio aceitável, se não tivesse o inconveniente de incluir um apreciável número de pessoas certamente muito interessadas na sua área de incidência, mas pouco interessadas na atividade global da instituição”.
Enfatizando que a eleição do reitor por um Conselho de Diretores vem funcionando muito bem há mais de 30 anos, o atual Reitor da Universidade Los Andes, Colômbia, Professor Carlos Ângulo-Galvis, opina sucintamente: “Não favorecemos o voto direto. Consultamos os membros da comunidade e levamos em consideração as suas opiniões”.
O Reitor da Universidade da Malásia, Dr. Anuar Zaini Md Zain, informou apenas que o Vice-Chancellor é indicado pelo Ministro da Educação. Sugeriu como alternativa um Comitê para procurar o melhor candidato.
As universidades norte-americanas condenam por unanimidade a votação direta. O Presidente da Associação que representa aquelas com maior engajamento em pesquisa, Dr. Nils Anselmo, também respondeu à pesquisa, e nos seguintes termos: “Eu não acredito que a eleição através de voto direto dos docentes, funcionários e alunos seja um modelo viável para as universidades norte-americanas, tendo em vista suas estruturas de administração.
Todas elas têm, entretanto, Senados Universitários, com grupos separados para docentes e estudantes, para determinadas finalidades, que têm um peso considerável sobre questões acadêmicas. Este fato é referido como ‘shared governance’ (administração compartilhada). Mas a função dos docentes e dos estudantes é somente opinativa no caso de eleição de um Presidente/Chancellor”.
Seguem-se, em bloco, as opiniões encaminhadas à Reitoria da USP por oito destacadas universidades dos Estados Unidos:
Universidade Johns Hopkins – (Dr. William R. Brody) – “Seria contrário aos Estatutos da Universidade eleger o Presidente por voto direto. Seria também um erro que mudaria completamente o caráter desta instituição, na qual o Presidente responde ao Conselho, entidade autônoma, independente. Esta independência é tão importante que os Estatutos proíbem expressamente qualquer aluno, docente ou funcionário de servir como Conselheiro. Como nenhum Conselheiro é afetado diretamente pelas políticas e ações definidas pelos Curadores, eles têm maior objetividade sobre como administrar a Universidade, o que não seria possível se fossem stakeholders. “(…) Se a estrutura de governo permitisse a escolha direta, a Presidência ficaria politizada ao ponto em que o próprio Presidente não poderia levar avante sua missão com eficácia”.
Universidade Vanderbilt – (Dr. Mark J. Justad) – “Se fosse uma situação como a de Vanderbilt, eu seria cético quanto ao estabelecimento de um processo direto de eleição”.
Universidade de Nova York – (Dr. L. Jay Oliva) – “Meu pensamento quanto à eleição direta de um reitor (por todas as pessoas da comunidade – alunos, docentes e funcionários) é que não é uma boa idéia. O voto direto, nesse caso, resultaria num concurso de popularidade ao invés de se buscar o candidato certo, com as credenciais apropriadas”.
Universidade Emory – (Dr. Gary S. Hauk) – “Muitas vezes os passos necessários para levar a universidade a um nível mais alto são impopulares ou apenas parcialmente compreendidos por algumas comunidades. A eleição popular de um dirigente limitaria, portanto, a capacidade dos Curadores na busca de uma pessoa com as qualidades necessárias para liderar”.
Universidade Brandeis – (Dr. John R. Hose) – “A eleição direta para Presidente da instituição abriria a possibilidade de campanhas de candidatos e uma seleção altamente politizada que encorajaria a divisão e o surgimento de ‘ganhadores’ e ‘perdedores’ entre as várias comunidades. É de vital importância que as vozes dos docentes e alunos sejam  ouvidas na seleção de um Presidente, porém nenhuma dessas comunidades está na mesma posição do Conselho de Trustees para tomar uma decisão imparcial e baseada naquilo que é melhor para a Universidade”.
Universidade Duke – (Dr. Nannerl O. Keohane) – “Não acredito que a eleição de um Presidente pelo voto direto dos docentes, funcionários e estudantes favorecesse os melhores interesses de uma instituição. Este processo poderia dividir o campus e politizar a seleção”.
Universidade de Pittsburgh – (Dr. Mark A. Nordenberg) – “Não tenho experiência para medir esse enfoque e preferiria o processo desta Universidade, que eu sei que funciona”.
