terça-feira, 6 de abril de 2010

Formigueiro

Música Formigueiro - Composição: Ivan Lins / Vitor Martins

Avisa ao formigueiro

Vem aí tamanduá

Pra começo de conversa, tão com grana e pouca pressa

Nego quebra a dentadura mas não larga a rapadura

Nego mama e se arruma, se vicia e se acostuma

E hoje em dia está difícil de acabar com esse ofício

Avisa ao formigueiro

Vem aí tamanduá

Repinique e xique-xique, tanta caixa com repique

Pra entupir nossos ouvidos, pra cobrir nossos gemidos

Quando acabar o batuque aparece outro truque

Aparece outro milagre do jeito que a gente sabe

Avisa ao formigueiro

Vem aí tamanduá

Tanto furo, tanto rombo não se tapa com biombo

Não se esconde o diabo deixando de fora o rabo

E pro “home” não ta fácil de arrumar tanto disfarce

De arrumar tanto remendo se ta todo mundo vendo

Avisa ao formigueiro

Vem aí tamanduá

Alguém dúvida que os “formigueiros” tanto de Niterói, quanto de Volta Redonda estão em polvorosa em razão da proximidade das eleições da Reitoria da Universidade Federal Fluminense? Movimentação pra cá, rasteira acolá, velhas raposas e coiotes mancos tentando vestir pele de cordeiro; tudo muito fashion! Some-se a isso, as surpresas que somente os últimos minutos do segundo tempo de jogo podem render ao espectador mais aficionado pelo esporte bretão. Neste contexto, nota-se a consolidação de alianças políticas inusitadas entre grupos que aparentemente eram adversários durante os últimos 4 anos e que compartilham de uma mesma ideologia calcada no fisiologismo. Assim, devemos perguntar se a Universidade que desejamos deve continuar baseada na troca de favores, nos favorecimentos e/ou em outras benesses que claramente se sobrepõem aos interesses coletivos em prol dos individuais? Temos uma enorme facilidade de nos comovermos e até mesmo de tomarmos partido diante de grandes questões de repercussão nacional. Contudo, os pequenos atos cotidianos já não nos despertam mais a atenção e aqueles que insistem em gritar ou denunciar, ganham imediatamente a nossa antipatia e também alguns rótulos preconceituosos. Dentre estes rótulos, podemos destacar o tradicional “comunista”, ou numa versão mais moderninha, se diz que o sujeito possui ambições pessoais ou “projeto de poder”. Aliás, a vida política de Volta Redonda é recheada dessas alusões temperadas com bastante filosofia maniqueísta. A popularização da divisão entre Bem e o Mal na antiga "Universidade do Trabalho" ganhou conotações hollywoodianas, mais especificamente da grande saga cinematográfica Star Wars (Guerra nas Estrelas, traduzindo-se para a língua portuguesa) de George Lucas. A versão mais conhecida e propalada nos corredores do prédio Edil Patury Monteiro faz menção que o grupo de professores do Programa de Pós-graduação em Engenharia Metalúrgica fariam parte do chamado “Lado Negro da Força” (filosofia Bogan by Lucas). É interessante notar que esta alcunha não deve ter surgido de uma minoria que vem se opondo sistematicamente ao poder hereditário e oligárquico ao longo dos últimos 16 anos. Portanto, também devemos lembrar que sob esta ótica maniqueísta também deve existir o chamado “Lado Luminoso” (filosofia Ashla by Lucas), que provavelmente faz parte de um mundo colorido e repleto de contos de fada. Como perguntar não deve ofender: qual seria a razão de se rotular grupos ou pessoas num ambiente em que as idéias deveriam ser o principal foco para aglutinar pessoas e ideais?

Diante deste cenário, sabemos que Volta Redonda aparece sempre com grande destaque nos escrutínios eleitorais para a reitoria da UFF. Seria este destaque, o resultado prático observado nas estatísticas das últimas eleições? Ou ainda, o resultado numérico que tem sido conseguido nas últimas décadas por meio de um considerável controle de votos a partir da zona de influência de uns poucos? Não nos cabe afirmar se está prática ainda resiste a atual era de disseminação do conhecimento e da informação, ou ainda, se alguns políticos locais e também externos já negociaram os votos do Interior (dos Pólos de Volta Redonda, Rio das Ostras, Friburgo e Campos) para a sucessão reitoral da UFF. Por outro lado, temos certeza, ou pelo menos a esperança, que a força motriz da Academia surge a partir do espírito crítico e dos princípios éticos de todos aqueles que buscam construir uma Instituição sólida voltada a atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão a fim de atendermos as demandas da nossa sociedade.

