sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pensamento Acadêmico UFF - Volta Redonda: PREOCUPAÇÕES COM O PÓLO

É PRIMAVERA EM VOLTA REDONDA

“¡Que vivan los estudiantes,/ jardín de las alegrías! /Son aves que no se asustan /de animal ni policía, / ...” , (Violeta Parra)

Talvez alguns não tenham percebido o aspecto histórico da reunião da última terça-feira, 22/09/09, no auditório da EEIMVR. Bem, o dia marca o início da primavera, e talvez possa por isso no futuro ser chamado de Primavera Estudantil da UFF em Volta Redonda. Para entenderem o que eu quero dizer, é necessário seguir o conselho que alguns docentes deram na reunião e dar uma olhada na história. Mas não apenas nos aspectos que parecem interessar a alguns para insinuarem fundamentarem acusações de cunho pessoal. Mas sim buscar no passado e origens da nossa Escola e, particularmente em uma faceta nem sempre bem contada aos alunos, as explicações do vivemos hoje.

Como muitos sabem, a EEIMVR foi criada em 1961, por iniciativa do então Presidente Jânio Quadros, que logo depois renunciou ao cargo de Presidente da República. Isto lançou a recém criada Escola em grandes dificuldades, só superadas pelo pioneirismo de seus alunos e também de seus primeiros professores. Mas logo depois veio o golpe militar de março de 1964, e o País e suas instituições foram praticamente tomados pelo pensamento e doutrinas militares.

Volta Redonda, a Cidade do Aço brasileira, já antes daquela época, era considerada cidade estratégica e de extrema relevância para a assim chamada “Segurança Nacional”. Nesse clima, nossa Escola, coincidentemente ou não, tinha o seu corpo docente comandado por professores do Instituto Militar de Engenharia-IME, inclusive generais e coronéis, que ocuparam sequencialmente também a Direção da Escola. ( obs. O primeiro Diretor da EEIMVR foi o Prof. Plínio Catanhede, Diretor da Escola de Engenharia da UFF em Niterói).

Não é preciso muita criatividade para se imaginar como eram as relações hierárquicas entre alunos e professores naquele tempo na EEIMVR. Eu não me formei aqui, mas aos que quiserem saber mais detalhes, basta perguntar aos ex-alunos de então, hoje docentes. Em meio às muitas histórias, às vezes engraçadas, os alunos de hoje vão poder saber que as relações entre docentes e alunos já foram às vezes mais difíceis, e outras vezes mais fáceis...

A EEIMVR foi por muito tempo uma Escola praticamente isolada no Interior do Estado do Rio de Janeiro e, por isso, as mudanças ocorridas nas Universidades Federais de todo o Brasil nos últimos 40 anos, inclusive as mudanças estruturais e de comportamento político, sempre demoraram chegar até aqui. Até 2005, a EEIMVR tinha somente uma Direção e dois departamentos, o TMI ( Metalurgia Industrial) e TMC ( Ciência dos Materiais), apesar de já contar com 3 cursos diferentes: Metalurgia, Produção e Mecânica. Com a criação da Eng. de Agronegócios e do Curso de Administração, em 2005, foi criado mais um Departamento, o TAA, que deveria abrigar os dois novos cursos (esse Departamento também teve Chefe “pró têmpore”, embora jamais tenha tido docentes de fato lotados nele. Mas isso é uma outra história...). Tínhamos, portanto, cinco cursos e três Departamentos. É nítida a característica de uma estrutura centralizadora e concentradora das decisões. Além disso, as coordenações dos cursos de Produção e Mecânica, criadas juntamente com os cursos, foram ocupadas por coordenadores não eleitos, indicados pela Direção da Escola e nomeados em caráter “pro tempore”, por mais de 4 anos. Vê-se assim, que mesmo um cargo típica e regulamentarmente eletivo não foi submetido ao pleito dos alunos e docentes. (Interessante, especialmente diante do furor alegadamente democrático demonstrado hoje pelo mesmo grupo que indicou e sustentou por tanto tempo essas coordenações e chefias não eleitas).

