domingo, 26 de junho de 2011

Paulo Renato Costa Souza - Porto Alegre, 10 de setembro de 1945 - São Roque, 25 de junho de 2011


O Ex-Ministro Paulo Renato Costa Souza, falecido ontem, deixa um bom legado para a educação brasileira: a universalização da educação; a modernização dos currículos; a implantação de uma visão meritocrática a prevalecer no processo avaliação dos docentes nas IF’s, além da criação do ENEM e do SAEB, Sistema de Avaliação da Educação Básica, entre outros. 

É merecedor de nossos aplausos.

Saudações Acadêmicas
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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Contra o mérito!

Artigo de Flávio Sacco dos Anjos no jornal Folha de S. Paulo de hoje (24)

Especialistas em cienciometria indicam que a produção científica brasileira aumentou 56% entre 2007 e 2008, situando-a na 13ª posição no ranking mundial de artigos publicados em revistas especializadas. É no bojo desse processo que se constata o avanço substancial do sistema brasileiro de pós-graduação, com um incremento notável no número de programas destinados a formar recursos humanos em todos os campos do conhecimento.

Há, entretanto, um aspecto que é crucial para entender a mecânica dessa transformação de nosso país na última década. Refiro-me, sobretudo, ao fortalecimento de sistemas de avaliação centrados na perspectiva do mérito científico e acadêmico, traduzido no neologismo, já consagrado nas hostes universitárias, como o regime da meritocracia.

Sob sua égide, a missão de aprovar um projeto e de conseguir recursos para financiar suas pesquisas tornou-se o centro de uma acirrada disputa que se instala entre os membros de uma comunidade científica, sagrando-se vencedor aquele que mais publica em revistas qualificadas.

Essa dinâmica alimenta complexo sistema, em que a transparência e a veracidade das informações são asseguradas por instrumentos como a plataforma Lattes do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico).

Qualquer pessoa acessa a base de dados de currículos e conhece a trajetória de todo e qualquer pesquisador, do ponto de vista de sua produção intelectual. Não é à toa que os salários dos docentes de nível superior das instituições federais de ensino incluem gratificações cujo pagamento está atrelado ao cumprimento de índices de desempenho.

Lamentavelmente, tal imperativo vem sendo reiteradamente rechaçado pela Associação Nacional de Docentes de Nível Superior (Andes). Fugindo de seus propósitos, essa instituição se converteu numa trincheira de partidos políticos minoritários ou em local para abrigar verdadeiras nulidades, que, por sua total incompetência e despreparo, não encontrariam espaço para trabalhar em qualquer instituição respeitável de ensino deste e de qualquer outro país do planeta.

O ocaso da Andes é visível e patético. Assembleias de docentes são recorrentemente minúsculas, em que um número reduzido de professores decide pelos demais, propondo a deflagração de greves que só contam com o apoio da militância de plantão, que se locupleta de vantagens para financiar suas viagens ao planalto central e a outros locais do país, onde realizam congressos cujas teses são cada vez mais absurdas e distantes do cotidiano das universidades.

Não me parece um exagero afirmar que a Andes se converteu numa sinecura mantida com os salários dos demais e ao arrepio de qualquer princípio de legitimidade.

Basta olhar o currículo dos membros que compõem a diretoria da Andes para entender essa espúria realidade. Há docentes que jamais orientaram um só aluno de pós-graduação ou publicaram um único artigo científico em toda a sua vida.

Evidentemente, esse tipo de excrescência não representa a regra, mas, sim, a exceção.

A maior parte dos professores tem seu dia a dia marcado por jornadas intermináveis de aulas, orientações de alunos ou elaboração de novos projetos.

Mas o aspecto paradoxal é que são essas as pessoas que se consideram aptas para falar em nome dos demais, sendo a expressão última de flagrante crise de representatividade que se negam a enfrentar, porque, tomando as rédeas do debate, cairiam no ridículo, expondo as vísceras desse ingente paradoxo.

Flávio Sacco dos Anjos, 49, é sociólogo, professor da Universidade Federal de Pelotas e pesquisador do CNPq.


