domingo, 29 de maio de 2011
Longe da novidade
terça-feira, 3 de maio de 2011
Centros avançados
Some-se a isso um parque industrial diversificado e um pacote de incentivos, que inclui as vantagens da Lei do Bem, da Lei da Inovação e da Lei de Informática, além de linhas de investimento do BNDES, e está criado um ambiente de estímulo à inovação.
Prova disso é o número crescente de gigantes mundiais que vêm anunciando a instalação de centros de pesquisa tecnológica no país. Estão nesse grupo empresas como IBM, GE e Saab, além das chinesas Huawei e ZTE e da taiwanesa Foxconn. Outras companhias, como Dow, SAP e Whirlpool, que já contam há mais tempo com estruturas de pesquisa no país, inauguram novos centros tecnológicos brasileiros.
"No mundo contemporâneo não há ciência, tecnologia e inovação de qualidade sem centros de pesquisa e desenvolvimento de primeira linha, ancorados em empresas que atuam internacionalmente", diz Ronaldo Mota, secretário de desenvolvimento tecnológico e inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). "A vinda já em curso de um centro de P&D como o da IBM, por exemplo, nos coloca em outro nível em termos de desenvolvimento de capacidade computacional", avalia Mota. O governo atuou forte para atrair esse centro para o Brasil, que disputou a instalação com mais de dez países, diz Marcos Vinicius de Souza, diretor do departamento de fomento e inovação da Secretaria de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
O momento positivo deve ser aproveitado para acelerar o avanço tecnológico de sua pauta de exportação, propõe Ronald Dauscha, diretor de tecnologia e inovação da Siemens Brasil, que tem seis centros de tecnologia no Brasil, ligados às suas unidades de negócio. O mais recente foi inaugurado há cerca de dois anos no Rio, na área de óleo e gás. "Ainda 80% de nosso PIB é formado pelo mercado interno. Mas temos que trabalhar o quanto antes o mercado externo, porque nem sempre teremos o movimento de classe D indo para C, e de C para B", afirma.
Interessa ao governo brasileiro atrair conhecimento ao país para que isso se traduza em exportações com elevado nível tecnológico. É o caso das diversas empresas internacionais que desenvolvem tecnologia para a exploração de petróleo do pré-sal, em parceria com companhias brasileiras. "Essa tecnologia vai se tornar referência internacional", diz o secretário.
Isso já ocorre em subsidiárias brasileiras de companhias globais. Um exemplo é a nova versão das embalagens de plástico flexível para molhos e outros alimentos, capazes de ficar em pé, as 'stand up pouch', que chegarão ao consumidor em alguns meses. A novidade é que elas podem ser totalmente recicladas, já que serão feitas de um único material, o polietileno. A nova tecnologia foi desenvolvida pela Dow em seu recém inaugurado centro de desenvolvimento de aplicações de plástico de Jundiaí (SP) e está sendo exportada para suas divisões na Europa e no Pacífico.
"Queremos não somente desenvolver a matéria-prima, mas também ajudar nossos clientes, e os clientes de nossos clientes, a entender a nova tecnologia e desenvolver sua aplicação", diz Carlos Costa, líder da companhia para América Latina na área plásticos.
Para Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), estender a inovação para a cadeia produtiva tornas as empresas mais competitivas. Esse será o tema deste ano da conferência anual da entidade, que reúne cerca de 200 empresas instaladas no País. "Quanto mais inovação houver nos fornecedores e clientes, mais competitiva a cadeia e suas empresas. No final, ganha o país", diz Calmanovici.
Poucos sabem, mas também o purificador de água Brastemp, o refrigerador Consul Facilite, o primeiro frost free de uma porta do mundo e a minilavadora Eggo, em formato de ovo e com capacidade de um quilo, para lavagem de pequenas peças e roupa infantil, foram desenvolvidos no Brasil. Eles fazem parte de uma lista de onze produtos criados recentemente por pesquisadores brasileiros nos quatro centros de tecnologia da Whirlpool no País. Sua tecnologia também é exportada para outros países. "Nos orgulhamos muito do capital intelectual desses centros. Além de garantir a liderança de nossas marcas no País, eles geraram muitas patentes para a companhia", diz Mario Fioretti, gerente geral de inovação e design para a América Latina da Whirlpool.
"Há coisas que se fazem no Brasil e que são inovadoras globalmente", destaca o argentino Humberto Vieites, diretor de ecossistemas e canais da SAP Brasil. A capacidade de inovação do país foi um dos pontos que pesaram na decisão da líder mundial em software de negócios para instalar em São Paulo, em outubro do ano passado, um de seus cinco laboratórios de coinovação do mundo, com investimentos de cerca R$ 1 milhão. Neste mês, a empresa vai lançar a primeira solução desenvolvida nesse centro com parceiro brasileiro.
