domingo, 1 de novembro de 2009

Começo do Fim ou Fim do Começo?

por Adriano de Sousa Martins


Num texto por mim postado em setembro neste blog, intitulado "A Utopia Humana e as Instituições", refleti um pouco sobre aquela que vem ser a motivadora de muitas de nossas ações: a utopia, no sentido de "algo" idealizado mas que serve para nós como referência de nossa práxis. Em particular, refleti sobre a universidade como uma instituição cuja utopia seria a realização plena de suas atribuições (ensino, pesquisa e extensão) e como este ideal pode ser desvirtuado pelo jogo de poder. Compartilho com vocês agora um pouco de uma "utopia" que moveu um grupo de professores na EEIMVR/UFF e que se traduziu num belo projeto de expansão do pólo aqui, que hoje questionamos se vai adiante.


Desde 2007, quando começaram as discussões sobre o REUNI na UFF, um grupo de professores da PUVR/EEIMVR viram nesta chamada do governo uma chance ímpar de, ao mesmo tempo, prover Volta Redonda e a região sul fluminense de uma unidade de ensino/pesquisa/extensão voltada para ciências exatas, e estarem assim lotados numa unidade afim com sua formação acadêmica. Nascia assim os primeiros esboços do que viria a ser chamado de ICEx - Instituto de Ciências Exatas. O referido grupo de professores, autores do projeto do ICEx, eram todos físicos de formação, e fora apoiado desde o início pelos professores da EEIMVR ligados à pós-graduação em engenharia metalúrgica e, em particular, pelo então diretor do PUVR, o professor Alexandre Silva. O paradigma que norteava tal iniciativa era ter uma unidade forte nas áreas de exatas provendo não só a região com seus próprios cursos de graduação, mas provendo também as engenharias da EEIMVR com as disciplinas de matemática, física e química que o currículo do ciclo básico pede, um modelo comum a maioria das IFES do Brasil.


O referido grupo de físicos estava lotado no departamento de ciências exatas - VCE, da EEIMVR. No açodamento que veio com a discussão da adesão ao REUNI, onde a própria EEIMVR decidiu ficar de fora, o departamento também dividiu-se sobre a adesão ou não ao projeto, sugerindo inclusive ao grupo interessado na adesão a formular um projeto que NÃO contemplasse as áreas de matemática e química, ou seja, o projeto deveria se restringir à criação de uma unidade voltada para a física e algum outro curso, como computação. Infelizmente, questões pessoais de muitos membros do VCE pesaram mais que as aspirações acadêmicas, que foi o que motivou os professores do grupo da física, e assim o projeto foi basicamente concebido a partir deste grupo original. Contudo, a despeito da posição dos colegas e se tratando de um projeto de expansão do PUVR, os professores que vieram a integrar o projeto do ICEx entenderam que, a despeito da tentação do canto da sereia em se criar uma unidade voltada apenas à física, era melhor que a nova unidade nascesse completa, com as três áreas contempladas.


Com a adesão da UFF ao REUNI, o projeto do PUVR incluía, além da expansão da área de humanas, a nova unidade: O Instituto de Exatas. Nos dois anos que se seguiram entre a adesão da UFF ao REUNI até o início deste ano, o projeto foi modificado e aprimorado, fruto do amadurecimento das discussões e por imposição das novas realidades que foram surgindo neste intervalo de tempo (vinda dos cursos de licenciatura em física e matemática pela CEFET). Aqui vale uma observação: em que se pese a referida diferença entre alguns professores com o então diretor do PUVR, todas as chamadas de discussão do projeto de expansão do Pólo foram públicas e, no que se refere ao ICEx, todo progresso do nosso trabalho sempre era comentado nas reuniões do VCE e mandávamos sempre a todos os esboços do projeto. Entendíamos que com isso ganhávamos mais legitimidade no trabalho, além de servirmos de "intermediários" entre os colegas de departamento e o diretor da unidade. Contudo, o silêncio dos colegas a tudo que falávamos a respeito do ICEx era desanimador, mas não impediu o prosseguimento dos trabalhos de elaboração do projeto. No início deste ano. o projeto completo da expansão do PUVR foi apresentado à comunidade acadêmica da EEIMVR, sofrendo duras críticas, principalmente em relação ao ponto que SUGERIA a absorção do VCE pelo ICEx, passando este a ser responsável pelo ministério das cadeiras de matemática, física e química na EEIMVR. Houve muito desentendimento, acusações de todo tipo ao grupo que foi responsável pelo projeto e, pior, distorção das propostas que estavam sendo discutidas.


