domingo, 13 de março de 2011

O poder da ciência

Artigo de Cristovam Buarque e Jorge Werthein publicado no Estado de São Paulo.

Uma autoridade de elevada patente se prepara para deixar o poder. Aproveita a oportunidade para fazer um mea culpa. Deveria ter investido mais em educação científica. Permitiu que outros países, com ciência e tecnologia mais avançadas, se tornassem superiores. Agora é tarde. Seu governo fracassou. Amarga derrota irreversível. Ele deposita, então, nos jovens a esperança de elevar ao nível máximo o "poder científico e o poder espiritual" da nação.

No dia seguinte, os jornais trombeteiam que seu sucessor dará ênfase à ciência básica no sistema escolar. Recém-empossado, ele anuncia a criação de uma secretaria voltada exclusivamente para a educação em Ciências. Reconhece publicamente a extrema relevância do "cultivo da capacidade de pensar cientificamente" para a construção de uma cultura nacional.

Milhões em recursos financeiros se destinam agora a um fundo para a promoção da ciência no cotidiano da população. O novo governo se mostra decidido a corrigir os erros do passado e a apostar no futuro do país por meio do conhecimento científico.

Esse episódio ocorreu de fato e é narrado no livro Embracing Defeat - Japan in the Wake of World War II, de John W. Dower, lançadoem1999. O cenário era o Japão, imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando os Aliados-Estados Unidos à frente - derrotaram as forças do Eixo, entre elas o Japão, alinhadas com o nazifascismo.

Nesse momento histórico, o governo japonês se rendia diante da superioridade bélica norte-americana, expressa com a explosão das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. As autoridades nipônicas, tanto as que deixavam o poder quanto as que nele ingressavam - entre elas o derrotado ministro da Educação do relato do livro -assumiram que a maior deficiência dos japoneses tinha sido a ciência e a tecnologia.

Artigo publicado no Asahi Shimbun, maior jornal do Japão, em 20 de agosto de 1945, chegava a afirmar: "Perdemos para a ciência do inimigo." Evidentemente, ninguém,em sã consciência, ousaria defender o emprego da ciência e da tecnologia para fins não pacíficos. Mas o episódio e seus desdobramentos ajudam a compreender o impressionante avanço japonês nessas áreas.

O Japão só despertou realmente para a relevância do investimento nesses setores ao perder uma guerra. Hoje, décadas após o Plano Marshall, os japoneses se mantêm na dianteira em termos científico-tecnológicos. O país se tornou referência mundial em ciência e tecnologia, a despeito da crise econômica que enfrentam, sobre a qual, aliás, afirma o Relatório Mundial de Ciências da Unesco, lançado em 2010: "Neste período de incerteza, entretanto, há um firme consenso entre políticos, administradores públicos e industriais japoneses sobre a importância crucial da ciência e da tecnologia e sobre a necessidade de estimular a inovação."

Em parte também por motivos de segurança nacional, a igualmente asiática Coreia do Sul tem avançado consideravelmente nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. Os sul-coreanos, que têm como maior ameaça à paz seus vizinhos norte-coreanos, atingiram, ao lado da Finlândia, o topo do ranking no mais recente Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). A Coreia do Sul figura, no exame, como um dos cinco países com melhor desempenho em ciências entre os 65 avaliados. Vem logo abaixo do Japão.

Japão e Coreia do Sul têm aparentemente pouca semelhança com países como o Brasil. No entanto, observados mais de perto, apresentam alguns traços em comum, tais como períodos de ditadura política e de atraso econômico em passado não muito distante. Da segunda metade do século 20 para cá, os dois "tigres asiáticos" alcançaram elevados patamares em termos de educação, enquanto o Brasil avançou muito lentamente. Somente agora, em pleno século 21, o "gigante adormecido" parece começar a despertar para a relevância da escola no desenvolvimento do País e vem avançando mais celeremente nesse campo.

País que há muito já se destaca internacionalmente nas artes - especialmente na música- e nos esportes - notadamente no futebol -, o Brasil precisa dar-se conta de que pode e deve avançar mais em ciência e tecnologia e converter-se também em referência nessas áreas, ingressando, assim,de forma definitiva na chamada sociedade do conhecimento.