Por força de sua história e origens, a Direção de Unidade em Volta Redonda, desde a fundação da Escola, sempre teve uma papel centralizador em detrimento dos Departamentos e Coordenações de Curso. É claro também que isto só foi possível por se tratar durante muitos anos de uma Unidade pequena, até meados dos anos 90 sem ciclo básico, que chegou a ter pouco mais de quarenta professores e menos de cem alunos.

Ainda hoje, com 1600 vagas oferecidas perto de 1200 alunos matriculados, e quase 100 docentes, velhos hábitos de centralização perduram, entre eles a famigerada política de gabinete, onde docentes, funcionários e discentes são chamados aos gabinetes da Direção, vice-Direção, e Departamentos, inclusive antes de reuniões dos Colegiados, para ouvirem sobre versões do que é bom e mau para nossa Escola, ou ainda, sobre quem é bom e mau na nossa Escola.

Pois bem, nessa última terça-feira, os alunos do PUVR deram um basta, no que lhes diz respeito, a esse tipo de política nefanda, e exigiram dos gestores, ex-gestores e docentes da UFF em Volta Redonda que lhes explicassem, ali, na frente de todos, o que está sendo feito sobre os destinos da UFF em Volta Redonda. Queriam saber de laboratórios e conclusão de obras, para começar. Foi realmente um começo, um exemplo dos alunos a nós professores. Uma prova que nossos alunos estão longe de serem “massa de manobra”, que ouve complacentemente versões contadas por alguns que se auto elegem líderes, ou “amigos” dos alunos, como se os demais inimigos fossem. Para mim, que me considero também uma vítima dessa política de gabinete, foi particularmente auspicioso constatar o que eu já sabia há décadas ( pois também já fui aluno!). Que além de Cálculo, Física, Álgebra Linear, Mecânica dos Fluidos, Administração, Contabilidade, etc.., nossos alunos, como adultos e cidadãos que são, têm plena capacidade e autonomia para compreender a complexidade das relações sociais e políticas que os cercam, em particular em nossa Universidade. Dia 22 de setembro de 2009, início da primavera, o dia em que a Política estudantil saiu dos gabinetes da EEIMVR e foi para o auditório. Parabéns aos estudantes, mas ... mantenham-se alertas, pois as estações do ano também são cíclicas!

Alexandre Silva

13 comentários:

  1. Em Homenagem aos alunos, como bem escreveu o Alexandre, Geraldo Vandré e a sua inesquecível "música de protesto" Pra não dizer que não falei das Flores.

    Caminhando e cantando
    E seguindo a canção
    Somos todos iguais
    Braços dados ou não
    Nas escolas, nas ruas
    Campos, construções
    Caminhando e cantando
    E seguindo a canção...
    Vem, vamos embora
    Que esperar não é saber
    Quem sabe faz a hora
    Não espera acontecer...(2x)
    Pelos campos há fome
    Em grandes plantações
    Pelas ruas marchando
    Indecisos cordões
    Ainda fazem da flor
    Seu mais forte refrão
    E acreditam nas flores
    Vencendo o canhão...
    Vem, vamos embora
    Que esperar não é saber
    Quem sabe faz a hora
    Não espera acontecer...(2x)
    Há soldados armados
    Amados ou não
    Quase todos perdidos
    De armas na mão
    Nos quartéis lhes ensinam
    Uma antiga lição:
    De morrer pela pátria
    E viver sem razão...
    Vem, vamos embora
    Que esperar não é saber
    Quem sabe faz a hora
    Não espera acontecer...(2x)
    Nas escolas, nas ruas
    Campos, construções
    Somos todos soldados
    Armados ou não
    Caminhando e cantando
    E seguindo a canção
    Somos todos iguais
    Braços dados ou não...
    Os amores na mente
    As flores no chão
    A certeza na frente
    A história na mão
    Caminhando e cantando
    E seguindo a canção
    Aprendendo e ensinando
    Uma nova lição...
    Vem, vamos embora
    Que esperar não é saber
    Quem sabe faz a hora
    Não espera acontecer...(4x)

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  2. Gostaria de parabenizar o Professor Alexandre pelo texto!