A disputa política no campo das idéias e do planejamento estratégico/administrativo deveria ser considerada como um meio para a construção das bases de uma Universidade mais plural e menos provinciana. Dessa maneira, temos a oportunidade nestes tempos de eleição de procurarmos fazer novas análises e também de buscar soluções para a construção de uma UFF renovada e moderna.

Saudações Acadêmicas,

Fabrício Lins

segunda-feira, 5 de abril de 2010

DESFAZER ILUSÕES NÃO É DESENCANTO

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Ricardo Reis (João Pessoa), 1-7-1916

Pessoal,

Sempre acompanhei de perto os processos políticos dentro da UFF. Vício incontrolável que eu tenho, sempre me manifestando publicamente em todas as vezes que tive alguma chance.

Como todo mundo já sabe, novamente teremos consultas para Reitor na UFF, aparentemente de 18 a 20 de maio, caso nenhuma novidade aconteça. Certamente não vou ficar calado.

I - DESFAZER ILUSÕES NÃO É DESENCANTO

Temos vários especialistas em eleições universitárias na UFF – o que certamente NÃO é o meu caso. Portanto, me absterei de fazer comentários e análises sobre possibilidades, pesos, números e outras gracinhas sobre a alquimia eleitoral. O curioso é que muitos desses especialistas são inacreditavelmente competentes para eleger pessoas, mas, em compensação, aparentam ter um vazio completo na cabeça quando se trata de discutir políticas administrativas/acadêmicas para a UFF e o Brasil.

Como professor há tantos anos, já convivi com a falta de vocação, de talento e até de competência de alguns indivíduos, quase sempre fruto de uma escolha profissional equivocada. Apesar disso, há sempre os que, quando querem, superam suas limitações através do trabalho árduo e do estudo. Infelizmente há os casos perdidos. Encontrei pouquíssimos desses casos perdidos na minha vida de docente. Em compensação, na política (e não só na política universitária), tive o desprazer de conviver com uma percentagem enorme de energúmenos sem salvação possível.

Já apoiei pessoas que se comportaram de forma adequada durante processos eleitorais e, posteriormente, como energúmenos absolutos ao longo de seu mandato. A boçalidade total só é menos imperdoável do que a falta de cuidado/respeito com a coisa pública.

Como qualquer pessoa normal, me equivoquei nas minhas boas expectativas em relação a alguns representantes políticos no passado. Esperava muito de alguns e me decepcionaram. Bons candidatos, péssimos administradores. Coisas da vida. Contudo, a despeito eventuais falhas minhas na análise de pessoas, no essencial, continuo acreditando no que escrevi. Aliás, há muitos anos li em algum lugar, num contexto um pouco diferente, a seguinte frase: “desfazer ilusões não é desencanto – é aprumar a voz para cantar ainda mais forte”. Vamos cantar forte, então.

Encaminho a seguir um texto escrito por mim já há muito tempo. É uma reflexão sobre as bases para se compor, de forma ética e democrática, uma maioria para a gestão eficiente da universidade. Continua atual, creio.


II - VIVA A UNIVERSIDADE VIVA

A sociedade está mudando muito mais rápido do que a Universidade Pública no Brasil. Isso não me parece algo antinatural numa sociedade moderna. Tradicionalmente careta e conservadora, a Universidade, tal qual foi concebida há séculos, sempre teve dificuldade de acompanhar as transformações sociais. O surpreendente, contudo, é constatar a forma rápida como a Universidade Pública brasileira está perdendo “o bonde da história” nesse processo de acompanhamento das transformações da sociedade brasileira.

As Universidades Públicas, que foram vanguarda no processo de consolidação democrática no país, apresentam, aparentemente, ainda, certas características da política de clientela que morreu há décadas na maioria das grandes cidades e que só sobrevive nos grotões. Vemos pressões, ações que pode ser confundidas com intimidação e/ou perseguições, um concreto receio das pessoas de se manifestar publicamente e um “senso comum” de que “as coisas são assim mesmo” e “é ingenuidade acreditar que possa ser diferente”.

