quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Melhor para a UFF: Excelência acadêmica e compromisso social

Por: Francisco de Assis Palharini
Bruno Campos Pedroza

O contexto de eleições e posse de um novo reitor é oportuno para refletirmos sobre os processos democráticos que escolhem os dirigentes universitários. Na UFF, costumamos escolher o Reitor através de consultas eleitorais e elas, muitas vezes, tendem a refletir as mesmas práticas utilizadas nos grotões deste país. Em geral, nossas eleições para Reitor são relativamente caras e de caráter populista. Quando há espaço para que oportunistas e despreparados dêem o bote a cada 4 anos, é sinal que há algo de impostura democrática neste processo. Uma universidade não pode ficar a reboque dos pequenos grupos que loteiam entre si os espaços de poder com uma perspectiva aparelhista. Há que se reconhecer, ainda, que o expediente da reeleição potencializa procedimentos grotescos e nocivos ao desenvolvimento institucional, como atualmente é fácil constatar. Aprofundar, portanto, o debate sobre os rumos do desenvolvimento da UFF faz-se imperativo, se queremos influir decisivamente nos rumos do desenvolvimento da UFF.    
As Universidades têm por função social colocar-se adiante do seu tempo para produzir e pensar o conhecimento de que a sociedade necessita para se desenvolver plenamente. Para cumprir este papel é preciso pensá-las de modo sintonizado com a contemporaneidade e com o contexto no qual desenvolve suas atividades. Aqui, destacamos algumas questões que entendemos como fundamentais se quisermos que a UFF avance efetivamente na direção da excelência acadêmica e do compromisso social.   
O esforço considerável realizado pelos docentes, servidores e estudantes na direção da excelência acadêmica e do compromisso social, apesar da ausência de um projeto institucional e do caráter arcaico da gestão mudou a configuração institucional e a natureza das demandas internas. Mas, a potencialização destes esforços encontra fortes resistências, pois os seus contornos são dados por setores descompromissados com o processo de produção do conhecimento. Assim, pode-se afirmar que a UFF, hoje, tem dificuldade, inclusive, de se reconhecer para enfrentar os desafios internos e externos. Consequentemente, as ações modernizadoras empreendidas pelos docentes, TA´s e discentes dão-se de modo disperso e desarticulado de um projeto que internacionalize a UFF e a insira entre as mais reconhecidas universidades.
Esta desarticulação denuncia a existência de uma cisão, ou dissociação, entre a gestão da UFF e a nova configuração institucional. Esta cisão é decorrente do encastelamento, na reitoria, dos setores político-institucionais interessados em criar dificuldades burocráticas para vender facilidades, em troca de apoio ao seu projeto de poder. Suas práticas de gestão caracterizam-se pelas relações políticas personalistas, de balcão e de que o direito tem preço. E, ao assim proceder, corrompem as relações institucionais e acadêmicas. Para viabilizarem-se politicamente, eles tomam para si fundamentalmente o comando sobre administração orçamentária, de pessoal, de serviços e da fundação de apoio, com algumas concessões à área acadêmica. Neste contexto, as relações internas são frequentemente tensionadas e conflituosas. A modernização pretendida não consegue emergir e o arcaico insiste em se fazer atuante. Evidências desta cisão e dos tensionamentos dela decorrentes manifestam-se nas diferentes dimensões institucionais.
Se considerarmos que o processo educativo está nas salas de aula, no modo de lidar com os problemas internos, nos exemplos dados nos espaços decisórios, cabe perguntar qual modelo de cidadania que praticamos e oferecemos aos estudantes? Se a UFF reproduz práticas políticas onde o direito tem preço ou é um favor, então quais as transformações que produz na sociedade? Afinal, é o papel transformador da educação que está em questão.
Quando o critério para a escolha de chefias, dirigentes superiores e intermediários, é o da troca de cargos por votos e não o de mérito ou capacitação da pessoa; cabe perguntar: de que adianta um servidor se qualificar para o exercício de uma função? Como profissionalizar a gestão? Como estimular as pessoas à um melhor desempenho? Como dar mais agilidade administrativa e reduzir a burocracia, se é justamente ela que justifica os cargos e gratificações que são trocados por votos?
Esperava-se que um conjunto de medidas complementares para o fortalecimento das Unidades fosse adotado em função da extinção dos Centros, mas não o foi, pois desarticularia os esquemas de manutenção do poder. Paradoxalmente, se a extinção dos Centros, ampliou a autonomia das unidades, por outro lado aumentou a dependência em relação à reitoria. Isto porque foram repassadas às unidades muitas das atribuições dos centros sem que ocorresse a contrapartida de recursos necessários. E, assim, incharam-se as pró-reitorias com recursos drenados da área acadêmica.
No CUV, órgão máximo de deliberação, a cisão se evidencia quando tomamos como referência suas pautas de decisão e os métodos utilizados para compor maioria. Debates sobre as questões principais da Universidade raramente estão presentes. A independência do Conselho é comprometida ainda mais quando seus membros ocupam cargos na administração com as gratificações correspondentes. Ou então pela designação de diretores biônicos. Isso para não dizer do medo de retaliação que permeia a decisão sobre como votar. A composição das chapas de representação docente é mediada pelos Diretores e reflete os interesses hegemônicos. A representação da comunidade, escolhida pelo próprio CUV, tende a ser constituída por docentes ativos e até por assessores do reitor, indicada por associações comunitárias de Xiririca da Serra.  
   No CEP, prevalece a discussão sobre o varejo acadêmico e não de políticas que alavanquem a instituição do ponto de vista da qualidade institucional. Não é a toa que em recente ranking do MEC ocupamos a 43ª posição nacional e última entre as IFES do Rio de Janeiro. Nele, até pós-graduação “paraguaia” é aprovada. Na sua composição predomina os indicados pelo Reitor. Os setores acadêmicos e democráticos  são sempre minoritários. Esta configuração lhe valeu o apelido de Conselho Chapa Branca.   
A participação no REUNI destacou-se pelo autoritarismo, ataque a autonomia do Conselho, pela implantação de modo subserviente em relação às metas, ausência de um projeto acadêmico, sem planejamento consistente, com promessas para todos, precipitação no cumprimento das metas, e, hoje, defasagem de 165 milhões para realizar o previsto (o que obviamente inviabiliza o cumprimento do acordado internamente), sem que tenha ocorrido qualquer tipo de definição de prioridades. A expansão proposta orientou-se pelo volume de recursos passível de ser obtido, e em nenhum momento pelas áreas que poderiam fortalecer a instituição, apesar dos inúmeros apelos de alguns setores do CUV. Em alguns locais, a expansão foi intensificada para viabilizar o cumprimento das metas acordadas com o MEC, apesar da infra-estrutura inadequada para a atividade pedagógica. Ao assim proceder, aprofundou assimetrias entre as áreas de conhecimento. Cabe perguntar: o que esperar para a UFF no cenário pós-REUNI? Como melhorar a qualidade do ensino e da pesquisa? O que fazer com as salas de aula superlotadas, falta de funcionários, aumento da carga horária docente?
