terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cursos Tecnológicos


Pelo menos 160 mil estudantes fazem cursos tecnológicos considerados ruins

Entre 2003 e 2009, matrículas nessa modalidade de ensino superior - um meio termo entre o bacharelado e o técnico de nível médio - cresceram 324%, mas ainda são poucas as graduações avaliadas; 33% dos cursos tiveram mau desempenho no Enade

Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo

Entre 2003 e 2009, as matrículas em cursos tecnológicos no Brasil cresceram 324%. A qualidade desses cursos, no entanto, só começou a ser avaliada nos últimos três anos. O retrato levantado não é bom: cerca de 160 mil estudantes estão hoje em um curso superior de qualidade ruim. Mais que isso: até agora, apenas 38% deles passaram por algum tipo de avaliação do Ministério da Educação (MEC).
O avanço dos cursos tecnológicos no Brasil foi vertiginoso. Em 2000 havia apenas 364 cursos registrados. Em 2009, o Censo da Educação Superior registrava 4.449 cursos, um crescimento de 1.122%.
De todos esses cursos, no entanto, apenas 1.723 já passaram por uma avaliação do MEC. Só 1.216 receberam conceitos. Os demais não tiveram graduandos suficientes para fazer o Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade).
Nos poucos cursos que já foram avaliados, a situação não é boa. Na média dos três anos de Enade, 33% tiveram conceitos de curso inferiores a 1,95 pontos e terão de passar por um processo de supervisão.
Em 2008 e 2007, o resultado da avaliação foi ainda pior: mais de 40% dos cursos tiveram os piores conceitos. Em 2009, esse porcentual caiu para 27%. Mas 2009 também foi o ano em que mais cursos ficaram sem avaliação completa, porque eles não ainda possuíam turmas de formandos.
Nos mesmos três anos de avaliação, outros 40% ficaram com conceitos entre 1,95 e 2,95 pontos - o que significa que têm nota 3 para o MEC e são considerados "regulares", mas não que sejam realmente cursos de qualidade. Vinte e nove cursos ficaram com notas abaixo de 1.
Rapidez. A formação mais rápida e o foco concentrado têm atraído estudantes, apesar de nem todas as vagas oferecidas terem sido preenchidas. Em 2009, ficaram ociosas 42 mil delas em diferentes áreas.
A facilidade de instalação dos cursos - são necessários menos professores e, no caso das universidades e dos centros universitários, é possível usar a estrutura dos cursos de graduação - e a maior rotatividade, por causa de um tempo menor de formação, têm atraído as instituições.
"Não há um incentivo do MEC, mas claramente há um incentivo do mercado para os tecnológicos. O País está crescendo, muitas vezes não há tempo para esperar cinco, seis anos para formar um profissional. O tecnólogo preenche essa lacuna", explica o secretário de Ensino Técnico do ministério, Eliezer Pacheco.
A autorização dos cursos tecnológicos está nas mãos da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), e não da Secretaria de Ensino Superior, que cuida dos cursos de graduação.
No entanto, Pacheco afirma que o trâmite e as exigências são os mesmos. "A avaliação está sendo feita. A orientação que a gente dá para os alunos é a de que busquem os dados com o MEC e também verifiquem se o curso está regular, se tem infraestrutura."
PARA ENTENDER
Criados no governo Fernando Henrique Cardoso, os cursos tecnológicos são um meio termo entre o bacharelado e o curso técnico de nível médio. São considerados de nível superior, mas em um grau abaixo do bacharelado ou da licenciatura. Normalmente têm duração de três anos e são mais focados em uma determinada área. Por exemplo, em vez da graduação em Administração, um Tecnólogo em Gestão Financeira. Em vez de Engenharia de Alimentos, Tecnologia em Processamento de Açúcar e Álcool.


 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Consulta Eleitoral para Escolha de Diretor e Vice-Diretor da EEIMVR

EDITAL N°. 1 DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011



Fonte: Secretaria da EEIMVR @ amigadocebolinha@metal.eeimvr.uff.br em 16 de fevereiro de 2011.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Governo libera contratação de professor sem concurso em federal

Docente temporário poderá atuar em novas universidades e campi
O governo federal poderá preencher vagas em novas universidades e escolas técnicas sem a necessidade de promover concursos públicos para a contratação de professores efetivos.