É um discurso antiquado, que caminha na contramão do que se passa no país, que está mudando rapidamente e consolidando cada vez mais as instituições públicas democráticas.

Com o aumento do orçamento para investimento nas IFES (incluindo aí a UFF), é necessário abandonar os antigos paradigmas de gestão, típico de empresas familiares, na qual um “pai patrão” distribui mesadas aos filhos obedientes e pune os rebeldes, criando mecanismos mais eficientes e transparentes de tratar os recursos públicos.

Uma gestão amadora, baseada em vínculos pessoais, pode ser ter sido uma boa opção quando o orçamento e complexidade da UFF e das unidades eram pequenos. Como numa empresa com gestão familiar que cresceu, para evoluir além de um certo ponto, torna-se necessário romper velhos paradigmas e optar por mecanismos mais eficazes e profissionais de gestão. Nesse caso, a transparência não é resultante de uma maior grandeza pessoal dos gestores, mas sim uma exigência para se obter resultados melhores com o mesmo volume de recursos.

Prestações de conta sistemáticas ao final de cada ano, junto com uma estimativa pública do orçamento disponível para o ano seguinte, são fundamentais para se estabelecer prioridades, definir programas estruturantes e se fazer escolhas, uma vez que as necessidades ainda são muito maiores do que os recursos disponíveis. A definição de indicadores que permitam aferir periodicamente a eficácia das políticas implementadas também é essencial.

Ao contrário do que pensam alguns colegas, o principal dilema hoje nas universidades federais não é a possibilidade de apropriação pública de recursos de origem privada, o que, segundo alguns, poderia “quebrar” toda a lógica de gratuidade do sistema. Para mim o grande desafio ainda é o estabelecimento de mecanismos que impossibilitem, nas universidades, a apropriação privada de recursos e bens públicos.

O bom sistema é aquele que não dá chance ao gestor de ter a sua probidade testada. Quando indivíduos, e não instâncias colegiadas, podem decidir sobre taxas, sobre renunciar ou não a receitas, sobre a distribuição das oportunidades, surgem as seguintes questões: Quando esse tipo de atitude pode caracterizar um conflito de interesses? Quando esse tipo de atitude pode caracterizar o uso de cargo público para obter vantagens para si ou para terceiros? Qual o limite da ética, a fronteira?

Apesar de a UFF estar passando por um processo de afirmação e modernização que é irreversível, este processo poderia (e ainda pode) ser mais dinâmico, dependendo das capacidades de gestão. Sem amplas maiorias, há, grosseiramente falando, duas alternativas para viabilizar a condução da gestão da Universidade - (i) compor uma direção pouco aberta, cuja base de apoio seria formada principalmente através de cooptações pessoais envolvendo cargos, vantagens e os mais diversos tipos de benesses pessoais, financeiras ou não; (ii) uma gestão na qual, a partir de certos princípios mínimos, a gestão seria compartilhada, gerando uma maioria que viabilizaria a governabilidade.

Não faço juízo moral das pessoas e não vejo a disputa política como uma luta do bem conta o mal. Estou convencido, contudo, de que a primeira alternativa para viabilizar a gestão da UFF (e de suas Unidades), mencionada no parágrafo anterior, objetivamente induz a um comportamento menos ético dos dirigentes.

Um “rachuncho” coletivo de cargos e funções, tradicional forma de se iniciar diálogos para a formação de alianças, mesmo antes de se ter diretrizes políticas mínimas para o médio e longo prazo é um tiro no escuro e a certeza de uma (mais uma) crise anunciada para o futuro.

Para que a segunda alternativa dê certo, contudo, é fundamental a existência de um projeto de futuro comum para a universidade, pois como diz o ditado – não há vento favorável para quem não sabe para onde se dirige. Além disso, é fundamental a maturidade política dos envolvidos, visão de longo prazo e alguma percepção dos processos políticos em andamento. Os caminhos para atingir alguns objetivos comuns de longo prazo podem ser os mais variados possíveis. Isso não seria um problema, pois é aí que entram a discussão e a disputa política legítimas.

Sem nenhuma ingenuidade e sem buscar nutrir falsas expectativas de mudanças extraordinárias, acredito que podemos quebrar velhos paradigmas e criar as bases de um sistema de gestão mais moderno, eficiente e transparente. Sistema criado pela necessidade e não pelo fato dos envolvidos serem seres humanos melhores ou mais iluminados. Manifestei essa minha opinião na última consulta para reitor. Continuo acreditando nisso.

