terça-feira, 29 de setembro de 2009

A BOA NOVA

Pessoal,

Estava limpando os meus arquivos antigos quando encontrei o texto abaixo, encaminhado para alguns colegas da UFF na véspera do natal de 2007. Era um texto sobre a Escola de Engenharia de Niterói, mas se encaixa muito bem para o pólo de Volta Redonda em 2009. Era um momento em que algumas pessoas estavam com medo de se manifestar publicamente. Ele se intitulava A BOA NOVA. Aí vai

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As Universidades Públicas, que deviam ser vanguarda no processo de consolidação democrática no país, apresentam aparentemente, ainda, certas características da política de clientela que morreu há décadas na maioria das grandes cidades e que só sobrevive nos grotões. Vemos pressões, ações que podem ser confundidas com intimidação, um concreto receio das pessoas de se manifestar publicamente e um “senso comum” de que “as coisas são assim mesmo” e “bobo é quem acredita que pode ser diferente”. PODE SER DIFERENTE SIM. O próprio país está mudando mais rápido do que a Universidade Pública e isso é o que nos preocupa.

Com o aumento do orçamento para investimento da UFF, principalmente devido aos recursos próprios, acreditamos que é necessário abandonar os antigos paradigmas de gestão, típico de empresas familiares, na qual um “pai patrão” distribui mesadas aos filhos obedientes e pune os rebeldes, e criar mecanismos mais eficientes e transparentes de tratar os recursos públicos.

UMA GESTÃO AMADORA, BASEADA EM VÍNCULOS PESSOAIS, PODE SER TER SIDO UMA BOA OPÇÃO QUANDO O ORÇAMENTO E COMPLEXIDADE DA UFF E DAS SUAS UNIDADES ERAM PEQUENOS. COMO NUMA EMPRESA COM GESTÃO FAMILIAR QUE CRESCEU, PARA EVOLUIR ALÉM DE UM CERTO PONTO, TORNA-SE NECESSÁRIO ROMPER VELHOS PARADIGMAS E OPTAR POR MECANISMOS MAIS EFICAZES E PROFISSIONAIS DE GESTÃO. NESSE CASO, A TRANSPARÊNCIA NÃO É RESULTANTE DE UMA MAIOR GRANDEZA PESSOAL DOS GESTORES, MAS SIM UMA EXIGÊNCIA PARA SE OBTER RESULTADOS MELHORES COM O MESMO VOLUME DE RECURSOS.

Prestações de conta sistemáticas ao final de cada ano, junto com uma estimativa pública do orçamento disponível para o ano seguinte são fundamentais para se estabelecer prioridades, definir programas estruturantes e se fazer escolhas, uma vez que as necessidades ainda são muito maiores do que os recursos disponíveis. A definição de indicadores que permitam aferir periodicamente a eficácia das políticas implementadas também é essencial. AO CONTRÁRIO DO QUE FALAM E ATÉ PENSAM ALGUNS COLEGAS, A GRANDE QUESTÃO HOJE NA UNIVERSIDADE PÚBLICA NÃO É A POSSIBILIDADE DE APROPRIAÇÃO PÚBLICA DE RECURSOS DE ORIGEM PRIVADA, MAS SIM A EVENTUAL POSSIBILIDADE DE APROPRIAÇÃO PRIVADA DE RECURSOS PÚBLICOS.

O bom sistema é o que não dá chance ao gestor de ter a sua probidade testada. Quando indivíduos, E NÃO INSTÂNCIAS COLEGIADAS, podem decidir sobre taxas, sobre renunciar ou não a receitas, sobre a distribuição das oportunidades usando critérios políticos pessoais, surgem as seguintes questões: Quando esse tipo de atitude pode caracterizar um conflito de interesses? Quando esse tipo de atitude pode caracterizar o uso de cargo público para obter vantagens para si ou para terceiros? Qual o limite da ética, a fronteira?

Apesar da UFF estar passando por um processo de afirmação e modernização que é irreversível, este processo poderia (e ainda pode) ser mais dinâmico, dependendo das capacidades de gestão. Sem amplas maiorias, há, grosseiramente falando, duas alternativas para viabilizar a condução da gestão da Universidade - (i) compor uma direção pouco aberta, cuja base de apoio seria formada principalmente através de cooptações pessoais envolvendo cargos, vantagens e os mais diversos tipos de benesses pessoais, financeiras ou não; (ii) uma gestão na qual, a partir de certos princípios mínimos, a Direção compartilharia a gestão, gerando uma maioria que viabilizaria a governabilidade.

Não fazemos juízo moral das pessoas e não vemos a disputa política como uma luta do bem conta o mal. Estamos convencidos, contudo, de que a primeira alternativa para viabilizar a gestão da UFF (e de suas Unidades), mencionada no parágrafo anterior, objetivamente induz a um comportamento menos ético dos dirigentes.