No HUAP promove-se a oposição entre ser um Hospital Escola, de referência e um Hospital Geral, como se um pudesse existir sem o outro. Modernizam-se instalações, mas reduz-se o numero de leitos e fecha-se a emergência. E, assim, desconsideram-se tanto os compromissos com a sociedade, quanto com a formação. Ignora-se a proposta de um Conselho Gestor. A escolha da Direção é tratada como troca de cargos por votos. A participação efetiva das áreas que compõem o HUAP e dos colegiados é sempre escamoteada. Assim, cabe indagar: como aprofundar a integração com o SUS?  Como ampliar os compromissos com a sociedade? Como fortalecer o caráter acadêmico do HUAP? Como humanizar o atendimento e as condições reais de trabalho?
No âmbito do financiamento institucional, a cisão também se evidencia em toda sua plenitude. A Comissão que cuida do PDI tem na sua composição uma evidente maioria administrativa. Os recursos que lhe são disponibilizados estão muito aquém dos recebidos pela UFF. O argumento é de que o reitor não quer ser uma “rainha da Inglaterra”. As complementações orçamentárias que a UFF recebe não são sequer informadas à Comissão. E 80% dos recursos são direcionados para a rúbrica despesa fixa, sem clareza do que isso significa.
A UFF é uma Universidade Pública, portanto tem o compromisso histórico de defender e privilegiar a educação gratuita em todos os níveis e de exigir os recursos necessários para atender seus compromissos sociais, bem como manifestar-se com altivez na defesa da autonomia pedagógica, administrativa e financeira. Para isso o posicionamento claro da reitoria, na defesa destes compromissos, é fundamental. Se, de fato, por conta das restrições orçamentárias e de pessoal, a UFF é obrigada a recorrer aos cursos auto-sustentáveis para atender demandas de vários setores sociais, faz-se necessário que sua adoção seja acompanhada de amplo controle social na sua proposição e execução, por meio de uma política que regule sua finalidade, natureza e oportunidade, além de oferecer bolsas sociais e qualificação para os TA’s. Mas não é isso que se observa.
Na esfera institucional, por conta da ausência de uma política clara, tratam os propositores de projetos como reféns da sua política de balcão. Foi neste contexto de ausência de políticas e mecanismos de controle social que, há doze anos, encaminhou-se no CUV um plebiscito sobre os cursos “pagos”. O caráter reducionista da decisão, que um plebiscito preconiza, exige um posicionamento, que no nosso caso alinha-se aos compromissos do ideal de Universidade Pública e da própria Constituição, mas que pode colocar a UFF na situação paradoxal de aprovar algo inconstitucional ou, então, de impedir a viabilização de demandas sociais e acadêmicas qualificadas. Mais um impasse gerado por uma reitoria incapaz de pactuar democraticamente soluções para os desafios institucionais que se apresentam.  
Recorrer à criação da FEC possibilitou facilitar o manuseio de recursos orçamentários e de projetos acadêmicos, mas sem dispor de um adequado controle social. Não entram em discussão os usos e abusos que se verificam nos projetos da própria reitoria. Trata-se dos projetos de “modernização administrativa”, promovidos por algumas pró-reitorias, verdadeiras pontes para bolsas e outros instrumentos de cooptação e clientelismo. É neles que se viabilizam os bolsalões ou a transferência de recursos públicos para a órbita privada. Se a FEC serve ao interesse público, porque insiste em afirmar sua natureza privada? Porque não é dada a transparência necessária aos seus recursos próprios (5%, aplicações financeiras dos recursos públicos, receita dos projetos por ela gerenciados). Porque a reitoria não se posiciona com altivez na defesa da autonomia financeira, administrativa e pedagógica? Porque não reivindicar para as IFES a mesma autonomia de que as Fundações dispõem?
Quando consideramos a dimensão do compromisso social, verificamos que ele se materializa nas ações de um contingente expressivo de docentes, técnico-administrativos e alunos. Mas, de novo, por conta das suas ações e do seu esforço. A gestão se interessa pelo volume de recursos á serem captados. Evidências neste sentido são inúmeras. Sublinhamos o episódio recente no qual pesquisadores respeitados realizaram diagnósticos que identificavam encostas habitadas com fortes riscos de deslizamento sob a ação de chuvas, locais onde as previsões se confirmaram e, principalmente em Morro do Bumba, em proporções trágicas. No entanto, o atual reitor lançou sombras de dúvida sobre estes estudos, desqualificando-os e, ao que parece, ofertando ao Prefeito de Niterói o ansiado alívio diante das reiteradas acusações de que vinha sendo alvo por não ter levado em conta as advertências desses especialistas. Com as sombras lançadas o Reitor atingiu frontalmente o principio da liberdade de pesquisa e da avaliação por pares. Que autoridade tem o reitor para dizer se um determinado trabalho de pesquisa está ou não de acordo com o que dele se requer? Isto deve ser objeto de discussão entre as partes e os pares (estudiosos do mesmo assunto).
Outra evidência também associada à tragédia que se abateu sobre Niterói, acima mencionada, foi o desrespeito para com as vítimas, ao inaugurar, com banda de musica e outros adereços, o serviço odontológico com banda de música e outros adereços. É este o modelo de cidadania e compromissos social que o Reitor, oferece a comunidade?
 Construir os caminhos alternativos implica em, necessariamente, promover o diálogo democrático entre os diferentes setores da UFF, na perspectiva de um projeto institucional que reflita os valores e metas que a comunidade aspira, que garanta o compromisso social da universidade, que valorize igualmente a graduação, a pós-graduação, a pesquisa e a extensão, que profissionalize os níveis intermediários de gestão e que incentive o esforço articulado entre docentes, técnico-administrativos e estudantes. Trata-se de pactuar de modo transparente e ético a reconstrução de uma universidade contemporânea, de excelência e com compromisso social.
Se quisermos de fato que a UFF seja reconhecida pela sua excelência acadêmica, e deste modo internacionalizada, impõe-se a necessidade de dotá-la de um projeto acadêmico pactuado democraticamente. Ele,  deverá priorizar a elevação dos conceitos de classificação e visibilidade social de todos os cursos de graduação e pós-graduação; reduzir as assimetrias entre as áreas; garantir para a pós-graduação e graduação os recursos de que necessitam para cumprir as metas a que se dispõem; disseminar as pós-graduações pelo interior; estimular decisivamente a integração de pesquisadores da UFF a redes internacionais de pesquisa; lutar política e juridicamente pela isonomia salarial com a UFRJ; reorientar a composição política da representação docente nos Conselhos Superiores; profissionalizar a gestão. Não podemos mais permitir que o arcaico dite os rumos do nosso futuro. Ou será que é este o nosso paradigma de gestão?