Medida provisória editada pela presidente Dilma Rousseff coloca a expansão das instituições de ensino federais, uma das principais promessas da presidente, na categoria de "excepcional interesse público".

Com isso, fica liberada a contratação de professores temporários, que gozam de regime trabalhista mais precário, para preencher vagas nessas instituições. A MP é editada justamente no momento em que o governo se prepara para cortar R$ 50 bilhões do Orçamento.

O limite de vagas de temporários nas federais ainda será definido. Na prática, a MP vale só para novas universidades ou novos campi. No caso de professores efetivos que entram em licença, por exemplo, já existe a figura do professor substituto, que é outro tipo de professor temporário. Agora, com a MP, vagas "virgens" também podem ser ocupadas por temporários.

Além de salários menores (o pagamento é feito por horas trabalhadas), esses professores não têm direito a férias, nem acesso ao plano de carreira que profissionais efetivos desfrutam.

Em discursos e entrevistas, Dilma costuma reforçar sua preocupação com a "valorização dos professores".

De acordo com o texto da MP encaminhada na segunda-feira ao Congresso, a contratação desses profissionais temporários deve respeitar o prazo de um ano, prorrogável por igual período.

O texto não deixa claro, porém, se a vaga temporária poderá ser preenchida por outro professor, também em caráter temporário, após o fim do prazo máximo de dois anos. A MP afirma só que "as contratações serão feitas por tempo determinado".

O Ministério da Educação nega que exista a possibilidade de a vaga ser perpetuada como "temporária". Segundo o MEC, depois dos dois anos, ou mesmo antes disso, haverá contratação, via concurso, de professor efetivo.

A política de contratação de professores temporários, em detrimento de concursos, é alvo de críticas por parte de sindicatos dos docentes, por conta da precariedade da relação trabalhista.

Concurso em segundo plano

Como funciona hoje - Não há previsão de contratação temporária de professores para suprir vagas abertas com a criação de novas universidades ou com a abertura de novos campi nas instituições que já funcionam. O que existe é a previsão para contratação de professores substitutos, que devem cobrir exonerações, aposentadorias, falecimentos ou licenças. Além disso, pela lei atual, o percentual desses professores substitutos não pode passar 10% do total do quadro docente de uma universidade

Como ficará - As contratações temporárias para "suprir demandas decorrentes da expansão das instituições federais de ensino" passam a ser permitidas, por prazo máximo de dois anos. Ou seja, o governo fica dispensado de abrir concurso público e pode fazer a contratação temporária para novas vagas em universidades. Em relação aos professores substitutos, fica estabelecido um limite de 20% do total de professores efetivos da instituição. Fonte: MP nº 525, de 14 de fev. de 2011, e Lei 8.745/1993
(Folha de São Paulo)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Inovação deve ter foco, dizem analistas

O foco da política tecnológica brasileira tem que ser para segmentos ou setores ou para parte de setores ou para um conjunto de setores similares. A questão de ciência e tecnologia é um desafio em qualquer lugar do mundo

A indústria brasileira vem perdendo espaço no mercado doméstico para os produtos importados e também perdeu competitividade para concorrer em outros países com produtos "made in China", "made in Coreia", "made in" algum país asiático. Embora o câmbio seja hoje apontado como o grande vilão da indústria brasileira, ele não é o único responsável pela perda de participação dos produtos brasileiros no consumo doméstico e também no de outros países. Para um grupo cada vez maior de especialistas, a recuperação da participação perdida e a conquista de novos espaços passa pela inovação. Mas o importante, insistem, é traçar uma rota de incentivo à inovação com foco nos segmentos onde o país tem capacitação e possa fazer diferença. A ideia, dizem, não é abandonar a indústria, mas fazer "escolhas" em setores nos quais o país pode dar um salto a médio e longo prazo.


Na última década, o país perdeu competitividade de tal forma que levou o professor Antonio Barros de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a caracterizar a indústria brasileira, com honrosas exceções, de "descartável do ponto de vista internacional". Para Barros de Castro é preciso "um ativismo forte, mas não para manter, e sim para transformar".


