quinta-feira, 23 de junho de 2011

CNPq discute a formação de Engenheiros para o Brasil

Para ampliar o debate acerca das necessidades brasileiras de formação e qualificação de profissionais nas áreas das Engenharias, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) promoveu hoje (22), a palestra “Contexto e Dimensionamento da Formação de Pessoal Técnico-Científico e de Engenheiros”, proferida pelo técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Paulo A. Meyer M. Nascimento.
 
A abertura foi realizada pelo diretor de Engenharias, Ciências Exatas e Humanas e Sociais do CNPq, Guilherme Sales Soares de Azevedo Melo, que destacou a relevância do tema. “Esse assunto é muito importante, pois o país precisa de engenheiros. Temos que motivá-los a permanecer nas Engenharias”, afirmou.
Nascimento traçou um panorama sobre o cenário atual e projetado da formação, ingressos e egressos, dos cursos de engenharia, bem como da demanda por parte do setor produtivo. “O Brasil forma proporcionalmente menos engenheiros que outros países, mas isso não quer dizer que esse número não seja suficiente”.
As vagas para as Engenharias dentro das instituições de ensino estão crescendo proporcionalmente mais que as outras áreas. Apesar da maior demanda pelas Universidades públicas, as matrículas no setor privado são as que mais crescem. Quanto à qualidade, constatou-se que dentre as instituições com conceito 4 ou 5 no Enade, 85,3% eram universidades públicas, em 2005, número que caiu para 73,7%, em 2008. “Podemos inferir que a formação das Engenharias é qualitativamente melhor no ensino público do que no privado”, pontuou.

Engenheiros no futuro
O forte crescimento econômico do Brasil poderá ampliar a demanda por engenheiros, o que poderá ocasionar cinco tipos de escassez: a quantitativa refere-se a uma oferta de engenheiros menor que a demanda; a qualitativa que consiste na formação inadequada para as funções demandadas; de áreas específicas como, por exemplo, a engenharia naval; regional ocasionada pelo aumento da industrialização em novas regiões; e de experiência que poderá ocorrer pela falta de profissionais com experiência nas áreas desejadas.
 
Para Nascimento, existem ajustes em curto e longo prazo que poderão remediar o problema . “Para efeitos imediatos podemos aumentar os salários, o que irá atrair os profissionais que estão em outras áreas, reter profissionais em vias de se aposentar e flexibilizar vistos de trabalho para estrangeiros”, ressaltou.
Segundo o pesquisador, para efeitos futuros é necessário ampliar a oferta de vagas via sistema educacional, atraindo e retendo talentos, garantir a qualidade da formação e promover uma formação básica de qualidade que permita que os jovens cheguem aptos a cursar a graduação.
Nascimento destacou ainda que parte do problema da falta de engenheiros pode ser atribuída a uma percepção do setor produtivo de que está faltando mão-de-obra com experiência. Pois a maior quantidade de engenheiros está concentrada no início ou final da carreira. “O mercado quer um profissional com experiência, caso contrario terá que investir em formação, mas que ainda não atingiu o topo da carreira, quando recebe um salário elevado”.
Nascimento lembrou ainda que as décadas de 1980 e 1990 foram difíceis para a Engenharia e que parte desse crescimento é na verdade uma recuperação. “Nesse sentido é preciso ter cautela, precisamos pensar se primeiro formamos engenheiros para transformar a estrutura produtiva, ou se esperamos essa transformação para formar mais engenheiros”, concluiu.