terça-feira, 27 de abril de 2010

PERGUNTAR NÃO OFENDE III

Alô Pessoal,

Embora possa parecer repetido para alguns, esse texto trata de assuntos novos. Algumas repetições são necessárias, pois novos leitores estão se incorporando a nossa saudável corrente de discussão. Certamente não tiveram tempo para acompanhar tudo o que já foi postado e pegar o fio da meada. Para os sem paciência, sugiro pular direto para as perguntas. Vale a pena, pois esse é o último texto da série PERGUNTAR NÃO OFENDE.

Perguntas impertinentes podem desafinar o coro dos contentes, mas não significam nada sem as respostas adequadas.

Como não tenho paciência para participar de debates e audiências, apresento a seguir, um conjunto de perguntas para as quais desconheço as respostas.

Continua valendo a promoção: quem me der as melhores respostas ganhará, como prêmio, um bilhete de ida e volta Rio - Niterói (barcas). No caminho, o vencedor (ou vencedora) poderá refletir sobre os mistérios da vida, aproveitando uma das vistas mais deslumbrantes do mundo, que na correria do dia-a-dia deixamos de perceber.

A impertinência, caso exista, estará na sua resposta, cidadão. Ou não.


1) No DOU Nº 123 de 01/07/2009, na página 79 da Seção 3, consta que a FEC foi contratada para “apoio e gerenciamento à organização e realização das atividades inerentes ao Projeto - A Gestão Gerencial (Sic) no Processo de Desenvolvimento da PROAC/UFF - por R$ 5.756.996,00 (cinco milhões, setecentos e cinqüenta e seis mil novecentos e noventa e seis reais). Vigência: 30/12/2008 a 31/12/2009. Aparentemente Já houve uma manifestação da PROAC, divulgada pela mala direta do NUCS, buscando justificar esta movimentação de recursos. Parabéns pela iniciativa. Vai fazer parte do concurso e pode receber o bilhete Niterói-Rio, caso seja a melhor resposta à seguinte pergunta: O QUE FOI FEITO EXATAMENTE COM ESSE RECURSO? HOUVE PAGAMENTO DE BOLSAS? CASO A RESPOSTA SEJA AFIRMATIVA, HOUVE PAGAMENTO DE BOLSA PARA ALGUÉM QUE RECEBA GRATIFICAÇÃO POR CARGO DE DIREÇÃO (CD)?