Com a troca do diretor do Pólo feita, e a propalada PAX sendo assim implementada, vejo as obras da nova unidade praticamente paradas, os cursos no vestibular e, para piorar, os primeiros professores concursados sendo lotados.... no VCE! Isso mesmo... no departamento de exatas da EEIMVR, o mesmo departamento que, por questões pessoais, não participou das discussões do projeto do ICEx, pertencente a mesma Escola de Engenharia que não quis entrar no REUNI. Isso levanta então sérias dúvidas com relação ao projeto que foi elaborado com muita seriedade ao longo dos últimos dois anos: será ele um nati-morto? O que se pretende alocando professores de uma nova unidade no departamento de outra, de forma que se a nova unidade ficar pronta... eles terão que PEDIR ao departamento sua liberação para cumprir o papel a que foram destinados? Ao passo que o VCE devesse REQUISITAR a ajuda desses professores no ministério de suas respectivas disciplinas, a medida que eles deveriam ir para o ICEx, agora eles serão OBRIGADOS a ministrar as disciplinas no ciclo básico da engenharia da EEIMVR. Se esta iniciativa continuar, com a incorporação dos professores pertencentes ao ICEx ao quadro da EEIMVR teremos, aparte o problema legal de onde estes profissionais deveriam ser alocados, um super departamento de exatas dentro de uma escola de engenharia. Claro que, a medida que o ICEx não existe ainda, a alocação dos seus professores pode vir a ser fruto de discussão, mas não é o que está acontecendo. As mesmas acusações que os autores da expansão do PUVR sofreram voltam agora para os acusadores: por que tomar decisões de tamanha monta sem sequer consultar a comunidade, o departamento, a EEIMVR?


É o começo do fim? Ou o Fim do Começo?


Saudações pesarosas: Adriano de Souza Martins

6 comentários:

  1. Prezado Prof. Adriano,

    Para mim a situação é muito óbvia.
    Não são questões acadêmicas e sim interesses políticos. Vale muito a pena, não acha? Tratando-se de pessoas (educadores???) que ficam contando votinho por votinho... É uma pena que a educação seja tratada assim. Cada vez me sinto mais motivado a deixar esta instituição... Antes que o barco afunde!!!

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  2. “Prá dança créu
    Tem que ter disposição
    Prá dança créu
    Tem que ter habilidade
    Pois essa dança
    Ela não é mole não
    Eu venho te lembrar
    Que são 5 velocidades..”

    Prezado Adriano, lendo sua postagem-desabafo me lembrei dessa maestria no nosso cancioneiro popular (sic), que pode resumir um pouco o que acontece na EEIMVR...que acontece,aconteceu e se os interessados não se rebelarem de forma contundente e eficaz irá continuar acontecendo. E me pergunto em qual “velociade” está.
    A tentativa de enfiar as coisas mais esdrúxulas goela abaixo de todos em nome de um pseudo-academicismo que transforma essa unidade de ensino em escolão é gritante e sabemos bem quem perde o que com isso. Está na hora de começar a se questionar e, mais do que isso, buscar provas de “quem ganha o que com isso”.
    Quem sabe esta situação de lotar professores al bel prazer não é a oportunidade de partir pro ataque? Muitas como essa já foram desperdiçadas por inúmeros motivos... Vejo que é hora de vocês, que tanto sonharam, brigaram e trabalharam pelo ICEx irem às instâncias superiores na tentativa de minimizar essa galhofada que acontece aí, tratando a universidade pública como se fosse o quintal da casa deles.
    De outra forma, as coisas permanecerão como sempre foram. Sabemos que o único modo é apenas a briga inteligente. Ou então....”é créu” mesmo.

