domingo, 24 de julho de 2011

Em Niterói, aula em contêiner e quadra

Clarissa Thomé - O Estado de S.Paulo
Nos últimos cinco anos, o número de alunos matriculados na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, cresceu 52% - passou de 21.115, em 2006, para 32.097, em 2011. Mas o ritmo das construções de salas de aula não acompanhou esse aumento, escorado nas verbas do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Com obras atrasadas ou paralisadas, os estudantes assistem às aulas em locais improvisados, como contêineres e quadras esportivas.
"A universidade disponibilizou vagas antes da infraestrutura e o dinheiro não veio na mesma velocidade. Deu chabu. Algumas unidades estão estranguladas", resume o professor Francisco Palharini, conselheiro da UFF, que reconhece os "méritos da expansão", mas é crítico do crescimento sem estrutura.
Na pressa, a UFF deixou de apresentar o estudo de impacto de vizinhança da construção de 15 prédios na Boa Viagem, bairro residencial e de ruas estreitas. Sem licença, a obra foi embargada pela prefeitura e a universidade foi multada duas vezes, em R$ 75 mil no total.
A obra também é alvo de ação judicial do Conselho Comunitário da Orla da Baía de Guanabara. "Não sabemos qual será o impacto viário ou ambiental. O reitor nunca quis discutir o projeto e diz que vai apresentá-lo no momento oportuno. Quando será isso, quando for fato consumado?", indaga o vice-presidente do conselho, Carlos Augusto Valdetaro.
Segundo o aluno de Direito Lucas de Mello Braga, do Diretório Central dos Estudantes, as instalações precárias estão principalmente nos câmpus do interior. "Em Pádua, as aulas foram improvisadas numa quadra poliesportiva."
O reitor Roberto Salles defende o Reuni e afirma que os contêineres são "salas de aula climatizadas, com estrutura metálica". "Na UFF não há nenhuma obra parada", disse, em e-mail, contradizendo o último relatório da Superintendência de Engenharia e Projeto, de abril, que aponta três obras paralisadas, além de atrasos. Sobre a reforma na Escola de Arquitetura, o laudo, publicado no site da UFF, informa: "Sem atividade. Permanece inalterado o quadro de paralisação, sem previsão para o reinicio dos serviços."
Salles também diz que o Reuni permitiu a contratação de docentes. Apesar disso, a Coordenação de Graduação em Serviço Social distribuiu nota informando que não receberá matrículas para o vestibular 2012 no curso vespertino. O motivo: "Escassez de docentes e sobrecarga de trabalho."

Um comentário:

  1. Os problemas encontrados pelas IFES para conclusão de suas obras de expansão têm diversas causas, tanto de natureza externa quanto internas às próprias IFES. Talvez a análise dos problemas pudesse gerar um tratado sobre as mazelas de nosso sistema de administração pública, a acomeçar pelo nosso sistema e legislação sobre licitações. No entanto, cabe comentar que não há sistema legal ou administrativo que resista ou seja imune à mediocridade e incompetência de seus executores e gestores. No caso de IFES do porte de uma Universidade Federal Fluminense, uma das maiores do País, cabe a refletir se os projetos licitados foram os mais apropriados, com técnicas de construção moderna, de rápida execução e a baixo custo. Talvez, se procurarmos com esse critério, localizemos algumas das razões pelas quais algumas obras da expansão universitária já foram concluídas enquanto outras ameaçam virar "esqueletos" inconclusos.

    Alexandre José da Silva

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