Surpreendentemente, muitos colegas têm receio de se manifestar publicamente. Alguns, por medo de perderem supostas “vantagens” (investimento em laboratórios, prédios, etc.) caso desafiem em voz alta o poderoso de plantão. Tenho certeza de que, apesar do evidente jogo de pressões que existe em todos os processos políticos, esse receio é muito mais produto de uma “cultura do medo” já enraizada do que fruto de atos concretos de quem quer que seja. Contudo, uma universidade que se cala é uma universidade morta. Não lutamos tanto para consolidar a normalidade democrática no país para, no limite, abaixar a cabeça para supostos donos de pequenos poderes dentro da Universidade.

Todos nós queremos a universidade viva. Portanto, é fundamental dar voz àqueles que acreditam ser necessário buscar alternativas e fazer mudanças, muitos dos quais andam muito desiludidos ou ainda têm medo de se manifestar publicamente.

Um novo tempo exige novas atitudes. EXIGE, PRINCIPALMENTE, PARTICIPAÇÃO ATIVA DE TODOS E COBRANÇA.

Despeço-me dos colegas tornando público um dos meus desejos para o ano do cinqüentenário da UFF: maturidade a todos os protagonistas políticos e a unidade dos que acreditam ser necessário buscar alternativas e fazer mudanças, sempre respeitando a democracia universitária na permanente busca da qualidade acadêmica.

Saudações universitárias
Heraldo

PS: Aviso aos navegantes - Posso ser chato, mas não sou candidato a nada.


terça-feira, 30 de março de 2010

CIVILIDADE ZERO

Oi Pessoal,

É óbvio que há expectativa de que eu retome em minhas mensagens algum tema relacionado à consulta eleitoral para Reitor na UFF. Contudo, a vida (e, portanto, a universidade) não pára e é maior do que esse fato, importante, mas natural numa instituição democrática. Eventualmente, vem “de estalo” `a minha cabeça algum assunto novo, sem grande preparação, e que pula na frente dos outros. Minha brincadeira é escrever um texto em menos de 30 minutos – esse é o tempo que eu me permito para isso, de forma a não afetar as minhas verdadeiras atividades intelectuais e de trabalho. Temos assunto novo. Vamos lá:

Já há alguns anos, faço parte de um grupo da comunidade da UFF que considera fundamental assegurar pleno acesso das PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS a todas as dependências da Universidade.

Para minha satisfação, tenho visto que, lentamente, algumas medidas óbvias, baratas e de fácil execução estão sendo implementadas em algumas unidades da UFF (nivelamento de pisos, rampas, portas mais amplas para acesso a banheiros, vagas preferenciais, etc.). Para minha maior satisfação, creio mesmo que esse tipo de intervenção, antigamente visto como “coisa que não dá voto”, está na moda e na boca de candidatos a qualquer cargo executivo dentro da Universidade. Parabéns para a comunidade da UFF. Que isso seja um compromisso de todos nós.

Contudo, um alerta aos surfistas das oportunidades e das (boas) idéias: (i) Todas as obras, atuais e futuras (incluindo bandejões, bibliotecas, etc.), já deveriam ter sido concebidas com acessos adequados. É esquisito inaugurar algum prédio, biblioteca ou bandejão já sabendo que haverá uma “parte 2” da obra para corrigir todos os equívocos de projeto, já conhecidos desde o seu início, que tornam o acesso uma aventura para quem tem algum tipo de limitação física. (ii) As vagas preferenciais para pessoas com necessidades especiais não são um enfeite – são, realmente, para pessoas com necessidades especiais. Não podem (ou, ao menos não devem) ser usadas clandestinamente como “vagas cativas” pelos “espertos” de plantão, eventualmente até pessoas que deveriam dar o exemplo, no exercício de seus pequenos poderes. Fico estarrecido quando algumas das poucas vagas destinadas para esse fim são ocupadas irregularmente.

Gostaria de pedir aos colegas que:

(i) Tornem público o nome de qualquer membro da comunidade que desrespeite esse princípio básico da civilidade, estacionando carros indevidamente nessas vagas. Peço, inclusive, fotos dos carros estacionados.

(ii) Comuniquem quais os locais cujo acesso é proibitivo às pessoas com necessidades especiais (bandejões, prédios, banheiros, bibliotecas, etc.)

