quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Formação de engenheiro não atende a indústria brasileira

Especialistas apontam trabalho conjunto de universidades, empresas e governos como solução para o problema. Além de formar menos da metade dos engenheiros de que precisa a cada ano, o Brasil tem ainda de enfrentar a disparidade entre a qualificação obtida nas universidades e as necessidades das empresas que procuram um profissional. O meio de resolver o problema é o trabalho conjunto de universidades, empresas e governos.

Essa foi a conclusão do seminário Tecnologia e Inovação: Desafios na Formação de Profissionais de Engenharia para o Século XXI, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira, 25 de agosto, em São Paulo.

"Talvez precisemos ter uma alteração de currículo nas engenharias. A gestão de projetos, por exemplo, que nas empresas é de suma importância, não recebe a devida atenção nas universidades", afirmou Jorge Ramos, diretor de desenvolvimento tecnológico da fabricante de aviões Embraer. "Um engenheiro que chega à Embraer vindo da universidade tem de ser treinado por nós em gestão de projetos", revelou.

O Brasil não tem plano de qualificação dos engenheiros, definiu Paulo Luiz Coutinho, diretor de inovação da Ideom, a empresa de tecnologia da petroquímica Braskem. "A convergência tecnológica exige capacitação técnica em diversas ciências e áreas do conhecimento. O profissional precisa de formação de primeira, que não é oferecida nas universidades", disse Coutinho.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, que também participou dos debates, o aluno de graduação nas engenharias tem de vivenciar mais a realidade das empresas.

"Por que não aproximar das universidades as pequenas e médias empresas, possibilitando que os alunos tenham noções reais do dia-a-dia da indústria, conheçam seus problemas reais e colaborem na resolução deles? Serão profissionais mais completos ao se formarem", sugeriu.

Os debatedores lembraram que o Brasil forma hoje cerca de 32 mil engenheiros por ano, que correspondem a 4,2% do total de formandos nas universidades anualmente. É muito pouco perto da demanda atual do mercado, de pouco mais de 60 mil profissionais anualmente, concordaram os empresários.

Estimativa da CNI, que executa o programa Inova Engenharia, destinado a incentivar a formação de engenheiros, mostra que, em 2012, o mercado terá um déficit de 150 mil engenheiros.

Inovação

Além da dificuldade de formação dos engenheiros, os debatedores destacaram a importância desses profissionais para a inovação dentro das empresas. "O setor elétrico e eletrônico é um dos mais dinâmicos e tem na inovação um elemento central para sua competitividade. E o engenheiro é mola-propulsora desse processo", avaliou Barbato, da Abinee.

Segundo ele, a cada dia o tempo disponível para compensar o gasto no desenvolvimento dos produtos é menor. Ou seja, o produto tem de dar lucro rápido, sob pena de ficar tecnologicamente ultrapassado e, assim, não dar o retorno esperado. "Por isso, a antecipação da tendência tecnológica é a estratégia das companhias, embora nem sempre a boa inovação seja aquela que terá boa aceitação do mercado. Esse é o desafio das empresas", salientou o presidente da Abinee.

Para Jorge Ramos, da Embraer, é possível aprimorar o fomento à inovação. "Hoje há predominância de políticas horizontais, que são importantes, mas é preciso ter políticas verticais. O governo tem de escolher os setores mais competitivos e fomentar a inovação", propôs.

Na opinião de Ramos, deve-se escolher os setores em que o país tem clara vocação, usar o poder de compra do Estado, tanto para adquirir o produto como a tecnologia, e promover o adensamento das cadeias produtivas.

Indústria brasileira precisa de 60 mil engenheiros por ano

A indústria brasileira precisa de engenheiros para continuar crescendo. Com um ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) entre 5% e 6% ao ano, a demanda do Brasil é de cerca de 60 mil engenheiros por ano. O problema é que o país forma apenas 32 mil profissionais por ano.

"É por isso que hoje a indústria primeiro contrata o engenheiro e depois pergunta o que ele sabe fazer. A disputa é acirrada", constata Paulo Afonso Ferreira, diretor-geral do Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

No mundo globalizado, em que a inovação encurta cada vez mais o tempo de acesso da população aos novos produtos e serviços, o engenheiro é fundamental. O alerta é de Lueny Morell, gerente de programa do Escritório de Estratégia e Inovação da Hewlett-Packard, que também participa do workshop.

Ela lembra que o automóvel demorou 55 anos para ser acessível a 25% da população norte-americana, o telefone levou 35 anos, o rádio 22 anos e o computador pessoal, 16 anos. Mais recentemente, a internet precisou de sete anos para alcançar os mesmos 25% da população daquele país. O Facebook, maior rede de relacionamento do planeta e serviço típico da economia digital, levou apenas 12 meses.

Nesse ambiente de rápida transformação, o Brasil tem de formar cada vez mais engenheiros qualificados. É uma tarefa difícil, uma vez que há apenas 400 escolas de engenharia e 2.200 cursos de graduação na área. O mais grave, no entanto, é que não há demanda para preencher a baixa oferta de vagas nos cursos de engenharia. Das 197 mil vagas anuais oferecidas, 120 mil são ocupadas.

Somente um em cada grupo de 800 alunos do ensino fundamental inicia um curso de engenharia. Além disso, problemas como alto custo das mensalidades, falta de laboratórios e oficinas e escassez de prática, entre outros, desestimulam os estudantes e elevam a evasão. Por isso, o Brasil só forma 32 mil engenheiros por ano.

O país perde feio na comparação com os outros membros do grupo BRICs (Brasil, Rússia, índia e China). A China forma 400 mil engenheiros por ano, enquanto a Índia forma 250 mil e a Rússia, 100 mil. A Coréia do Sul é citada como paradigma para o Brasil, porque promoveu a revolução da educação voltada para a engenharia e a indústria. Hoje o país forma 80 mil engenheiros por ano.

"Não é à toa que o PIB dos países asiáticos representava menos de 20% do total mundial há 30 anos e hoje equivale a 40%. As empresas coreanas disputam mercado de igual para igual no mundo, inclusive no Brasil", aponta Luiz Scavarda, professor da PUC/Rio e membro do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea).
(Informações do Portal da CNI)

2 comentários:

  1. O estudante de engenharia não consegue emprego, como pagar uma mensalidade de 1000,00 e receber o mesmo ou menos que um faxineiro apozentado.......
    Existe trabalho e não existe investimento.......
    Existe procura e não existe incentivo..........
    Na realidade os senhores querem engenheiros americanos e oferecem empregos e salários haitianos........

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  2. Pois é, escrevendo apoSentado com Z deve ficar muito difícil mesmo conseguir um bom emprego, mesmo com tantas vagas ociosas.

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