sábado, 27 de agosto de 2011

Mais da metade dos alunos não sabe resolver operações matemáticas básicas

Prova ABC avaliou desempenho de recém-alfabetizados; em leitura, resultado foi melhor: 56,1% mostraram dominar a língua.
Resultados de um teste aplicado em seis mil alunos de todas as capitais e do Distrito Federal mostram que 57,2% dos estudantes do 3 º ano do ensino fundamental - a antiga 2ª série - não conseguem resolver problemas básicos de matemática, como soma ou subtração. Inédita no País, a Prova ABC também avaliou a aprendizagem de leitura e escrita. "A dificuldade é na hora de fazer a conta do 'vai um'", explicou ontem, em São Paulo, na divulgação dos resultados, o professor Rubem Klein, da Fundação Cesgranrio, referindo-se à soma de números superiores a uma dezena.

A Prova ABC, ou Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, foi realizada pelo movimento Todos Pela Educação, em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a Fundação Cesgranrio e o Instituto Paulo Montenegro/Ibope. O teste foi aplicado no início deste em estudantes de 250 escolas, conforme a proporção em cada rede (privada, estadual e municipal).

Em matemática, a média nacional de alunos do terceiro ano (2ª série) que aprenderam o esperado foi de 42,8%, o que significa que 57,2% não sabem o mínimo adequado para este período do aprendizado. As escolas privadas tiveram média de 74,3%, e as públicas, de apenas 32,6%, uma diferença de 41,7 pontos percentuais.

"Temos de levar em consideração que os professores dessas primeiras séries são formados em Pedagogia, curso que atrai pessoas de classes mais baixas e que não tiveram boa formação em matemática. É um ciclo vicioso que precisa ser rompido", analisou o professor Paulo Horta, do Inep.

Teste de leitura: 43,9% não aprenderam o suficiente - A média nacional na prova de leitura foi 56,1%. Isso quer dizer que o restante, ou seja, 43,9% dos alunos, não aprenderam o suficiente. O índice dos que aprenderam o esperado chegou a 79% nas escolas particulares. Já nas públicas ficou em 48,6%.

Em escrita, o índice nacional dos que aprenderam o esperado caiu para 53,4%, ou seja, 46,6% não tiveram o aprendizado adequado. Nas escolas privadas, o aproveitamento foi 82,4%; nas públicas, 43,9%. "Mesmo com um índice melhor das escolas privadas, que são o objetivo dessa nova classe média para os seus filhos, elas não chegaram a 100%. E 100% significa apenas o que é esperado que as crianças tenham aprendido. No geral, a Prova ABC mostrou que as crianças que frequentam os três primeiros anos da escola não estão tendo garantido o direito básico que tem à aprendizagem", observou a diretora-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz.

Assim como em outros índices da educação brasileira, o desempenho dos alunos do Sul e do Sudeste superou na Prova ABC os resultados das crianças do Norte e Nordeste, conforme o modelo do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A nota média nacional em matemática foi 171,07 (o desejado era 175), mas no Sul chegou a 185,64 e, no Sudeste, a 179,06. Por outro lado, foi bem menor no Norte (152,62), no Nordeste (158,19).

Regionalmente ainda os resultados da prova de leitura, conforme a escala Saeb de 175 pontos, não foram diferentes. No Sul a média foi 197,93, enquanto no Nordeste chegou a 167,37, uma diferença de 30 pontos. No Centro-Oeste a nota foi 196,57, no Sudeste 193,57 e no Norte 172,78.

Na prova de escrita - cuja nota média para um nível de aprendizagem considerado exitoso é 75, em uma escala de 0 a 100 - o Sudeste atingiu a média de 77,2 - uma diferença de 27 pontos em relação aos 50,2 do Nordeste.

Média nas escolas privadas foi 211; nas públicas, 158 - A metodologia da Prova ABC leva em conta a mesma escala Saeb, responsável por compor a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é o principal indicador de qualidade da educação do País. Nessa prova, como no Saeb, os alunos precisaram obter um resultado igual a 175 pontos para que o aprendizado equivalente ao terceiro ano (ou segunda série) seja considerado suficiente. Na prova escrita, no entanto, que foge do padrão Saeb, a nota média considerada de bom desempenho foi 75.

Por nota, a média nacional em matemática foi 171,1 (211,2 para escolas privadas e 158 para as públicas. Na prova de leitura, a nota média do País foi 185,8 (216,7 para as particulares e 175,8 para as públicas). Com outra escala de pontos, na prova escrita a nota média foi 68,1 (86,2 na rede privada e 62,3 na pública).