2) No DOU Nº 238 de 14/12/2009, na página 64 DA Seção 3, consta que a FEC foi contratada para “apoio e gerenciamento do Jubileu de Ouro da UFF” por R$ 903.200,00 (novecentos e três mil e duzentos reais). Vigência: 11/12/2009 a 11/12/2010. O QUE ESTÁ SENDO FEITO EXATAMENTE COM ESSE RECURSO? HÁ PAGAMENTO DE BOLSAS? CASO A RESPOSTA SEJA AFIRMATIVA, HÁ, OU HOUVE, PAGAMENTO DE BOLSA PARA ALGUÉM QUE RECEBA GRATIFICAÇÃO POR CARGO DE DIREÇÃO (CD)?

3) No DOU Nº 178, de 17/09/2009, na página 58 da seção 3, consta que a FEC foi contratada para projeto destinado a “organização dos documentos relativos aos atos e fatos da gestão orçamentária e financeira da UFF” por R$ 982.983,95 (novecentos e oitenta e dois mil novecentos e oitenta e três reais e noventa e cinco centavos). Vigência: 01/10/2009 a 01/10/2010. O QUE ESTÁ SENDO FEITO EXATAMENTE COM ESSE RECURSO? HÁ PAGAMENTO DE BOLSAS? CASO A RESPOSTA SEJA AFIRMATIVA, HÁ, OU HOUVE, PAGAMENTO DE BOLSA PARA ALGUÉM QUE RECEBA GRATIFICAÇÃO POR CARGO DE DIREÇÃO (CD)?

4) No DOU Nº 145, de 31/07/2009, na página 88 da Seção 3, consta que a FEC foi contratada para “apoio e gerenciamento do projeto desenvolvimento das ações estratégicas e operacionais na execução do plano de expansão e reestruturação – PDI”, por R$ 755.118,00 (setecentos e cinqüenta e cinco mil cento e dezoito reais). Vigência: 29/07/2009 a 30/07/2010. O QUE ESTÁ SENDO FEITO EXATAMENTE COM ESSE RECURSO? HÁ PAGAMENTO DE BOLSAS? CASO A RESPOSTA SEJA AFIRMATIVA, HÁ, OU HOUVE, PAGAMENTO DE BOLSA PARA ALGUÉM QUE RECEBA GRATIFICAÇÃO POR CARGO DE DIREÇÃO (CD)?

5) No DOU Nº 206, de 28/10/2009, na página 89 da Seção 3, consta que uma assessora externa foi contratada pelo valor total de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais) para “prestação de Serviços de Assessoria em subsídio as equipes da UFF nas estratégias operacionais para a execução das ações estabelecidas no Plano de Expansão e Reestruturação e no Plano de Desenvolvimento Institucional da UFF”. Vigência: 17/09/2009 a 17/09/2010. Portanto, a Assessora do Reitor, que não faz parte dos quadros da UFF, está recebendo cerca de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) mensais para essa árdua tarefa. QUE TIPO DE SERVIÇO ESTA ASSESSORA ESTÁ FAZENDO EXATAMENTE? NÃO HÁ NENHUM PROFISSIONAL (OU EQUIPE DE PROFISSIONAIS) DA UFF, DA ÁREA DE GESTÃO E/OU DE ENGENHARIA, CAPAZ DE FAZER ESSE TIPO DE TRABALHO?

6) O valor pago como contrapartida pelo espaço ocupado por agências bancárias dentro dos campi da UFF aumentou muito nos últimos 3 anos, fruto de uma muito acertada estratégia de negociação. QUAL É O PLANO DE APLICAÇÃO DESSE RECURSO? HÁ PRIORIDADES? ALGUMA COISA VEM SENDO TRANSFERIDA PARA O PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DA UFF (PDI)?

7) Nem todas as atividades administrativas aparecem na página da UFF (nem todos Assessores e Coordenadores de pró-reitorias estão lá, por exemplo). Há alguns desses cargos ou funções que são pagos através da FEC (Fundação Euclides da Cunha). É fato sabido e notório que não é possível acumular gratificações de natureza administrativa, devendo-se optar pela mais alta. COMO PODERIA SER FEITO O CRUZAMENTO DE EVENTUAIS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS EXPLICITADAS NA FOLHA DE PAGAMENTO (COORDENADORIAS DE CURSOS E/OU DE PRÓ-REITORIAS, CHEFIAS, ETC) COM AS GRATIFICAÇÕES PAGAS ATRAVÉS DE BOLSA DA FEC?

8) Burocracia é um dos instrumentos mais eficientes para o exercício do autoritarismo. Os excessos burocráticos intimidam e permitem um “controle” muito maior do que a brutalidade e violência. Na UFF os excessos burocráticos são evidentes, sejam eles involuntários ou não. Diretores de Unidade, Chefes de Departamento, Coordenadores de projetos de pesquisa, Coordenadores de cursos (pagos ou não) são obrigados a desafiar um cipoal de procedimentos injustificáveis e, quase sempre, incompreensíveis para ter qualquer iniciativa aprovada. O resultado é uma enorme insegurança quanto ao cumprimento de prazos e até mesmo quanto a legalidade do que está se fazendo. Beijar mãos e ceder apoios políticos é, para alguns, o caminho mais fácil para abrir caminhos e ter projetos aprovados. QUEM GANHA COM ESTES EXCESSOS BUROCRÁTICOS. COMO REDUZIR A BUROCRACIA NA UNIVERSIDADE?