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Assessoria de Comunicação Social do CNPqcomunicacao@cnpq.br 
(61) 3211-9414

Fotos: Marcelo Moreira Gondim

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Profissionais trocam a academia pelos laboratórios de empresas

Dificuldade de escolas em absorver mestres e doutores motiva graduados a migrar para a iniciativa privada.
O farmacêutico bioquímico Fernando Amaral passou as primeiras três décadas de sua vida no meio acadêmico. Emendou uma bolsa de mestrado após a graduação e depois concluiu o doutorado em biologia molecular. Com o diploma na mão, há dois anos e meio, optou por partir para a iniciativa privada. O motivo, explica ele, é um só: com o aumento da quantidade de graduados, as universidades não têm mais como acomodar todos esses profissionais. É nesse vácuo que entram empresas como a americana Life Technologies, que usa mão de obra especializada para prestar assistência técnica aos laboratórios e pesquisadores que utilizam os princípios ativos que comercializa.

Amaral, hoje supervisor de suporte científico na companhia, afirma que a mudança da pesquisa em universidade para uma multinacional exige outro ritmo de trabalho: "O processo é rápido e é necessário levar em conta o lado comercial. Trabalhamos com mais temas e de forma menos especializada. Mesmo assim, a função é de disseminação de conhecimento."

De acordo com Patricia Munerato, que coordena a equipe de assistência científica da Life, a maior parte dos mestres e doutores que trocam o setor público por empresas privadas consegue um aumento de salário. "É muito comum, na academia, o acadêmico viver de bolsa. E a maior bolsa disponível hoje é a de pós-doutorado, que é de R$ 5 mil.

"Esse é o salário inicial que pagamos atualmente, sem contar os benefícios oferecidos pela empresa", diz Patrícia, PhD em doenças infecciosas. "Hoje, nossa equipe de suporte científico tem 20 pessoas, sendo 70% com doutorado e 30% com mestrado."

Descoberta - O número de empresas com uma quantidade considerável de mestres e doutores não é maior, segundo o consultor Valter Pieracciani, porque muitas empresas ainda não descobriram a própria vocação inovadora. Às vezes, diz ele, os projetos de tecnologia e processo existem, mas não são organizados em uma estrutura organizada. "É uma característica do Brasil: há muita produção de documentos científicos dentro das universidades, mas muito pouco disso é aproveitado pela indústria."

Para o especialista, é essencial que a academia e a indústria se aproximem. "É algo que aconteceu há 25 anos na Coreia do Sul, com bons resultados. É um país do tamanho do estado de Pernambuco, que produz carros vendidos para o mundo todo", diz. Tendo isso em mente, Pieracciani promove eventos como o TechDay, em que professores universitários apresentam suas pesquisas a empresas, que são encorajadas a dar um norte prático às ideias. "É uma forma de gerar uma interação entre a ciência e o mundo dos negócios."

A dificuldade em lidar com a inovação está em companhias de diversos portes, diz Pieracciani. Entre os clientes do consultor está a Universal, empresa de tecidos que criou um pequeno departamento de inovação há dois anos - trata-se de um grupo formado por um gerente e dois funcionários, mas que já motivou a companhia a criar produtos a partir de garrafas pet e restos de fibras, por exemplo. Já a empreiteira Andrade Gutierrez, por exemplo, só recentemente começou a reunir as inovações implantadas em seus canteiros de obra. "Criamos uma ferramenta para reter e catalogar o conhecimento gerado nas obras e repassá-lo para toda a empresa", explica Érico da Gama Torres, diretor de qualidade e sistemas da empresa.

Essa iniciativa, diz Torres, é uma forma de economizar horas de trabalho do corpo de engenheiros da companhia e também de consultorias contratadas para solucionar problemas em contratos específicos.

O papel dos engenheiros na inovação - Uma das ferramentas para fomentar a inovação no País, de acordo com a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), é o aumento da formação de engenheiros. Segundo Guilherme Marco de Lima, vice-presidente da entidade, hoje cerca de 5% dos graduados no Brasil saem das escolas de engenharia. Na China, o porcentual é de 40%.