Em matemática, para conseguir os 175 pontos, as crianças teriam que demonstrar domínio de soma e subtração resolvendo problemas envolvendo, por exemplo, notas e moedas. Na prova de leitura, os alunos deveriam identificar temas de uma narrativa, identificar características de personagens em textos, como lendas, fábulas e histórias em quadrinhos, e perceber relações de causa e efeito nas narrativas Já na escrita foram exigidas três competências: adequação ao tema e ao gênero, coesão e coerência e registro (grafia, normas gramaticais, pontuação e segmentação de palavras).
(O Globo)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Salários dos Professores das Federais já estão piores do que no Governo FHC

por Pierre Lucena

Durante o ano de 2011, as representações docentes se reuniram com o Governo Dilma com o objetivo de reorganizar a carreira, conforme foi pactuado no segundo Governo Lula. A ideia geral era de equilibrar a carreira docente com outras semelhantes no Governo Federal, a exemplo da carreira de pesquisador do Ministério da Ciência e Tecnologia e da carreira de pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Este texto se propõe a comparar os salários destas carreiras, desde o ano de 1998 até 2011, dentro de sua principal referência, que é o salário inicial de um pesquisador/professor com doutorado.

Metodologia

Para esta comparação, foram utilizados dados obtidos junto ao Relatório intitulado “Tabela de Remuneração dos Servidores Públicos Federais”, disponibilizado pelo Governo Federal em sua página do servidor.

Foram comparados dados de três carreiras distintas:

· Professor Adjunto 1 em Dedicação Exclusiva com Doutorado, das Universidades Federais, estando este na ativa e recebendo a Gratificação de Estímulo a Docência (GED);
· Pesquisador do IPEA;
· Pesquisador do Ministério de Ciência e Tecnologia, com doutorado.

Todas as carreiras tiveram como base o salário inicial, com as gratificações a que os servidores possuem direito, como a GED, durante o Governo Fernando Henrique. Esta gratificação foi incorporada posteriormente.

Para o cálculo da inflação foi utilizado o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), do IBGE, obtido junto ao banco de dados do IPEA.

O ano de 1998 foi escolhido como base pelo fato de ser o primeiro ano com o lançamento do caderno com os salários do Governo Federal.

Resultados

O que se vê no gráfico 1, com o salário nominal das três carreiras, é certa equivalência, estando inicialmente o pesquisador da carreira de Ciência e Tecnologia com salário abaixo das demais. O professor adjunto era o que percebia a maior remuneração em 1998 (R$ 3.388,31), quando calculado com a GED cheia (140 pontos).

Gráfico 1 – Salário nominal das carreiras, desde 1998.

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Fonte: organizado pelo autor, com dados do Governo Federal

Quando observada a evolução salarial das carreiras, verifica-se que os docentes das universidades federais tiveram seus salários reajustados bem abaixo das demais. O pesquisador do IPEA recebe em 2011, de salário inicial, aproximadamente R$ 13 mil, enquanto os docentes com doutorado pouco mais de R$ 7,3 mil. Os pesquisadores do MCT recebem pouco mais de R$ 10,3 mil. Quando calculado o percentual de distorção, verifica-se que para equiparar-se aos salários do MCT, seria preciso um reajuste no salário dos docentes por volta de 41,1%, e para equiparar-se aos do IPEA, seria necessário um reajuste de 76,7%.

Esta distorção se mostra ainda mais evidente quando descontada a inflação pelo IPCA, com base em 1998.

Gráfico 2 – Salário real das carreiras, descontada a inflação, desde 1998.

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Fonte: organizado pelo autor, com dados do Governo Federal e do IPEA.

Verifica-se que houve perda salarial dos professores quando descontada a inflação do período. O salário real do professor é 2,8% inferior ao primeiro ano da série (1998). As outras duas carreiras tiveram ganhos reais dentro deste período.

Quando colocado em Base 100, descontada a inflação do período, a distorção fica ainda mais evidente, como pode ser verificado no Gráfico 3.

Gráfico 3 – Salário real das carreiras com Base 100, descontada a inflação desde 1998.

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Fonte: organizado pelo autor, com dados do Governo Federal e do IPEA.