9) Há mais de dois anos foi criada no CEP uma comissão para rever e reformar o Regulamento dos Programas e Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Federal Fluminense. Essa Comissão elaborou um anteprojeto que previa uma aumento no grau de controle acadêmico, mas reduzindo os trâmites burocráticos para criação e renovação de cursos meritórios. ONDE ESTÁ ESSE ANTEPROJETO? QUANDO ELE SERÁ SUBMETIDO À DISCUSSÃO PUBLICA E SUBMETIDO À PLENÁRIA DO CEP?

10) No Plano de Desenvolvimento institucional da UFF estabeleceu-se a meta de, no máximo, 5% das vagas de concurso para as classes de Assistente e Auxiliar (o resto deveria ser para a classe de Adjunto). Estabeleceu-se, também, um limite para a contratação de professores no regime de 20 horas semanais. QUAL A PERCENTAGEM DE CONCURSOS REALIZADOS NA UFF PARA AS CLASSES DE ASSISTENTE E AUXILIAR NOS ÚLTIMOS 3 ANOS? QUAL FOI A LEGISLAÇÃO DA UFF, APOIADA PELA PROAC, QUE PERMITIU TRANSFORMAR A PONTUAÇÃO DOS PROFESSORES SUBSTITUTOS NO BANCO DE DOCENTES DA UFF EM CONTRATAÇÕES EFETIVAS? QUANTOS PROFESSORES NO REGIME DE 20 HORAS FORAM CONTRATADOS NOS ÚLTIMOS ANOS DENTRO DESSE PROCESSO?

11) A UFF, aparentemente, cedeu para a Prefeitura de Niterói alguns milhares de metros quadrados na beira da Baía da Guanabara, no campus da Praia Vermelha. É uma faixa de terra comprida, que permitirá a duplicação da Avenida Litorânea. O muro separando essa faixa de terreno da UFF já estava em fase adiantada de construção, meio escondido atrás da cerca de arame farpado que delimita a área original do campus, quando a obra foi aparentemente interrompida. Ceder um terreno público federal para um poder municipal é tarefa difícil. COMO FOI O PROCESSO DE CONSULTA À COMUNIDADE E AOS ESPECIALISTAS EM URBANISMO? O QUE A UFF GANHOU EM TROCA? QUANDO FOI APROVADA PELO CONSELHO UNIVERSITÁRIO A CESSÃO DO TERRENO COM A CONSEQÜENTE MUDANÇA DO PLANO DIRETOR DA UFF? A OBRA PAROU OU NÃO PAROU? PAROU POR QUÊ?

12) Há diversos pólos e unidades isoladas com direções nomeadas ad referendum, boa parte, contrariando a legislação federal. QUANDO HAVERÁ CONSULTA ELEITORAL PARA AS DIREÇÕES DOS PÓLOS (E TAMBÉM PARA AS UNIDADES ISOLADAS)?

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Já comentei em outras mensagens sobre os anjos tortos - o de Drummond e o de Torquato – um aconselhando a ser “gauche na vida”, outro, “entre um sorriso de dentes, a desafinar o coro dos contentes''. Informei também que, como Drummond e Torquato, sempre tive a companhia de um anjo torto. Meu anjo torto não sorri como o anjo de Torquato - e não está para brincadeiras.

Numa noite, em 1991, acordei e pintei o seu rosto em menos de dois minutos. É o único dos meus quadros que eu deixo sobre a minha cabeceira. Foi o único, até hoje, que a minha filha não perguntou o que (ou quem) era, o que significava ou porque eu o tinha feito. Ele simplesmente estava lá e fazia companhia ao pai.

Meu anjo torto se comunica comigo e faz provocações. No limite, nunca sei se estou tendo alguma visão premonitória do futuro, fruto de sua proximidade comigo, ou se, simplesmente, analisei processos em andamento, intuí tendências e, correndo riscos, fiz previsões fingindo poder ler a mão do Destino, como no caso do recente texto “Águas de Março”.

Águas também correrão em maio, afirmo. Como em março, muita lama, novamente. Teremos novas surpresas e emoções. Nesse caso, mais comédia do que tragédia. Esperem e confiem.


Saudações acadêmicas
Heraldo

MOÇÃO DE DESAGRAVO

Os docentes, técnico-administrati vos e estudantes, que subscrevem esta NOTA, e todos os que quiserem fazê-lo, vêm à público desagravar os pesquisadores da UFF, especialmente os Profs. Elson Antonio do Nascimento e Regina Bienenstein, que recentemente tiveram os resultados dos trabalhos de diagnóstico que identificavam encostas habitadas com fortes riscos de deslizamento sob a ação de chuvas, em Niterói, desqualificados junto à imprensa pelo Magnífico Reitor da UFF Prof. Roberto de Souza Salles.  

Para estes signatários causou perplexidade a manifestação de desapreço com que o Reitor se referiu aos estudos realizados por diferentes especialistas da UFF apontando os riscos que foram dramaticamente confirmados em Niterói por ocasião das chuvas torrenciais que atingiram a região.