Deve perceber que alfabetizar não basta, assim como não basta universalizar o ensino fundamental. É preciso conferir lhe qualidade e garantir que os estudantes efetivamente aprendam. Ao mesmo tempo, precisa desenvolver o potencial científico que há latente nos cérebros das nossas crianças desde os primeiros anos de escola. Deverá, para isso, destinar mais recursos para a educação científica e para pesquisa e desenvolvimento, a chamada P&D.


Para ter uma ideia, no Brasil a relação entre Produto Interno Bruto (PIB) e gasto interno bruto em P&D tem-se mantido estável nos últimos anos, enquanto na China teve aumento de 50% entre 2002 e 2008, segundo o mais recente Relatório de Ciências da Unesco.

Em seu discurso de posse, o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, muito oportunamente narrou episódio que atribui a Stephen Jay Gould, um dos grandes biólogos e teóricos da evolução do século passado: "Fizeram uma sondagem nas escolas de segundo grau americanas para aferir quem os adolescentes admiravam mais. O primeiro nome da lista foi Michael Jordan. Fizeram sondagem semelhante na Coreia do Sul e lá o primeiro nome da lista foi do emérito físico britânico Stephen Hawking." Sinal dos tempos.

*Cristovam Buarque (professor da Universidade de Brasília e Senador PDT-DF) e Jorge Werthein (doutor em Educação pela Universidade Standford - EUA, representante da Unesco no Brasil e vice-presidente da SANGRI BRASIL).
(O Estado de São Paulo - 09/03)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Convite para divulgação de Plataforma Eleitoral

Volta Redonda, 09 de março de 2011. 

Prezados Professores Alexandre José da Silva/José Adilson de Castro e Salete Souza de Oliveira/Fernando Tadeu Pereira de Medeiros,

Tendo em vista a Consulta para Identificação das Preferências da Comunidade Universitária para a Escolha de Diretor e Vice-Diretor da EEIMVR / PUVR / UFF para o próximo quadriênio 2011-2015, vimos pelo presente convidar as chapas concorrentes para divulgar as respectivas Plataformas Eleitorais.  


Assim, solicitamos que nos seja encaminhado um texto completo (incluindo título) de no máximo 14.500 (cartoze mil e quinhentos) caracteres com espaços. Os textos poderão ser enviados via e-mail (pensamentouffvr@gmail.com) nos formatos do tipo doc ou pdf. Pretendemos publicar ambos os textos a partir do dia 14 de março de 2011.

 Desde já, agradecemos a atenção dispensada e desejamos uma boa sorte no pleito.

Saudações Acadêmicas,

Blog Pensamento Acadêmico UFF-VR
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quarta-feira, 9 de março de 2011

Chapas para a Consulta Eleitoral para Escolha da Direção da EEIMVR 2011-2015

A Comissão Eleitoral Local (CEL) divulgou em 01 de março,  no quadro de avisos da EEIMVR, as chapas que foram  homologadas para a escolha da nova Direção da Escola de Engenharia no próximo quadriênio. A Comunidade Acadêmica poderá optar entre as duas chapas inscritas. 

A seguir apresentamos a composição das chapas concorrentes com as informações dos respectivos currículos acadêmicos dos candidatos. Estas informações foram coletadas na Plataforma Lattes do CNPq (www.cnpq.br) em 09 de março de 2011. 