Ele e outros dois especialistas em política industrial - os professores David Kupfer, também da UFRJ, e Carlos Américo Pacheco, do Instituto de Economia da Unicamp - avaliam que há a necessidade de uma política científica e tecnológica diferente daquela que vem sendo realizada. "O foco da política tecnológica brasileira tem que ser para segmentos ou setores ou para parte de setores ou para um conjunto de setores similares. A questão de ciência e tecnologia é um desafio em qualquer lugar do mundo. O Brasil não é diferente", avalia Kupfer.


Carlos Américo Pacheco destaca que o Brasil vai ter que fazer escolhas. "Não vamos conseguir resolver todos os problemas sistêmicos no curto prazo. Há falta de recursos humanos e de ação coordenada, e toda essa agenda é de médio e longo prazos. Temos que resolver questões de logística e de infraestrutura, e o problema cambial não vai ser solucionado de um dia para outro. Temos aí dois anos para equilibrar apenas as questões macroeconômicas e depois poderemos realmente avançar " diz.


Tanto ele como Kupfer destacam áreas nas quais o país pode avançar e posicionar-se internacionalmente de uma forma mais competitiva e diferenciada, observando que esses segmentos "são até óbvios", como lembra o professor da Unicamp. "Andar firme no agronegócio, em toda a cadeia que envolve o petróleo, com o pré-sal, manter a base de desenvolvimento científico no que diz respeito aos recursos da biodiversidade, energia, na aeronáutica, setor aerespacial que são indutores de tecnologia pelo mundo afora são setores que formariam um mapa interessante para serem depois completados com dimensões da economia do conhecimento", lista Kupfer.


Ele avalia que todos os setores citados contam com bases bem constituídas, mas precisam continuar recebendo investimentos para abrir caminhos novos e acumular mais massa critica para avançar. "Não se deveria definir um número muito grande de áreas, mas algumas com margem ampla de ação de longo prazo, envolvendo recursos de empresas e governamentais", diz o professor da UFRJ.


Kupfer lembra que não foi por acaso que o país avançou no agronegócio. "A ideia de celeiro do mundo não é porque temos terra e sol. Foi reflexo de décadas de um sistema de acumulação, inovação e pesquisa tecnológica. Na agropecuária recente, houve um puxão na ciência que deu oportunidade para descobertas na biologia e genética, e, do lado econômico, a questão do alimento ganhou uma difusão de teses de segurança alimentar. A bioenergia, por exemplo, poderá encontrar soluções na agropecuária. Trata-se de uma linha que podemos avançar muito e chegar o mais próximo da fronteira internacional", diz ele.

O professor lembra que já existe toda uma cadeia voltada à inovação que, se exacerbada, tem tudo para avançar ainda mais. O amplo envolvimento de um setor trouxe resultados importantes para o país, lembra Carlos Américo Pacheco, citando o exemplo da indústria aeronáutica. Tudo começou nos anos 40, com a criação de órgãos e a formação de mão de obra no setor, que levaram à criação da Embraer, empresa com destaque no cenário internacional.


O professor da Unicamp lembra que as energias renováveis estão na agenda mundial e nessa agenda o Brasil está devendo ao mundo. "Os Estados Unidos estão buscando novas fronteiras na biotecnologia e a China também. Para sermos cada vez mais competitivos, é preciso recursos para termos uma biotecnologia de classe mundial", afirma.

Na avaliação dos especialistas, o país tem uma "joia da coroa", como define Kupfer ao se referir a tecnologia envolvendo o pré-sal. "É preciso concentrar toda a política pública nessa mina de ouro para potencializar o conhecimento que se transfere para a indústria eletrônica, mecânica, a robótica e a ligada à tecnologia do conhecimento que estará envolvida ao redor", afirma o professor da UFRJ.


Ao tomar posse no fim de janeiro do comando da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, Glauco Arbix, especialista em politica industrial e inovação, deu um sinal da razão de ter sido escolhido. Ele foi taxativo: "O Brasil precisa de um choque de inovação em todas as esferas e dimensões, na economia e na sociedade", disse. Falou em "mobilizar o Brasil para inovação", mas lembrou que "a inovação é uma combinação de processos, conclusões e síntese de eventos anteriores". E reconheceu: "Não há varinha de condão. Há travessia, criação e uso intensivo de conhecimento processado por pessoas", disse.


