segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A ciência e a Presidência, artigo de Marco Antônio Raupp

"A ciência deve agora ser protagonista do desenvolvimento do Brasil"
Marco Antônio Raupp é presidente da SBPC, diretor-geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos.  Foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Artigo publicado no jornal "O Estado de SP":

Diferentemente de seus antecessores, o próximo ou a próxima presidente da República poderá contar com a ciência como protagonista do desenvolvimento brasileiro. Não se trata de proposta inovadora, a ciência sempre foi um dos alicerces do crescimento econômico em qualquer lugar do mundo.

Essa possibilidade não nos ocorreu antes por razões compreensíveis. A ciência é uma atividade recente no Brasil, começou a ser feita de maneira organizada na década de 1930. Impulsos significativos ocorreram apenas a partir dos anos 1950, com a criação de agências de fomento da pesquisa, a institucionalização da pós-graduação e a expansão do sistema universitário.

Apesar de sua juventude, o ponto fundamental é que o Brasil conta hoje com um amplo e dinâmico sistema de produção científica. Temos em atividade cerca de 230 mil pesquisadores, cujo trabalho - mais de 30 mil artigos por ano, publicados em revistas internacionais - representa 2,12% da produção científica mundial. Esse porcentual coloca o Brasil em 13º lugar no ranking da ciência, à frente da Rússia e da Holanda, países com maior tradição nessa atividade. Há 20 anos nossa participação era de 0,63%.

Outro parâmetro da evolução: em 2009 o Brasil titulou 11.368 doutores, 134% a mais do que dez anos antes (4.853 em 1999).

É esse o sistema que o Brasil construiu - e que agora deve dar sua contrapartida à sociedade brasileira, principalmente porque o desenvolvimento econômico no mundo atual não pode prescindir da contribuição da ciência. Essa contribuição exige, porém, políticas públicas apropriadas, bem como a definição de um modelo de transferência do conhecimento da base científica para os setores industriais e de serviços.

De antemão, é preciso ficar claro que transferir os saberes da ciência para o setor produtivo empresarial não é função da universidade. O papel fundamental da instituição universitária é a formação de recursos humanos e a realização de pesquisa científica que contribua para a evolução do conhecimento em suas mais diferentes áreas.

Precisamos, portanto, de mecanismos específicos para a intermediação do conhecimento científico com o sistema produtivo. Nesse sentido, temos no Brasil três experiências extremamente bem-sucedidas a serem consideradas.

Nossa agropecuária é responsável por quase um quarto do produto interno bruto (PIB) brasileiro e em 2009 respondeu por 42% de nossas exportações. As pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão literalmente na raiz dessa riqueza.

Temos a Embraer, a terceira maior fabricante mundial de aviões, que foi gerada no Centro Técnico Aeroespacial e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

No setor do petróleo, criamos a Petrobrás, que se fez uma vencedora constante de desafios cada vez maiores graças a seu Centro de Pesquisas, o Cenpes.

Esses exemplos mostram que tivemos grande êxito quando fizemos esforços para a integração da nossa base científica e tecnológica com setores econômicos. E um dos fatores determinantes para esse êxito foi a utilização de mecanismos adequados, quais sejam, centros de pesquisa criados com finalidades específicas e desafios predefinidos.

Para cumprir sua missão, esses centros de pesquisa - sem a obrigação de ensinar, como ocorre com as universidades - dispõem das condições ideais necessárias: podem se utilizar do conhecimento já existente, adaptando-o para uma finalidade específica; podem gerar novos conhecimentos e novas tecnologias, para atender a demandas predefinidas; e, isentos de obrigações acadêmicas, têm flexibilidade para se adaptar ao ambiente produtivo empresarial.

A sugestão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), portanto, é que os centros federais de pesquisa já existentes (a maioria com a denominação de institutos de pesquisa) sejam fortalecidos e tenham seu foco de estudo, seus objetivos e seu financiamento redefinidos em conformidade com os desafios que terão de enfrentar.

Da mesma forma, será fundamental a criação de novos institutos de pesquisa, igualmente dotados das condições para a realização de grandes projetos mobilizadores, capazes de criar novas e vigorosas vertentes na economia nacional. Fármacos e medicamentos, energia e microeletrônica são alguns dos setores em que o Brasil poderia empenhar grandes esforços visando à criação de parques industriais fundamentados na utilização de tecnologias inovadoras geradas aqui mesmo.

