terça-feira, 27 de abril de 2010

MOÇÃO DE DESAGRAVO

Os docentes, técnico-administrati vos e estudantes, que subscrevem esta NOTA, e todos os que quiserem fazê-lo, vêm à público desagravar os pesquisadores da UFF, especialmente os Profs. Elson Antonio do Nascimento e Regina Bienenstein, que recentemente tiveram os resultados dos trabalhos de diagnóstico que identificavam encostas habitadas com fortes riscos de deslizamento sob a ação de chuvas, em Niterói, desqualificados junto à imprensa pelo Magnífico Reitor da UFF Prof. Roberto de Souza Salles.  

Para estes signatários causou perplexidade a manifestação de desapreço com que o Reitor se referiu aos estudos realizados por diferentes especialistas da UFF apontando os riscos que foram dramaticamente confirmados em Niterói por ocasião das chuvas torrenciais que atingiram a região.


É do conhecimento geral que, em momentos distintos, docentes e técnicos do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (NEPHU), do Instituto de Geociências e da Escola de Engenharia da UFF encaminharam à Prefeitura de Niterói, diagnósticos que identificavam encostas habitadas com fortes riscos de deslizamento sob a ação de chuvas, dentre as quais o Morro do Bumba, Morro do Estado, Beltrão, Vital Brazil, Estrada Fróes e Juca Branco, locais onde as previsões se confirmaram e, principalmente em Morro do Bumba, em proporções trágicas.

No entanto, o Prof. Roberto Salles, magnífico reitor, lançou sombras de dúvida sobre estes estudos, desqualificando- os e, ao que parece, ofertando ao Prefeito de Niterói o ansiado alívio diante das reiteradas acusações de que vinha sendo alvo por não ter levado em conta as advertências daqueles especialistas.

Não nos cabe, enquanto Universidade, julgar as posturas da Prefeitura de Niterói e sim reiterar a importância da participação científica e técnica da UFF neste sofrido episódio. Uma das finalidades precípuas de uma instituição universitária pública é contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade que a mantém e fazê-lo inclusive por meio de análises, levantamentos, diagnósticos e projeções baseadas estritamente nos dados da realidade, nos pressupostos teóricos consagrados e nas metodologias amplamente reconhecidas pelas respectivas comunidades de saber.

Esta atitude permite que a busca do conhecimento se faça do modo mais independente possível, livre das pressões inevitáveis que interesses, paixões e preferências particulares, legítimos ou não, tendem a exercer principalmente sobre investigações que possam comprometer os agentes de tais interesses, paixões e preferências. Esta é uma das justificativas fundamentais da autonomia universitária, isto é, não o isolamento em berço esplêndido para se auto-contemplar, mas o reconhecimento original da liberdade indispensável para exercer o conhecimento.

O conhecimento jamais é definitivo, unilateral ou inquestionável. Aliás, sua própria gestação só se faz em ambiente crítico, a tal ponto que o pesquisador deve ser aquele mais desejoso de ter seus métodos e conclusões reexaminados por seus pares. Por isto, tem escassa valia a refutação feita como ato de poder pois detritos, gases, rochas, poeira e lama agem com desenvoltura, respeitando tão somente chuvas, combustões e a gravidade, alheias às arrogâncias dos eventuais ocupantes de fatias de comando. Os mares talvez tenham rido quando Xerxes os açoitou como castigo da tempestade que fez soçobrar a frota de invasão da Grécia.

Até o momento pensávamos que esta compreensão fosse consensual em toda a UFF, mas este triste episódio parece nos advertir que ainda tem fôlego posturas que pretendem submeter a isenção e o rigor do conhecimento às demandas facciosas e demasiado circunstanciais, em troca de benefícios localizados ou fantasiosos.

O que aconteceu é exemplar, pois o mero fato de especialistas da UFF terem se voltado para uma questão pública e obedecido aos requisitos de suas áreas de competência foi o bastante para que nosso Município dispusesse com folgada antecedência da identificação das áreas de risco. É isto que devemos enfatizar, pois evidencia o quanto é decisiva esta contribuição científica e técnica da Universidade —desde, porém, que seu desempenho tenha como referência dominante a verdade acessível ao conhecimento.