(Valor Econômico)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dilma promete medidas para melhorar o Enem

Em tom otimista e vinculando educação ao desenvolvimento, a presidente afirmou ser necessário que haja um salto na qualidade do ensino

A presidente Dilma Rousseff selecionou o tema educação para fazer seu primeiro pronunciamento e apresentar a marca do novo governo. A gravação, com duração de cinco minutos e quarenta e seis segundos, foi ao ar ontem (10), às 20 horas, em rede nacional de rádio e de televisão.

O slogan "Brasil, país rico é país sem pobreza" sobre um fundo verde amarelo substitui a marca "Brasil, um país de todos" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma alusão de que o país mudou de patamar e busca parâmetros mais ambiciosos que a mensagem da igualdade social. A marca foi idealizada pelos publicitários João Santana e Marcelo Kertz, responsáveis pela campanha de Dilma à Presidência, e cedida, sem custos, ao Palácio do Planalto.

Em tom otimista e vinculando educação ao desenvolvimento, a presidente afirmou ser necessário que haja um salto na qualidade do ensino. No Palácio do Planalto, a indicação é que ao selecionar a sala de aula como tema do primeiro pronunciamento feito no início do ano letivo, a presidente pretende reforçar essa área como uma das prioridades da sua gestão.

A escolha não deixa de ser, também, uma tentativa de contornar eventuais efeitos negativos para a imagem do governo dos problemas na realização do Sistema de Seleção Unificado (SiSU) em janeiro, nos primeiros dias da nova administração, além dos numerosos erros na execução do Enem.

Dilma informou que neste trimestre serão adotadas três medidas: implantação do programa de acesso às escolas técnicas; ações para acelerar o plano nacional de banda larga; e medidas de correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do (SiSU). "É fundamental aumentar a credibilidade desses importantes instrumentos de avaliação do aluno e da escola", enfatizou.

Além dessas iniciativas de curto prazo, ela enumerou que os objetivos da sua administração na área educacional são manter o plano de ampliação das escolas técnicas, aumentar a oferta de cursos profissionalizantes, melhorar o ensino médio e aprimorar o ensino nas universidades e nos centros científicos e tecnológicos do ensino superior.

Também falou que pretende melhorar a formação e a remuneração dos professores e ampliar o número de creches.
(Valor Econômico) 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para inglês não ver

Com raríssimos cursos em inglês, Brasil deixa de receber alunos e docentes estrangeiros

A internacionalização do ensino superior brasileiro tem ganhado força nos últimos anos. Mas a língua portuguesa ainda é uma barreira na ida e vinda de estudantes e professores estrangeiros.

Isso porque a maioria das aulas e dos exames na pós-graduação por aqui é ministrada em português. O cenário é bem diferente de universidades de elite de países como Alemanha, Suécia e Finlândia, que não falam inglês como língua "mãe", mas têm aulas nesse idioma.

"Não encontrei resistências por não falar finlandês", conta a engenheira Paula Delgado, 30. Ela fez parte do seu doutorado no Centro de Pesquisa Técnica VTT em Espoo, na Finlândia, em 2006.

"Todos falavam inglês, mas ficavam contentes quando eu tentava aprender algo em finlandês", brinca.

Assim como ela, Viviane Alecrim, 29, que fez mestrado na Universidade de Ciências Aplicadas de Munique, também chegou à Alemanha sem falar a língua do país.

Apesar de a maioria dos professores serem alemães, conta, as aulas eram em inglês -o que permitiu que ela tivesse colegas de países como China, Tailândia e Irã.

No Brasil, o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) já afirmou que a internacionalização é necessária para troca de experiências entre países e pode fortalecer a ciência nacional. "Defendo a ideia de atrairmos pesquisadores de excelência no exterior", disse à Folha.

Mas, por enquanto, as aulas em inglês estão por conta dos professores estrangeiros. Os brasileiros, parece, não cogitam dar aula em inglês.

"Em virtude do princípio de igualdade nas condições de acesso e permanência na escola, as aulas devem ser dadas em português. Ninguém é obrigado a falar outra língua que não a oficial", explica Nina Ranieri, advogada e professora da USP especialista em direito à educação.

"É uma postura provinciana, mas que tem fundamento. A oferta em inglês privilegiaria o acesso dos mais favorecidos", completa Ranieri.