É do conhecimento geral que, em momentos distintos, docentes e técnicos do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (NEPHU), do Instituto de Geociências e da Escola de Engenharia da UFF encaminharam à Prefeitura de Niterói, diagnósticos que identificavam encostas habitadas com fortes riscos de deslizamento sob a ação de chuvas, dentre as quais o Morro do Bumba, Morro do Estado, Beltrão, Vital Brazil, Estrada Fróes e Juca Branco, locais onde as previsões se confirmaram e, principalmente em Morro do Bumba, em proporções trágicas.

No entanto, o Prof. Roberto Salles, magnífico reitor, lançou sombras de dúvida sobre estes estudos, desqualificando- os e, ao que parece, ofertando ao Prefeito de Niterói o ansiado alívio diante das reiteradas acusações de que vinha sendo alvo por não ter levado em conta as advertências daqueles especialistas.

Não nos cabe, enquanto Universidade, julgar as posturas da Prefeitura de Niterói e sim reiterar a importância da participação científica e técnica da UFF neste sofrido episódio. Uma das finalidades precípuas de uma instituição universitária pública é contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade que a mantém e fazê-lo inclusive por meio de análises, levantamentos, diagnósticos e projeções baseadas estritamente nos dados da realidade, nos pressupostos teóricos consagrados e nas metodologias amplamente reconhecidas pelas respectivas comunidades de saber.

Esta atitude permite que a busca do conhecimento se faça do modo mais independente possível, livre das pressões inevitáveis que interesses, paixões e preferências particulares, legítimos ou não, tendem a exercer principalmente sobre investigações que possam comprometer os agentes de tais interesses, paixões e preferências. Esta é uma das justificativas fundamentais da autonomia universitária, isto é, não o isolamento em berço esplêndido para se auto-contemplar, mas o reconhecimento original da liberdade indispensável para exercer o conhecimento.

O conhecimento jamais é definitivo, unilateral ou inquestionável. Aliás, sua própria gestação só se faz em ambiente crítico, a tal ponto que o pesquisador deve ser aquele mais desejoso de ter seus métodos e conclusões reexaminados por seus pares. Por isto, tem escassa valia a refutação feita como ato de poder pois detritos, gases, rochas, poeira e lama agem com desenvoltura, respeitando tão somente chuvas, combustões e a gravidade, alheias às arrogâncias dos eventuais ocupantes de fatias de comando. Os mares talvez tenham rido quando Xerxes os açoitou como castigo da tempestade que fez soçobrar a frota de invasão da Grécia.

Até o momento pensávamos que esta compreensão fosse consensual em toda a UFF, mas este triste episódio parece nos advertir que ainda tem fôlego posturas que pretendem submeter a isenção e o rigor do conhecimento às demandas facciosas e demasiado circunstanciais, em troca de benefícios localizados ou fantasiosos.

O que aconteceu é exemplar, pois o mero fato de especialistas da UFF terem se voltado para uma questão pública e obedecido aos requisitos de suas áreas de competência foi o bastante para que nosso Município dispusesse com folgada antecedência da identificação das áreas de risco. É isto que devemos enfatizar, pois evidencia o quanto é decisiva esta contribuição científica e técnica da Universidade —desde, porém, que seu desempenho tenha como referência dominante a verdade acessível ao conhecimento.

Hoje talvez estivéssemos comemorando a eficácia de medidas preventivas e não lamentado tantas perdas irrecuperáveis. Contudo, no âmbito da UFF mostra-se como urgente proclamar e aprofundar o pensamento e a prática dessa autonomia fundada no conhecimento e na consciência cidadã, sem o que estaremos vulneráveis irremediavelmente aos leilões de idéias e aos loteamentos das convicções e cada vez menos capazes de autenticamente nos apresentarmos aos alunos presentes e futuros.