    Aline...a intenção foi boa...mas quem se orgulha na frente de um auditório inteiro de ser de esquerda não somos nós...

    ...Brincadeira à parte, realmente foi um dia histórico, onde todos perceberam que nós estudantes somos massa pensantes e não massa de manobra, apesar de uns e outros tentarem passar esta imagem!

    Jean Pinheiro

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  3. É Jean,

    infelizmente ou felizmente eu não participo mais de perto dessas coisas. Mas acabei de ver há pouco no vídeo quem bate no peito e se diz "esquerda". Esquerda de quem se se situam na situação????

    Triste ver as pessoas batendo no peito se orgulhando de ser de esquerda...quando na verdade as ideologias estão muito além de convicções partidárias ou de esquerda-direita.

    Parabéns mesmo é pra vocês, que foram lá e fizeram.

    Abraços!

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  4. Olá Alexandre, Jean e Aline,

    Tenho certeza que a grande maioria dos problemas do PUVR estão baseados na falta de respeito pelas pessoas e principalmente pelo interesse particular vir antes do institucional. Concordo e afirmo que os alunos do Pólo não são uma simples e limitada "massa de manobra". É lamentável ver pseudo-educadores afrontando e menosprezando a inteligência do corpo discente em público para proteger as suas aspirações políticas (particulares). Deixo aqui as congratulações de um ex-cara pintada aos alunos do Pólo pela coragem, pelo caráter e principalmente pela firmeza em exigir uma nova filosofia de academia na UFF de Volta Redonda.

    Um abraço a todos,

    Fabrício

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  5. Olá a todos deste blog, e um alô especial ao Alexandre, a Aline e ao Jean! Com relação ao texto, apenas vou enfatizar o caráter fundamental que tem a história neste processo todo, pois é a partir do nosso passado que entendemos o que somos hoje, no presente. Não sei se intencionalmente, mas o Alexandre esqueceu de mencionar um fato importante na história da EEIMVR: a criação da pós graduação aqui na década de 90. Com sua criação, e o consequente fluxo de novos professores, vindos de fora, criou-se um ambiente diferente do que havia. Como a atividade de pós-graduação é centrada na pesquisa, esta faz com que o profissional fique mais ancorado a sua instituição, passando mais tempo na mesma. A pesquisa, o ensino e a extensão universitária é o tripé que se apóia a atividade da Universidade, e sua contribuição à sociedade é plena quando ela consegue atuar nestes três campos de maneira intensa e igualitária. Com relação à licença poética da primavera, veio à minha cabeça a "primavera de praga", movimento iniciado por um grupo de intelectuais na antiga Tchecoeslováqui que propunha mudanças Na política, economia e sociedade da época, assombrada por um "socialismo" caquético. Com a adesão da população às prospostas, a russia comandou a invasão das ruas de Praga... que teve um movimento de resistencia bem interessante. Para quem se interessar mais, leia http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_de_Praga ou procure no google. Um grande abraço a todos, e viva a todos aqueles que sonha e, principalmente, atuam a favor de uma universidade democrática e que cumpre com plenitude sua função social!

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  6. Entrei no site do PUVR www.puvr.uff.br agora a pouco e não vi nenhuma atualização das obras do aterrado ou qualquer comentário de como está andando a construção do nosso prédio da Engenharia. Fui na parte de fotos atualizadas http://www.puvr.uff.br/html/obras4.html e a data da última atualização é de 18 de agosto de 2009. Achei muito estranho...Parece groselha, não é?