Divulgarei, com certeza, no blog. Caso achem chato encaminhar mensagens para mim, basta botar a boca no trombone e denunciar. O grito (ainda) é livre e de graça.

Saudações acadêmicas,
Heraldo


PS: A foto abaixo foi tirada num dos campi da UFF de Niterói. Dizem que é de um dirigente universitário que não tem nenhum tipo visível de necessidade especial ou de deficiência. Sistematicamente ele ocupa essa vaga. Não acredito que tamanha falta de civilidade possa ser verdade. Contudo, como perguntar não ofende, aí vai:

a) Qual a deficiência desse notável?

Quem me der a melhor resposta ganhará, como prêmio, um bilhete de ida e volta Rio - Niterói (barcas). No caminho, o vencedor (ou vencedora) poderá refletir sobre os mistérios da vida, aproveitando uma das vistas mais deslumbrantes do mundo, que na correria do dia-a-dia deixamos de perceber.

Perguntas impertinentes podem desafinar o coro dos contentes, mas não significam nada sem as respostas adequadas. A impertinência, caso exista, estará na sua resposta, cidadão. Ou não.

CARTA ABERTA À COMUNIDADE DO PUVR E DA UFF

por Prof. Alexandre José da Silva

Prezados colegas docentes, funcionários técnico-administrativos e discentes do Pólo Universitário de Volta Redonda e da Universidade Federal Fluminense. Foi com estarrecedora e grande surpresa que tomamos conhecimento do teor e termos da “PRESTAÇÃO DE CONTAS ORDINÁRIA ANUAL - RELATÓRIO DE GESTÃO DO EXERCÍCIO DE 2009 - MARÇO/2010”, mais exatamente daquilo relatado na seção 2.3.6.2.6, referente ao Pólo Universitário de Volta Redonda, às páginas de numero 31 e 32, onde no início do terceiro parágrafo após o quadro 48, lê-se ( itálico nosso):

...“Formalizado o rompimento contratual com a UFF, houve nova concorrência pública a as obras foram retomadas em maio de 2009. Devido às dificuldades iniciais das obras, as mesmas estavam com grande atraso, não podendo ser concluídas dentro dos prazos acordados. Diante desta situação e de outros problemas conjunturais, houve mudança na administração e as obras ganharam um novo ritmo”. 


Tendo ocupado a Direção do Pólo Universitário de Volta Redonda entre março de 2007 e agosto de 2009, a bem da verdade e da transparência na Administração Pública temos o seguinte a declarar:

1)    As obras do Campus Aterrado do PUVR/UFF foram licitadas em sua primeira versão em dezembro de 2006, com base em projeto tecnicamente deficiente, incompleto do ponto de vista das necessidades da futura ECHSVR, com custo por metro quadrado altíssimo, superando desde o início  R$2.300,00/m2  em dez/2006 e que, ainda assim, já em sua origem, simplesmente não incluía 95% do custo associado às lajes pré-moldadas. Re-ratificações propostas pela SAEP, então CAEP, responsável pela fiscalização do contrato e da obra elevariam o custo por metro quadrado a cerca de R$3.000,00 por metro quadrado. Mesmo assim, a empresa ganhadora da licitação não conseguiu fazer frente à realização da obra, após a execução das fundações, o que causou um prejuízo aos cofres públicos de mais de R$250.000,00, que ficaram “enterrados” no terreno do Campus Aterrado.
2)    Diante da situação colocada pela incapacidade administrativa financeira da empresa, declarada em agosto de 2008, a Direção do PUVR tomou providências e agilizou pessoalmente a concepção, elaboração, detalhamento, planilhamento, documentação, e licitação de todo um novo Plano Diretor para o Campus Aterrado, juntamente com os projetos e pranchas arquitetônicas para a construção de 13.450 metros quadrados, distribuídos em três prédios, a um custo menor que R$1.100,00 por metro quadrado de área construída nos prédios (o menor de toda a UFF!!),  incluídos 6 elevadores, e instalações de ar condicionado. O projeto incluía a urbanização e arruamento de cerca de 18.000 metros quadrados externos, aproveitamento de águas de chuva para maior sustentabilidade, áreas sombreadas e ajardinadas para convivência de alunos e demais usuários, Biblioteca Central, 1 auditório, salas multimídia,  3 quiosques, 2 restaurantes universitários, laboratórios de Física, Química, e Informática,  mais de 100 salas de aula e de uso administrativo, e mais de 120 gabinetes de professores. Essa infra-estrutura visava atender às necessidades acadêmicas e administrativas da ECHSVR, do PUVR,  e da nova Unidade a ser criada, o Instituto de Ciência Exatas - ICEX, cujo projeto acadêmico projeto foi também concebido, elaborado, detalhado e encaminhado durante nossa gestão do PUVR. Além disso, foram atendidas todas as possíveis demandas para aprovação e obtenção de todas as outorgas legais, inclusive de meio-ambiente, o que também foi feito durante nossa gestão.
3)     Licitada a execução do projeto em dezembro de 2008,  ficaram inicialmente,  como de praxe,  as fiscalizações do contrato e de obra novamente a cargo da SAEP, que não foi capaz de  iniciar a obra até abril de 2009. A Direção do PUVR chamou então para si a responsabilidade, assumindo as atribuições de gerenciamento e fiscalização da obra, a um custo adicional de ZERO reais para a administração pública. A obra teve então ordem de início em maio de 2009, o que ocorreu já em ritmo acelerado com término previsto para janeiro de 2010. Em junho de 2009, a obra recebeu a visita e fiscalização direta da Secretaria de Ensino Superior-SESU do MEC, que veio pessoalmente, juntamente com o Magnífico Reitor da UFF, visitar a primeira obra do REUNI em execução na UFF, localizada em Volta Redonda.  As obras do Campus Aterrado foram as primeiras a serem iniciadas e serão provavelmente as primeiras a serem concluídas (já deveriam ter sido!). Paralelamente, a obra de Reforma e Ampliação da EEIMVR continuou, como antes, a ser administrada pela SAEP
4)    Em agosto de 2009, houve a mudança de gestor no PUVR