O desenvolvimento de tecnologias para a exploração sustentável de nossos recursos naturais, como a Amazônia e o mar, também caberia como desafio para centros de pesquisa dedicados a grandes temas.

Por esse modelo, o agente público e o privado atuam como parceiros. Vale salientar, porém, que esses centros não substituiriam a missão das empresas de realizar suas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Eles atuarão na fase pré-competitiva, gerando conhecimento científico e tecnológico que servirá de base às atividades de P&D das empresas, para que estas possam gerar produtos, serviços e processos inovadores.

Com esse conjunto de atributos e objetivos, esses centros de pesquisa serão um vigoroso instrumento de política pública para a inovação; serão uma forma de participação do governo no esforço de tornar o Brasil um país com alto desenvolvimento tecnológico; e serão também um indutor da inovação tecnológica nas empresas.

Num curto período, o Brasil organizou um sistema que contribui significativamente para a evolução do conhecimento científico. Chegou a hora da contrapartida: a ciência deve agora ser protagonista do desenvolvimento do Brasil.
(O Estado de SP, 27/9)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O balanço da pós-graduação, editorial de 'O Estado de SP'

"A avaliação da pós-graduação (...) hoje é considerada uma das mais eficientes do mundo"
Leia o editorial:

Promovida a cada três anos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, a avaliação dos 4.099 cursos de mestrado e doutorado, que acaba de ser divulgada, registra avanços importantes na pós-graduação do país.

A primeira boa notícia é que o número de doutorados com padrão internacional vem crescendo. Em 2007, a Capes atribuiu os conceitos máximos (notas 6 e 7) a 237 cursos, nas mais variadas áreas do conhecimento. Neste ano, o número subiu para 298, o que representa 11% do total. Com isso, o Brasil pulou do 20.º para o 13.º lugar no ranking de produção científica do Journal of Scientific Research.

Quando os cursos recebem as notas 1 e 2, eles são considerados "insuficientes", perdem o credenciamento e não podem conceder certificados. E os cursos que não se recuperarem nas avaliações seguintes podem até ser fechados. Do total de cursos avaliados, apenas 75 receberam os conceitos mais baixos. E 870 cursos foram considerados regulares, alcançando a nota 3.

Para receber a nota 6, os cursos precisam ter um desempenho equivalente ao dos centros de pesquisa e das universidades de ponta norte-americanas e europeias, principalmente em matéria de produção científica e de acordos regulares com instituições estrangeiras de ponta, do porte de uma London School of Economics e de uma University of Cambridge, na Inglaterra, e de universidades como Yale, Harvard, Columbia, Princeton ou o Massachusetts Institute of Technology (MIT).

No que se refere à produção científica, os professores e pesquisadores dos cursos de doutorado têm de exercer a liderança nacional em suas áreas de atuação, integrar entidades científicas e conselhos editoriais de periódicos, participar de congressos no exterior e publicar regularmente artigos nas mais prestigiosas revistas científicas internacionais.

Em matéria de convênios e acordos, os cursos precisam manter intercâmbio internacional contínuo, desenvolver pesquisas conjuntas com instituições estrangeiras, ter doutorandos cursando disciplinas no exterior e contar em seu corpo docente com professores que sejam membros das diretorias das mais reputadas entidades acadêmicas internacionais.

Para alcançar a nota 7, os cursos não apenas precisam atender a essas exigências, como também têm de atrair alunos de outros países. E também têm de contar com financiamentos internacionais para suas pesquisas e projetos vinculados ao programa de pós-graduação.

A segunda boa notícia da avaliação trienal da Capes é que a pós-graduação já não mais está concentrada no Sudeste. Embora mais da metade dos programas de mestrado e doutorado esteja situada na região, principalmente no Estado de São Paulo, seguido pelo Estado do Rio de Janeiro, aumentou significativamente o número de cursos tanto no Nordeste como no Norte. Nesta região, por exemplo, o aumento foi de 35,3%, em relação à avaliação de 2007. E, no Nordeste, o crescimento foi de 31,3%.