Niterói, 28 de abril de 2010


Alexandre J, da Silva (Professor Associado do Departamento de Engenharia Mecânica do Pólo Universitário de Volta Redonda);
Ana Maria Motta Ribeiro (Professora Adjunto do Departamento de Sociologia);
André Luiz Martins Barreto (Estudante do Curso de Filosofia);
Bruno Campos Pedrosa (Professor Associado da Escola de Engenharia e Chefe do TDT);
Carlos Gabriel Guimarães (Professor Associado do Departamento de História);
Cristina Pinheiro Mendonça (Profa. Adjunto Faculdade de Nutrição);
Dalton Garcia de Mattos Junior (Professor Associado da Faculdade de Veterinária);
Daniel Vieira Nunes (CUV Bancada Estudantil);
Emmanuel Paiva de Andrade (Vice-Reitor);
Florence Cordeiro de Faria (Professora Adjunto do Instituto de Química);
Francisco de A. Palharini (Professor Associado do Departamento de Psicologia e Diretor do ICHF);
Heraldo da Costa Mattos (Professor Titular da Escola de Engenharia);
Jefferson Fabrício Cardoso Lins (Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Metalúrgica do Pólo Universitário de Volta Redonda;
Jorge Luiz Barbosa (Professor Adjunto 4 do Departamento de Geografia);
Jose Carlos Carraro Eduardo (Prof. Associado Faculdade de Medicina)
José Henrique C. Organista (Professor Adjunto de Ciência Política, Campos)
Laís Gouveia (Estudante e 1ª Diretora de Políticas Educacionais da UNE);
Lucia Helena Vinhas Ramos (CUV Representante dos Técnico-administrativos);
Luiz Antônio Botelho de Andrade (Professor Associado do Instituto de Biologia);
Luiz Carlos Soares (Professor Titular do Departamento de História e Coordenador-Adjunto da Área de História da CAPES);
Mara Lucia de Souza Matos (Nutricionista lotada no HUAP);
Marcia Pissiali (Técnico-Administrativa lotada na PROPPI - Financeiro);
Marcos Paiva de Faria (Técnico-Administrativo, Arquiteto e Urbanista);
Mauro de Almeida Santos (Técnico-Administrativo lotado no EGM);
Maximus Taveira Santiago (Professor Adjunto da Faculdade de Medicina);
Metalúrgica e Materiais do Pólo Universitário de Volta Redonda);
Miriam de Fátima Cruz (Bibliotecária);
Renata Del Vecchio (Professora Associada do Instituto de Matemática);
Roberto Carlos Cid (Professor Associado do Instituto de Química);
Rogério de Melo Araújo (CUV Representante dos Técnico-administrativos);
Rosalina Simões Alcântara (Técnico-Administrativa);
Sávio Freire Bruno (Professor Adjunto da Faculdade de Veterinária);
Silvia V. Carvalho (Professora Associada do Departamento de Psicologia);
Théo Lobarinhas Piñero (Professor Associado do Departamento de História e Vice-Diretor do ICHF);
Luiz Valter Brand Gomes (Professor Adjunto 4 do Instituto de Computação);
Theofilo Rodrigues (Mestrando em Ciência Política e Diretor da ANPG);
Thiago Aguiar (Estudante e Conselheiro do CUV);
Thiago Rocha (Estudante e Conselheiro do CEP);
Ulisses Ferreira (Estudante e Conselheiro do CUV);
Vitor Vogel (Estudante e Conselheiro do CUV);
William Kitzinger Costa (Técnico do Laboratório de Informática do Instituto de Computação);
Yuri Saiyé (Estudante e Conselheiro do CEP);

Atividade de pesquisa na Universidade Federal da Bahia: sob ameaça?

por Caio Castilho

"Uma boa universidade pratica bom ensino e interage com a sociedade que a financia. Mas só inova quem faz pesquisa"



Caio Castilho é doutor em Física pela Universidade de Cambridge e professor do Instituto de Física da UFBA. Artigo publicado no jornal "A Tarde":

Algum tempo atrás, ilustre pesquisador da UFBA afirmava: "A atividade de pesquisa na UFBA é uma questão de foro íntimo". Uma frase estranha! Afinal, a pesquisa não é atividade essencial de uma universidade? Seria uma atividade não institucionalizada?

Quando se apresentam candidatos à reitoria, é essencial refletir sobre a situação da atividade de pesquisa na UFBA e o que podem esperar a sociedade e os pesquisadores, dos candidatos à nova gestão.

A UFBA aprovou novo regimento interno, que adota práticas ameaçadoras à atividade de pesquisa. Exemplo é o significativo aumento na carga didática para docentes de cursos de pós-graduação, com atividade regular de pesquisa, formação de mestres e doutores e iniciação científica de alunos de graduação. A carga mínima ora fixada, mais que ameaça, significa sentença de morte. E esta não é a única.

Antes da aprovação do novo regimento já houvera mudanças na estrutura da universidade que causaram e continuam causando danos a ativos e internacionalmente reconhecidos órgãos de pesquisa. São os casos do Centro de Recursos Humanos, Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher, Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia, Centro de Estudos Interdisciplinares em Energia e Ambiente, entre outros. Estes Centros/Núcleos perderam, ou poderão perder, boa parte dos meios administrativos e técnicos mínimos necessários à sua atuação.

Outra ameaça vem de recente determinação do Conselho Universitário, relativa à captação de recursos de pesquisa, que prevê o Nihil obstat de um órgão colegiado no qual uma maioria eventual pode impedir a realização de pesquisas, ainda que aprovadas por comitês específicos, constituídos de pesquisadores com mérito formal e nacionalmente reconhecido, ou mesmo por agências de financiamento vinculadas aos governos estadual e federal.

É universal o reconhecimento de que o exercício da "Liberdade Acadêmica" fica ameaçado se sujeito à mordaça de maiorias, particularmente quando elas se constituem no seio de órgãos de natureza essencialmente política.

O progresso científico, a criação, a invenção e o produzir do novo requerem o oxigênio da liberdade de pesquisa, de indivíduos e grupos, independentemente de serem apoiados por maiorias ou minorias, restringida apenas por parâmetros éticos instituídos.

Sabe-se da influência que dirigentes exercem sobre órgãos colegiados que presidem. Muitos deles não exercem atividade regular de pesquisa, nem atuam em cursos de pós-graduação. As atividades de pesquisador e de dirigente, mesmo não excludentes, não são sinônimas.

Outra ameaça diz respeito aos pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq. Esta agência concede bolsas a docentes que realizem pesquisa e que, avaliados periodicamente por seus pares, apresentem indicadores de excelência na formação de recursos humanos, bem como resultados relevantes na pesquisa básica, aplicada e/ou inovação.

Em várias unidades da UFBA, esses pesquisadores, além de não receberem qualquer reconhecimento pela contribuição agregada à instituição, são perseguidos e estigmatizados.

Uma boa universidade pratica bom ensino e interage com a sociedade que a financia. Mas só inova quem faz pesquisa. Inovação aqui num sentido amplo: o de produzir o novo, inventar, descobrir, conceber, reinventar, estabelecer modelos visando compreender o que ainda não se entende, enfim, pesquisar.