CHAPA 1
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ (1981), Mestre em Engenharia Nuclear pela COPPE-UFRJ (1984) defendeu tese de cunho computacional e experimental na área de escoamentos bi-fásicos gás-líquido (modelo Drift-Flux dinãmico). Recebeu o doutoramento em Engenharia Mecânica (Doktor-Ingenieur für Maschinenbau-Dr.-Ing.) - pela Ruhr Universität Bochum-RUB, Institut Für Thermo Und Fluidynamik (1990), na Alemanha, com tese na área da Análise Assintótica da Convecção Mista Turbulenta. Entre 1990 e 1993 trabalhou no IPRJ, em Friburgo-RJ. Desde 1993 trabalha na Escola de Engenharia Industrial Metalúrgica de Volta Redonda - EEIMVR, da Universidade Federal Fluminense-UFF, onde é hoje Prof. Associado III do Departamento de Engenharia Mecânica. Leciona e lecionou, ao nível de Graduação as disciplinas: Mecânica dos Fluidos I e II, Métodos Numéricos, Programação de Computadores, Solidificação e Lingotamento, Transmissão de Calor I , Máquinas Térmicas, Máquinas de Fluxo, e ao nível da Pós-Graduação leciona: Métodos Computacionais Avançados, Equações de Transporte, Mecãnica do Continuum, Simulação de Processos, Programação e Volumes Finitos. Atua na área de Engenharia Metal-Mecânica, com ênfase em Simulação de Processos e Fenômenos de Transportes e Mecânica dos Fluidos, envolvendo escoamentos reativos, mono- e multifásicos, com e sem transmissão de calor, usando principalmente o Método de Volumes Finitos na solução numérica das Equações de Transporte de Massa , Momentum e Energia. Tem atuado principalmente nos seguintes temas: Simulação de Processos Siderúrgicos (alto-forno, sinterização, aciaria, laminação, etc..), desenvolvimento de ferramentas computacionais para cálculo de impacto ambiental devido á dispersão de poluentes no meio ambiente. Mais recentemente trabalha também com aceleração de algoritmos computacionais através da utilização de "clusters" de computadores e computação paralela.

Possui graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal de Ouro Preto (1993), mestrado em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal Fluminense (1996) e Ph. D Em Engenharia com enfase em simulação de processos pela Tohoku University, no Japão (2001). Atualmente é membro do corpo Editorial da Coleção de Livros Metalurgia e Materiais e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense sendo Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica. Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em Siderurgia, atuando principalmente nos seguintes temas: simulação computacional de Processos, alto-forno, Sinterização, Meio Ambiente. Atua no desenvolvimento e aplicação de Softwares voltados à análise dos processos siderúrgicos. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2.
http://lattes.cnpq.br/4613010410524009


CHAPA 2
Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Pará (1995), mestrado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1998) e doutorado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2004). Atualmente é professora adjunto IV da Universidade Federal Fluminense. É coordenadora do Curso de Engenharia de Produção da EEIMVR/UFF e tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Mecânica das Estruturas e atua também na área de Pesquisa Operacional.


Possui graduação em Engenharia Metalurgica pela Universidade Federal Fluminense (1974), mestrado em Iron and Steel Technology - University of Sheffield (1980) e doutorado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (2006). Atualmente é professor associado da Universidade Federal Fluminense, na Escola de Engenharia Industrial Metalurica de Volta Redonda. Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em Metalurgia Extrativa, atuando principalmente nos seguintes temas: altos-fornos, modelos, redução, carvão e minerio de ferro, reciclagem de resíduos metalurgicos.

Lei de resíduos abre caminho para tecnologias

Novos processos para dar destinação ao lixo urbano começam a entrar em testes no País.

Entre as tecnologias que começam a se tornar competitivas estão a transformação dos resíduos em combustíveis, conhecida pela sigla CDR (combustível derivado de resíduo).

A empresa de gestão de resíduos Estre Ambiental trouxe essa tecnologia para o País e instalou em Paulínia (SP) o Tiranossauro, um equipamento importado da Finlândia. Em um galpão de 6,2 mil m², a máquina tritura, separa e transforma o lixo em combustível. "Com essa máquina, é possível dar destino do lixo orgânico até resíduos mais volumosos, como móveis e colchões velhos", explica Pedro Stech, diretor de Tecnologia Ambiental da Estre. O equipamento, em testes, deve começar a operar comercialmente em abril.

Stech explica que a tecnologia CDR está em operação em outras 50 cidades do mundo, como Roma e Helsinque. A unidade em testes em Paulínia tem capacidade para processar 1 mil toneladas de lixo por dia e permite produzir 500 toneladas/dia de combustível para fornos industriais - que pode ser usado para alimentar caldeiras e fornos hoje abastecidos com combustíveis fósseis, como carvão.

"O equipamento ainda precisa passar por ajustes, mas é uma solução viável para regiões metropolitanas, que produzem muito lixo diariamente e já não podem contar com aterros", diz.