Dada a proposta do Governo de reajuste de 4% no próximo ano e posterior congelamento do vencimento, com discussão apenas em 2013, a perda em relação à 1998 é significativa, considerando a previsão de inflação de 6,5% para o ano de 2011 e 5% para os anos de 2012 e 2013. Caso a categoria aceite esta proposta, o Professor Adjunto 1 deverá receber por volta de 86% do que recebia em 1998, já descontada a inflação pelo IPCA, conforme pode ser visto no Gráfico 4.

É possível verificar certa estabilidade nos vencimentos dos professores, desde o ano de 1998. Não há ganho significativo do salário em nenhum momento, apenas a reposição da inflação, seja no Governo FHC, seja no Governo Lula.

Gráfico 4 – Previsão de salário real das carreiras até 2014 na hipótese de aceitação da proposta do Governo, com Base 100, descontada a inflação desde 1998.

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Fonte: organizado pelo autor, com dados do Governo Federal e do IPEA.

4 – Conclusão

A proposta oferecida pelo Governo Federal, além de não atender ao que teria sido acertado, de equiparação com a carreira do Ministério da Ciência e Tecnologia, ainda representa enorme perda potencial durante o Governo Dilma.

Os resultados mostraram que a realidade hoje é ainda pior do que em 1998, quando foi concedida a GED, para aqueles que a recebiam em sua totalidade, quando alcançado os 140 pontos.

5 – Referências

IPEADATA – www.ipeadata.gov.br
Dados do Servidor – www.servidor.gov.br


Fonte: http://acertodecontas.blog.br/educacao/salrio-dos-professores-das-universidades-federais-j-esto-piores-do-que-no-governo-fhc/#.TlGdG0t61o4.twitter

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dilma: meta de quatro universidades

Expansão na educação superior prevê também 208 institutos federais.
A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem (16) o programa de expansão da educação superior e tecnológica profissionalizante, com metas ousadas para realizar até o fim do seu mandato. A proposta do governo é criar quatro universidades - uma no Ceará, duas na Bahia e uma no Pará -, abrir 47 campi universitários e implantar 208 unidades dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia.

No total, segundo dados do Ministério da Educação, serão 562 unidades dos institutos federais, em 512 municípios, com 600 mil vagas. No ensino superior, serão 320 campi com 250 mil vagas, até 2014.

"Se o Brasil tivesse apostado em educação de forma maciça, de forma inclusiva e de forma sistemática, teríamos dado, muitos anos antes, os passos necessários para que o nosso país tivesse o pleno uso dos seus potenciais econômicos e, sobretudo, para que a nossa população tivesse acesso a um padrão de conhecimento e, portanto, a um padrão de vida mais elevado" afirmou a presidente, em evento no Palácio do Planalto.

Escolha de municípios segue critério técnico - Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o governo federal vai investir cerca de R$7 milhões por unidade de educação profissional e R$14 milhões por campus universitário. O ministro afirmou que a distribuição das unidades de ensino superior e dos institutos federais seguiu critérios técnicos. Ele disse que foram contemplados municípios com mais de 50 mil habitantes, 117 dos 120 territórios da cidadania e 83 cidades que integram o G-100 (municípios com mais de 80 mil habitantes, cujo investimento público por habitante é inferior a R$1.000).

"Os critérios para implantação foram técnicos e visam reparar uma injustiça histórica cometida ao longo de tantas décadas que estamos tentando superar" declarou o ministro.

Em sua apresentação, Haddad lembrou que, em 2003, primeiro ano do governo Lula, havia no país 140 escolas técnicas em 120 municípios. No fim do ano passado, após oito anos de mandato, eram 354 unidades, em 321 municípios. No caso das universidades, em 2002, existiam 45 unidades, número que subiu para 59, segundo dados de 2010.

Em seu discurso, Dilma citou o ex-presidente Lula. "Eu relembro aqui o que muitas vezes, nesta mesma sala até, disse o ex-presidente Lula: Estamos fazendo, em poucos anos, o que não foi feito nos últimos 100 anos".
(O Globo)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

'Ao publicar, vemos a importância de nossa pesquisa'


No Brasil para participar de evento, Kurt Wüthrich, vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2002, defende a importância das publicações para os cientistas.
Autor de 750 artigos científicos, Kurt Wüthrich - Prêmio Nobel de Química em 2002 -
afirma que, ao publicar, o cientista descobre a importância de sua pesquisa, além de se deparar com eventuais lacunas. "O processo normal é começar a escrever e, então, voltar para o experimento."