A formação de engenheiros é importante para expandir a inovação no setor privado, afirma Lima, pois esses profissionais são de grande interesse para as empresas inovadoras. Além disso, os programas de subvenção para contratação de mestres e doutores - em que as companhias recebem ajuda de custo do CNPq ao contratar mestres e doutores - se limitam às pequenas e médias empresas. Segundo o consultor Valter Pieracciani, as empresas que poderiam recebera ajuda oficial, que garante o pagamento de 50% do salário de mestres e doutores por até dois anos, desconhecem o benefício. "Existe a burocracia do processo, mas se trata de uma oportunidade considerável."
(O Estado de São Paulo)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A inovação necessita de novas ideias

Editorial da revista Science, de 25/5 (vol. 332), escrito por Alan I. Leshner, diretor executivo da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) e editor executivo da Science.

Ciência, tecnologia e inovação (CT&I) são motores essenciais do crescimento econômico e do bem-estar nacional. Daí que investir na CT&I tornou-se fonte de esperança para muitos países, tanto ricos como pobres.

Mas a inovação requer a busca de novas ideias, e as atividades de ciência e a tecnologia (C&T) podem não estar bem estruturadas nos Estados Unidos (EUA) e em outros países para atrair, reconhecer e explorar novas ideias. É preciso reexaminar algumas antigas tradições e modos de operar, a fim de garantir a otimização do sistema como motor para levar avante os objetivos da sociedade.

A revisão por pares é amplamente reconhecida como o melhor sistema para escolher os projetos de pesquisa a serem financiados e decidir sobre os artigos a serem publicados.

Mas a revisão pelos pares pode ser um tanto conservadora, sobretudo quando o apoio financeiro disponível é limitado, fazendo com que se apoiem os projetos "mais seguros" e não os de maior risco, baseados em escassas provas piloto.

Nos EUA pelo menos, como aponta a Direção Nacional de Ciência, em 2007¹, não tem dado bons resultados o esforço de exortar pareceristas e agências de fomento a ampliarem o apoio a pesquisas de alto risco e potencialmente mais rentáveis ou transformadoras, capazes de revolucionar uma área do conhecimento.

São necessários mais programas como o Prêmio Pioneiro dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA [National Institutes of Health (NIH) Pioneer Awards) e o ARPA-E do Departamento de Energia dos EUA, que reservam recursos para apoiar pesquisas inovadoras que abram novas fronteiras. Os projetos são analisados por comitês incumbidos de avaliar seu potencial transformador, ao lado de sua qualidade geral.

Os centros de pesquisa que trabalham com pesquisas de alto risco poderão ter que repensar prazos de avaliação e critérios para julgar e recompensar desempenho.

Programas de pesquisa transformadora podem demorar mais para atingir seus objetivos do que programas de incremento concebidos de modo mais linear; a pesquisa transformadora pode ter muitos inícios falsos e, assim, reduzir a taxa de publicação.

Esse fator também deve ser considerado pelas agências de fomento, que podem, igualmente, ter que repensar seus critérios de apoio e de avaliação do progresso.

A inovação também será beneficiada tanto pelo aumento do número de jovens cientistas quanto pela diversidade das equipes de pesquisadores.

Um dos melhores argumentos para se defender mais apoio aos jovens pesquisadores é que os cientistas deveriam ser estimulados a desenvolver suas ideias mais criativas, que surgem mais cedo em suas carreiras, como muitas pessoas creem.

É preciso haver mais programas como o Apoio ao Pesquisador Independente Iniciante do Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Council's Starting Independent Researcher Gransts), o Prêmio Jovem Inovador dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH's New Innovator Awards) e o Financiamento à Carreira dado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA (National Science Foundation's Carrer grants).

Além disso, a inovação surge muitas vezes do pensamento não-tradicional. E muitas ideias novas virão de novos pesquisadores das áreas de ciências e engenharias, frequentemente menos presos a estruturas tradicionais.

São argumentos a favor do aumento da diversidade no universo de pesquisadores, acrescentando-se a ele mais mulheres, minorias, cientistas com deficiências físicas, bem como pesquisadores de instituições menores e menos conhecidas.