Como são cursos recentes, eles precisam de tempo para obter melhores notas. Hoje, o Norte só tem um curso com padrão internacional, a pós-graduação em geologia e geoquímica da UFPA. Parece pouco, mas é uma conquista, considerando-se as carências da região amazônica.

Como era de esperar, por causa da pujança econômica de São Paulo, as três universidades estaduais paulistas e as universidades federais de São Carlos e de São Paulo são as que têm maior número de cursos com as notas máximas. A líder do ranking da Capes é a USP, com 34 cursos com padrão internacional, situados nos campi de São Paulo, Ribeirão Preto, Piracicaba e São Carlos, seguida pela Unicamp, com 15 cursos.

A avaliação da pós-graduação, que envolveu 877 consultores recrutados nos próprios cursos de mestrado e doutorado, começou a ser implantada há mais de três décadas, quando a Capes era chefiada pelo economista Cláudio Moura Castro, e hoje é considerada uma das mais eficientes do mundo. Os conceitos atribuídos servem de parâmetro para a concessão de bolsas e financiamentos de projetos, pelas agências nacionais e internacionais de fomento à pesquisa.
(O Estado de SP, 16/9)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Plano do governo federal quer dobrar número de profissionais formados em Engenharia no Brasil

Capes vai lançar o Pró-Engenharia a partir de 2011; estratégia principal é diminuir evasão

14 de setembro de 2010 | 18h 58


Um programa para impulsionar a formação de engenheiros no País está sendo preparado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A ideia é, em cinco anos, dobrar o número de formados.
A principal estratégia é diminuir o índice de evasão dos cursos de Engenharia que hoje é em torno de 60%. De acordo com o diretor de Relações Internacionais da Capes, Sandoval Carneiro Júnior, o Plano Nacional Pró-Engenharia deve começar em 2011.
Hoje faltam engenheiros para as necessidades do País e o déficit deve aumentar diante de novos projetos como a exploração da camada pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A Índia, por exemplo, forma por ano 220 mil engenheiros – seis vezes mais do que o Brasil.
Uma das estratégias do plano para diminuir a evasão será a oferta de bolsa permanência para estudantes dos cursos de Engenharia. Outra proposta é a implantação de projetos de inovação nas escolas para que os alunos tenham contato com a prática logo no começo do curso.
“O aluno de medicina logo no primeiro dia de aula veste roupa branca, jaleco e já se sente médico. O estudante de engenharia vai estudar física, matemática, cálculo e só no terceiro ano vai ter contato com um pouco da engenharia”, compara Carneiro.
O plano também vai estimular convênios com empresas estatais e do setor privado para que elas ofereçam estágios remunerados a esses estudantes. “Nós já temos experiências importantes no Brasil como a que acontece na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lá o aluno passa um período na faculdade e o outro na indústria. Isso não é novidade no exterior”, afirmou.
Outro causa da evasão nos cursos de Engenharia é o próprio nível de dificuldade dos cursos que exigem do aluno uma boa base nas áreas exatas. Uma das soluções para esse problema é a oferta por parte das instituições de aulas de reforço. “Em algumas universidades isso já acontece, mas a longo prazo isso só será resolvido com a melhoria do ensino básico. Muitos alunos fogem da engenharia porque tiveram péssimos professores de matemática”, explicou Carneiro.
O diretor da Capes ressaltou que o problema não é de falta de vagas nos cursos superiores, mas de desinteresse. Em 2007, 450 mil candidatos prestaram vestibular para engenharia em todo o país, mas das 198 mil vagas disponíveis apenas 115 mil foram preenchidas.
Os cursos de engenharia interessados em participar deverão atender a alguns critérios como obter nota 4 ou 5 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e ter pelo menos 50% do seu corpo docente com dedicação exclusiva.
Ainda não está definido o total a ser investido no plano, mas os recursos necessários poderão ser da ordem de R$ 300 milhões. Uma comissão da Capes está preparando um documento que será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o programa seja formalizado.

Capes quer reformular ensino de Engenharia no Brasil

Principal meta é reduzir o índice evasão dos estudantes com presença mais forte das universidades no ensino médio


Um grupo de especialistas reunidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) apresentou ao Ministério da Educação proposta para melhorar o ensino das Engenharias no Brasil - o Plano Nacional Pró-Engenharia.