    Aluno Anônimo

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  7. Eu estava vendo os videos que foram colocados e observei a fala do Prof. Wainer e ele foi enfatico em dizer que o Magnifico Reitor mandou ele como interventor justamente para finalizar a obra ate dezembro( vamos cobrar isto dele !!!), pois o segundo ele,Wainer, teria grande experiencia em obras publicas. Eu andei vasculhando o histórico de obras do Prof. Wainer e não achei nenhuma!!! mas talvez seja esta minha grande limitação e como faço parte de uma massa de manobra (conforme enfatizado pela profa. Salete) não consigo encontrar nenhum registro. Os Unicos registros que encontrei foram muitos cargos na UFF(Poucos eleitos) para ganhar uma CD ( gorgetinha para ele e a turma do tico-tico). Acho que esta na hora de conhecermos os curricula dos nossos dirigentes e aspirantes a dirigentes e banir de vez esta turma que vive mamando na teta da Viuva.... E começar pelo menos considerando o trabalho previo dos aspirantes ...., vamos mostrar a esta turma que podemos ser capazes de analisar propostas( não faláceas ) e quais as pessoas que possuem capacidade para tal. Por mim, eu sempre desconfio das pessoas que estão sempre bajulando o poder..... Prestem atenção naqueles nossos professores, funcionarios e alunos que ao inves de estarem na sala de aula, orientando ou pesquisando estão trancados nos gabinetes da Direção ( quando estão aqui né, porque tem alguns que só os vejo saindo de lá, e olha que sou assiduo aqui na UFF). Não nos esqueçamos que todos os professores ( sem exceção) foram contratados para exercerem docencia, pesquisa, extensão, de forma equilibrada, jamais para fazerem politica(no caso politicagem, principalmente politica partidária, conforme declarado por alguns no debate

    Saudações Universitárias a todos.

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  9. Ontém resolvi dar um passeio pelo aterrado, e por acaso passei em frente as futuras instalações deste tão discutido Pólo Universitário de Volta Redonda. E olhem só, qual não foi a minha ENORME SURPRESA em verificar que o pobre atual diretor do Pólo que tão pouco se mostra, mas firmemente nos tranquilizou dizendo que as obras estão indo muito bem, está sendo traído por um "bando" de operários que não estão indo trabalhar. Das 40 cabeças que eram facilmente vistas em plena atividade a dois meses atrás, hoje elas estão reduzidas a uma 1/2 dúzia.
    Que pena não!
    Bom seria que todos resolvessem "passear" pelo aterrado, e verificar dia a dia a manobra eleitoreira que estão fazendo jogando mentiras na nossa cara todo o tempo.
    Um minuto de atenção. A continuidade das obras não deve ser uma promessa e sim um compromisso.
    Lamentável!!!

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  10. Eu também já tive essa curiosidade e também não percebi nenhum movimento na obra do aterrado. É claro que tem alguns homens ali fazendo um barulinho, mas nada afim de terminar qualquer obra. E seguindo a orientação do Prof. Wainer, (pessoa tão experiente em realizações de obras públicas) estou "fiscalizando" a palavra dada por ele. E no prédio da EEIMVR, também não percebo nenhum movimento significativo.
    Mas isso deve ser normal. Sou apenas um aluno que não pensa, não entende. Facilmente identificado como massa de manobra, não é mesmo professora Salete?

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  11. Por que a professora citada acima não aparece? e o professor Sodré também não nos fala nada? Os dois são a favor da intervenção e da falta de democracia em Volta Redonda?

    Abraços a todos os que teimam em pensar e não serem massa de manobra!

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  12. " Abraços a todos os que teimam em pensar e não serem massa de manobra!"

    Impressionante como todos aqui são santinhos,né! Inclusive o ex-diretor do Polo, NOMEADO pelo mesmo reitor que agora resolveu nomear outro. Não tem aspiração política nenhuma. Vai saber porque então foi nomeado ha 2 anos atrás, não é mesmo! Ele nem se ofereceu! Ele nem queria nada! Vai ver foi o divino Espírito Santo que jogou seu nome nas mãos do nosso querido Reitor! Vai ver também que o Diabo resolveu agora atentar o Reitor para que ele nomeasse o outro.
    Com todo respeito aos caríssimos alunos, mas quem acredita na santidade desse humilhados e ofendidos atuais ou realmente são muito ingênuos, ou assistiram xuxa demais quando eram pequenos!

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