Os benefícios da crescente diversidade para fomentar a inovação e o êxito econômico também têm sido discutidos em vários âmbitos.² Tanto os centros de pesquisa como as agências de fomento precisam dar mais atenção a essas fontes de novas ideias e, neste sentido, podem ter que refinar seus sistemas de recrutamento, incentivo e financiamento.

Será difícil promover tais ajustes sistêmicos na C&T de grande desempenho e nas agências de fomento, sobretudo ante os graves cortes orçamentários que ameaçam programas de pesquisa em curso em muitas partes do mundo.

Para efetuar tais mudanças, os escalões mais altos das instituições de C&T terão que revelar liderança e coragem. Mas, se a comunidade de C&T seguir disposta a cumprir sua parte na promessa que levou à crença de que ciência, tecnologia e inovação serão a fonte de bem-estar futuro, as mudanças terão de ser feitas. (Tradução de José Monserrat Filho)

1) Ver <www.nsf.gov/nsb/documents/2007/tr_report.pdf>

2) S. E. Page, The Difference: How the Power of Diversity Creates Better Groups, Firms, Schools and Societies (Princeton Univ. Press, Princeton, NJ, 2007).

domingo, 29 de maio de 2011

Longe da novidade





Coluna da jornalista Miriam Leitão no O Globo de 27 de maio de 2011.

As empresas do Brasil investem pouco em tecnologia e inovação, menos que o governo, que também investe pouco em ciência e tecnologia. Qualquer comparação internacional mostra que em outros países as empresas investem mais em inovação porque receberão em troca algo concreto: produtos que podem dar a elas muito lucro e dianteira na disputa com competidores.
Em relação ao PIB, nossos investimentos no setor são os mais baixos entre as maiores economias. Esse é um dos inúmeros gargalos que o Brasil enfrenta. São investimentos em pesquisa, ciência e inovação que farão o país gerar conhecimento, criar produtos, serviços e técnicas novas de produção para conquistar a longo prazo mais espaço no comércio internacional. Ciência e tecnologia são coisas diferentes, como explica Roberto Nicolsky, da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec): - São conceitos confundidos. Ciência é busca por conhecimento novo, é a fronteira do saber. Tecnologia, ou inovação, é usar conhecimento que já existe, científico ou não, e adaptá-lo à produção.
Perdemos nos dois campos. Em relação ao PIB, estamos investindo menos que outros países tanto em ciência quanto em pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D). De acordo com dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, os gastos com P&D fecharam 2009 em 1,19% do PIB. Muito menos que Coreia do Sul, por exemplo, que investiu 3,36%; Cingapura, 2,61%; e Austrália, 2,21%.
As empresas lideram investimentos em pesquisa e desenvolvimento em países de ponta. No Japão, elas foram responsáveis por 2,69% do investimento em relação ao PIB, enquanto o setor público ficou com 0,54%. Na Coreia, a relação foi de 2,45% para 0,54%. No Brasil, as empresas gastaram 0,55% e o governo, 0,61% do PIB.
Num programa que fiz esta semana no Espaço Aberto, Nicolsky defendeu que as empresas sejam subsidiadas para investir em P&D. Mas há quem considere que falta às empresas brasileiras cultura de pesquisa e inovação.
- As empresas não têm ainda esta cultura. Estão atoladas em impostos, juros altos e têm aversão a investimento de risco. Há também a forma como elas se desenvolveram, com importação de bens de capital e tecnologia. Importa-se bens de capital e com treinamento a produtividade cresce - explicou o presidente do CNPq, Glaucius Oliva.
Nicolsky acha que o País investe muito em ciência e pouco em inovação. Acredita que estamos 40 anos atrasado. Defende que o Brasil está com déficit de US$84 bi em produtos e serviços que envolvem tecnologia. Outros fazem contas bem menores, mas em todas há déficit. Ele defende que gastos com ciência fiquem com as universidades, enquanto as empresas se concentrem em P&D: - O governo arrecada R$3 bi por ano das empresas mas repassa 82% para ciência e 18% para P&D. Crescemos muito na publicação de teses mas continuamos fracos no registro de patentes.
Pode até ser, mas um aluno de mestrado no país recebe R$1.200 de bolsa do CNPq, pouco mais de dois salários-mínimos, enquanto o de doutorado ganha R$1.800. Glaucius Oliva, presidente do CNPq, justifica o valor: - Temos sempre que optar entre crescer o valor da bolsa ou aumentar o número de bolsistas. Em 10 anos, o número de bolsistas saiu de 14 mil para 70 mil.
A maior parte do investimento empresarial em ciência e inovação no Brasil é feita pela Petrobras. Por ano, a empresa gasta R$1,45 bilhão em ciência e tecnologia, mantendo o maior centro de pesquisa da América Latina, o Cenpes.
- Nossa visão é que ciência e tecnologia são complementares. O foco é inovação, mas se o conhecimento não é suficiente é preciso ir à ciência. Temos parceria com universidades, com orçamento de R$400 milhões, para estudos na nossa área - disse Carlos Tadeu Fraga, gerente-executivo do Cenpes.
A Vale também investe pesado e tem projeto de R$ 900 milhões para construir o Instituto Tecnológico Vale (ITV). O diretor-presidente do ITV, Luis Mello, diz que uma das dificuldades na área é conseguir aproximar os universos científico e empresarial: -De uma forma geral, a visão do empresário é que o cientista tem pouca noção de custos e prazos. Já a universidade acha que as empresas têm visão limitada e imediatista. Mas as barreiras estão sendo quebradas.
Luis Edmundo Aires, vice-presidente de tecnologia e inovação da Braskem, diz que as mudanças econômicas dos últimos 20 anos estão forçando as empresas a ampliar investimentos na área: - A estabilização trouxe o planejamento de longo prazo. A abertura comercial faz as empresas investirem em inovação para se diferenciar dos concorrentes externos.
O setor de cosméticos investe porque precisa desenvolver princípios ativos próprios para se diferenciar. Alessandro Mendes, diretor de desenvolvimento de produtos da Natura, que investiu R$140 milhões na área em 2010, cita outro motivo para explicar o atraso do Brasil: - A inovação geralmente é feita na matriz. Então quando filiais vêm ao Brasil, elas não trazem essa produção, recebem de fora a informação.
Seja qual for o motivo, o fato é: o Brasil está atrasado.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Centros avançados