O documento critica a falta de especialização dos profissionais, que não atendem às novas demandas do mercado, e seu principal objetivo é aumentar o número de formandos para 70 mil ao ano - hoje são 40 mil. Na Índia, são 220 mil novos engenheiros por ano. O plano prevê investimento de R$ 300 milhões a serem aplicados em cinco anos, com recursos da União.

Para atingir as metas de quantidade e qualidade dos alunos, o documento propõe critérios para aplicação dos recursos nas universidades que já oferecem cursos na área. Somente as que obtiveram nota acima de 4 no Enade e que tenham pelo menos 50% dos professores em dedicação exclusiva receberão a verba.

Como critérios classificatórios estão o apoio à educação básica, principalmente em Matemática e Ciências, com cursos de férias e acesso às instalações da universidade nos finais de semana e feriados. Também seria avaliado se a universidade tem programas de reforço junto às escolas de ensino médio e se estimula a participação em eventos como Olimpíadas de Matemáticas e Ciências, oferecendo bolsas.

Evasão

A estratégia para aumentar o número de engenheiros no Brasil é diminuir a evasão dos cursos. Nas universidades públicas, a média de evasão é de 60%. Na UnB esse índice varia de 30% a 40%.

Segundo o diretor da Faculdade de Tecnologia, Antônio César Brasil, o problema acontece no mundo todo e uma das principais causas é a dificuldade com as matérias básicas como Matemática, Física e Química. "Se não tomarmos logo uma atitude, o mercado pode ter um apagão de profissionais na área nos próximos cinco anos", avisa o professor.

O estudo encomendado pela Capes revela que, em 2007, 450 mil candidatos disputaram 198 mil vagas nas Engenharias em vestibulares por todo o Brasil. Porém, só 115 mil foram preenchidas. 80 mil vagas ficaram ociosas, apesar da grande demanda.

De acordo com o professor Geovany Araújo Borges, do Departamento de Engenharia Elétrica, a quantidade de cursos e as pessoas interessadas na área são poucas. A dificuldade do curso resulta em evasão, o número de cursos no país é pequeno e os bons salários a curto prazo de outras áreas, como Direito e Medicina, atraem muitos estudantes.

"Para aumentar as vagas em cursos de Engenharia é preciso que o governo faça um investimento real", defende Geovany. "Em países como Coreia e China, o número de profissionais cresceu e permanece aumentando em razão da preocupação desses governos com o desenvolvimento. Isso é resultado de um planejamento governamental".

O professor Francisco Assis, também da Engenharia Elétrica, lembra que a exigência e a dificuldade das disciplinas são altas. "Se pegarmos a disciplina de eletromagnetismo, por exemplo, envolve conhecimentos sobre campos magnéticos e forças que chegam ao limite do conhecimento humano", explica.

Antônio Brasil acredita que uma alternativa é fazer com que o aluno se envolva desde o início do curso com atividades práticas. "Às vezes o aluno estuda só matérias teóricas e não consegue ver o porquê disso. Projetos como o do Aerodesign - no qual os alunos desenvolvem aviões de aeromodelismo e participam de competições -, por exemplo, mostram para o aluno desde cedo a aplicabilidade do que está estudando e isso estimula", sugere.

Ele recomenda ações como o edital do Decanato de Ensino de Graduação, que oferecerá aulas de reforço para Matemática, Física e Química e parcerias com escolas de ensino médio da região.

Qualidade

Outro problema apontado pelo documento é a qualidade do profissional que se forma. Ele cita o Índice Prontidão Tecnológica, calculado pelo Fórum Econômico Mundial, que mede a capacidade de responder de forma inovadora aos desafios do mercado. O Brasil ocupa a 59ª posição entre 175 países. O problema seria a falta de especialização dos profissionais.

Geovany Borges diz que as universidades formam engenheiros capazes de realizar diversas tarefas. "A academia dá uma formação geral para que ele se especialize no mercado. As empresas possuem responsabilidade na formação de profissionais", afirma.

O professor usa como exemplo a Universidade Petrobras, que possui cursos de formação e treinamento para seus jovens engenheiros. "É ali que eles aprendem a operar os softwares específicos da empresa".