Hoje talvez estivéssemos comemorando a eficácia de medidas preventivas e não lamentado tantas perdas irrecuperáveis. Contudo, no âmbito da UFF mostra-se como urgente proclamar e aprofundar o pensamento e a prática dessa autonomia fundada no conhecimento e na consciência cidadã, sem o que estaremos vulneráveis irremediavelmente aos leilões de idéias e aos loteamentos das convicções e cada vez menos capazes de autenticamente nos apresentarmos aos alunos presentes e futuros.

Niterói, 28 de abril de 2010


Alexandre J, da Silva (Professor Associado do Departamento de Engenharia Mecânica do Pólo Universitário de Volta Redonda);
Ana Maria Motta Ribeiro (Professora Adjunto do Departamento de Sociologia);
André Luiz Martins Barreto (Estudante do Curso de Filosofia);
Bruno Campos Pedrosa (Professor Associado da Escola de Engenharia e Chefe do TDT);
Carlos Gabriel Guimarães (Professor Associado do Departamento de História);
Cristina Pinheiro Mendonça (Profa. Adjunto Faculdade de Nutrição);
Dalton Garcia de Mattos Junior (Professor Associado da Faculdade de Veterinária);
Daniel Vieira Nunes (CUV Bancada Estudantil);
Emmanuel Paiva de Andrade (Vice-Reitor);
Florence Cordeiro de Faria (Professora Adjunto do Instituto de Química);
Francisco de A. Palharini (Professor Associado do Departamento de Psicologia e Diretor do ICHF);
Heraldo da Costa Mattos (Professor Titular da Escola de Engenharia);
Jefferson Fabrício Cardoso Lins (Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Metalúrgica do Pólo Universitário de Volta Redonda;
Jorge Luiz Barbosa (Professor Adjunto 4 do Departamento de Geografia);
Jose Carlos Carraro Eduardo (Prof. Associado Faculdade de Medicina)
José Henrique C. Organista (Professor Adjunto de Ciência Política, Campos)
Laís Gouveia (Estudante e 1ª Diretora de Políticas Educacionais da UNE);
Lucia Helena Vinhas Ramos (CUV Representante dos Técnico-administrativos);
Luiz Antônio Botelho de Andrade (Professor Associado do Instituto de Biologia);
Luiz Carlos Soares (Professor Titular do Departamento de História e Coordenador-Adjunto da Área de História da CAPES);
Mara Lucia de Souza Matos (Nutricionista lotada no HUAP);
Marcia Pissiali (Técnico-Administrativa lotada na PROPPI - Financeiro);
Marcos Paiva de Faria (Técnico-Administrativo, Arquiteto e Urbanista);
Mauro de Almeida Santos (Técnico-Administrativo lotado no EGM);
Maximus Taveira Santiago (Professor Adjunto da Faculdade de Medicina);
Metalúrgica e Materiais do Pólo Universitário de Volta Redonda);
Miriam de Fátima Cruz (Bibliotecária);
Renata Del Vecchio (Professora Associada do Instituto de Matemática);
Roberto Carlos Cid (Professor Associado do Instituto de Química);
Rogério de Melo Araújo (CUV Representante dos Técnico-administrativos);
Rosalina Simões Alcântara (Técnico-Administrativa);
Sávio Freire Bruno (Professor Adjunto da Faculdade de Veterinária);
Silvia V. Carvalho (Professora Associada do Departamento de Psicologia);
Théo Lobarinhas Piñero (Professor Associado do Departamento de História e Vice-Diretor do ICHF);
Luiz Valter Brand Gomes (Professor Adjunto 4 do Instituto de Computação);
Theofilo Rodrigues (Mestrando em Ciência Política e Diretor da ANPG);
Thiago Aguiar (Estudante e Conselheiro do CUV);
Thiago Rocha (Estudante e Conselheiro do CEP);
Ulisses Ferreira (Estudante e Conselheiro do CUV);
Vitor Vogel (Estudante e Conselheiro do CUV);
William Kitzinger Costa (Técnico do Laboratório de Informática do Instituto de Computação);
Yuri Saiyé (Estudante e Conselheiro do CEP);

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