Fonte: Jornal da Ciência

quinta-feira, 23 de junho de 2011

CNPq discute a formação de Engenheiros para o Brasil

Para ampliar o debate acerca das necessidades brasileiras de formação e qualificação de profissionais nas áreas das Engenharias, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) promoveu hoje (22), a palestra “Contexto e Dimensionamento da Formação de Pessoal Técnico-Científico e de Engenheiros”, proferida pelo técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Paulo A. Meyer M. Nascimento.
 
A abertura foi realizada pelo diretor de Engenharias, Ciências Exatas e Humanas e Sociais do CNPq, Guilherme Sales Soares de Azevedo Melo, que destacou a relevância do tema. “Esse assunto é muito importante, pois o país precisa de engenheiros. Temos que motivá-los a permanecer nas Engenharias”, afirmou.
Nascimento traçou um panorama sobre o cenário atual e projetado da formação, ingressos e egressos, dos cursos de engenharia, bem como da demanda por parte do setor produtivo. “O Brasil forma proporcionalmente menos engenheiros que outros países, mas isso não quer dizer que esse número não seja suficiente”.
As vagas para as Engenharias dentro das instituições de ensino estão crescendo proporcionalmente mais que as outras áreas. Apesar da maior demanda pelas Universidades públicas, as matrículas no setor privado são as que mais crescem. Quanto à qualidade, constatou-se que dentre as instituições com conceito 4 ou 5 no Enade, 85,3% eram universidades públicas, em 2005, número que caiu para 73,7%, em 2008. “Podemos inferir que a formação das Engenharias é qualitativamente melhor no ensino público do que no privado”, pontuou.

Engenheiros no futuro
O forte crescimento econômico do Brasil poderá ampliar a demanda por engenheiros, o que poderá ocasionar cinco tipos de escassez: a quantitativa refere-se a uma oferta de engenheiros menor que a demanda; a qualitativa que consiste na formação inadequada para as funções demandadas; de áreas específicas como, por exemplo, a engenharia naval; regional ocasionada pelo aumento da industrialização em novas regiões; e de experiência que poderá ocorrer pela falta de profissionais com experiência nas áreas desejadas.
 
Para Nascimento, existem ajustes em curto e longo prazo que poderão remediar o problema . “Para efeitos imediatos podemos aumentar os salários, o que irá atrair os profissionais que estão em outras áreas, reter profissionais em vias de se aposentar e flexibilizar vistos de trabalho para estrangeiros”, ressaltou.
Segundo o pesquisador, para efeitos futuros é necessário ampliar a oferta de vagas via sistema educacional, atraindo e retendo talentos, garantir a qualidade da formação e promover uma formação básica de qualidade que permita que os jovens cheguem aptos a cursar a graduação.
Nascimento destacou ainda que parte do problema da falta de engenheiros pode ser atribuída a uma percepção do setor produtivo de que está faltando mão-de-obra com experiência. Pois a maior quantidade de engenheiros está concentrada no início ou final da carreira. “O mercado quer um profissional com experiência, caso contrario terá que investir em formação, mas que ainda não atingiu o topo da carreira, quando recebe um salário elevado”.
Nascimento lembrou ainda que as décadas de 1980 e 1990 foram difíceis para a Engenharia e que parte desse crescimento é na verdade uma recuperação. “Nesse sentido é preciso ter cautela, precisamos pensar se primeiro formamos engenheiros para transformar a estrutura produtiva, ou se esperamos essa transformação para formar mais engenheiros”, concluiu.


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Assessoria de Comunicação Social do CNPqcomunicacao@cnpq.br 
(61) 3211-9414

Fotos: Marcelo Moreira Gondim

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Profissionais trocam a academia pelos laboratórios de empresas

Dificuldade de escolas em absorver mestres e doutores motiva graduados a migrar para a iniciativa privada.
O farmacêutico bioquímico Fernando Amaral passou as primeiras três décadas de sua vida no meio acadêmico. Emendou uma bolsa de mestrado após a graduação e depois concluiu o doutorado em biologia molecular. Com o diploma na mão, há dois anos e meio, optou por partir para a iniciativa privada. O motivo, explica ele, é um só: com o aumento da quantidade de graduados, as universidades não têm mais como acomodar todos esses profissionais. É nesse vácuo que entram empresas como a americana Life Technologies, que usa mão de obra especializada para prestar assistência técnica aos laboratórios e pesquisadores que utilizam os princípios ativos que comercializa.