Wüthrich foi laureado pelo desenvolvimento da espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) para determinação da estrutura tridimensional de proteínas. O químico conseguiu estudálas em solução, ambiente mais próximo do qual atuam as células vivas. Professor de biologia estrutural no Instituto de Pesquisa Scripps, nos EUA, e de biofísica no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, Wüthrich está em Campinas (SP) para participar, até quinta-feira, de um evento da Escola São Paulo de Ciência Aplicada sobre Produtos Naturais, Química Medicinal e Síntese Orgânica com outros três vencedores do Nobel.

O evento, realizado com o apoio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), será transmitido ao vivo pelo site espcachemistry.iqm.unicamp.br/ESPCA. A seguir, trechos da entrevista:

Que mudanças o senhor sentiu na forma de fazer pesquisa e se dedicar à ciência após ganhar o Prêmio Nobel?
Houve uma mudança profunda: se eu não tivesse recebido o Prêmio Nobel, eu teria de ter me aposentado na Suíça. Depois do meu Nobel, a Suíça mudou a lei. Permitiu que pessoas continuassem trabalhando após certa idade. Eu ganhei o prêmio, completei 65 anos e continuei trabalhando na Suíça, nos EUA e na Coreia.

Quais avanços feitos após sua descoberta o senhor considera importantes na pesquisa em ressonância magnética em solução e no estudo das proteínas?
A primeira estrutura foi descoberta há 27 anos. A técnica de RMN avançou muito do ponto de vista de equipamentos. Hoje há maquinas que atingem maior precisão e rapidez. Então tivemos muita melhora na química e um tremendo avanço na tecnologia. Os equipamentos atingem muito mais potência e precisão na hora de adquirir espectros. Fico feliz, porque vi a origem desses fenômenos e sua melhora. E hoje milhares de cientistas se beneficiam dessa técnica.

Na época da pesquisa, o senhor imaginava que sua descoberta fosse ser tão aplicada? Havia a expectativa de um reconhecimento no nível do Nobel?
Não, claro que não. Eu não acho que você possa esperar isso quando está pesquisando.

O senhor recebe muitos convites para palestras, conferências e eventos no mundo inteiro. Qual a importância de participar desse evento no Ano Internacional da Química no Brasil?
Neste ano fui convidado para cinco congressos no Brasil e escolhi um em que eu pudesse estar sem interferir nos meus outros compromissos. Já estive no Brasil, recebi estudantes e colaborações de cientistas brasileiros. E gosto de vir para cá, pois acho extremamente interessante saber o que é produzido pela ciência brasileira.

O senhor tem experiência como professor. Quanto tempo um cientista deve se dedicar a ume a outro caminho para ter sucesso em sua carreira?
Eu sempre gostei de dar aulas e ainda gosto de ensinar. Dei até aulas de esportes. Mas é
difícil conciliar, pois pesquisas tomam muito tempo. Dou 11 horas de aula por semana. Mas as horas de aula não contam como horas de pesquisa.

No Brasil há uma grande preocupação dos jovens mestrandos e doutorandos em alcançar números altos de publicações. O senhor considera isso natural ou é uma pressão excessiva sobre esses cientistas?
Eu tenho 750 registros em publicações científicas ou livros. É importante publicar, por muitas razões. A mais importante é que, quando você publica, descobre a importância que isso (a pesquisa) representa. É preciso cuidado, pois, ao escrever, você encontra várias lacunas. Não são erros, mas você vê que está faltando conexão. O processo normal é começar a escrever e, então, voltar para o experimento. Publiquei pela primeira vez em 1963 e, em 48 anos, tenho 750 publicações.
(O Estado de São Paulo)

Matemática patina onde há mais procura

Estados com piores notas na disciplina em avaliações do MEC são os que têm mais interessados em seguir carreira de professor em exatas.

Os estados brasileiros que apresentam desempenhos medianos e baixos em matemática nas avaliações do Ministério da Educação (MEC) são os que mais registram ingressantes nas carreiras de professor da área de exatas, como física e mesmo matemática. A conclusão é de uma pesquisa do Insper (ex-Ibmec).

Para as pesquisadoras Maria Cristina Gramani e Cintia Scrich, essa relação pode ser perigosa, já que forma um ciclo no qual alunos que tiveram um conteúdo defasado se
tornam docentes justamente da área em que apresentam mais dificuldades de aprendizagem. "Isso cria uma relação complicada que só pode ser revertida ser e forçarmos a base da educação básica", explica Maria Cristina Gramani.

O estudo, intitulado "O desempenho educacional como fator de influência na escolha da profissão", analisou o desempenho em matemática de escolas públicas e privadas de todo o País. Para isso, utilizou as notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2005, 2007, 2009 para 4.ª série e 8.ª série, e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008.