A tecnologia da incineração dos resíduos em termelétricas que geram energia elétrica, comum na Europa e Japão, é outra que deve entrar em operação nos próximos meses. Há estudos de viabilidade em andamento - de capitais como Belo Horizonte a municípios de porte médio, como São Sebastião, Barueri e São Bernardo do Campo (SP).

"Com a aprovação da lei nacional de resíduos, a tendência é que haja uma diversificação nas tecnologias para dar destino aos resíduos no País", diz Carlos Roberto Vieira da Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe, entidade que reúne empresas de coleta e destinação do lixo. Segundo ele, o custo da incineração dos resíduos ainda é um empecilho - em torno de R$ 250 a tonelada, enquanto o custo médio da destinação a aterro é de R$ 90 a tonelada. "Mas esses custos podem ser reduzidos com a venda da energia elétrica gerada pelo sistema", diz Silva.

Para Lúcia Coraça, diretora de Química e Energia da Pöyry, empresa que atualmente realiza um estudo de viabilidade para uma unidade de incineração em Belo Horizonte, a incineração pode ajudar a resolver o problema do lixo nas metrópoles. "É possível conciliar a reciclagem dos materiais com a incineração", diz. 
(Estado de São Paulo: 2/3)

domingo, 6 de março de 2011

''Salário de docente não é compatível''

''Salário de docente não é compatível''
05 de março de 2011 | 0h 00
Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo

ENTREVISTA
Edward Madureira Brasil, reitor e presidente da Andifes
O Ministério do Planejamento quer reaver das universidades federais R$ 300 milhões que, alega o Tesouro, foram pagos irregularmente a professores e servidores técnico-administrativos. A maior parte das irregularidades está sendo discutida na Justiça - são ganhos de planos econômicos antigos, funções gratificadas e horas extras incorporadas aos salários que agora o Planejamento questiona.
O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Edward Madureira Brasil, reitor da Federal de Goiás, diz que as instituições não têm nenhum controle sobre suas folhas de pagamento, mas adverte que possíveis cortes podem até mesmo levar à perda de profissionais. "É um problema sério, uma coisa que nos preocupa", disse ao Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
A Andifes tinha conhecimento dessa informação de que haveria irregularidades em torno de R$ 300 milhões nas folhas de pagamento das universidades?
Em nenhum momento isso foi colocado. Tivemos auditorias nas universidades, mas isso é rotina do Planejamento. Na minha instituição, por exemplo, teve auditoria sobre a incorporação das funções gratificadas, mas o Planejamento indicou que não modificássemos nada e aguardássemos em março uma posição do ministério.
Como fica a situação da Andifes e dos reitores com o governo, que pretende suspender esses pagamentos que considera irregulares, e os professores, beneficiários disso?
A universidade não tem nenhum tipo de ingerência nem sobre a folha de pagamento nem sobre as questões jurídicas. A defesa é feita diretamente pela Advocacia-Geral da União. E não temos nenhum nível de autonomia na folha de pagamento. Como vamos mediar isso? O nosso poder de mediação é um poder político. Poder de autonomia sobre essas coisas nós não temos nenhum.
Há casos em que incorporações podem representar mais de 20% do salário de um professor, não?
Claro que com ganhos históricos incorporados, como o caso da Universidade de Brasília (UnB), uma possível redução salarial é um transtorno. Faz parte da vida das pessoas. O salário dos professores é abaixo do que seria compatível com o nível exigência que temos. É um problema sério, certamente numa situação dessas corremos o risco de perder quadros. É uma coisa que nos preocupa.
Essas decisões jurídicas e as incorporações não criam enormes diferenças entre professores que deveriam estar no mesmo nível?
Já existem diferenças salariais. Os ganhos judiciais se aplicam aos professores que ganharam isso na Justiça, talvez tirando o caso da UnB. Essa decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) com relação ao caso UnB terá repercussão no sistema, imagino, dependendo de como as coisas forem feitas. Para mim, uma carreira precisa partir de um princípio de isonomia, no qual todos têm a mesma atribuição. Hoje, com todas as amarras na legislação, não vamos ter grandes diferenças daqui para frente, mas vamos conviver com as diferenças do passado ainda por algum tempo.

QUEM É

Engenheiro agrônomo especializado em fitotecnia, professor e atual reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde o ano passado, é presidente da associação dos dirigentes das universidades federais (Andifes).