quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Engenharia à distância, editorial da "Folha de SP"

"Os cursos à distância não são por definição um mal, desde que sejam submetidos a critérios objetivos de avaliação"

Leia o editorial:

O deficit de engenheiros de que padece o Brasil já constitui gargalo significativo ao desenvolvimento do país. Assim, a notícia de que quintuplicou para algo em torno de 8.600 o número de estudantes da área em cursos à distância, de 2007 a 2009, precisa ser encarada com boa vontade, sem ingenuidade nem preconceito. Mais importante que o modo como são treinados os engenheiros é a qualidade final de sua formação.

Profissionais da área se dividem sobre a questão do ensino à distância. A maior parte do estudo se dá por meio de material impresso, aulas pela internet e fóruns virtuais. Críticos alegam serem insuficientes as esporádicas aulas práticas. Defensores afirmam que o custo para o aluno é menor e que as avaliações são rigorosas.

O fato é que cursos tradicionais já oferecem formação deficiente. Professores da área avaliam que apenas um em quatro alunos sai da faculdade com formação adequada, o que agrava a falta estrutural de profissionais. O problema vem desde o ensino médio, com baixa qualidade das aulas em disciplinas como física e química, e se acentua na faculdade.

O setor estima em R$ 26,5 bilhões por ano os prejuízos com falhas de projetos em obras públicas. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a boa perspectiva da economia para os próximos anos devem contribuir para piorar um quadro já precário.

Não bastasse a qualidade inferior, a quantidade também está muito aquém do necessário.

O Brasil ainda forma apenas cerca de 55 mil engenheiros por ano, apesar de um crescimento de 67% de 2004 a 2009. Como muitos buscam carreiras alternativas em setores mais lucrativos, como o financeiro, são 32 mil os que passam a atuar na profissão, segundo entidades do setor. A Coreia do Sul, com um quarto da população brasileira, forma 80 mil.

O mercado nacional tem necessidade de 60 mil a 80 mil novos engenheiros anualmente. A lacuna é preenchida em parte por profissionais estrangeiros, que vêm ao Brasil atraídos por um cenário econômico melhor que nos países do mundo desenvolvido. Mesmo assim, o número é insuficiente.

Os cursos à distância não são por definição um mal, desde que sejam submetidos a critérios objetivos de avaliação. Cabe ao Ministério da Educação, em parceria com as entidades de classe do setor, determinar um mínimo de aulas presenciais e práticas para formar os engenheiros de que o país necessita -e fiscalizar à risca o cumprimento da norma.
(Folha de SP, 3/2)

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