Estabilidade econômica e política, um forte mercado interno e recursos humanos qualificados colocaram o Brasil na rota internacional dos investimentos empresariais em pesquisa e desenvolvimento.

Some-se a isso um parque industrial diversificado e um pacote de incentivos, que inclui as vantagens da Lei do Bem, da Lei da Inovação e da Lei de Informática, além de linhas de investimento do BNDES, e está criado um ambiente de estímulo à inovação.

Prova disso é o número crescente de gigantes mundiais que vêm anunciando a instalação de centros de pesquisa tecnológica no país. Estão nesse grupo empresas como IBM, GE e Saab, além das chinesas Huawei e ZTE e da taiwanesa Foxconn. Outras companhias, como Dow, SAP e Whirlpool, que já contam há mais tempo com estruturas de pesquisa no país, inauguram novos centros tecnológicos brasileiros.

"No mundo contemporâneo não há ciência, tecnologia e inovação de qualidade sem centros de pesquisa e desenvolvimento de primeira linha, ancorados em empresas que atuam internacionalmente", diz Ronaldo Mota, secretário de desenvolvimento tecnológico e inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). "A vinda já em curso de um centro de P&D como o da IBM, por exemplo, nos coloca em outro nível em termos de desenvolvimento de capacidade computacional", avalia Mota. O governo atuou forte para atrair esse centro para o Brasil, que disputou a instalação com mais de dez países, diz Marcos Vinicius de Souza, diretor do departamento de fomento e inovação da Secretaria de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

O momento positivo deve ser aproveitado para acelerar o avanço tecnológico de sua pauta de exportação, propõe Ronald Dauscha, diretor de tecnologia e inovação da Siemens Brasil, que tem seis centros de tecnologia no Brasil, ligados às suas unidades de negócio. O mais recente foi inaugurado há cerca de dois anos no Rio, na área de óleo e gás. "Ainda 80% de nosso PIB é formado pelo mercado interno. Mas temos que trabalhar o quanto antes o mercado externo, porque nem sempre teremos o movimento de classe D indo para C, e de C para B", afirma.