Universidade do Estado de Michigan – (Dr. Peter McPherson) – “A função do Presidente muitas vezes envolve a busca de fundos externos e relações com Assembléias Legislativas, líderes da comunidade e público em geral. Por isso, um voto direto pelos docentes, funcionários e estudantes, não seria apropriado porque constituintes externos importantes estariam fora do processo. O nosso atual sistema é melhor, pois a busca envolve membros eleitos pelo público e também constituintes internos”.
As opiniões aqui registradas evidenciam um consenso a ser atentamente examinado. Se queremos uma academia moderna e sintonizada com as boas práticas internacionais, devemos seguir o exemplo das melhores universidades. Não se trata de copiar mecanicamente os procedimentos adotados em outros países, mas acompanhá-los no essencial, que é o respeito aos interesses acadêmicos. Caberia sublinhar ainda que as instituições ouvidas pela USP situam-se, na quase totalidade, em países de sólida tradição democrática, onde o direito de opinião é fundamento pétreo em suas Constituições. Nota-se, porém, que estas academias percebem sabiamente as sutis e importantes diferenças entre a organização do Estado e a organização universitária.
À guisa de ilustração, serão descritos os processos de escolha de dirigentes em algumas das instituições pesquisadas. Todas elas integram a lista de universidades melhor avaliadas no “Academic Ranking of World Universities – 2004″, elaborado sob a coordenação do professor Nian Cai Liu, do Instituto de Ensino Superior da Universidade de Xangai – China, com o objetivo de orientar os estudos de chineses no exterior.
Associação de Universidades Americanas – Esta associação reúne as cem maiores universidades norte-americanas, em especial aquelas que priorizam as atividades de pesquisa e pós-graduação. Nessas instituições, públicas ou privadas, o presidente ou chancellor é eleito pelo Conselho da universidade. Os membros dos Conselhos, por sua vez, são eleitos ou designados de formas variadas. Nas universidades públicas, alguns dos conselheiros são eleitos quando das eleições gerais dos Estados e outros são indicados pelos governadores. Nas universidades privadas o próprio Conselho elege os seus membros e se auto-renova periodicamente. Na escolha de um presidente ou chancellor o Conselho geralmente indica um comitê de busca com representação do próprio Conselho, docentes, funcionários e estudantes e, às vezes, ex-alunos. Os mandatos variam de indicação anual até mandatos de cinco anos com a possibilidade de recondução.
Universidade Johns Hopkins – É dirigida por um Conselho de Curadores provenientes do setor privado, sendo que os próprios membros elegem os seus sucessores. O Presidente é escolhido por esse Conselho de Curadores e fica no cargo até quando o desejar. Quando um Presidente sinaliza que quer deixar o cargo, o Conselho de Curadores indica um comitê de busca para identificar o sucessor. Este Comitê, muitas vezes dirigido pelo Presidente do Conselho de Curadores, é integrado, em sua maior parte, pelos próprios Curadores, mas também inclui representantes de todos os setores da Universidade – docentes, estudantes, funcionários e ex-alunos. O processo para identificar um novo Presidente leva de 12 a 18 meses e envolve a consulta a pessoas da própria Universidade, de outras instituições, ou mesmo do exterior. Os indicados finalistas são entrevistados pelo comitê de busca e por membros da direção da Universidade. O comitê de busca recomenda um único candidato ao Conselho de Curadores que, então, decide se elegerá essa pessoa para o cargo.
Universidade de Nova York - A seleção é feita por um comitê de busca composto por pessoas conceituadas da Universidade (administração central, docentes, estudantes e funcionários). Não há mandato fixo para o Presidente. O Conselho de Trustees da Universidade é que decide quando um Presidente deve ser escolhido.
Universidade de Oxford – O Vice-Chancellor, dirigente executivo da universidade, é escolhido por um colégio eleitoral, integrado por quatorze membros, sendo cada um deles indicado por um setor diferente da Universidade. O colégio eleitoral é presidido pelo Chancellor (patrono da Universidade com poucas funções executivas, sendo a maioria delas de representação externa). O colégio analisa em sigilo possíveis nomes para a função e poderá fazer consultas reservadas. Não há candidaturas ao cargo e, caso seja percebida uma campanha em prol de um dos nomes, este será automaticamente desqualificado. O nome escolhido pelo colégio eleitoral é então proposto a todo o corpo de acadêmicos/professores. O nome é referendado, a menos que haja, dentro de um prazo determinado, uma contestação fundamentada. Nunca, na história da Universidade, um indicado foi chamado ao debate ou feita oposição ao nome proposto. O mandato é de cinco anos, podendo ser prorrogado por mais dois, não sendo permitida a recondução.
