sábado, 28 de novembro de 2009

Carta do IV Encontro do Interior – Angra dos Reis

Os estudantes da UFF reunidos no IV Encontro do Interior, com a participação da ampla maioria dos campi da nossa universidade, tornam públicas as discussões realizadas e apresentam as reivindicações, bandeiras e proposta de calendário de mobilizações, fruto de nosso debate durante a preparação e realização deste que foi o maior encontro dos estudantes de interiorização da história da UFF.

A interiorização da UFF tem mantido um padrão de precarização e insustentabilidade. A manutenção de modelos de convênios que desconsideram a responsabilidade da administração superior com a gestão e manutenção dos cursos e com as condições estruturais que são mantidas, muitas vezes, por prefeituras.


O modelo de extensão de turma, que abre cursos de interiorização sem estabelecer sequer departamento nos lugares, tem tornado os estudantes desses campi reféns da politica de governo local, muitas vezes ficando sem aula ou sem a possibilidade de cursar as disciplinas por conta do cancelamento de vestibulares.


A assistência estudantil ainda é algo inacessível a grande parte dos cursos do interior, onde a maioria não goza de moradia ou restaurante universitário e as bolsas ainda são em numero reduzido. A dificuldade de manutenção dos estudantes na UFF do interior é fruto do descaso da atual administração com uma politica de assistência estudantil e com uma expansão responsável.

A infra estrutura dos campi é em muitos casos precária, mantendo-se ainda muitos deles sediados em escolas, containers e até mesmo porões de universidade privada. A interiorização a la carte, atendendo aos interesses políticos de elites politicas do interior, tem reproduzido um modelo de universidade baseado apenas no ensino como forma de apreensão do conhecimento. Os cursos que nem sempre preenchem os potenciais regionais da localidade onde se instalam e, na maioria das vezes, são instalados a margem de qualquer controle público.


Diante de todos esses problemas, alguns casos são emblemáticos. Quissamã, por exemplo, não tem laboratório de informática, faltam professores lotados no curso, ausência de bolsas, moradia. Ainda, em questão de democracia interna, o departamento que os representa é em Niterói. Pra piorar, não tem nem vestibular. Não podemos deixar Quissamã morrer!


O projeto de expansão do REUNI agravou a situação no interior, constituindo a continuidade e aprofundamento da precarização do ensino. A abertura de muitos cursos sem nenhum aporte estrutural de recursos, sem debate nas unidades e nenhuma preocupação com assistência estudantil tem agravado a situação. É o que estamos vendo acontecer na recente expansão em Campos.


Faltam livros, computadores, faltam professores, salas de aula, material didático e, mesmo assim, a UFF tem aberto uma série de cursos para atender as metas inviáveis impostas pelo governo federal às universidades. O Interior tem sido a maior vitima do autoritarismo do REUNI, convivendo com a abertura irresponsável de novos cursos.


A autonomia da Universidade, que no interior já é muito relativa devido as determinações de prefeituras, é ainda mais abalada quando a expansão se dá apenas com a preocupação de aumentar o numero de vagas para cumprir as metas estipuladas pelo decreto. Queremos um outro modelo de expansão, livre das imposições precarizantes do REUNI. Não podemos esquecer que o projeto na UFF foi aprovado com apoio da PM, que agrediu os estudantes com spray de pimenta e impediu a entrada de conselheiros estudantis contrários ao REUNI.


Se em Niterói temos que travar uma dura batalha para garantir a democracia, no interior ela é inexistente. Prevalecem ainda a eleição de diretores de polo indicados pela Reitoria sem nenhum debate na comunidade e sem processos de eleição. As eleições que se realizam não tem sido paritárias, limitando-se assim a participação estudantil nas decisões convivendo por muitas vezes com a ingerência das direções em assuntos estudantis. A participação dos estudantes em colegiados não tem sido garantida efetivamente e nossas demandas não tem sido ouvidas.


Por uma expansão diferente. Queremos estender a universidade pública para todos, por isso defendemos que a UFF continue a se expandir. Mas que expansão é essa? Saímos do IV Encontro do Interior convictos de que precisamos de um novo projeto de expansão para a UFF. Um projeto construído a partir de um debate entre professores, servidores e estudantes, baseado numa expansão com recursos públicos, com contratação de professores lotados nos campi, com estruturas física e administrativa próprias, com representações paritárias nos colegiados e departamentos.