    Sente-se, pois, nos termos do sucinto relatório apresentado, a falta de clareza, de detalhamento e de precisão nos fatos, e mesmo de uma cronologia fidedigna aos acontecimentos reportados, causando a enganosa impressão que os problemas de atraso no cronograma  da obra do Campus Aterrado, ocorridos somente após  agosto de 2009, teriam sido de responsabilidade de nossa gestão. Tal imperícia no relatar, considerando que a própria SESU fiscalizou as obras em junho de 2009 juntamente com o Magnífico Reitor, fato certamente desconhecido pela atual Gestão do PUVR, arrisca a credibilidade do relatório  junto ao MEC.
 Quanto aos “problemas conjunturais” aludidos no relatório como causa parcial da “mudança na administração”no PUVR, consideramos a expressão, no mínimo, um eufemismo para o contexto político/eleitoral que ensejou e ainda cerca a gestão no PUVR desde agosto de 2009. Eufemismo esse que dá margem a especulações e que não combina com a necessária objetividade esperada no Serviço Público. Acrescente-se a isso a falta de transparência da atual Gestão que, após duas primeiras e únicas reuniões, onde viu confrontada e questionada sua INTERVENÇÃO no PUVR,  fechou há mais de seis meses o Conselho do Pólo Universitário de Volta Redonda, legitimamente eleito, com participação discente e de funcionários técnico-administrativos, mas  que, desde então, não é mais convocado. 
 Para aqueles que desejarem um maior detalhamento das condições nas quais transferimos o cargo para o atual Gestor, sugerimos a leitura do “Relatório de Prestação de Contas da Gestão do PUVR sob a direção do Prof. Alexandre José da Silva entre 01/03/2007 e 21/08/2009”, apresentado ao Conselho do PUVR, entregue à Reitoria da UFF e à nova Direção do PUVR,  divulgado publicamente no PUVR ainda em setembro de 2009, e também disponível no endereço:
http://www.4shared.com/file/134057618/ff24e5ab/Prestao_de_Contas_PUVR_2007_2009.html

Volta Redonda, 29 de março de 2010

Alexandre José da Silva,  Dr.-Ing.
Prof. Associado II
ex-Diretor do PUVR

 

quarta-feira, 24 de março de 2010

Produtividade com sustentabilidade

por Carlos Henrique de Brito Cruz


"O Brasil é essencial nesse debate. Nenhum país industrializado conseguiu substituir o uso de gasolina na escala alcançada no Brasil"

Carlos Henrique de Brito Cruz é membro da Academia Brasileira de Ciências, professor titular do Instituto de Física da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Artigo publicado na "Folha de SP":

É possível substituir mais de 25% da gasolina usada no mundo por biocombustíveis, preservando o meio ambiente e evitando conflitos com a essencial produção de alimentos e outros produtos agrícolas? Cientistas brasileiros e estrangeiros envolvidos no projeto Sustentabilidade Global de Biocombustíveis (GSB, na sigla em inglês) tentam responder a essa questão durante sua convenção latino-americana, em São Paulo (23 a 25 de março).