Universidade Colégio de Londres - O Presidente e Provost da UCL é indicado porum Conselho sob a recomendação de um Comitê de Seleção composto por membros do Conselho e do Conselho Acadêmico. O Conselho é integrado por cerca de trinta pessoas, a maioria não pertencente à Universidade, mas vinda da área empresarial e de representantes das profissões liberais. Atualmente integram também o Conselho dois professores representantes das escolas de segundo grau. Os membros internos incluem a representação de funcionários docentes e não-docentes e representantes dos estudantes. Já o Conselho Acadêmico é integrado por professores titulares e por membros eleitos de outras categorias docentes. O mandato tem duração mínima de cinco anos e máxima de dez anos.
Universidade de Estocolmo – A eleição do Reitor/Presidente acontece em três etapas. Na primeira, há uma decisão do Conselho Eleitoral, constituído por 60 membros, sendo 36 escolhidos pelos docentes, 12 pelos estudantes e 12 pelos sindicatos do comércio. Na segunda, há a decisão do Conselho Universitário, que geralmente escolhe o candidato que obteve a maioria dos votos no Conselho Eleitoral. Finalmente, o Reitor/Presidente é indicado pelo Governo. O mandato é de 6 anos, podendo haver reeleição para um período de mais 3 anos.
Universidade de Lyon 2 – O Presidente da Universidade é escolhido entre os docentes titulares e eleito por uma assembléia de aproximadamente cento e trinta membros integrantes do Conselho de Administração, do Conselho Científico e do Conselho para Assuntos Acadêmicos. O processo eleitoral inclui uma consulta a todos os membros da Universidade, mas a eleição é por delegação, pois é feita nos três conselhos. O mandato é de cinco anos e não se permite a reeleição.
Universidade de Los Andes - O reitor é eleito pelo Conselho de Diretores, composto por quarenta e cinco membros, tendo um mínimo de dois professores e dois estudantes. Um comitê de busca, constituído pelo Presidente e doze membros do Conselho de Diretores, entrevista membros do próprio Conselho, docentes e outros integrantes da comunidade da Universidade, prepara um relatório e apresenta suas conclusões ao Conselho. As conclusões incluem a recomendação de um a três candidatos para serem votados. O primeiro mandato é de quatro anos, que pode ser estendido por mais dois, indefinidamente.
Universidade Nova de Lisboa – A eleição é feita por um colégio eleitoral de cerca de duzentas e cinqüenta pessoas, designado Assembléia da Universidade, com representação das Faculdades, em que há 27% de estudantes e 10% de funcionários. Recentemente foram feitos ajustes no processo para assegurar a representação autônoma de estudantes de pós-graduação e introduzida uma regra de proporcionalidade mitigada, com três escalas de dimensão para a representação das Faculdades (1º escalão: até 1000 estudantes; 2º escalão de 1000 a 3000 estudantes; 3º escalão para Faculdades com mais de 3000 estudantes). Foram introduzidas, também, as alternativas de candidaturas ou deproposituras (por 5 a 10% de membros do colégio eleitoral). O mandato é de quatro anos admitindo-se apenas uma reeleição.
Toda a argumentação recolhida sobre a escolha do Reitor centra-se, como vimos, no princípio da competência. Esta será, em todos os casos, aferida por um grupo notoriamente qualificado e sem outro interesse que não seja de ordem acadêmica. O viés político é absolutamente desprezado. Exige-se do candidato um perfil em que se sobressaiam a capacidade administrativa e um pleno domínio de questões pertinentes às atividades fins da instituição. Está descartada qualquer hipótese de influência privilegiada no exercício de suas ações futuras.
O dirigente acadêmico, além de sólido conhecimento da área que lhe cabe gerir e uma compreensão abrangente da universidade, precisa ser um articulador. Mas a liderança, neste caso, não tem aquele sentido que ostenta quando relacionada com o embate sindical ou político. A condução partidária ou corporativa repousa basicamente na habilidade para arregimentar segmentos da sociedade e em atributos pessoais como oratória, carisma ou até mesmo alguma teatralidade no comportamento. A liderança de um dirigente universitário se mede pela capacidade na agregação de competências e formulação de um projeto para a academia. O desvio capital na tese do voto direto é o de exigir do Reitor ou dirigente de unidade o posicionamento de um agitador de massas. Ele não é isso, por mais que admitamos, no plano político, um protagonista com este perfil.