Para descobrir quais estados têm os melhores alunos em matemática, foi feito um ranking da eficiência educacional na disciplina, com a relação entre as notas obtidas no Enem e as notas de matemática ao longo dos outros anos do ensino fundamental, por meio do Saeb. Os estados com melhores relações foram considerados os mais eficientes em matemática. Após essa fase, as pesquisadoras reuniram dados de procura (inscritos) e ingressantes (no vestibular) de cursos do ensino superior: Engenharia, Administração, Economia, Arquitetura, Medicina, Direito, Física e Matemática.

"Piauí e Sergipe são grandes exemplos dessa relação preocupante: registram altos números de inscritos e ingressantes nos vestibulares para formação de professores em exatas e,ao mesmo tempo, têm desempenhos baixos em matemática", afirma Maria Cristina Gramani.

A pesquisa do Insper também revelou uma tendência natural: os estados que apresentam as maiores eficiências em matemática são aqueles onde há mais estudantes interessados em cursar as carreiras mais diretamente relacionadas a ela, como é o caso do curso de Engenharia. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo, por exemplo, estão entre as unidades da federação que melhor representam essa relação.

Realidade - Para os professores dos cursos de Matemática, a pesquisa retrata a defasagem que os alunos apresentam ao ingressarem no ensino superior. "Os estudantes chegam com uma formação deficiente, que vem do ensino fundamental e do médio", diz Manoel Vieira Neto, coordenador do curso da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Ele acredita que a grande demanda pelas licenciaturas se deva à baixa concorrência e, consequentemente, às baixas notas exigidas para o ingresso nesses cursos. Paulo de Souza Rabelo, chefe do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Sergipe (UFS), concorda. "Normalmente é o aluno carente, que estudo em escola pública, que vem com dificuldades", afirma. De acordo com ele, no curso da UFS, apenas 20% dos alunos passam para o segundo ano sem reprovar em nenhuma disciplina.

A dificuldade que os ingressantes nos cursos de licenciatura em exatas demonstram não é percebida somente nos estados de piores desempenhos em matemática. "A defasagem é nítida", diz Paulo Roberto Nascimento, coordenador do curso de Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul, de São Paulo. "Eles precisam de suporte."

Equalização - Apesar de algumas universidades oferecerem cursos de nivelamento para os universitários com defasagem de conteúdo, os professores afirmam que é difícil superar as deficiências de oito anos em poucos meses. De acordo com Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), os cursos de nivelamento são comuns hoje. "A maior parte das instituições já tem, para evitar a evasão. Praticamente todas apresentam alguma iniciativa nesse sentido", explica Capelato. "Isso mostra a gravidade da baixa qualidade da nossa educação básica."

'O Brasil precisa de consenso sobre o que quer na educação'
Aos 39 anos, o brasileiro Paulo Blikstein tem muitas conquistas no currículo. Formado pela Universidade de São Paulo (USP), ele é professor da Universidade de Stanford e acaba de ganhar o Early Career Award, da National Science Foundation (NSF).

O prêmio é um dos mais importantes dos Estados Unidos e é concedido a jovens docentes. Blikstein receberá US$ 600 mil para investir em seu projeto, que consiste numa forma inovadora de ensinar conteúdos avançados de ciências nos ensinos fundamental e médio.

"Esse prêmio significa o reconhecimento, mesmo por uma instituição relativamente conservadora, de que as ideias que defendo são possíveis", disse. Ele vai participar do encontro internacional de educação Sala Mundo Curitiba 2011, nos dias 17 e 18.

Leia entrevista que ele concedeu ao Estado de São Paulo.

No que consiste a pesquisa?
Ciência de ponta não é feita mais só com tubos de ensaio, é feita com tubos de ensaio conectados a computadores, que rodam modelos matemáticos. O que eu fiz foi trazer isso para a escola, trazer ciência de ponta para o aluno. Chega de ciência da década de 30. E o meu projeto é fazer o equipamento custar o mesmo que um livro didático, e ser de código totalmente aberto e público. Teremos quatro universidades americanas implementando o protótipo em escolas secundárias a partir de 2012, além de escolas na Tailândia e na Rússia.