Mas o País ainda tem um caminho de esforços pela frente. O principal é quanto à formação de pessoas, especialmente nas áreas tecnológicas e de engenharia. Em TI, o déficit de profissionais deve chegar a quase 92 mil pessoas neste ano, segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). "O que está vindo para o País é o investimento atraído pelo mercado. O Brasil ainda não é forte em P&D atraído pela tecnologia, em que o que interessa é o cérebro, os engenheiros e cientistas", diz Sergio Queiroz, professor do departamento de política científica e tecnológica da Unicamp.
Para mais informações acesse o caderno Especial Inovação:http://www.valoronline.com.br.
(Valor Econômico)
terça-feira, 19 de abril de 2011
Os novos cursos de graduação
domingo, 17 de abril de 2011
Gastos privados com Educação
Diante da péssima qualidade da educação pública brasileira, muitas famílias acabam gastando uma parcela significativa da sua renda com educação privada. Uma pesquisa recente do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper calculou pela primeira vez o total de gastos privados com educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), utilizando dados das pesquisas de orçamentos familiares (POF) do IBGE. O valor gasto pelas famílias brasileiras com educação atingiu 1,3% do PIB em 2009. Isso é muito ou pouco?
O gráfico compara os gastos públicos e privados com educação em vários países. Podemos verificar que os gastos do Brasil (tanto públicos como privados) estão um pouco acima da média da OCDE. Em termos de gastos públicos, o Brasil gasta mais do que Chile, Alemanha e Coreia e menos do que os Estados Unidos e a Islândia. Vale notar que as estatísticas brasileiras não incluem os gastos com aposentadoria dos professores das redes públicas de ensino, ao contrário do que ocorre na maioria dos países da OCDE. Em termos privados, o Brasil gasta mais do que México e Portugal, mas menos do que Coreia do Sul e os Estados Unidos.
O total gasto pelas famílias com educação em cada país depende de uma série de fatores. O primeiro deles é a qualidade da educação pública. Quanto maior é o aprendizado dos alunos nas escolas públicas, menor é a probabilidade de que as famílias queiram gastar sua renda com educação privada. Além disso, o montante gasto depende da importância do aprendizado para o acesso às melhores faculdades de cada país. No Brasil, por exemplo, o acesso ocorre por meio de vestibulares concorridos. Assim, muitas famílias prefeririam colocar seus filhos nas melhores escolas privadas, mesmo que as escolas públicas fossem boas, para aumentar a chance de ingresso. Comparam custo e benefício. O mesmo ocorre na Coreia, na China e no Vietnam, onde a educação é verdadeira obsessão nacional.
País gastou em 2009 cerca R$ 15 mil por aluno do ensino superior, e só R$ 3 mil por aluno no ensino básico
Além disso, o estágio de desenvolvimento do país conta muito. Nos países mais ricos, como os Estados Unidos, as famílias já dispõem de renda suficiente para gastar com educação, sem que isso prejudique outros gastos essenciais com saúde, habitação e alimentação. No Brasil, apenas uma parte das famílias está nessa situação, embora 33% delas tenham gasto algum montante com educação em 2009. Nesse caso, é a falta de alternativas que conta. Por fim, devemos levar em conta as diferenças institucionais entre os países. No Chile, por exemplo, há um sistema de "vouchers" em que as famílias podem matricular seus filhos em escolas privadas sem gastar recursos próprios, pois quem paga é o governo. No Brasil, gastos de até R$ 2.710,00 por ano são dedutíveis do Imposto de Renda.
Os dados nos permitem analisar também como são aplicados os gastos das famílias. Como esperado, a maior parte dos recursos é gasta com mensalidades de cursos regulares do ensino básico (30%) e superior (35%). Além disso, entre 2003 e 2009 os gastos com pós-graduação dobraram (de 3% para 6% dos gastos totais), acompanhando a valorização do mestrado pelo mercado. Os gastos com cursinhos para vestibular são significativos, enquanto os gastos com professores particulares ainda são pequenos. Os brasileiros gastaram quase R$ 2 bilhões com livros didáticos em 2009, ou seja, quase R$ 10 por habitante por ano. O gasto com o aprendizado de línguas estrangeiras, para complementar o que é oferecido nas escolas, foi de cerca de R$ 1,8 bilhão.
Vale notar que o gasto público, atualmente em 5,1% do PIB, é muito mal distribuído. Gastamos em 2009 cerca R$ 15 mil por ano por aluno do ensino superior, mas apenas R$ 3 mil por aluno no ensino básico. Dessa forma, o país teria muito a ganhar se os gastos públicos fossem redirecionados do ensino superior para o ensino básico, especialmente para o infantil. Na verdade, isso já vem ocorrendo, pois a razão entre os gastos públicos por aluno do ensino superior e básico, que era 11 em 2000, declinou para 5,2 em 2009. Política educacional na direção correta.
Em suma, para a classe média voltar para a escola pública, é preciso melhorar dramaticamente a qualidade do ensino nessa rede. Para que isso aconteça, antes de aumentar ainda mais os gastos públicos, é necessário melhorar a gestão do sistema público de ensino e distribuir melhor os recursos existentes.
*Professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, professor associado da FEA-USP e escreve mensalmente às sextas-feiras.
Fonte: Jornal da Ciência - (Valor Econômico)