O GSB fará cinco convenções continentais em 2010 com o objetivo de contribuir para o debate mundial nesse campo com base em resultados científicos. A reunião em  São Paulo segue as da Holanda e da África do Sul. As próximas serão na Malásia e nos Estados Unidos. O Brasil é essencial nesse debate.

Nenhum país industrializado até hoje conseguiu substituir o uso de gasolina na escala alcançada no Brasil, onde praticamente metade da energia total consumida tem origem em fontes renováveis -16% dela do etanol.

No Estado de São Paulo, o resultado é ainda mais marcante: 56% da energia vem de fontes renováveis, sendo 38% da cana-de-açúcar. O uso do etanol de cana permitiu que São Paulo reduzisse a participação do petróleo na matriz energética estadual de 60% para 33% nos últimos 30 anos.

Desde 1975,  a estratégia geral do desenvolvimento do uso de etanol no Brasil foi pautada pelo aumento da produtividade. O ganho ultrapassou os 3% ao ano nos últimos 40 anos graças ao melhoramento genético da cana-de-açúcar e ao aumento da eficiência industrial da conversão de açúcar em álcool.

O aumento do interesse mundial em biocombustíveis -motivado pelas dificuldades recorrentes no fornecimento de petróleo e pela preocupação com a emissão de gases-estufa- criou a expectativa de aumento intenso na produção de bioetanol.

Para que o Brasil forneça etanol suficiente para substituir pelo menos 5% da gasolina usada mundialmente, será necessário aumentar a produção brasileira dos 22 bilhões de litros em 2006 para 102 bilhões de litros/ano.

Produzir etanol requer vários insumos, como água, terra e energia, e o aumento das quantidades pretendidas exige a análise da dependência em relação aos insumos e seu efeito no meio ambiente. Por isso se impõe o desafio da sustentabilidade.

Essencial para a sustentabilidade é o balanço de energia, que mede quantas unidades de energia são geradas por unidade de energia de origem fóssil utilizada. Na produção de etanol, a energia fóssil é usada, por exemplo, no diesel dos caminhões que transportam a cana da plantação à usina.

É necessária 1 unidade de energia fóssil para produzir etanol suficiente para a geração de 9  a 10 unidades. Esse balanço tão favorável significa uma redução substancial das emissões de carbono pela substituição da gasolina pelo etanol de cana.

Outra questão fundamental para a sustentabilidade é saber se o aumento na quantidade de etanol produzido pode afetar outros produtos importantes, como alimentos.

Países da Europa e os EUA fazem objeções aos biocombustíveis porque são regiões em que toda a terra arável está em uso. Mas na América Latina e na África há muita terra disponível, e essa disponibilidade -já demonstrada em trabalhos científicos- é especialmente positiva, pois pode levar desenvolvimento a essas regiões.

Pesquisa e desenvolvimento trazem grandes avanços. No Brasil, a produtividade da terra cresceu de 2.700 litros para mais de 6.000 litros por hectare/ano -mais que o dobro, no período de 30 anos de 1975 a 2005, usando-se tecnologia incremental.

Hoje, muitos países, inclusive os mais desenvolvidos em ciência e tecnologia, como EUA, Inglaterra, França e Holanda, estão empenhados em melhorar a eficiência da biomassa para a geração de combustível líquido, buscando avanços radicais.

Por isso a intensidade de pesquisa sobre biocombustíveis cresceu muito e o panorama é muito mais competitivo do que quando praticamente só o Brasil usava etanol -o que exige do país uma nova atitude e um esforço muito mais intenso de P&D, promovido pelo governo e por empresas.

O Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen) e o projeto GSB vão nos ajudar a identificar as áreas de pesquisa prioritárias e os desafios a vencer para que o mundo possa se beneficiar de uma ideia criada e demonstrada pelo Brasil: a substituição da gasolina por combustíveis de origem renovável e sustentável.
(Folha de SP, 24/3)

Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=69835