Não se veja, nesta observação, qualquer menosprezo à política e seus ritos, perfeitamente legítimos quando praticados em âmbito próprio. A política é a estrutura essencial do sistema representativo. Uma crítica irrefletida aos seus processos quase sempre oculta convicções totalitárias ou revela uma total incompreensão dos valores democráticos. Que fique bem claro: no caso em análise o erro está em partidarizar o contexto acadêmico e ignorar a sua verdadeira natureza.
As diferenças também ocorrem entre aqueles que vão escolher a liderança. Na universidade, ao contrário do que sucede no conjunto social, os liderados exercem um papel ativo. Eles não se limitam a seguir os passos de alguém, mas ajudar este alguém nas tarefas de governança e, mais do que isso, na concepção das políticas acadêmicas. Esta influência mútua é praticada nos colegiados, que por sua vez não devem guardar semelhança com os plenários políticos ou assembléias de classe, onde atuam “bancadas” e “facções” mais preocupadas com a reação de suas bases eleitorais.
Freqüentemente se ouve dizer que as congregações e conselhos superiores na universidade assumem posições “conservadoras”. Melhor seria caracterizá-las como prudentes, inclusive para identificar os líderes verdadeiramente inovadores e saber diferenciá-los dos que pretendem apenas trocar uma rotina por outra. Parece-nos que estas premissas estão implícitas nos depoimentos colhidos junto aos dirigentes das universidades internacionais ouvidos pela Reitoria da USP sobre as suas respectivas estruturas e processos de escolha.
Um Reitor não deve estar ligado a qualquer facção partidária, mesmo que ocasionalmente esta facção represente, no espectro político, um programa justo de governo. O compromisso da autoridade universitária restringe-se ao contexto exclusivo da qualidade acadêmica. Neste caso, a chegada ao posto de Reitor assemelha-se ao ingresso de um estudante na universidade.
O improvável cenário da eleição direta para Reitor teria uma porta escancarada para o aparelhamento da universidade pública. Por ela entrariam grupos ideológicos em busca de fortalecimento. Grupos de direita, como no tempo da ditadura militar ou grupos de vários matizes, como nos dias de hoje. Nocivos, todos, ao interesse universitário, porque visam em primeiro lugar a política e não as questões relevantes da academia.
Demo-nos por felizes que haja no Brasil plena liberdade e que se possam expressar as mais variadas correntes partidárias. Mas seria inadequado ampliar o campo de confronto destas forças para dentro da universidade visando a ocupação de espaços e permitindo que militantes de qualquer origem viessem a exercer cargos destinados a gestores de formação específica. A livre circulação de idéias é a razão de ser de uma universidade crítica e plural, como defendemos. Mas não se pode instrumentalizar este princípio com objetivos de poder interno, sob pena de trair o seu verdadeiro sentido.
Ficou demonstrado que um “concurso de popularidade”, para usar a expressão do reitor Jay Oliva, da Universidade de Nova York, é a pior forma de eleger um dirigente universitário. O melhor é fazer todas as escolhas pelo critério da competência e do vínculo permanente com a missão acadêmica. O autor deste artigo, quando reitor da USP e ainda hoje, vem expondo em escritos diversos o conceito de uma universidade generosa, empreendedora, crítica e plural. Nela, tudo depende de todos, mantido o sistema de representatividade que valorize o compromisso histórico com a instituição. Voltada para o aperfeiçoamento de suas políticas internas, culto aos valores humanos e debate dos grandes temas nacionais, a academia terá correspondido ao investimento público e às expectativas da sociedade. Ela deve ser tomada igualmente como um sistema aberto, constituído por milhares de células vivas – alunos, professores, funcionários e dirigentes – agrupados na gestão central, departamentos, núcleos, institutos, faculdades, museus. São estas células que têm assegurado, com êxito, a realização de metas e a preservação do pacto universitário firmado em 1934 e sempre renovado ao longo dos 70 anos da USP.
