domingo, 16 de maio de 2010

RENOVAÇÃO X INOVAÇÃO

Prezados colegas da UFF. Após curta campanha e portanto pouco esclarecedora estamos novamente diante de momento decisivo para os rumos de gestão de nossa Universidade.


O atual pleito  tem como pano de fundo  questões associadas a cursos pagos por empresas e auto-sustentáveis (pagos pelo cidadão) e às obras e projetos de expansão no contexto do REUNI. Tendo tido a oportunidade de participar ativamente da atual gestão quando ocupamos por 2 anos e 7 meses a Direção do Pólo Universitário de Volta Redonda,  acreditamos ter contribuído significativamente para o desenvolvimento de um projeto acadêmico e construtivo, técnica e economicamente viável. Sentimo-nos, pois, confortáveis para chamar a atenção da comunidade a refletir sobre alguns aspectos que, segundo nos parece, passaram desapercebidos ou, pelo menos, foram pouco aprofundados tanto no início do REUNI, quanto nos recentes debates e  discussões ao longo da campanha eleitoral para o cargo  de Reitor.



É inegável que, após décadas de penúria em temos de investimentos, as IFES puderam receber, por conseqüência de política adotada pelo MEC, uma apreciável quantidade de recursos humanos e financeiros. Enquanto questionável desde o início quanto a seu formato e estratégia, o REUNI deu origem a justas e pertinentes indagações da Comunidade Acadêmica em todo o País. Embora possa se dizer que ao final tenha prevalecido a autonomia das Universidades sobre seus projetos,  não se pode deixar de reconhecer que o estado de carência e demandas reprimidas ao longo de anos de nossas Universidades tiveram papel fundamental no desenrolar e desfecho dos acontecimentos, com a adesão da maioria das IFES.



Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer também um efeito paralelo, tão preocupante quanto pouco discutido. Focando-se a discussão especificamente em nossa UFF, é fácil constatar que o súbito  afluxo de recursos financeiros colocou em cheque a nossa capacidade de administrar e aplicar  tais recursos  de modo eficiente. Podemos também dizer que não raramente temos que encarar resultados contraditórios  ao ideal de que as IFES deveriam ser fonte e  depositário da excelência e do conhecimento.   Em verdade, fomos expostos a contradições na medida que, por exemplo, oferecemos cursos de Administração Pública e administramos nossa Universidade da mesma forma como há décadas atrás.  Formamos Engenheiros e Arquitetos para a sociedade brasileira e não somos capazes de produzir, contratar rapidamente nem fiscalizar projetos econômicos  e eficientes para a nossa carente infra-estrutura física. Formamos juristas e nossas licitações e contratos não raramente esbarram em incorreções ou impropriedades. Ensinamos História, Sociologia, Ciência Política, etc., e convivemos com uma política universitária  que se mostra dominada por processos personalizados e  interesses na reeleição.



Não deixa de ser também com certa perplexidade que ouvimos o discurso sobre uma Universidade inovadora e eficiente, quando essas duas características foram justamente das que mais faltaram nesses últimos anos. Tal discurso mostra-se ainda mais paradoxal quando sabe-se que os projetos mais próximos de uma conclusão, após três anos de REUNI, são justamente aqueles desenvolvidos por um Pólo que teve de contornar as dificuldades impostas por um sistema administrativo ineficiente, centralizador e engessado e que em alguns pontos nevrálgicos só funciona ou não entra em colapso graças à enorme boa vontade de alguns funcionários e gestores localizados, a quem seremos eternamente gratos. Premidos entre essa realidade e o tempo, os projetos do PUVR foram desenvolvidos e projetados e ao fim administrados e fiscalizados pelo próprio PUVR, resultando em uma velocidade maior e custos menores do que os demais projetos da Universidade. Somos melhores que os outros? Acreditamos não ser essa a resposta!



Próximo de completar 4 anos de gestão ao final de 2010 e com pouquíssimos projetos perto de uma conclusão ou mesmo efetivamente iniciados às vésperas de uma possível troca de política no Governo Federal e com algumas licitações tendo que ser repetidas, a única resposta dada pela atual Administração sobre como cobrir o já conhecido déficit de mais de R$165.000.000,00 ( cento e sessenta e cinco  milhões de reais)  entre os custos e o orçamento previstos para projetos da UFF no REUNI é no sentido que conta com mais recursos do MEC. Subitamente encontramo-nos em uma situação, onde, se falta dinheiro, nossa resposta inovadora é ir ao MEC e pedir mais!!   No entanto, após a inauguração de um dos prédios do Campus Aterrado em Volta Redonda, já em Niterói declarou o Ministro da Educação a disposição do MEC em garantir os recursos para os “bons projetos”.



Entendemos que, em que pese a boa vontade de um Ministro ao fim do mandato do Governo Federal, seria a hora e caberia indagarmos a nós mesmos o quão bons  e  acordo com quais parâmetros o são, os nossos projetos ora em construção ou por construir  na UFF, pois a resposta pode definir o seu destino!.



Se coube ao Governo Federal instituir o REUNI e fornecer os recursos, e às Unidades e Pólos da UFF formular os projetos acadêmicos, restaria então à Administração da Universidade a tarefa de sua própria re-organização e de seus órgãos técnicos  para responder com agilidade e competência compatíveis ao desafio colocado. Hoje tem-se uma gestão que relata o número de projetos, mérito das Unidades e  da Comissão do PDI, e o volume de recursos, mérito da política do MEC, mas não dá conta sobre as medidas e providências tomadas para que pudéssemos elaborá-los e concluí-los dentro dos limites de prazo e orçamentários. Com todos seus defeitos, o REUNI foi uma oportunidade que poucos administradores da UFF tiveram, mas o seu aproveitamento e resultado não estão sendo os melhores. De fato, todos os projetos estão atrasados e seus custos são mais altos do que prescreve a LDO em seu artigo 93. Os menos atrasados e mais baratos são justamente aqueles nos quais os órgãos técnicos da Administração central pouca influência tiveram  na elaboração e início de obras, quais sejam: o Campus do Aterrado, em  Volta Redonda e o prédio sobre a assim chamada “lâmina do anatômico”, projeto e estratégia de licitação também preparados pelo grupo que geriu o PUVR. Torcemos todos, obviamente, para que tudo dê certo, mas quem hoje em sã consciência pode assegurar com grande probabilidade de acertar que isso acontecerá?
A nosso ver, há tempo ainda de mudar e adotar a realização idealista e desinteressada visando o  contínuo desenvolvimento e construção de nossa Universidade como princípios. Colocamos por isso todos os resultados e experiências  positivos em termos de projeto que obtivemos em Volta Redonda ao dispor da UFF e de quem a administre, mas consideramos também que outros devam a ter a chance de contribuir para o nosso desenvolvimento.  Foram-se quatro anos e com eles a chance  para inovar. Não há razões para o continuísmo. Agora é tempo de renovar a administração da Universidade, dando-se a chance a outros que possam fazer prosperar os ideais de nossa Universidade Federal Fluminense.  Por todas essas razões,  para a reitoria apoiamos a Chapa 1.

Prof. Alexandre José da Silva, Dr.-Ing.
Associado II
(Ex-Diretor do PUVR)

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