Assistência Estudantil. Esse novo projeto de expansão precisa ser radicalmente diferente. Queremos um plano específico de assistência estudantil que atenda as demandas do interior, garantindo bolsas de monitoria, iniciação científica, bolsas de auxílio emergencial, transporte inter-campi, construção de bandejão e moradia nos polos universitários, além de verba específica para a organização e manutenção de bibliotecas e salas de informática.


Democracia. A universidade que defendemos não pode existir sem democracia. Precisamos avançar nessa discussão no interior e lutar para que as direções de polos e de unidade saiam da ditadura. Chega de diretores indicados pelo Reitor em troca de acordos e favores políticos. A eleição paritária para Reitor foi conquistada, e deve ser garantida por nós. Queremos mais: por eleições paritárias entre os 3 segmentos em cada unidade e polo de interiorização da UFF.


E ainda precisamos avançar. Conquistamos o plebiscito dos cursos pagos, em que cada membro da Comunidade Universitária da UFF poderá decidir se a nossa universidade continuará sendo privatizada ou se transformaremos todos os cursos de pós graduação pagos em cursos gratuitos. Por uma outra lógica de universidade, baseada nos interesses de todos e não de uma pequena minoria que lucra milhões com esses cursos. Vamos ao plebiscito.


Movimento Estudantil. Nosso encontro demonstra a necessidade premente de ampliar a organização estudantil no interior, é urgente construir uma campanha de organização de CAs no interior, com cartilhas e reuniões e todo o apoio do GT de interior do DCE.


Precisamos construir mais espaços de troca entre os cursos do interior construindo conselhinhos de CAs entre os campi do interior por proximidade e campanhas unificadas. Temos uma série de tarefas para o próximo período, teremos eleições para reitor que devem ser paritárias, segundo decisão do conselho universitário, e estamos vivendo um momento de intenso debate sobre a expansão a partir dos ataques que sofremos graças ao REUNI e precisamos por isso estar coesos e organizados.


A partir desse encontro damos inicio a uma campanha por uma expansão diferente com assistência estudantil, democracia e sem cursos pagos. Construamos uma calourada unificada em todos os lugares com o mesmo tema em 2010 e vamos para a batalha, defender a urgência na aprovação do Plano de assistência estudantil do interior, a gratuidade em todos os níveis e a mudança radical da expansão em cursos. Troquemos as metas do REUNI, pelas metas dos estudantes, professores e servidores da universidade e dos movimentos sociais.


Propomos:

. Ampliar a comunicação entre os estudantes da sede e do interior, através uma politica de comunicação, inclusão das pessoas na lista de ME UFF, construção de uma lista de email do interior e blog do interior.

. Criação de listas grupos on-line dos GTs do DCE, . Ter acesso aos documentos de convênios entre a UFF e terceiros.

. Fazer reuniões entre os campi de interior da UFF, por região. . Construir uma cartilha que oriente para a construção de CAs e Das nos campi do interior.. Lutar contra os cursos pagos na UFF, junto aos estudantes da sede.

. Lutar pelo passe livre para estudantes universitários, e transporte inter-campi, incluindo transportes intermunicipais e interestaduais.

. Ato no CUV com resolução sobre interiorização democracia, financiamento, REUNI.

. Criação de um Fórum permanente de Lutas dos Estudantes do Interior da UFF.

Garantia de espaço para os campi do interior no Jornal do DCE.

. Moção de Apoio à luta contra a homofobia.

Encaminhar o debate de opressões no interior.

. Apoio ao abaixo assinado pela liberação da entrada de mães estudantes com filhos no Bandejão.

. Que o DCE entre na luta pela segurança nos campi do interior, com concursos públicos para vigilantes e pelo fim da terceirização da segurança na UFF.

Construção de um plano de expansão da Universidade, fora dos marcos do REUNI, priorizando a assistência estudantil, autonomia, democracia, qualidade do ensino pesquisa e extensão e financiamento construída pelos estudantes, técnicos e professores.

Campanha pela democratização dos campi do interior.

Defesa do tripé ensino, pesquisa e extensão em toda UFF, sede e interior.

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