    P.s: triste mesmo é quando perdemos a capacidade de nos espantar com as coisas pérfidas. Eu já estou nesse estágio, já que não me surpreendi com seu relato. Bom saber que ainda tem gente que se espanta e se revolta, pois são esses os elementos para a luta.

    Saudações a todos.

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  3. Olá Adriano.
    Você sabe, mas para que todos que aqui lêem também saibam, gosto muito de você e sempre me dei muito bem com todos os colegas. Tenho particular admiração pelos colegas da física, sempre que posso gosto de demonstrar isso. Cara, eles trabalham muito, são muito bons no que fazem. Reparem na quantidade de equipamentos e caixas em suas salas, frutos de projetos aprovados por eles!
    Mas isso não me impede de discordar em várias coisas. Isso não deveria ser motivo para divisão em um departamento e rupturas em relacionamentos entre colegas (em alguns casos, amigos). Discordar faz parte também de um relacionamento saudável, não é mesmo? Infelizmente, na prática, não é isso que ocorre. Nosso instinto de rebanho acaba por nos por em guerra quando deveríamos botar os pratos na mesa e resolver tudo com argumentos, pondo egos e paixões de lado e a razão no centro... enfim, somos demasiadamente humanos: assim falou Zaratustra!

    Mas voltando à sua postagem, rapaz, não me lembro de nenhum colega nosso pedir a “não contemplação das áreas de matemática e química” pelo projeto do ICEX. Gostaria de ver a ata da reunião para confirmar isso, pois só me lembro de alguns (eu inclusive) solicitarem a mudança no projeto no que se referia à incorporação pelo ICEX e EXTINÇÃO do VCE. Como você sabe, não concordo com a incorporação do VCE ao ICEX e, posteriormente a sua extinção. Na minha opinião, apesar de haver se originado no VCE, o ICEX é uma coisa diferente, e é importantíssimo principalmente por abranger áreas e subáreas diferentes do VCE.

    Outra questão envolve competências. Alguns (ou todos, não sei dizer com certeza) colegas do departamento preencheram vagas de concurso para lecionarem em cursos de ENGENHARIA. Tendo isso em vista, os autores dos Editais dos nossos concursos abriram condições para candidatos engenheiros – Muitos dos aprovados o são, eu inclusive. Então, no meu ponto de vista, é correto permanecerem ligados à escola de engenharia para a qual foram contratados, envolvidos com as disciplinas para as quais foram contratados e têm competência.

    Não vejo problema em se ter um VCE e um ICEX, são coisas diferentes, cada um tem a sua vocação. A vocação do VCE me parece ser as Engenharias e as suas multidisciplinaridades (o Mestrado Modelagem Computacional é um exemplo disso), a do ICEX e seus departamentos são os bacharelados e licenciaturas e a pesquisa em suas áreas específicas (Física, Química e Matemática). Nada impediria, por exemplo, de se comunicarem, produzirem juntos, participarem de pós-graduações uns dos outros. Afinal de contas, isso é uma UNIVERSIDADE. Mesmo porque, isso já acontece: O nosso mestrado multidisciplinar é um exemplo disso. Isso acontece naturalmente com diferentes departamentos e até mesmos com colaborações de diferentes universidades de diferentes países. Por que não poderia ocorrer dentro de uma mesma universidade em um mesmo pólo universitário?

    Quanto ao "silêncio dos colegas", cara, isso não é verdade não! No início o pessoal da matemática participou sim! Nós participamos de várias reuniões e, aparentemente, tomamos várias decisões... Alguns colegas da matemática até começaram a desenvolver projetos pedagógicos... até que, um belo dia, se não engano você estava presente (por favor, me corrija), eles foram verbalmente advertidos que isso não era de competência deles! Parece, portanto, que os colegas matemáticos não se excluíram, mas foram, de certa forma, excluídos.