Como a ciência pode ajudar a despertar o interesse do aluno pela escola?
Ciência é um instrumento de cidadania. Os problemas do mundo moderno são muito mais complexos que antes - aquecimento global, neurociência, etc. Precisamos entender tudo isso para votar, participar do debate público. Mas para criarmos mais cientistas e engenheiros, temos de ensinar de um jeito motivador, fazer o aluno gostar de ciência e engenharia. Boa parte do meu trabalho é criar formas de ensinar ciência e matemática com o que chamamos de "motivação intrínseca". Você já ouviu falar de alguém que virou ator mas detestava as aulas de teatro?

Como podemos aplicar isso no Brasil?
Muita gente acha que no Brasil só podemos fazer o básico porque não há dinheiro para a educação, muito menos para tecnologia. Não é verdade. Há dez anos me disseram que não dava para fazer robótica educacional no Brasil porque os kits custavam US$ 300. Eu voltei para o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e, com meu colega Arnan Sipitakiat, fiz uma placa de robótica de US$ 20, a GoGo Board.

Como você vê a educação no Brasil hoje?
O Brasil está avançando, mas precisamos de um consenso nacional sobre o que queremos. Às vezes queremos imitar Cingapura, outras vezes a Holanda, sendo que esses países têm sistemas completamente diferentes. Ficamos correndo atrás de rankings internacionais do mesmo jeito que corremos atrás do ranking da Fifa, sem saber o que eles medem. Hoje temos uma chance rara - com todo o crescimento econômico da última década, podemos reinventar a educação brasileira. Poucos países têm essa chance. Mas precisamos parar e pensar o que queremos, a escola da Coreia do Sul, baseada na decoreba, ou a da Finlândia, baseada na liberdade do aluno e do professor. Os dois são líderes. Precisamos fazer escolhas.

Quais são os nossos principais problemas na educação básica?
Uma parte da educação pode ser padronizada, uma parte não pode, depende do nível de renda, da família, da região, da cultura. Para isso, precisamos de professores treinados para fazer as duas partes - a parte mais técnica, de ensinar o currículo, e a parte mais sofisticada, de adaptar o currículo à realidade local. Professor autômato não funciona.

Você pretende trazer seus projetos para o Brasil?
Adoraria, mas quando estiverem no ponto certo. Vou implementá-los na Rússia, na Tailândia, por que não no Brasil? Só precisamos de bons parceiros. Meu sonho é ajudar a educação brasileira. Continuo desenvolvendo tecnologia de baixo custo, justamente por isso.
(O Estado de São Paulo)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Desafio do RH da Petrobras será contratar 17 mil até 2015

Em tempos de escassez de mão de obra qualificada e disputa por talentos, receber a missão de recrutar mais de 17 mil pessoas nos próximos quatro anos poderia ser aterrorizante para qualquer departamento de recursos humanos. A dona desse desafio, contudo, é a Petrobras, que não parece estar muito preocupada.

De acordo com Lairton Corrêa, gerente de gestão do efetivo de RH da Petrobras, fatores como estabilidade e boas perspectivas de desenvolvimento de carreira contribuem para que a companhia não tenha dificuldade em trazer profissionais, mesmo em áreas concorridas como engenharia.

Por ser de capital misto e obrigada a contratar por meio de concurso, a atratividade que a empresa exerce em razão de sua marca e de seu porte atrai em média 100 candidatos por vaga. Como a empresa tem a cultura de formar seus funcionários internamente pela Universidade Petrobras - atualmente com dois mil colaboradores em treinamento - não é necessário ter experiência prévia. Também não existe limite de idade e o único requisito para participar do processo seletivo é ter ensino médio (técnico) ou superior completo, de acordo com a posição desejada. "Muitas vezes os aprovados, depois de empregados, ficam até um ano em programas de qualificação antes de começarem a trabalhar efetivamente", explica Corrêa.

Segundo ele, o planejamento para distribuição interna das mais de 17 mil vagas, criadas principalmente em função do aumento da exploração de petróleo e gás natural oriundos do pré-sal, já está em andamento e deverá ser finalizado em até três meses. "Estamos estudando a necessidade de cada setor da companhia para detalhar os cargos, os salários, as áreas e os projetos onde essas pessoas vão atuar", diz. A disponibilidade de se mudar é explicitada no edital de cada concurso, uma vez que os trabalhadores podem ser alocados para qualquer unidade da organização no país. A maioria deles, segundo Corrêa, fica baseada no Estado do Rio de Janeiro.

Com esse novo contingente, o número de funcionários da Petrobras saltará dos atuais 85 mil funcionários para pouco mais de 103 mil em 2015. "O RH precisa trabalhar de forma estreita com a estratégia da companhia", ressalta.
(Valor Econômico)