Professores de notória convicção liberal e até conhecida militância na esquerda democrática, opõem-se ao sistema da eleição direta para reitor. A propósito, relatarei o segundo fato referido no início deste artigo, que também ocorreu durante a minha gestão reitoral. Ocorreu, para ser exato, no dia 14 de setembro do ano 2000 e foi, para mim, uma experiência inesquecível. Naquele dia, atendendo a um convite do DCE, resolvi participar da instalação do Congresso dos Estudantes da USP – evento que anunciava em sua programação duro questionamento às práticas da Reitoria. Já fora informado por telefone que teria cinco minutos para falar, um pouco antes do Professor Antonio Candido – que seria o palestrante da sessão de abertura.
Entrei no Anfiteatro e percebi, em torno, olhares de perplexidade. Havia cerca de 400 alunos na platéia e um grupo de 20 deles, não mais do que isso, começou a gritar “Reitor, ditador!”, tentando puxar uma vaia, sem ressonância. Dirigi-me ao palco e sentei-me junto a um dirigente do Diretório Central de Estudantes (DCE). Este fez um comentário inicial em que explicitou, com ênfase, sua posição favorável a uma eleição direta para reitor e representação partidária de alunos e professores no Conselho Universitário. Em seguida passou-me a palavra e estendi-me, no tempo disponível, sobre as tensas relações daquele momento entre o DCE e a Reitoria. Lembrei que os dirigentes universitários, vistos equivocadamente pela representação estudantil como patrões ou detentores de poderes imperiais, na verdade exercem transitoriamente funções executivas. E subordinam-se, todos, à soberana decisão de colegiados em vários níveis, eleitos pela comunidade acadêmica. Concluí exortando todos a um diálogo sereno, mesmo a partir de idéias eventualmente opostas. Um diálogo em que prevalecesse a noção de que a amizade sempredeve sobreviver aos desacordos.
Concluído o meu discurso, falou o Professor Antonio Candido. Ele prestou riquíssimo depoimento sobre a sua trajetória na Universidade de São Paulo, desde os tempos de estudante. E aí aconteceu o fato de maior impacto naquela tarde, que agora resgato para o contexto deste artigo. Antonio Candido, surpreendendo os diretores do DCE, declarou-se contrário à eleição direta para reitor e à paridade no Conselho Universitário. E acrescentou que, embora discordando francamente de algumas posições do diretor do DCE, jamais o vaiaria por assumir estas posições. Foi delirantemente aplaudido por toda a platéia.
Os grupos que contestam o critério vigente nas eleições da USP escudam-se, em defesa de suas posições, na evolução política do País. A memorável campanha cívica em prol de eleições diretas para a Presidência da República, em 1984, é por eles indevidamente apropriada, como se coubesse relação entre um fato e outro. Não cabe. O voto direto para eleições gerais na sociedade fundamenta-se no princípio de que todos os brasileiros são aptos a escolher o seu presidente, tendo em vista que o poder, na organização democrática, emana do povo – este, fora de dúvidas, um ente social permanente.
Na universidade, porém, o referencial permanente é o seu corpo de professores, porque tem ele, na missão acadêmica, um projeto de vida inteira. Os estudantes freqüentam o campus temporariamente, durante seus cursos, e os dedicados funcionários nele permanecem enquanto não surgirem, no mercado de trabalho, melhores oportunidades.
Claro está que não pode haver paridade na votação e que o corpo docente deve ter um peso maior na definição dos destinos da academia. Estas razões, alinhadas às demais invocadas nas linhas anteriores, em especial a de notória competência dos candidatos, devem nortear a escolha de um reitor. Vincular o funcionamento da instituição aos interesses do sindicalismo interno e posições corporativas ou partidárias é o mais grave erro que se pode cometer numa escolha reitoral.
A pregação do voto direto na sucessão de um dirigente acadêmico não teve, e jamais terá, o caráter representativo que sempre alcançou nas decisões da sociedade civil. Espera-se, em nome da racionalidade e das melhores experiências, que este discurso equivocado, cada vez mais frágil, em breve seja definitivamente esquecido.

Jacques Marcovitch é ex-reitor da USP e professor  titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). O presente artigo foi escrito como texto-base para conferência realizada em 8 de março de 2005 no Instituto de Estudos Avançados (IEA) e publicado pela Edusp no livro  Ensino Superior – Conceito e Dinâmica, organizado por João Evangelista Steiner e Gerhard Malnic.


Fonte: Jornal do Campus in Debate: Diretas já? O atual modelo de eleições para reitor na USP é o mais democrático?