Apesar da resistência nos corredores acadêmicos, a geneticista da USP Mayana Zatz prega -e pratica- a internacionalização e o uso corrente de inglês na universidade.

"Meus alunos escrevem artigos e a tese em inglês. Estamos tentando que os trabalhos também sejam apresentados em língua inglesa", conta a geneticista.

O biólogo alemão Mathias Weller, 44, hoje professor da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), concorda com a prática. Ele estava acostumado a falar inglês nos laboratórios da Alemanha, mas, no Brasil, teve de aprender português.

"Isso é um limitador. Há bons profissionais que gostariam de vir ao Brasil, mas não falam português", analisa.

Aula em inglês, no entanto, é só um dos passos da internacionalização. Para a engenheira de pesca Juliana Lima, 35, que fez doutorado na Alemanha, uma universidade bilíngue não está necessariamente preparada para receber estrangeiros. "Acolhimento também conta."

Universidades de SP convidam docentes de fora

As três universidades estaduais paulistas se esforçam hoje para aumentar a internacionalização e a quantidade de alunos estrangeiros.

Apenas 2% dos estudantes da graduação e da pós da USP, por exemplo, são de fora do país. Para se ter uma ideia do que esse número significa, universidades de ponta como as norte-americanas Harvard e Stanford e a britânica Cambridge têm cerca de 20% de estudantes estrangeiros (de graduação e pós).

A USP só tem um programa de pós-graduação ministrado totalmente em inglês. O curso, de biologia celular e vegetal, acontece no campus de Piracicaba (160 km de SP).

É uma parceria com a Universidade do Estado de Nova Jersey e a Universidade do Estado de Ohio.

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) recrutou professores de fora para atuar como visitantes. Recebeu mais de 200 currículos de moradores de países como França, Canadá e Cuba. Os candidatos não precisam falar português.

Na Unesp (Universidade Estadual Paulista), a vinda de um professor convidado da Universidade de Louisville (EUA) fez com que uma disciplina da pós-graduação em letras fosse dada em inglês no ano passado.

As aulas em língua estrangeira reuniram alunos brasileiros e norte-americanos no campus de São José de Rio Preto (438 km de SP).

"Ninguém reclamou de as aulas serem em inglês", conta a aluna de mestrado Márcia Corrêa Mariano.
(Sabine Righetti)
(Folha de SP, 7/2)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tribuna do Norte | “Einstein fora do CNPq”

Tribuna do Norte | “Einstein fora do CNPq”

Alcyr Veras -  economista e professor universitário 

Em se tratando de um dos maiores cientistas do mundo, de todos os tempos, claro está que o título acima é mera força de expressão. Da mesma forma que o escritor, ensaísta, historiador e folclorista de renome mundial, Luís da Câmara Cascudo, não poderia, hoje, ministrar aulas em Universidades, pelo simples fato de não possuir cursos de mestrado e doutorado. Ou ainda, pelas mesmas razões, o grande arquiteto Oscar Niemayer, autor de célebres projetos que são verdadeiras obras de arte em várias partes do mundo, também não poderia ser professor universitário.

O título deste artigo foi inspirado num momento de humor-irônico durante recente entrevista que o cientista brasileiro, de elevado prestígio internacional, Miguel Nicolélis, concedeu ao Jornal O Estado de São Paulo, sobre a situação em que se encontra atualmente a pesquisa científica no Brasil. Nicolélis é pioneiro nos estudos referentes a interface cérebro-máquina e suas descobertas constam das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada no ano de 2001 pelo Instituto Americano de Tecnologia de Massachusetts e foi o primeiro brasileiro a merecer capa na Revista SCIENCE. Recentemente, recebeu nomeação como membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano.

Muitas pessoas se surpreenderam, inclusive a própria comunidade cientifica brasileira, quando Miguel Nicolélis resolveu instalar o Instituto Internacional de Neurociências na grande Natal, no município de Macaíba. Como se sabe, os Órgãos Públicos, Empresas e Entidades que atuam na área de ciência e tecnologia no Brasil, estão situados no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo de sua proposta é democratizar a pesquisa e descentraliza-la regionalmente, ou seja acabar com o mito de achar que somente o Centro-sul do país é capaz de desenvolver atividades científicas consistentes. Não há mais lugar para regionalismos preconceituosos. Segundo ele, se por um lado é ótimo São Paulo ser responsável por 70% da produção cientifica do país, por outro é  muito ruim para o Brasil, que precisa democratizar o acesso à ciência. 