Entre as melhores universidades do mundo, aquelas que mais se notabilizam são as que apresentam excelência na pesquisa que realizam. E, porque pesquisam bem, ensinam bem e se relacionam proficuamente com a sociedade.

No momento em que a UFBA escolhe novo reitor, é, pois, relevante que os candidatos ultrapassem o vago compromisso de "defender uma universidade pública, democrática e de qualidade", e assumam propostas objetivas, concretas, claras e de natureza prática, que contemplem a atividade de pesquisa. Só a adoção de ações institucionais que favoreçam a atitude investigativa evitará que a pesquisa na UFBA continue a ser "uma questão de foro íntimo".

segunda-feira, 26 de abril de 2010

MEC poderá "rebaixar" universidades federais

Proposta que será votada em maio, com o apoio do ministério, prevê que instituições sejam avaliadas pela primeira vez

As universidades federais, pela primeira vez, terão que cumprir metas de qualidade para manterem o título ou poderão ser rebaixadas a centros universitários e ter menor autonomia para abrir cursos, por exemplo. O título de universidade dá liberdade para a instituição se expandir, mas exige dela investimentos em pesquisa como contrapartida.

As mudanças constam de resolução que será votada em maio pelo Conselho Nacional de Educação. Há consenso sobre a inclusão das federais no sistema de credenciamento e a exigência, para as atuais universidades, de manterem ao menos três programas de mestrado e um de doutorado.

No setor privado, muitas universidades ostentam esse título sem cumprir exigências em vigor, como ter 1/3 dos docentes atuando em dedicação exclusiva -45% desrespeitam essa exigência, segundo o Censo da Educação Superior 2008 (último disponível). O MEC diz que começou a cobrar essas instituições e que pode puni-las.

No caso das novas exigências da resolução que será votada pelo CNE, estudo feito pelo conselheiro Edson Nunes com base em dados da Capes (órgão do MEC) mostra que 59% das particulares e 15% das federais não se enquadrariam hoje na regra de ter ao menos um doutorado e três mestrados.

Já em relação às federais, a nova resolução quer limitar a prática de criar instituições e chamá-las de universidades sem que estejam preparadas para isso. A prática foi utilizada por vários governos. No de Lula, das 13 universidades criadas, seis hoje não cumprem a determinação de ter ao menos um doutorado e três mestrados.

A resolução faz uma diferenciação entre as universidades já existentes e as que ainda buscam obter este título. Para as novas, a exigência inicial será maior: dois doutorados e quatro mestrados. Entre as já existentes, será dado um prazo, ainda não estipulado, para se adequar a todas as normas.

As novas regras deixarão de fora as universidades estaduais, que respondem a conselhos estaduais de educação, e não ao nacional. Metade delas, segundo Nunes, hoje não estaria adequada às exigências de um doutorado e três mestrados.

Mesmo com a resolução, ainda segundo o conselheiro, continuará havendo discrepância entre as universidades no país, sem haver diferenciação das instituições intensivas em pesquisa daquelas cuja prioridade é o ensino de graduação.

Ministério não espera novas regras para agir, diz secretária

Na avaliação da secretária de Ensino Superior do Ministério da Educação, Maria Paula Dallari, o estabelecimento de parâmetros mínimos de qualidade, vinculados ao processo de credenciamento e recredenciamento das universidades, reforçará a necessidade de se investir em programas de pós-graduação, mesmo que não seja barato nem lucrativo.

Ela afirma, no entanto, que o ministério não está parado esperando as novas regras entrarem em vigor para agir. "Já pegamos a lista de todas as universidades e centros que estavam abaixo do patamar mínimo de docentes em dedicação exclusiva e os notificamos. Eles tiveram prazo para se adequar. Desde então, já expedimos 11 medidas cautelares impedindo a abertura de vagas ou cursos."

Edson Nunes, conselheiro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, que realizou um estudo sobre o cumprimento das exigências pelas universidades, foi um dos maiores defensores da inclusão das federais no processo de credenciamento.

Ele lamenta, no entanto, que a discussão sobre o que se espera das universidades tenha, em sua visão, ficado praticamente restrita ao estabelecimento de alguns indicadores mínimos.

Líderes de instituições públicas e privadas pedem mais discussão

A Andifes (entidade que reúne reitores de federais) diz que sempre foi favorável à avaliação do ensino superior, mas, segundo seu secretário-executivo, Gustavo Balduíno, é preciso considerar as diferenças com o setor privado.

"O mantenedor de uma universidade federal é o próprio governo. Antes de descredenciá-la, ele precisa prover os meios para que sejam alcançados os indicadores mínimos."

Ele argumenta também que as novas regras deixarão de fora parcela importante do setor público: as universidades estaduais. "Várias delas teriam dificuldade para alcançar os indicadores em debate."

Gabriel Mario Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Mantenedores do Ensino Superior, quer ampliar a discussão. "O que se debate é a visão clássica de um modelo de universidade em que pesquisa e extensão precisam estar associadas ao ensino."

Segundo ele, há várias universidades com vocação para formar quadros para o mercado de trabalho. "Nessas instituições, as exigências são menores, pois nem sempre o melhor professor é aquele que tem mais títulos acadêmicos."
(Antonio Góis)
(Folha de SP, 26/4)

Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=70461