Antônio Brasil acredita que há espaço para as duas formações. Ele cita o exemplo da UnB, que criou os cursos de Engenharia Ambiental e da Computação, mais específicos, e manteve crescimento na área das engenharias gerais. Brasil destaca que formar profissionais muito especializados não é uma vantagem.

"Quando começamos a formar um engenheiro, não sabemos quais serão os desafios profissionais daqui cinco anos porque a área é muito dinâmica. O aluno tem que ter uma boa base para saber atuar em qualquer especialidade", aponta.
(Juliana Braga, da Secretaria de Comunicação da UnB

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cresce 20,8% o número de cursos de mestrados e doutorados no Brasil

Publicada por Assessoria de Comunicação Social   
Terça, 14 de Setembro de 2010 12:33
Brasília (14/09/2010) - Cresceu 20,8% o número de cursos de mestrados e doutorados avaliados no Brasil comparando-se os anos de 2007 para 2010. Esse é um dos resultados da avaliação da pós-graduação stricto sensu da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que é realizada a cada três anos, com atribuição de notas.
Neste ano, 877 consultores avaliaram 2.718 programas, que correspondem a 4.099 cursos, dos quais 2.436 são mestrados acadêmicos, 1.420 doutorados e 243 mestrados profissionais. Em 2007, foram avaliados 2.256 programas, 3.394 cursos: 2.061 mestrados acadêmicos, 1.177 doutorados e 156 mestrados profissionais.
A região Norte aparece com maior crescimento de cursos avaliados em relação ao ano de 2007, com 35,3%. Em seguida, as regiões Nordeste, 31,3%; Centro-Oeste, 29,8%; Sul, 24,2% e, por último, a região Sudeste com 14,9%.
O Sudeste ainda é a região com maior número de cursos, 2.190, representando 53,4% do total de cursos. O Sul representa 19,8%, com 810 cursos; Nordeste, 16,4%, 672; Centro-Oeste, 6,6%, 270 e a região Norte com 157 cursos, 3,8%.
Notas- Os programas recebem notas na seguinte escala: 1 e 2 que descredenciam o programa; 3 que significa desempenho regular, atendendo ao padrão mínimo de qualidade; 4 que é considerado um programa com bom desempenho; e 5 que é a nota atribuída ao programa que atinge muito bom nível. As notas 6 e 7 indicam desempenho equivalente ao alto padrão internacional. Os resultados apontam que do total avaliado, 85 cursos (2,1%) não alcançaram a nota mínima.
Os 4.099 cursos avaliados compõem 2.718 programas de pós-graduação (presença dos cursos de mestrado e doutorado e, eventualmente também o mestrado profissional, num programa com a mesma denominação numa mesma instituição).
Na avaliação deste ano, 112 programas receberam nota 7 e 186, nota 6. O Sudeste é a região com maior número de programas com notas 7 e 6, 95 e 139, respectivamente. Em seguida o Sul, com 15 notas 7 e 31 programas notas 6. A maior concentração de notas 7 e 6 nas regiões com maior tradição acadêmica, Sudeste e Sul, se dá pelo amadurecimento dos programas. As regiões N e NE, que tiveram o maior aumento de programas nos últimos três anos, ainda estão no processo natural de consolidação.
Na comparação de notas da Avaliação Trienal 2010 com as notas anteriores, 71% dos cursos mantiveram suas notas; 19% aumentaram; e 10% tiveram notas reduzidas.
O Ministério da Educação, por meio do Conselho Nacional de Educação, reconhece os resultados da Avaliação Trienal da Capes. É importante ressaltar que os cursos que não possuem a recomendação da Capes, não são autorizados pelo MEC e, por este motivo, não podem conceder certificados válidos de mestre e doutor.
Os resultados da avaliação fornecerão subsídios para a definição de planos e programas governamentais de desenvolvimento e investimentos no Sistema Nacional de Pós-Graduação.
Doutorado
Total Brasil: 1.420
Sudeste: 844
Sul: 268
Nordeste: 193
Centro-Oeste: 77
Norte: 38
Mestrado Acadêmico
Total Brasil: 2.436
Sudeste: 1.211
Sul: 494
Nordeste: 442
Centro-Oeste: 177
Norte: 112
Mestrado Profissional
Total Brasil: 243
Sudeste: 135
Sul: 48
Nordeste: 37
Centro-Oeste: 16
Norte: 7

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Concurso ignora pós multidisciplinar

Pesquisadores com formação em múltiplas áreas sofrem para conseguir espaço em universidades brasileiras. Apesar de incentivo do governo para mestrado e doutorado desse tipo, instituições exigem o diploma "tradicional"
O advogado Evandro Sathler, mestre em ciências sociais e jurídicas e doutor em geografia, viu-se em uma sinuca de bico quando quis prestar concurso para professor em universidade pública.