Miguel Nicolélis considera que a atividade cientifica brasileira é extremamente elitizada. Sobre isso, faz o seguinte questionamento: “não temos penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade. Até bem pouco tempo, a ciência era uma atividade exclusiva da aristocracia brasileira. Há 30 ou 40 anos, somente a classe alta tinha acesso à universidade. Hoje, nós precisamos de cientista que joga futebol na praia ou que exerça qualquer outra atividade profissional, não interessa sua origem. As crianças precisam ter acesso a educação científica. Estamos trabalhando com 21 crianças da periferia da cidade de Natal (RN). Quatro delas participam de um projeto piloto em que aprenderam a usar ressonância nuclear magnética para medir o volume de óleo nas sementes do pinhão-manso no semi-árido nordestino”.

O que Nicolélis quer dizer é que qualquer pessoa pode ser um cientista, não importa a classe social ou econômica e que pertença. O cientista deve ser uma pessoa comum na sociedade. O mais importante é que tenha talento. Ele diz ainda que, no Brasil, as Instituições de Pesquisa são amarradas a normas excessivamente burocráticas e só admitem cientistas através de concurso público. E as exigências curriculares são recheadas de pré-requisitos tão absurdos e inflexíveis que o maior gênio da física, Albert Einstein, provavelmente hoje não seria admitido como pesquisador no CNPq (órgão federal do governo brasileiro que responde oficialmente pela pesquisa científica e tecnológica)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Engenharia à distância, editorial da "Folha de SP"

"Os cursos à distância não são por definição um mal, desde que sejam submetidos a critérios objetivos de avaliação"

Leia o editorial:

O deficit de engenheiros de que padece o Brasil já constitui gargalo significativo ao desenvolvimento do país. Assim, a notícia de que quintuplicou para algo em torno de 8.600 o número de estudantes da área em cursos à distância, de 2007 a 2009, precisa ser encarada com boa vontade, sem ingenuidade nem preconceito. Mais importante que o modo como são treinados os engenheiros é a qualidade final de sua formação.

Profissionais da área se dividem sobre a questão do ensino à distância. A maior parte do estudo se dá por meio de material impresso, aulas pela internet e fóruns virtuais. Críticos alegam serem insuficientes as esporádicas aulas práticas. Defensores afirmam que o custo para o aluno é menor e que as avaliações são rigorosas.

O fato é que cursos tradicionais já oferecem formação deficiente. Professores da área avaliam que apenas um em quatro alunos sai da faculdade com formação adequada, o que agrava a falta estrutural de profissionais. O problema vem desde o ensino médio, com baixa qualidade das aulas em disciplinas como física e química, e se acentua na faculdade.

O setor estima em R$ 26,5 bilhões por ano os prejuízos com falhas de projetos em obras públicas. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a boa perspectiva da economia para os próximos anos devem contribuir para piorar um quadro já precário.

Não bastasse a qualidade inferior, a quantidade também está muito aquém do necessário.

O Brasil ainda forma apenas cerca de 55 mil engenheiros por ano, apesar de um crescimento de 67% de 2004 a 2009. Como muitos buscam carreiras alternativas em setores mais lucrativos, como o financeiro, são 32 mil os que passam a atuar na profissão, segundo entidades do setor. A Coreia do Sul, com um quarto da população brasileira, forma 80 mil.

O mercado nacional tem necessidade de 60 mil a 80 mil novos engenheiros anualmente. A lacuna é preenchida em parte por profissionais estrangeiros, que vêm ao Brasil atraídos por um cenário econômico melhor que nos países do mundo desenvolvido. Mesmo assim, o número é insuficiente.

Os cursos à distância não são por definição um mal, desde que sejam submetidos a critérios objetivos de avaliação. Cabe ao Ministério da Educação, em parceria com as entidades de classe do setor, determinar um mínimo de aulas presenciais e práticas para formar os engenheiros de que o país necessita -e fiscalizar à risca o cumprimento da norma.
(Folha de SP, 3/2)