Interessa ao governo brasileiro atrair conhecimento ao país para que isso se traduza em exportações com elevado nível tecnológico. É o caso das diversas empresas internacionais que desenvolvem tecnologia para a exploração de petróleo do pré-sal, em parceria com companhias brasileiras. "Essa tecnologia vai se tornar referência internacional", diz o secretário.

Isso já ocorre em subsidiárias brasileiras de companhias globais. Um exemplo é a nova versão das embalagens de plástico flexível para molhos e outros alimentos, capazes de ficar em pé, as 'stand up pouch', que chegarão ao consumidor em alguns meses. A novidade é que elas podem ser totalmente recicladas, já que serão feitas de um único material, o polietileno. A nova tecnologia foi desenvolvida pela Dow em seu recém inaugurado centro de desenvolvimento de aplicações de plástico de Jundiaí (SP) e está sendo exportada para suas divisões na Europa e no Pacífico.

"Queremos não somente desenvolver a matéria-prima, mas também ajudar nossos clientes, e os clientes de nossos clientes, a entender a nova tecnologia e desenvolver sua aplicação", diz Carlos Costa, líder da companhia para América Latina na área plásticos.

Para Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), estender a inovação para a cadeia produtiva tornas as empresas mais competitivas. Esse será o tema deste ano da conferência anual da entidade, que reúne cerca de 200 empresas instaladas no País. "Quanto mais inovação houver nos fornecedores e clientes, mais competitiva a cadeia e suas empresas. No final, ganha o país", diz Calmanovici.

Poucos sabem, mas também o purificador de água Brastemp, o refrigerador Consul Facilite, o primeiro frost free de uma porta do mundo e a minilavadora Eggo, em formato de ovo e com capacidade de um quilo, para lavagem de pequenas peças e roupa infantil, foram desenvolvidos no Brasil. Eles fazem parte de uma lista de onze produtos criados recentemente por pesquisadores brasileiros nos quatro centros de tecnologia da Whirlpool no País. Sua tecnologia também é exportada para outros países. "Nos orgulhamos muito do capital intelectual desses centros. Além de garantir a liderança de nossas marcas no País, eles geraram muitas patentes para a companhia", diz Mario Fioretti, gerente geral de inovação e design para a América Latina da Whirlpool.

"Há coisas que se fazem no Brasil e que são inovadoras globalmente", destaca o argentino Humberto Vieites, diretor de ecossistemas e canais da SAP Brasil. A capacidade de inovação do país foi um dos pontos que pesaram na decisão da líder mundial em software de negócios para instalar em São Paulo, em outubro do ano passado, um de seus cinco laboratórios de coinovação do mundo, com investimentos de cerca R$ 1 milhão. Neste mês, a empresa vai lançar a primeira solução desenvolvida nesse centro com parceiro brasileiro.

Mas o País ainda tem um caminho de esforços pela frente. O principal é quanto à formação de pessoas, especialmente nas áreas tecnológicas e de engenharia. Em TI, o déficit de profissionais deve chegar a quase 92 mil pessoas neste ano, segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). "O que está vindo para o País é o investimento atraído pelo mercado. O Brasil ainda não é forte em P&D atraído pela tecnologia, em que o que interessa é o cérebro, os engenheiros e cientistas", diz Sergio Queiroz, professor do departamento de política científica e tecnológica da Unicamp.

Para mais informações acesse o caderno Especial Inovação:http://www.valoronline.com.br.

(Valor Econômico)