"Não me qualifico nos editais para docente de direito porque meu doutorado é em ciências sociais, nem nos de geografia porque meu bacharelado é em direito", diz.

O caso de Sathler ilustra um problema emergente: o descompasso entre a presença cada vez maior de profissionais multidisciplinares e sua inserção nas universidades, ainda estruturadas em "caixinhas" -departamentos organizados em torno de uma área do conhecimento.

Explosão

O número de programas de mestrado multidisciplinares, como sociologia ambiental, engenharia biomédica ou política científica e tecnológica, subiu de 26 em 1998 para 117 em 2008, segundo dados da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Os programas de doutorado desse tipo cresceram de quatro para dez no período.

Segundo Maria Paula Dallari Bucci, secretária de Educação Superior do MEC (Ministério da Educação), a formação na graduação não deve limitar a escolha de candidatos em concursos.

Apesar disso, o publicitário Eduardo Nogueira, com mestrado em administração e experiência em marketing há mais de 15 anos, acabou nem tentando um concurso na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). Isso porque publicidade não estava na lista de cursos de graduação requeridos para inscrição à vaga.

O posto era para tutor de uma disciplina de marketing do curso de administração de empresas. O edital da federal, no entanto, exigia graduação em administração, economia, ciências contábeis e engenharia de produção, mas não publicidade.

"Minha experiência em marketing em instituições privadas e no mercado não me qualifica a dar aula em universidade pública?", diz.

A secretária do MEC ressalta que, segundo o artigo 69 do decreto 5773/06, candidatos a professor não precisam ter inscrição em órgão de regulamentação profissional, "salvo nos casos em que as atividades docente e profissional se confundem". Assim, um candidato a professor de administração não precisa ter registro em conselhos regionais de administração para concorrer.

Corporativo

Apesar disso, algumas instituições seguem critérios corporativos na elaboração de editais de concursos. "Na psicologia, a maioria dos concursos para professor exige que o candidato seja psicólogo", diz Neuza Maria de Fátima Guareschi, professora da PUC-RS e presidente da Anpepp (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia).

Para Guareschi, mesmo que o edital seja para vaga de estatística ou psicologia cognitiva -que não envolvem a parte clínica ou testes psicológicos- muitas universidades ainda exigem formação de graduação em psicologia.

"O candidato precisa ser psicólogo para ocupar vagas para cursos na área clínica ou de testes psicológicos. Mas em muitos outros casos ele não precisaria ter graduação na área", analisa.

Graduação não tradicional complica entrada no mercado

Quando a formação na graduação já é multidisciplinar, a vida dos potenciais candidatos a concursos públicos fica ainda mais difícil. É isso que acontece com Antonio Guimarães, formado em ciências moleculares pela USP. Ele fez pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) em física.

"Tive problemas em um concurso da Unifesp [Universidade Federal de São Paulo], em que o edital exigia graduação em física", conta.

Ele submeteu sua inscrição e, depois de ter sido negada, recorreu. Mas perdeu o recurso. "Só quando reclamei com o reitor aceitaram minha inscrição", revela.

História parecida aconteceu com Daniel Kerr, também formado em ciências moleculares. Ele foi contratado como professor na Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), mas se deu mal quando tentou uma vaga para efetivo de química e bioquímica aplicada.

A exigência era graduação em "engenharia ambiental, sanitária ou química, bacharelado em química ou química industrial ou áreas afins". "Eu me enquadrava como áreas afins. Mas minha inscrição não foi homologada sob justificativa de que ciências moleculares não é afim à química", explica.

Para Kerr, o pano de fundo desses problemas são os editais mal escritos. "Um departamento pode delimitar o perfil de um profissional, mas não deve usar a homologação para restringir candidatos", conclui.

(Luciano Grüdtner Buratto e Sabine Righetti)

(Folha de SP, 14/9)