SEM NENHUMA INGENUIDADE E SEM BUSCAR NUTRIR FALSAS EXPECTATIVAS DE MUDANÇAS EXTRAORDINÁRIAS, ACREDITAMOS QUE PODEMOS QUEBRAR VELHOS PARADIGMAS E CRIAR AS BASES DE UM SISTEMA DE GESTÃO MAIS MODERNO, EFICIENTE E TRANSPARENTE. SISTEMA CRIADO PELA NECESSIDADE E NÃO PELO FATO DOS ENVOLVIDOS SEREM SERES HUMANOS MELHORES OU MAIS ILUMINADOS.

MUITOS DOS QUE NOS APOIAM, APARENTEMENTE, TÊM RECEIO DE SE MANIFESTAR PUBLICAMENTE. Temos certeza de que, apesar do evidente jogo de pressões que existe em todo os processos políticos, esse receio é muito mais produto de uma “cultura do medo” já enraizada do que fruto de atos concretos de quem quer que seja. Contudo, UMA UNIVERSIDADE QUE SE CALA É UMA UNIVERSIDADE MORTA. Não lutamos tanto para consolidar a normalidade democrática no país para, no limite, abaixar a cabeça para supostos donos de pequenos poderes dentro da Universidade.

NÓS QUEREMOS A UNIVERSIDADE VIVA. NÓS BUSCAMOS DAR VOZ ÀQUELES QUE ACREDITAM SER NECESSÁRIO BUSCAR ALTERNATIVAS E FAZER MUDANÇAS, muitos dos quais têm algum receio de se manifestar publicamente.

Sonhos? Fantasias? UM NOVO TEMPO EXIGE NOVAS ATITUDES. Alguém já disse há algum tempo que é preciso sonhar. Mas sob a condição de crer em nossos sonhos. De comparar os nossos sonhos com a realidade - e de realizar escrupulosamente a nossa fantasia. Vamos realizar escrupulosamente os nossos sonhos e fantasias com os pés absolutamente plantados no chão.

NÓS FICAMOS UNIDOS NAS CONDIÇÕES MAIS DIFÍCEIS E, CERTAMENTE, PERMANECEREMOS UNIDOS NO FUTURO. NUMA ÉPOCA DO ANO EM QUE SE FALA MUITO EM ESPERANÇA, A BOA NOVA QUE TRAZEMOS É A AFIRMAÇÃO DE QUE ESSE TEXTO NÃO É O EPÌLOGO DE UM EPISÓDIO PARTICULAR NA UFF, MAS SIM O PRÓLOGO DE UMA HISTÓRIA MUITO MAIOR.

Quem viver verá.

Atenciosamente,

Heraldo da Costa Mattos
Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecânica

Um comentário:

  1. Prezado Heraldo e demais leitores do blog,

    Parabéns pela clareza das idéias que foram expostas num texto que se mantêm bastante atual desde 2007 e que me parece talhado para o atual momento da UFF em Volta Redonda. Tenho acompanhado com atenção a todos os comentários postados nesse blog e a sensação é que realmente estamos vivendo um "império do medo". Observo ainda que os depoimentos trazem consigo várias questões que incomodam a nossa Comunidade Acadêmica. Há pouco tempo escutei a frase de um dirigente de Unidade que ainda me deixou com esperança de uma Universidade ser plural e poder um dia renascer das cinzas que se encontram como um verdadeiro pássaro Fênix. A frase foi a seguinte: "A UFF também precisa de pessoas idealistas para a sua construção...". Confesso que inicialmente achei que o papo da velha raposa (me reportando de forma singela a tal pessoa) era somente para me agradar (ou quem sabe me cooptar numa causa qualquer...vai saber nê...). Contudo, depois de alguns dias percebi a sinceridade das palavras dele, pois entendi que sem trabalho, esforço e a dedicação de pessoas com um espírito de construção, nenhum projeto por mais simples que possa ter sido desenhado, consegue sair do papel e ganhar corpo para se tornar realidade. Muitos de nós somos críticos (me incluo sim neste grupo) ferrenhos da política limitada e ultrapassada realizada na nossa Universidade. Assim sendo, gostaria de deixar nesse espaço democrático algumas perguntas que nos dizem respeito diretamente: 1) O que nós podemos fazer para mudar a nossa realidade na qualidade de “massa pensante” numa academia aparentemente sem vitalidade e muito desgastada? 2) Quais são as propostas tanto em Volta Redonda quanto em Niterói para termos um ambiente em que o medo de se declarar opiniões divergentes, legitimas e sinceras, não exista? 3) Por que o respeito à liberdade de pensamento em Volta Redonda e em Niterói é sempre atropelado por um "Projeto Maior" ou até mesmo por "Ambições Particulares"? Sei que tais respostas podem ser complicadas e um tanto delicadas. Não espero ser ou agir como um salvador da pátria ou ainda controlar qualquer massa de manobra. Contudo, espero sim que a massa pensante, a qual os alunos do PUVR e demais servidores (professores e o corpo técnico-administrativo) fazem parte na nossa Universidade, se apresentem e mostrem que existem muitos idealistas prontos a cumprir esta difícil tarefa de forma ativa e consciente.

    Um abraço a todos,

    Fabrício
    Membro da massa pensante da UFF

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