sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tribuna do Norte | “Einstein fora do CNPq”

Tribuna do Norte | “Einstein fora do CNPq”

Alcyr Veras -  economista e professor universitário 

Em se tratando de um dos maiores cientistas do mundo, de todos os tempos, claro está que o título acima é mera força de expressão. Da mesma forma que o escritor, ensaísta, historiador e folclorista de renome mundial, Luís da Câmara Cascudo, não poderia, hoje, ministrar aulas em Universidades, pelo simples fato de não possuir cursos de mestrado e doutorado. Ou ainda, pelas mesmas razões, o grande arquiteto Oscar Niemayer, autor de célebres projetos que são verdadeiras obras de arte em várias partes do mundo, também não poderia ser professor universitário.

O título deste artigo foi inspirado num momento de humor-irônico durante recente entrevista que o cientista brasileiro, de elevado prestígio internacional, Miguel Nicolélis, concedeu ao Jornal O Estado de São Paulo, sobre a situação em que se encontra atualmente a pesquisa científica no Brasil. Nicolélis é pioneiro nos estudos referentes a interface cérebro-máquina e suas descobertas constam das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada no ano de 2001 pelo Instituto Americano de Tecnologia de Massachusetts e foi o primeiro brasileiro a merecer capa na Revista SCIENCE. Recentemente, recebeu nomeação como membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano.

Muitas pessoas se surpreenderam, inclusive a própria comunidade cientifica brasileira, quando Miguel Nicolélis resolveu instalar o Instituto Internacional de Neurociências na grande Natal, no município de Macaíba. Como se sabe, os Órgãos Públicos, Empresas e Entidades que atuam na área de ciência e tecnologia no Brasil, estão situados no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo de sua proposta é democratizar a pesquisa e descentraliza-la regionalmente, ou seja acabar com o mito de achar que somente o Centro-sul do país é capaz de desenvolver atividades científicas consistentes. Não há mais lugar para regionalismos preconceituosos. Segundo ele, se por um lado é ótimo São Paulo ser responsável por 70% da produção cientifica do país, por outro é  muito ruim para o Brasil, que precisa democratizar o acesso à ciência. 

Miguel Nicolélis considera que a atividade cientifica brasileira é extremamente elitizada. Sobre isso, faz o seguinte questionamento: “não temos penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade. Até bem pouco tempo, a ciência era uma atividade exclusiva da aristocracia brasileira. Há 30 ou 40 anos, somente a classe alta tinha acesso à universidade. Hoje, nós precisamos de cientista que joga futebol na praia ou que exerça qualquer outra atividade profissional, não interessa sua origem. As crianças precisam ter acesso a educação científica. Estamos trabalhando com 21 crianças da periferia da cidade de Natal (RN). Quatro delas participam de um projeto piloto em que aprenderam a usar ressonância nuclear magnética para medir o volume de óleo nas sementes do pinhão-manso no semi-árido nordestino”.

O que Nicolélis quer dizer é que qualquer pessoa pode ser um cientista, não importa a classe social ou econômica e que pertença. O cientista deve ser uma pessoa comum na sociedade. O mais importante é que tenha talento. Ele diz ainda que, no Brasil, as Instituições de Pesquisa são amarradas a normas excessivamente burocráticas e só admitem cientistas através de concurso público. E as exigências curriculares são recheadas de pré-requisitos tão absurdos e inflexíveis que o maior gênio da física, Albert Einstein, provavelmente hoje não seria admitido como pesquisador no CNPq (órgão federal do governo brasileiro que responde oficialmente pela pesquisa científica e tecnológica)

Nenhum comentário:

Postar um comentário