Amaral, hoje supervisor de suporte científico na companhia, afirma que a mudança da pesquisa em universidade para uma multinacional exige outro ritmo de trabalho: "O processo é rápido e é necessário levar em conta o lado comercial. Trabalhamos com mais temas e de forma menos especializada. Mesmo assim, a função é de disseminação de conhecimento."

De acordo com Patricia Munerato, que coordena a equipe de assistência científica da Life, a maior parte dos mestres e doutores que trocam o setor público por empresas privadas consegue um aumento de salário. "É muito comum, na academia, o acadêmico viver de bolsa. E a maior bolsa disponível hoje é a de pós-doutorado, que é de R$ 5 mil.

"Esse é o salário inicial que pagamos atualmente, sem contar os benefícios oferecidos pela empresa", diz Patrícia, PhD em doenças infecciosas. "Hoje, nossa equipe de suporte científico tem 20 pessoas, sendo 70% com doutorado e 30% com mestrado."

Descoberta - O número de empresas com uma quantidade considerável de mestres e doutores não é maior, segundo o consultor Valter Pieracciani, porque muitas empresas ainda não descobriram a própria vocação inovadora. Às vezes, diz ele, os projetos de tecnologia e processo existem, mas não são organizados em uma estrutura organizada. "É uma característica do Brasil: há muita produção de documentos científicos dentro das universidades, mas muito pouco disso é aproveitado pela indústria."

Para o especialista, é essencial que a academia e a indústria se aproximem. "É algo que aconteceu há 25 anos na Coreia do Sul, com bons resultados. É um país do tamanho do estado de Pernambuco, que produz carros vendidos para o mundo todo", diz. Tendo isso em mente, Pieracciani promove eventos como o TechDay, em que professores universitários apresentam suas pesquisas a empresas, que são encorajadas a dar um norte prático às ideias. "É uma forma de gerar uma interação entre a ciência e o mundo dos negócios."

A dificuldade em lidar com a inovação está em companhias de diversos portes, diz Pieracciani. Entre os clientes do consultor está a Universal, empresa de tecidos que criou um pequeno departamento de inovação há dois anos - trata-se de um grupo formado por um gerente e dois funcionários, mas que já motivou a companhia a criar produtos a partir de garrafas pet e restos de fibras, por exemplo. Já a empreiteira Andrade Gutierrez, por exemplo, só recentemente começou a reunir as inovações implantadas em seus canteiros de obra. "Criamos uma ferramenta para reter e catalogar o conhecimento gerado nas obras e repassá-lo para toda a empresa", explica Érico da Gama Torres, diretor de qualidade e sistemas da empresa.

Essa iniciativa, diz Torres, é uma forma de economizar horas de trabalho do corpo de engenheiros da companhia e também de consultorias contratadas para solucionar problemas em contratos específicos.

O papel dos engenheiros na inovação - Uma das ferramentas para fomentar a inovação no País, de acordo com a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), é o aumento da formação de engenheiros. Segundo Guilherme Marco de Lima, vice-presidente da entidade, hoje cerca de 5% dos graduados no Brasil saem das escolas de engenharia. Na China, o porcentual é de 40%.

A formação de engenheiros é importante para expandir a inovação no setor privado, afirma Lima, pois esses profissionais são de grande interesse para as empresas inovadoras. Além disso, os programas de subvenção para contratação de mestres e doutores - em que as companhias recebem ajuda de custo do CNPq ao contratar mestres e doutores - se limitam às pequenas e médias empresas. Segundo o consultor Valter Pieracciani, as empresas que poderiam recebera ajuda oficial, que garante o pagamento de 50% do salário de mestres e doutores por até dois anos, desconhecem o benefício. "Existe a burocracia do processo, mas se trata de uma oportunidade considerável."
(O Estado de São Paulo)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A inovação necessita de novas ideias

Editorial da revista Science, de 25/5 (vol. 332), escrito por Alan I. Leshner, diretor executivo da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) e editor executivo da Science.

Ciência, tecnologia e inovação (CT&I) são motores essenciais do crescimento econômico e do bem-estar nacional. Daí que investir na CT&I tornou-se fonte de esperança para muitos países, tanto ricos como pobres.