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  4. Quanto à lotação das novas vagas do ICEX no VCE, o departamento não foi ouvido. Particularmente SOU TOTALMENTE CONTRA. Não sei a opinião dos colegas porque, como já disse, NÃO FOMOS OUVIDOS
    Colaborando com a discussão, penso que temos que parar com essa mania de jeitinho ali e jeitinho aqui. manobrinha política ali, joguinho político de cá, mentirinhas “inofensivas para um “ bem maior”... Nós somos educadores, temos que ser exemplo de caráter e dignidade, temos que agir corretamente! Além disso, somos funcionários públicos, somos pagos com dinheiro público, temos a responsabilidade e a obrigação de sermos corretos e seguirmos a lei. Divergências, discussões acalouradas: não sou muito disso, detesto confronto de qualquer tipo, não é do meu caráter, do meu perfil, mas entendo e acho importantíssimo para se buscar o equilíbrio em qualquer sociedade, mas seguir as regras, ser correto, ser honesto, ser ético, isso é imprescindível. Não podemos admitir que se abra a mão disso, POR IDEALISMO ALGUM!

    Um forte abraço,
    Alexandre Galvão

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  5. Caro Galvão. Sou-lhe grato pelas suas ponderações e acho desnecessário dizer que a estima que tenho por ti é mútua. Vou apenas comentar algumas coisas que disseste. Infelizmente a referida reunião em que se pediu para o grupo de física "seguir sozinho" foi uma reunião informal. Você não estava presente, e me lembro particularmente do colega Leduíno pedindo isso. Houve no início muita desconfiança em relação ao REUNI, com alguns colegas sendo literalmente contra a adesão ao REUNI. Veja uma coisa: o que eu eu escrevi de certa forma reflete uma visão do processo, ou seja, tem uma bias, como se fala em ciências humanas. Em nenhum momento eu quis dizer que críticas ao projeto não deviam ser feitas, mas escrevi um fato que houve: realmente o grupo que trabalhou trabalhou basicamente sozinho. Com relação ao incidente por ti mencionado, eu realmente estava presente e foi desagradável. Este incidente aconteceu este ano, e eu falava de coisas que aconteceram desde 2007. O tal silêncio a que me referi diz respeito ao período 2007 e 2008, pois a gente ia passando o projeto (inacabado ainda) para os colegas de departamento e não recebíamos retorno algum (inclusive a incorporação do VCE pelo ICEx tava lá, o que poderia ter diminuído as discussões). Um grupo maior de pessoas trabalhando com certeza iria conferir uma maior credibilidade ao trabalho (não que o que foi feito não merecesse), e assim a comunidade talvez o recebesse melhor, mas infelizmente não foi o que houve. Bem, agora por fim uma "confissão": o tom que eu escrevi foi um misto de amargura com desabafo, como a água que transborda depois de muito se pingar no copo. Com todos os tropeços do processo, as coisas foram e temos os cursos do ICEx no vestibular: mas a realidade não está acompanhando isso! Deixo aqui um pedido público de desculpas por qualquer imprecisão nas coisas que eu escrevi, mas em essência é o que foi: o começo do fim? Fim do Começo? Um forte abraço também!!

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  6. Resultado final:

    No- 41.144 - retificar a portaria nº 41105, de 27/10/2009, publicada no
    DOU de 29/10/2009, Seção 2, página 34, referente a nomeação de
    ALEXANDRE FONTES DA FONSECA, onde se lê: ...Departamento
    de Ciências Exatas do Pólo Universitário de Volta Redonda..., leia-se:
    ... Pólo Universitário de Volta Redonda.
    No- 41.145 - retificar a portaria nº 41087, de 27/10/2009, publicada no
    DOU de 29/10/2009, Seção 2, página 34, referente a nomeação de
    GABRIEL FLORES HIDALGO, onde se lê: ...Departamento de
    Ciências Exatas do Pólo Universitário de Volta Redonda..., leia-se: ...
    Pólo Universitário de Volta Redonda.

    Diário Oficial da União Nº 212, sexta-feira, 6 de novembro de 2009, página 25

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