Mas a inovação requer a busca de novas ideias, e as atividades de ciência e a tecnologia (C&T) podem não estar bem estruturadas nos Estados Unidos (EUA) e em outros países para atrair, reconhecer e explorar novas ideias. É preciso reexaminar algumas antigas tradições e modos de operar, a fim de garantir a otimização do sistema como motor para levar avante os objetivos da sociedade.

A revisão por pares é amplamente reconhecida como o melhor sistema para escolher os projetos de pesquisa a serem financiados e decidir sobre os artigos a serem publicados.

Mas a revisão pelos pares pode ser um tanto conservadora, sobretudo quando o apoio financeiro disponível é limitado, fazendo com que se apoiem os projetos "mais seguros" e não os de maior risco, baseados em escassas provas piloto.

Nos EUA pelo menos, como aponta a Direção Nacional de Ciência, em 2007¹, não tem dado bons resultados o esforço de exortar pareceristas e agências de fomento a ampliarem o apoio a pesquisas de alto risco e potencialmente mais rentáveis ou transformadoras, capazes de revolucionar uma área do conhecimento.

São necessários mais programas como o Prêmio Pioneiro dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA [National Institutes of Health (NIH) Pioneer Awards) e o ARPA-E do Departamento de Energia dos EUA, que reservam recursos para apoiar pesquisas inovadoras que abram novas fronteiras. Os projetos são analisados por comitês incumbidos de avaliar seu potencial transformador, ao lado de sua qualidade geral.

Os centros de pesquisa que trabalham com pesquisas de alto risco poderão ter que repensar prazos de avaliação e critérios para julgar e recompensar desempenho.

Programas de pesquisa transformadora podem demorar mais para atingir seus objetivos do que programas de incremento concebidos de modo mais linear; a pesquisa transformadora pode ter muitos inícios falsos e, assim, reduzir a taxa de publicação.

Esse fator também deve ser considerado pelas agências de fomento, que podem, igualmente, ter que repensar seus critérios de apoio e de avaliação do progresso.

A inovação também será beneficiada tanto pelo aumento do número de jovens cientistas quanto pela diversidade das equipes de pesquisadores.

Um dos melhores argumentos para se defender mais apoio aos jovens pesquisadores é que os cientistas deveriam ser estimulados a desenvolver suas ideias mais criativas, que surgem mais cedo em suas carreiras, como muitas pessoas creem.

É preciso haver mais programas como o Apoio ao Pesquisador Independente Iniciante do Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Council's Starting Independent Researcher Gransts), o Prêmio Jovem Inovador dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH's New Innovator Awards) e o Financiamento à Carreira dado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA (National Science Foundation's Carrer grants).

Além disso, a inovação surge muitas vezes do pensamento não-tradicional. E muitas ideias novas virão de novos pesquisadores das áreas de ciências e engenharias, frequentemente menos presos a estruturas tradicionais.

São argumentos a favor do aumento da diversidade no universo de pesquisadores, acrescentando-se a ele mais mulheres, minorias, cientistas com deficiências físicas, bem como pesquisadores de instituições menores e menos conhecidas.

Os benefícios da crescente diversidade para fomentar a inovação e o êxito econômico também têm sido discutidos em vários âmbitos.² Tanto os centros de pesquisa como as agências de fomento precisam dar mais atenção a essas fontes de novas ideias e, neste sentido, podem ter que refinar seus sistemas de recrutamento, incentivo e financiamento.

Será difícil promover tais ajustes sistêmicos na C&T de grande desempenho e nas agências de fomento, sobretudo ante os graves cortes orçamentários que ameaçam programas de pesquisa em curso em muitas partes do mundo.

Para efetuar tais mudanças, os escalões mais altos das instituições de C&T terão que revelar liderança e coragem. Mas, se a comunidade de C&T seguir disposta a cumprir sua parte na promessa que levou à crença de que ciência, tecnologia e inovação serão a fonte de bem-estar futuro, as mudanças terão de ser feitas. (Tradução de José Monserrat Filho)

1) Ver <www.nsf.gov/nsb/documents/2007/tr_report.pdf>

2) S. E. Page, The Difference: How the Power of Diversity Creates Better Groups, Firms, Schools and Societies (Princeton Univ. Press, Princeton, NJ, 2007).